Jamaica, modo de usar
A extensão da complexidade cultural da Jamaica não cabe na fronteira geográfica que a ilha faz com o mar do Caribe – nem a maluquice política que não escapa à regra da América colonizada, nem o sincretismo da religiosidade que é sua embora não de sua maioria [como o voodoo ou o rastafari, essa intrincada interpretação do Antigo Testamento bíblico, essa rica narrativa em que triunfa a liberdade cultural do colonizado e ao mesmo tempo alcança apenas cerca de 10% da população do país] nem a música afinal, não menos sincrética, não menos maluca, não menos produto e produtora do lugar em que não cabe.
A história do reggae é tão acidentada quanto todo o resto, cheia de desvios como o gênero é cheio de subgêneros, antecessores e herdeiros, alguns deles indissociáveis em sua origem da precariedade econômica e técnica que não vence o espírito, como o dub, outros indissociáveis do peso musical que a Jamaica conquistou em todos os mundos, inclusive o primeiro. É o caso da obra do lendário guitarrista Ernest Ranglin, cujo nome está na origem do ska, e que hoje é possível encontrar no meio de bandas de jazz enriquecendo o fusion mais ou menos desse jeito:
[youtube=http://www.youtube.com/watch?v=23KPWdfm7MA]
Há um belo documentário [vendido bem barato em bancas de revistas e disponível pra download aqui] sobre a saída do reggae de Kingston para Londres, via Catch a Fire, em que produtores e músicos ingleses são unânimes no desconforto que sentiram diante daquele contratempo inédito: ninguém sabia tocar aquele som, e o processo de adequação do reggae ao mercado branco também foi o do aprendizado daquele bumbo mulato maluco por parte do velho mundo.
Mas divago, e o que é mesmo preciso que se diga é que a história cheia de atalhos, desvios e becos sem saída da música jamaicana é muito bem contada pelo You And Me On A Jamboree, até hoje o blog de download mais completo sobre o assunto que meus olhos míopes já encontraram. Pra começo de conversa, tu não encontra nenhuma banda de Brasilia com nome de planta no meio – isso mesmo, improvável leitor: a parada é tão old school que as categorias com mais discos linkados são Ska, Rocksteady [ritmo intermediário entre o ska e o reggae que não durou muito na ilha do Caribe embora seja muito bom] e Early Reggae.
É aí que a página ganha cara de enciclopédia: além da lista de links por artista/banda, os discos estão organizados por categoria. Como cada categoria musical daquelas representa um ponto na história da música jamaicana, baixar cada disco ali chega a ser didático, além de um prazer.
You And Me On A Jamboree também é uma festa e um podcast muito do invocado. Do blog, o único porém fica por conta da desorganização alfabética dos links. É muita coisa [tomara que cresça!], e uma lista organizada com um pouco mais de empenho facilitaria muito a minha vida. Quer dizer, a nossa.
E pra encerrar o post mais groovy do dia, fica aí com o genial trombonista Rico Rodriguez, de quem tu encontra nada menos que cinco bolachas no Jamboree. Tô falando, é coisa fina, pedra pesadíssima:
[youtube=http://www.youtube.com/watch?v=iF3enmzFaKM&feature=related]
[Reuben da Cunha Rocha.]
Comments:
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Filipe Santos
Bacana essa edição “Jamaica” da Putumayo, como o selo já nos vem habituando, não é? E também gostei de ler sua resenha sobre o reggae. Seu texto me fez lembrar de uma matéria que eu li há umas semanas e que já estava meio esquecida. Pesquisei e acabei achando o link para partilhar com os apreciadores do gênero:
http://cotonete.clix.pt/quiosque/especiais/reggae/index.asp -
Dani Pimenta
Gostei daqui também! E legal a crítica ao pessoal da You & Me, eles merecem o maior reconhecimento do mundo!
Abraços.