Resultados da pesquisa por “adbusters” – BaixaCultura https://baixacultura.org Cultura livre & (contra) cultura digital Tue, 20 Sep 2022 16:22:54 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=6.0.9 https://baixacultura.org/wp-content/uploads/2022/09/cropped-adesivo1-32x32.jpeg Resultados da pesquisa por “adbusters” – BaixaCultura https://baixacultura.org 32 32 Guerrilha da comunicação https://baixacultura.org/2015/11/29/guerrilha-da-comunicacao/ https://baixacultura.org/2015/11/29/guerrilha-da-comunicacao/#respond Sun, 29 Nov 2015 15:07:33 +0000 https://baixacultura.org/?p=10536 Seria a melhor subversão a alteração dos códigos em vez da destruição destes? Partindo dessa ideia, de algumas leituras e da documentação ao longo dos anos de ações “guerrilheiras” de comunicação aqui no Baixa, é que nasceu a oficina de Guerrilha da Comunicação. 

A ideia da oficina é a de apresentar teoria e prática de táticas de comunicação de guerrilha, dos nomes fake à produção de notícias falsas, passando pelo subvertising (propagandas anti­consumo com símbolos do capitalismo), cut­-up, happenings, eventos falsos e outras práticas agrupadas na ideia de artivismo.

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Realizamos uma primeira versão da oficina no Festival #Hashtag, em Ribeirão Preto – SP, em julho deste ano. Tratamos de apresentar ideias, exemplos e causos utilizados por coletivos que já falamos bastante por aqui, como osAdbusters, Wu Ming, Luther Blisset, Provos, BaixoCentro, e táticas como as de distanciamento, sobreidentificação, happenings, snipers (os franco-atiradores semióticos), nomes coletivos, fakes, entre outras. A partir de um fato da época na cidade, fizemos um happening chamado “Partida De Futebol Mais Rápida do Mundo”, registrado em imagens aqui e neste vídeo, editado pelos participantes da oficina.

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Fizemos (assim como na primeira, em parceira com o Fotolivre.org) uma segunda versão da oficina em novembro, junto ao Centro de Mídias Populares, com a equipe do núcleo de produção multimídia e para internet do Brasil de Fato. De menor tempo de duração, desta vez fizemos um apanhado das táticas apresentadas anteriormente e trouxemos mais exemplos, de situações mais cotidianas e fáceis (como os memes) à casos históricos do hackativismo, como o caso Dow Ethics, do Yes Men, e o Eletronic Disturbance Theater, ação do Critical Art Ensemble em apoio aos zapatistas.

Ao final, dividimos em grupo os cerca de 30 participantes dos mais variados países da américa latina (contamos gente de Cuba, Venezuela, Argentina, Uruguai, Colômbia, Bolívia e Chile) para propor ações guerrilheiras em suas realidades. A agilidade dos memes foi uma das táticas escolhidas e consta que alguns deles já estão circulando pelas redes… Confira abaixo fotos das oficinas e, por fim, o pdf (mais de 40 páginas!) com a apresentação utilizada na oficina.

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Apresentação Guerrilha SP

Referências teóricas da oficina:
BLISSET, Luther. Guerrilha Psíquica. Sao Paulo, Conrad, 2001.
BLISSET, Luther. BRÜNZELS, Sonja. Como acabar con el mal: manual de guerrila de la comunicación. Vírus Editorial; Barcelona, 2000.

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Imagens: Nike Boy (Adbusters), Subertising, Florian Riviere. 

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Invasão hacker de guerrilha no interior paulista https://baixacultura.org/2015/07/24/invasao-hacker-de-guerrilha-no-interior-paulista/ https://baixacultura.org/2015/07/24/invasao-hacker-de-guerrilha-no-interior-paulista/#respond Fri, 24 Jul 2015 12:34:34 +0000 https://baixacultura.org/?p=10297 IMG_8164

De 16 a 19 de julho, participamos da 1º edição do Festival #Hashtag, em Ribeirão Preto, interior de São Paulo. Produzido pelo Sesc Ribeirão Preto, o festival trouxe à cidade da boa cerveja Colorado (e seu bar de cervejas artesanais, o Cervejarium) ações de cultura digital: oficinas, debates e palestras, culminando com a Invasão do Ônibus Hacker em dois parques locais no final de semana.

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A primeira oficina foi a de Cultura livre: criação, pirataria e direito autoral na era digital. Mais uma fala do que propriamente uma oficina, tratou de discutir tópicos que abordamos aqui na página, do remix ao copyleft, passando (e focando) no software livre e no status quo do direito autoral hoje, com a internet a chacoalhar as estruturas daquilo que foi criado lá em 1710, com o Statute of Anne, como o Wu Ming nos conta em “Notas sobre copyright e copyleft II“. Foi uma versão atualizada e remixada das oficinas de pirataria que já fizemos algumas vezes no próprio Ônibus Hacker, a primeira em 2012. Já a apresentação utilizada como base é a mostrada nas referências da disciplina de Ciberativismo e Cultura Livre, na Unisinos.

