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Estamos (re) lendo (2): Ideologia Californiana e Cypherpunks

Enquanto o terceiro volume da coleção “Tecnopolítica”, coordenada pelo BaixaCultura e a Editora Monstro dos Mares, é editado, vamos lembrar a quem ainda não sabe dos outros dois.

A Ideologia Californiana”, de Richard Barbook e Andy Cameron, é o primeiro lançamento da “Tecnopolítica”. Escrito em 1995, é um ensaio que virou clássico nos estudos sobre a internet e suas implicações políticas, sociais e econômicas; nele, “Barbrook e Cameron definiam a tal ideologia como uma improvável mescla das atitudes boêmias e antiautoritárias da contracultura da costa oeste dos EUA com o utopismo tecnológico e o liberalismo econômico. Dessa mistura hippie com yuppie nasceria o espírito das empresas .com do Vale do Silício, que passaram a alimentar a ideia de que todos podem ser “hip and rich” – para isso basta acreditar em seu trabalho e ter fé que as novas tecnologias de informação vão emancipar o ser humano ampliando a liberdade de cada um e reduzir o poder do estado burocrático.”

Dois trechos:

“Em que seja por razões competitivas, todas as grandes economias industriais serão forçadas, mais cedo ou mais tarde, a conectar suas populações para obter os ganhos de produtividade do trabalho digital. O que é desconhecido é o impacto social e cultural de permitir às pessoas trocar quantidades quase ilimitadas de informação em uma escala global. Acima de tudo, o advento da hipermídia vai realizar as utopias da Nova Esquerda ou da Nova Direita? Como uma fé híbrida, a Ideologia Californiana alegremente responde a esta charada acreditando nas duas visões ao mesmo tempo – e não criticando nenhuma delas”

“Apesar do papel central desempenhado pela intervenção pública no desenvolvimento da hipermídia, os ideólogos californianos predicam um sermão anti-estatista de libertarianismo hi-tech: uma gororoba bizarra de anarquismo hippie e liberalismo econômico engrossada com montes de determinismo tecnológico. Em vez de compreender o capitalismo realmente existente, os gurus da Nova Esquerda e da Nova Direita preferem muito mais defender versões rivais de uma “democracia jeffersoniana” digital. Thomas Jefferson foi o homem que escreveu o inspirador chamado para a democracia e a liberdade na Declaração de Independência americana e – ao mesmo tempo – tinha como escravos cerca de 200 seres humanos”.

Os “Manifestos Cypherpunks” é a segunda publicação da coleção. É uma coletânea de textos escritos na época que a rede mundial dos computadores ainda engatinhava, entre o final dos anos 1980 até meados dos 1990, por pessoas que conheciam a fundo alguns aspectos dos aparatos técnicos que faziam funcionar a rede e queriam nos fazer ficar atentos a eles. Originários de uma vertente da cultura hacker mais afeita a ação política, em contraponto a outra mais ligada ao liberalismo empreendedor das startups do Vale do Silício, os cypherpunks tem suas ideias ainda muito presente hoje, principalmente em criptógrafos, programadores, ativistas e qualquer pessoa que acredita que a principal maneira de manter a privacidade na era da informação é com uma criptografia forte.

Um trecho do “Manifesto CriptoAnarquista”, de Tim C. May, 1992:

“Assim como a tecnologia da impressão alterou e reduziu o poder das guildas medievais e a estrutura do poder social, os protocolos criptográficos também vão alterar fundamentalmente a natureza das corporações e as interferências do governo nas transações econômicas. Combinado com mercados de informação emergentes, a criptoanarquia criará um mercado líquido, para todo e qualquer material que possa ser colocado em palavras e imagens. E assim, como uma invenção aparentemente insignificante como o arame farpado tornou possível o cercamento de vastas fazendas e territórios, alterando para sempre os conceitos de terra e direitos de propriedade na fronteira ocidental, também, a descoberta aparentemente menor de um ramo arcano da matemática se tornará o alicate que cortará o arame farpado em torno da propriedade intelectual”.

E outro do “Manifesto Cypherpunk”, de Eric Hughes, 1993, ambos presentes na edição:

“Devemos defender nossa própria privacidade se esperamos ter qualquer uma. Temos de nos unir e criar sistemas que permitam transações anônimas. As pessoas têm defendido sua própria privacidade por séculos com sussurros, escuridão, envelopes, portas fechadas, apertos de mão secretos e mensageiros. As tecnologias do passado não permitiam a privacidade forte, mas as tecnologias eletrônicas sim.”

Os dois tem bastante relação entre si e ajudam a entender muitas questões relacionadas a a internet que estamos vivendo hoje, como o poderio das big techs em nossas vidas, a importância da privacidade na rede e as formas de controle econômico do capitalismo hoje. Ambos estão disponíveis para download no BaixaCultura e para compra no site da Monstro dos Mares.

Baixar/compar “A Ideologia Californiana”
Baixar Comprar “Manifestos Cypherpunks”

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