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Quem baixa música não é pirata, mas divulgador

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Depois de quase um mês de nossa última postagem, resolvemos acabar com o limbo que andava corroendo este humilde espaço virtual. O semestre acabou, as férias não vieram e os afazeres inadiáveis foram feitos (ainda que com atraso). Então, bora lá.

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Como (pouco) falamos aqui nas duas últimas postagens, em fins de junho ocorreram dois eventos importantes na capital gaúcha. O primeiro, maior, foi o 10º Fórum Internacional de Software Livre. O segundo, menor mas nem por isso menos importante, foi o I Fórum do Movimento de Música para Baixar, organizado pelo movimento de mesmo nome que reúne algumas figuras ativas da cultura brasileira, especialmente da música. Por iniciativa de um integrante deste movimento, Leoni, e com ajuda do designer Marcelo Pereira, é que saiu, em meados de julho, um manifesto que agrupa alguns dos preceitos defendidos pelo MPB (Música Para Baixar, e não outra cousa que você possa estar imaginando). A ideia do manifesto é sintetizado pela frase que dá título à esta postagem, Quem baixa música não é pirata, é divulgador!, que desde já pode ser adotado como um interessante slogan para o movimento.

Por concordarmos e apoiarmos o texto,  publicamos o manifesto aqui abaixo, na íntegra, como fizeram alguns parceiros nossos como o Cultura Digital e o Partido Pirata.

É a partir do surgimento da democratização da comunicação pela rede cibernética, que a conjuntura na música muda completamente.

Um mundo acabou. Viva o mundo novo!

O que antes era um mercado definido por poucos agentes, detentores do monopólio dos veículos de comunicação, hoje se transformou numa fauna de diversidade cultural enorme, dando oportunidade e riqueza para a música nacional – não só do ponto de vista do artista e produtor(a), como também do usuário(a).

Neste sentido, formamos aqui o Movimento Música Pra Baixar: reunião de artistas, produtores(as), ativistas da rede e usuários(as) da música em defesa da liberdade e da diversidade musical que circula livremente na Internet.

Quem baixa música não é pirata, é divulgador! Semeia gratuitamente projetos musicais.

Temos por finalidade debater e agir na flexibilização das leis da cadeia produtiva, para que estas não só assegurem nossos direitos de autor(a), mas também a difusão livre e democrática da música.

O MPB afirma que a prática do “jabá” nos veículos de comunicação é um dos principais responsáveis pela invisibilidade da grande maioria dos artistas. Por isso, defendemos a criminalização do “jabá” em nome da diversidade cultural.

O MPB irá resistir a qualquer atitude repressiva de controle da Internet e às ameaças contra as liberdades civis que impedem inovações. A rede é a única ferramenta disponível que realmente possibilita a democratização do acesso à comunicação e ao conhecimento, elementos indispensáveis à diversidade de pensamento.

Novos tempos necessitam de novos valores. Temas como economia solidária, flexibilização do direito autoral, software livre, cultura digital, comunicação comunitária e colaborativa são aspectos fundamentais para a criação de possibilidades de uma nova realidade a quem cria, produz e usa música.

O MPB irá promover debates e ações que permitam aos agentes desse processo, de uma forma mais ampla e participativa, tornarem-se criadores(as) e gestores(as) do futuro da música.

O futuro da música está em nossas mãos. Este é o manifesto do movimento Música Para Baixar.


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Manifestos como esse costumam ser interessantes por, dentre outras coisas, agrupar interesses e ideias comuns num único espaço, o que facilita a organização de um movimento para a defesa de preceitos comuns perante à sociedade – além de serem belos produtos para puxar a frente de batalha quando há uma guerra contínua e longa pela frente, como aqui parece ser o caso.

Sabemos todos que a atual indústria musical se erigiu, durante o século XX, num contexto onde a produção cultural se realizava numa série de processos que custavam bastante dinheiro, desde a gravação à reprodução.  O resultado disso é que a produção e a distribuição se restringia àqueles que tivessem condições financeiras para isso, uma minoria endinheirada que, para se manter, precisava (ou julgava que precisava) vender (caro) aquilo que produzia.

Hoje, como boa parte de nós sabemos, o custo para produção e – principalmente – para a distribuição de um produto cultural (ou artefato, cultural para  atualizarmos ou variarmos a nomenclatura)  é muito menor do que era há um pouco mais dez anos atrás, quando fazer uma cópia de um CD era mais caro do que comprar um novo. A diminuição nos custos permite com que muito mais pessoas possam produzir a sua música e distribuí-la na rede para todo o planeta. Permite, também, uma variedade muito maior daquela música que podemos escutar; cada um, em sua própria casa, pode escolher o que escutar, seja algo próximo como um ótimo jazz instrumental brasileiro ou um hit pop em incrível versão folk de uma banda da Ucrânia. É dado para nós a incrível possibilidade de não depender mais de uma pessoa, com interesses muitas vezes estritamente comerciais, para a determinação daquilo que vamos escutar, o que nos abre literalmente diversos oceanos de diversidade e qualidade musical que nunca antes sabíamos que existia.

Este novo contexto exige novas estratégias de distribuição e comercialização para a música. Exige um repensar de toda uma instituição que muito se deu bem no século XX, mas que hoje não vai mais se manter os mesmos princípios antes usados. Determinar como serão estas novas estratégias, tanto de distribuição quanto de comercialização, é algo que muitos estão querendo fazer,  e um manifesto como o do Movimento Música Para Baixar é, no fundo, uma forma de unir pessoas para pensar como que isso vai se dar, não?

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Para assinar o manifesto,  clique aqui. Cerca de 1500 pessoas já assinaram. Destaco em especial um deles, o rei do Bom-Fim porto-alegrense Nei Lisboa.

[Leonardo Foletto.]

Créditos fotos: um, dois
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