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O verdadeiro Mago

O caso de Alan Moore é o de um artista relevante dentro e fora da obra, ou o de um artista cuja obra ultrapassa a soma dos livros e inclui a ética de sua escrita, as opiniões que distribui e até a pertinência dos temas sobre os quais opina.

Ou ao menos é o que The Mindscape of Alan Moore me faz pensar. Mindscape, essa invenção bonita da língua inglesa cuja tradução é ruim, ‘paisagem mental’, fazer o quê.

Desde a primeira fala, quando apresenta a distinção essencial entre ficção e mentira, até a intrincada analogia entre as linguagens da arte e da magia, o Grande Barba é uma palavra só: autenticidade.

Ou talvez seja muitas outras. A elegante ironia, sobretudo auto-ironia, a clareza de visão sobre qual deva ser o papel do artista dentro de uma sociedade cujo funcionamento depende sobretudo de passividade e torpor coletivos, a radical certeza do caos, o real desprezo pela estrutura da fama, o didatismo do pensamento mais complexo, essas coisas todas que foram lapidarmente definidas por Bruno numa conversa recente de MSN: “o cara é fodão e pronto!”.

Como se não bastasse, é O Homem Que Recusou Hollywood Money em prol de uma integridade de cuja existência o cinismo de nossa educação exige suspeita.

O documentário, de 2003, alcança o Velho Doido do último ponto de sua carreira até aqui, o trabalho que pela, digamos, profundidade no tratamento do tema (as possiblidades artísticas da pornografia) terminou não só com sua publicação, mas com o casamento dos autores.

The Mindscape of Alan Moore é um filme que inclusive dispensa imagens. É pura densidade de discurso de um dos artistas mais essenciais que andam respirando por aí, infelizmente condenado pela precariedade da leitura dispensada à linguagem que lhe deu fama.

[Reuben da Cunha Rocha.]

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