É uma oficina que funciona como um panorama das últimas questões ocasionadas pelas transformações na cultura a partir da internet. Por conta disso, aborda diversos assuntos sem adentrar muito em cada um deles – precisaríamos de dias, talvez até semanas, pra tentar explicar como funciona em minúcias o direito autoral, a citação ou o plágio criativo, para citar três exemplos. Também em função disso, é uma conversa que conta com a participação do público: quase todo mundo tem uma opinião, uma experiência ou uma dúvida para falar sobre a criminalização do download, plágio na música, as vanguardas anticopyright ou o software livre, para citar temas que foram motivos de debate com as cerca de 15 pessoas que participaram da oficina na sala de internet livre, no centro de Ribeirão.

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A segunda oficina que participamos no #Hashtag foi uma estreia: Guerrilha de Comunicação. Tratamos de apresentar ideias, exemplos e causos utilizados por coletivos que já falamos bastante por aqui, como os Adbusters, Wu Ming, Luther Blisset, Provos, BaixoCentro, e táticas como as de distanciamento, sobreidentificação, happenings, snipers (os franco-atiradores semióticos), nomes coletivos, fakes, entre outras. [Confira aqui a apresentação que fizemos]. A partir daí, conversamos sobre que situações e táticas poderíamos aplicar no final de semana, quando o Ônibus Hacker estaria com sua invasão na cidade. Levantamos informações sobre o que ocorreu recentemente em Ribeirão Preto e dois fatos gritaram por alguma ação guerrilheira-ativista: a eminente expulsão de moradores da comunidade João Pessoa para o aumento do aeroporto da cidade, Leite Lopes; e o recente aumento do salário de vereadores em 26%, combinado com a aprovação de um PL que assegura a correção anual do salário dos edis; até então, essa correção era de quatro em quatro anos.

Discutimos sobre que ação seria possível de por em prática em um final de semana. Foi o momento de brainstorming a partir dos exemplos vistos na oficina: a pintura das ruas na abertura do BaixoCentro, o vídeo das Olimpíadas de Santa Tereza feito pela Mídia Ninja/Casa Coletiva, a notícia (falsa?) da construção de um condomínio em pleno parque da Redenção, em Porto Alegre, entre outros. Eis que decidimos por uma ideia: produzir uma partida de futebol de 27s – o absurdo tempo que durou a sessão que os vereadores de Ribeirão Preto aprovaram a correção anual de seus salários – com, de um lado, o time dos que votaram a favor, 17, segundo contagem inicial; e do outro os 5 que votaram contra. Ficou decidido que usaríamos máscaras de todos os edis e teríamos uma narração como a de futebol no rádio. Fechados nessa ideia, combinamos de organizar tudo junto da invasão hacker e da oficina de Produção Cultural de Guerrilha, que a produtora Evelyn Gomes conduz faz alguns anos.

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No sábado, a invasão hacker foi no parque Tom Jobim, um amplo e desconhecido local situado na periferia de Ribeirão Preto, achado só via Open Street Maps (e não no Google Maps, sabe-se lá porquê). Lá, sob um sol forte e um calor (25Cº) seco, saíram oficinas como as de animação em stop motion, construção de composteira de balde, eletrônica para pequenos, costura de legumes de pano, multimídia livre (alternativas em software livre para edição em vídeo e áudio), entre outras num dos cardápios mais variados de oficinas que o Ônibus Hacker já ofereceu em seus 5 anos de existência. O público, predominantemente infantil, foi intenso especialmente na de eletrônica com Luis Leão, que contou com a ajuda de vários Makey Makey Littlebits pra ajudar a criançada a entender a comunicação eletrônica dos objetos, e na de costura hacker, com Fabrício Zuardi, que ficou praticamente a tarde inteira sentado ao redor de uma mesa com uma máquina de costura lidando com as crianças e suas tentativas de fazer cenouras e tomates de pano, além de ensinar alguns pontos básicos de crochê.

Entre estas outras oficinas ocorridas no sábado, a de produção cultural de guerrilha reuniu parte do grupo da oficina que oferecemos no dia anterior + alguns interessados novos. Nos sentamos em círculo ao redor de Evelyn e um flipchart com palavras-chaves relacionadas a produção cultural: evento, logística, barulho, lixo, ocupação, pessoas, rua. Ela foi fazendo algumas perguntas básicas, como que é cultura e o que é guerrilha, e a partir daí discutimos que ação poderíamos fazer na rua, no dia seguinte, domingo, junto do 2º dia da invasão hacker. Optamos pela ideia da partida de futebol dos vereadores, já conversada antes, e combinamos os detalhes da produção para acontecer no parque Dr. Luis Carlos Raya, localizado num bairro de classe média-alta da cidade e reduto eleitoral de alguns dos vereadores que votaram a favor do aumento dos salários.

Além das atividades do ônibus, o parque também teve contação de história e um sarau comandado por Tiago Chapolin, agitador cultural da cidade. Ribeirão, assim como São Paulo e outras tantas cidades no país, tem visto florescer uma cena forte de saraus em que a literatura se mistura ao rap, ao ativismo contra o extermínio negro nas periferias e à poesia, pura e simples. Foi dando esse tom que o sarau no parque Tom Jobim encerrou as atividades do primeiro dia.

