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Cinema Livre e com legenda

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Começo o texto com uma explicação: a idéia desta pauta surgiu quando começamos a primeira leva de divulgação do BC, através de emails para conhecidos. Uma jornalista colega minha (Leonardo) retornou com uma sugestão de pauta: nas palavras dela, “apesar da minha porção jornalista andar meio adormecida, eu continuo adorando sugerir uma pauta .”

Ligada que sempre foi em cinema, tanto em apreciação quanto em produção, ela me falou do Movimento Cinema Livre, uma iniciativa com “o intuito de tornar mais acessível o chamado cinema autoral, disponibilizando gratuitamente legendas inéditas e/ou raras em português na internet“, segundo a própria apresentação do movimento.

A pauta prometia uma matéria grande, com entrevistas aprofundadas com os fundadores  do movimento. Mas aqui surgiu um problema um tanto comum em jornalismo: a pauta não cumpriu o que prometia  (ou o jornalista foi incompetente em cumprí-la?). O Movimento Cinema Livre apareceu como uma comunidade no Orkut que depois também passou a ter um blog; só que, hoje, ambos estão relativamente parados – o último post do blog é de 25 de agosto deste ano. E, ainda por cima, o email anunciado como de contato no blog não respondeu a um pedido meu de entrevista feito faz quase duas semanas.

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Mas aí pergunto: e deixar de noticiar uma boa iniciativa, que disponibiliza mais de 1000 legendas de filmes raros, só porque ela anda meio parada e não nos concedeu uma entrevista? Sabemos bem que até umas aspas – no jargão jornalístico, uma fala direta de um entrevistado – pode ser conseguida através de uma boa vasculhada na rede.

E foi com isso em mente que achei esta matéria,  no blog Conversa de Botiquim, um blog de um estudante de jornalismo da Unisinos, de São Leopoldo-RS. Com aspas dos fundadores do grupo, explicando como  começou a iniciativa e como funciona a seleção dos filmes a serem legendados, tudo conforme manda o bom jornalismo.

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A matéria tá interessante e devido as condições supracitadas, citarei as aspas de lá.  Pra começar: como  se deu a criação do movimento? “Eu percebi que havia comunidades direcionadas para troca de legendas, mas nenhuma atendia aos filmes que o MCL atende. Além do mais, pensei em traduzir legendas, mas sozinho vi que levaria décadas. Então pensei em criar uma comunidade”, diz Thiago Mattos, fundador da comunidade.

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Uma breve pausa para explicação. Os  filmes que o MCL atende são O diferencial da coisa: são daqueles que a gente costuma classificá-los de “cinema autoral”, que passam longe de Hollywood e pertinho de Cannes. Filme de cineastas como Godard, Truffaut, Antonioni, Bergman, Bertolucci, Lars Von Trier, Cocteau, Cassavetes, Buñuel, dentre outros. Os típicos filmes que raramente encontramos em locadoras – e, quando encontramos, geralmente eles estão lá por aficcionados do tipo que participam do MCL.

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Voltando à história. Criada a comunidade, em novembro de 2006, Thiago e o grupo que se formava nela começaram a divulgá-la no próprio Orkut: “A gente espalhou trezentos tópicos por comunidades de cinema sobre o MCL. Era um texto gigante, que acho que nenhum ser humano chegou a ler”, comenta o fundador ironicamente .

Em alguns meses já contavam com mais de 2 mil participantes. Com toda essa gente, organizaram um esquema para melhor funcionamento: através de enquetes, definiam-se os filmes a serem legendados. Os usuários baixavam a legenda em outra língua – normalmente inglês e espanhol – e traduziam para o português. Com ela concluída, a legenda era enviada para o email da comunidade, e posteriormente é inserida no banco de dados do site Opensubtitles.

Aos poucos a idéia da comunidade se expandiu. Em maio de 2007, nasce o blog, onde também disponibilizavam resenhas e entrevistas (feitas pelos próprios participantes da comunidade ou retirada de sites especializados). Em alguns casos, encontrava-se ali o pacote completo: resenha, legenda e link para baixar o filme. Em fevereiro deste ano, surgiu a comunidade “Manifesto Cinema Livre“, uma expansão do MCL destinada à discussão de produção cinematográfica.

Em junho deste ano a comunidade original migra para a “Nuovo Cinema Livre“. Desde então, as comunidades e o blog estão praticamente parados. Ao que parece, o marasmo na comunidade e no blog devem-se a uma nova iniciativa do Movimento: a criação de uma revista digital, que  vai disponibilizar os links e informações gerais dos filmes trabalhados, a funcionar neste endereço aqui.

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Não consta que o MCL não teve problemas com relação à direitos autorais. Até porque a sua “pirataria” é voltada para um nicho  de filmes marginalizados no circuito comercial, que obviamente não são a menina dos olhos da indústria, preocupada mais com lucro$. A pergunta que o Movimento faz é a seguinte: Se são filmes que o mercado praticamente não liga, que mal há em disponibilizá-los na rede?

Não há nenhum mal, claro. Até porque antes ver um  Buñuel, um Bertolucci, um Antonioni (todos com cartazes de filmes neste post) no computador, com uma imagem não tão boa quanto deveria, do que esperar ad eternum algum cinema ou um Telecine Cult da vida passá-los. Porque um filme só tem sentido se é pra ser visto, não?

[Leonardo Foletto]

P.S: Tirando a imagem da abertura, as imagens que ilustram este post foram tiradas daqui. São cartazes de filmes de “cinema autoral”  versão polonesa, país que tem uma curiosa tradição de fazer cartazes de filme radicalmente diferentes dos originais.

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