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Quadros modificados

O artista plástico espanhol José Ballester resolveu montar uma seleção de quadros inusitada: pegou pinturas famosas e esvaziou-las de seus componentes humanos ou animais. Com elas, fez uma exposição – na  Galeria Distrito Cu4tro, que mesmo sendo em Madrid dá para ver aqui. Abaixo, selecionei dois dos quadros de Ballester junto com seus originais “habitados”:

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O Jardim das Delícias Terrenas, de Bosch.

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El Jardín Deshabitado, de Ballester.

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“O Banquete na Floresta de Pinheiros”, de Sandro Botticelli.

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Bosque Italiano III, de Ballester.

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Ballester segue uma tendência nas artes que vem a se chamar “Apropriacionismo“, que se desenvolveu nos anos 80 e 90 como uma volta à arte e a cultura dos séculos anteriores sob um olhar normalmente irônico ou histórico. O nome mais conhecido dessa tendência é o do francês Marcel Duchamp, aquele do urinol e do bigodinho da Monalisa aqui abaixo:

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O que diferencia o trabalho de Ballester junto à outros apropriacionistas é, segundo o blog sdelbiombo, o profundo respeito dele pelas obras clássicas: suas intervenções são – pelo menos em tese – no sentido de dar ainda mais pureza às obras.

É inevitável que, ao olharmos estes quadros mais “limpos” , nossa atenção se vá para detalhes estéticos que antes não perceberíamos, como as nuâncias das cores e as perspectivas dos desenhos. O que acaba acontencendo, então, é que a obra coloca outros significados para quem a vê, como bem diz o texto de apresentação do catálogo da exposição, de Francisco Calvo Serralle:

Se trata de puntos de vista “subvertidores” de lo que se entiende como el uso normal o normalizado de relacionarse con una obra de arte o con un museo, pero no sólo para con ello cuestionar su inercia obcecada, sino para, en efecto, “rehacerlos”. De manera que, eso es en principio lo que nos propone Ballester con sus análisis “clarificadores” de reconocidos cuadros del Museo del Prado, en todos los cuales la estrategia dominante o el guión ha consistido en despojarlos de figuras humanas y de sus menesterosas o atribuladas acciones, quedándose sólo con los telones de fondo de sus respectivos paisajes.

O interessante para nós aqui do BC é a que estas imagens foram feitas digitalmente, a partir das possibilidades dadas pela tecnologia e que estão sendo ainda facilitadas pela internet. É mais um desmembramento da tal “Cultura do Remix” de que fala Lawrence Lessig, que consiste fundamentalmente em aproveitar o trabalho do autor de uma forma não imaginada inicialmente por ele.

[Leonardo Foletto.]

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