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Estamos lendo (1): Asfixia, Franco Berardi

Já faz mais de ano que alternamos a leitura de “Asfixia: Capitalismo Financeiro e a Insurreição da Linguagem” com outros livros de Bifo (“Depois do Futuro”, que comentamos nessa BaixaCharla #3, ainda em 2019; e “Extremo: Crônicas da psicodeflação”, todos publicados pela Ubu no Brasil). “Asfixia” é o mais denso e cheio de “food for thinking” – também por isso ainda não terminamos. Trata-se de dois textos: em Insurreição, escrito em 2011, o italiano de Bolonha realiza uma espécie de manifesto para tempos precários, um chamado para a ação diante da crise catastrófica que o capitalismo financeiro impõe a todos. Para Berardi, a sociedade ou pode seguir as prescrições e “resgates” exigidos pelos setores econômico e financeiro às custas da felicidade pública, da cultura e do bem comum; ou pode arriscar formular uma alternativa.

Não está claro qual seria a alternativa, mas a pista de Bifo passa pela reconstituição do corpo erótico e social pelo intelecto geral (p.112).

O principal instrumento para essa reconstrução seria a poesia, esse “excesso de linguagem” que ativa a nossa sensibilidade – a capacidade do ser humano de interpretar signos que não são, nem podem ser, verbalizados”. A poesia (usada como metáfora) poderia corroer a lógica do automatismo tecnofinanceiro dos algoritmos, que tem eliminado a ambiguidade das relações humanas.

“A sensibilidade, a capacidade de entender o que não pode ser verbalizado, tem sido uma das vítimas da precarização e da fractalização do tempo. Para que possamos reativá-la, a arte, a terapia e a ação política terão que unir forças” (p.113).

“A premissa do dogmatismo neoliberal é a redução da vida social às conclusões matemáticas de algoritmos financeiros. O que é bom para as finanças também deve ser bom para a sociedade, e se a sociedade não aceitar essa identificação e essa submissão, então é porque ela é incompetente e precisa ser reformatada por alguma autoridade técnica”. p. 31

Na segunda parte, Respiração – Caos e Poesia, escrito em 2018, ele retoma a metáfora da poesia como rota de fuga contra os fluxos que paralisam o corpo social. “Como podemos lidar com a falta de ar que a abstração produziu na história da humanidade? Como podemos nos desvencilhar do cadáver do capitalismo financeirizado?”. Para ele, a resposta, novamente, pode estar na potência infinita de uma linguagem não coagida pelos limites do significado ou, em outras palavras, na poesia como invenção coletiva.

Aqui dá pra baixar o livro online, mas (não) espalha. E se puder compre que o livro é bonito e vale bastante a leitura.

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