BaixaCultura

Autocrítica da internet

[youtube=http://www.youtube.com/watch?v=umPd5Sz9tjQ&feature=channel_page]

 

Ou a crítica de certo otimismo em relação à intenet ao qual este blog pode facilmente se colar, falo sobre a greve da USP transversalmente para falar sobre a internet e dar assim mais um pulo para fora do silêncio.

Vivendo sem TV há mais de um ano, foi só conversando ao telefone com minha mãe que fui saber que quase não se tem noticiado os confrontos da PM com os manifestantes, isto é: com estudantes e funcionários da Universidade de São Paulo. Até terça passada a greve não me interessava de maneira muito direta: entendia que qualquer que fosse a demanda, os funcionários tinham o direito legal às manifestações, a mim não interessava fingir participação em causa alheia como também não interessava criticá-la.

Até que um belo dia a Polícia Militar entrou no campus, e em confronto armado com os grevistas. Confronto armado, com bala de borracha e bomba de efeito moral (que diabos é efeito moral?) no rodo, pra todo lado. Encontrei no youtube um vídeo do Jornal Nacional em que William Bonner tentava pôr em descrédito a situação, com um “a USP tem 10.000 alunos, e apenas 600 aderiram à greve” ou algo do tipo.

As reivindicações dos funcionários, repito, pouco me dizem respeito. Não se trata de descaso, trata-se de não fingir que uma causa é minha quando não é. A questão não é essa, muito menos o número de participantes, se ele é menor ou igual à população da Cidade Universitária. A questão é que, se não me engano, a polícia não entrava armada num campus desde 1979. Trinta anos. E resolveu (“resolveu”) entrar para conter (“conter”) uma situação legítima. O direito à paralisação não depende de quais sejam as reivindicações.

Bem, a situação é muito séria, e muito mais séria do que se tem noticiado — a violência simbólica de se ter uma tropa da PM num campus universitário excede o número de feridos, o tipo das balas ou o eterno ramerrão de saber se a polícia atirou primeiro ou depois de ser chamada de filha da puta. E a internet anda tão silenciosa quanto a TV.

O que me faz pensar: tem sempre alguém dizendo que o bacana da internet é poder dizer o que quiser, sem editor nem horário. E do que interessa poder dizer o que se quer quando ninguém está interessado em dizer o que importa?

Era isso. Bom feriado.

[Reuben da Cunha Rocha.]

PS: No youtube tem um canal da greve, de onde tirei o vídeo que abre o post.

PS2: Tem umas fotos da pancadaria no Centro de Mídia Independente. Algumas exclusivamente de PMs sem identificação. Não sei se você sabe o que isso significa.

Comments:

  • André HP

    O que importa é muito relativo. Uma malta viva de blogs de esquerda estão cobrindo a greve/confronto há algum tempo.

    Abraço!

  • reuben!

    Caro André,
    Não, não é relativo.
    Não sei o que é “malta viva”, e não dou a mínima para “blogs de esquerda”.
    Forte abraço!

  • Leonardo

    Reuben,
    Chamo a atenção para o texto do Pof. Túlio Vianna, “Comandante tinha ordem para prender líderes da greve na USP”, no link: http://tuliovianna.wordpress.com/2009/06/12/comandante-tinha-ordem-para-prender-lideres-da-greve-na-usp/
    Acompanhei pelo twitter uma boa cobertura. Longe de qualquer silêncio e nada que possa ser reduzido a “malta viva de blogs de esquerda”. Há dimensões inéditas aí.
    A rede está mais para a multiplicidade e proliferação do que para a homologação (logo a cifragem e polarização representacional “esquerda/direita” apanha muito de longe o que estamos testemunhando e co-produzindo”). Diria, avancemos! Sem medo, nem culpa!
    Praticamos e produzimos um perspectivismo que expressa mais a profusão de aportes singulares e é indesejável que seja confundido com relativismo (fenômeno mais ligado à noção de opinião da modernidade e apenas ainda vigente em caráter residual na pós-modernidade e na contemporaneidade, ou seja, mais diretamente ligado ao periodismo/jornalismo do jornal impresso, aos publicistas e a produção da audiência correlativa ao tipo de recepção associada a esse meio específico, e que colocava em curso algo que Gabriel Tarde abordou belíssimamente na coletânea “A opião e as massas”, livro esse dos inícios do século XX). A passagem das práticas de “representação” para as práticas de expressão direta (retomando aqui a relação “modernidade-imagens de máquinas”, “pós-modernidade-máquinas da imagem” e “contemporâneo-máquina de expressão”) dizem muito sobre isso. A recepção da audiência do periodismo/jornalismo impresso não é equiparável à interatividade-participação-co-produção-afetação que ocorre na ‘contemporaneidade ao evento’, na copresença ativa à circunstância (ainda que mediada por computador) e na implicação/experiência de multiplicidade momento-a-momento, instante-a-instante, onde as singularizações/individuação/expressões a partir do compartilhado/comum ocorrem requisitando a co-presença do “outro”, a multiplicidade das singularidades que também se expressam na mesma escala e onde pensamento só vira cultura NO compatilhamento e NA co-produção do comum dessa vivência NA comunicação (enquanto a informação pode ser centralizada, verticalizada e hierarquizada, a comunicação “de co-presença/contemporaneidade ao evento” típica das redes é distribuída, transversal e dialógica). Em tempos de convergência … interessante olhá-la de frente! Grande parabén pelo blog!!
    Forte abraço!!
    Com afeto,

    leonardo

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