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Por trás do algoritmo

Já deve ter acontecido com você: falar alguma coisa que está circulando em uma rede social e alguém ficar com cara de dúvida: “mas não vi isso na minha rede”. A rede pode ser o Facebook, o Instagram e também o Twitter, o TikTok e até o YouTube. Em todas o resultado é o mesmo: cada timeline mostrada é única, singular de acordo com os dados deixados pelo usuário em cada rede. Isso acontece desde que estas redes passaram a assumir protagonismo desproporcional no consumo de informação e orientar a esfera pública no lugar do jornalismo, em meados da década passada, sobretudo quando o Facebook passou a adotar o modelo timeline de organização da informação (janeiro de 2012), que priorizava não a ordem cronológica das postagens, padrão das redes até então, mas diversos outros fatores (localização, interesses, interação em outros posts, além de publicidade) embutidos no algoritmo. Este modelo, com algumas alterações pontuais, depois viria a ser adotado por outras redes: o que os usuários veem em suas timelines está ali a partir de recomendações de conteúdos de acordo com preferências do usuário, interesse de anunciantes e tendências de viralização.

Sabemos que, nas caixas-pretas que ainda são os algoritmos que moldam cada uma dessas redes, as preferências não são compartilhadas socialmente, o que significa que não conhecemos exatamente o que entra e o que não entra no cálculo para construir cada timeline. Conhecemos, entretanto, que os interesse de anunciantes raramente coincidem com o que é de interesse público; e que os conteúdos virais podem não ser os mais confiáveis ou democráticos – uma amostra in loco das eleições brasileiras de 2022 já são suficientes para indicar que os hits de compartilhamento muitas vezes trazem conteúdos que são direta ou indiretamente antidemocráticos, quando não fascistas.

Os riscos vão de intenções maliciosas e deliberadas, como invasões e ataques patrocinados pelo Estado ou milícias digitais (como as controladas pelo chamado “Gabinete do Ódio”, comportamento criminoso e assédio on-line, até o design de sistemas que criam incentivos perversos em que o valor do usuário é sacrificado, como modelos de receita baseados em anúncios que recompensam comercialmente o clickbait e a disseminação viral da desinformação. Já não é de hoje que dizemos: entender como funcionam as plataformas é crucial para o redesenho e a regulação desses espaços em prol de uma internet efetivamente democrática e segura para todos.

Para tentar contribuir com esse debate, fizemos, em parceria com o Goethe-Institut Porto Alegre e a Afonte Jornalismo de Dados, o infográfico “Por que isso apareceu na minha timeline?”, disponível para consulta online e também para download aqui, HORIZONTAL / VERTICAL. O infográfico simula uma timeline de rede social, utilizando os elementos de interação da própria timeline para informar sobre como funcionam  os algoritmos das plataformas (na medida do que é possível sem examinar o código deles), sua influência em comportamentos e impactos à democracia.

Faremos também um lançamento, onde será realizada um conversa ao vivo comigo (Leonardo Foletto), Fernanda Rodrigues (IRIS – Instituto de Referência em Internet e Sociedade), Marcelo Träsel (UFRGS) e Taís Seibt (Unisinos / Afonte Jornalismo de Dados) sobre o contexto atual de construção das timelines, a discussão em torno da regulação das plataformas e seus impactos na democracia. A conversa acontece dia 29 de novembro (terça-feira), às 19h, no Auditório do Goethe-Institut Porto Alegre (Rua 24 de Outubro, 112), com entrada franca.

 

 

 

Comments:

  • Luciana Salazar Salgado

    Olá!
    Já replicamos no site do Grupo de Pesquisa Comunica. Outro dia, eu dizia que, entre os linguistas e analistas do discurso, a gente ia ter que “desenhar”, porque está difícil partir pra discussão que nos interessa: os dispositivos de distribuição digital como partícipes da produção dos sentidos… a fratura social que daí decorre… Aí vcs desenharam! Lindo! Valeu!

  • baixacultura

    Que legal, Luciana, obrigado!

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