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Criançada com littlebits na oficina de Eletrônica

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O domingo de invasão começou com um café da manhã tardio. Por volta das 13h, com o sol a pino, é que a maior parte dos participantes da invasão chegou ao local, uma antiga pedreira com um belo gramado, um lago e muitos patos. Vale dizer: fomos a pé (alguns de táxi) pois o Busão estava na oficina para conserto do alternador e da ré, estragadas no dia anterior, situação que rendeu um empurra coletivo já à noite para manobrar no parque sem precisar dar ré. O que seria do Ônibus Hacker sem as quebradas rotineiras, não? Uma equipe que acompanhou a viagem inteira do Busão gravou as imagens dos empurrões (e tropeções) no escuro para um documentário sobre o ônibus, que está sendo produzido via edital Jovem Doc.

As oficinas de domingo seguiram o amplo e diverso cardápio do dia anterior: origami, lambe-lambe, descartografia (com oferenda à Pachamama numa árvore do parque, a cargo do EcoaEcoa Coletivo) além da repetição da de costura hacker/crochê, sucesso de público da invasão, uma roda de conversa sobre segurança na rede e algumas instantâneas que não deu pra saber que estavam acontecendo. São tantas oficinas possíveis/realizadas (reza a lenda que já ocorreu até uma “oficina de conchinha”, numa viagem mais longa ao Uruguai) que uma piada interna metalinguística comum no Ônibus é a de que tem que acontecer uma “oficina de oficinas” coletiva.

Assim como dia anterior, a Rádio Hacker funcionou no sistema de som levado pelo SESC e também num dial FM ao redor do parque, num raio de 1 a 4 KM, através de um transmissor (livre) que o Ônibus carrega desde 2011. Tiago Luan (vulgo Tuiuiu) pilotou a rádio com música, chamadas pras oficinas e algumas entrevistas rápidas. Foi a partir dela que se deu a convocação para ação do futebol dos vereadores- chamada “A Partida De Futebol Mais Rápida do Mundo”: precisávamos de 22 participantes para dividir os times entre os que votaram a favor e contra o aumento dos salários.

Jogar futebol num parque com um belo gramado num domingo de sol a tarde parece convidativo, então dezenas de pessoas (a maioria, novamente, de crianças) se apresentaram para o jogo. Fizemos as máscaras dos vereadores a partir das imagens do jogo “Cara a Cara”, produzido pelo Labhacker de SP e distribuímos conforme a votação: 17 pra um lado, 5 pro outro. Produzimos um texto de apresentação da ação, para ser lido logo antes da narração da partida – que acabou ficando a cargo do próprio presidente da Câmara de Vereadores, Walter Gomes, com surpreendente traquejo de narrador, no vídeo transmitido pela TV Câmara (e disponível no Youtube) no dia da votação; simulamos duas traves a partir de cones e canos e um cronômetro, para marcar os 27s, numa TV grande ligada a um computador. Antes de começar, um participante da oficina, que esteve desde sexta feira de Guerrilha, apresentou a escalação de cada um dos jogadores/vereadores. Estava pronto o cenário pro happening.

Mas na hora da partida, é claro que tantos elementos “organizados” penderiam para o caos. E assim foi: a divisão dos times não se deu exatamente como na votação, e logo no início da partida dois “jogadores” saíram correndo com a bola pra um lado levando a marcação e praticamente todos os outros jogadores juntos, enquanto Walter Gomes narrava como um locutor esportivo nos alto-falantes o nome do projeto em votação. Uma cena nonsense que lembrou o famoso Futebol dos Filósofos do Monthy Phtyon, uma referência também mostrada na oficina. Quando bateram os 27s de partida, com o presidente da câmara na narração gritando “Aprovado!”, alguns dos jogadores se surprenderam: “ahhh, já acabou? só isso?”. Um menino, que havia insistido para ficar no time dos contrário ao aumento, falou: “mas não é justo! quero jogar um jogo justo”.

Ainda que bastante caótica, a ação funcionou como um “erro-experimento” de guerrilha a partir da técnica de criação de eventos para ressaltar o absurdo de uma situação real parodiada. E só aconteceu, mesmo que com vários “erros” de primeira vez, com a participação efetiva de muita gente, da oficina na sexta ao Ônibus Hacker no final de semana. Parece ser cada vez mais necessário, no mundo-vasto-mundo de informações da internet, por em prática uma ideia, mesmo que uma ainda em fase experimental e não acabada, do que ficar matutando uma ideia genial por meses e não conseguir por ela em prática.

No final da invasão, já a noite, ainda rolou a oficina pública de orçamento, em que Pedro Markun convidava os participantes a dividir o orçamento de sua cidade ideal conforme as pastas reais de uma cidade brasileira: educação, saúde, meio ambiente, cultura, legislativo, etc. Funciona como um jogo de tabuleiro: cada grupo escolhe quantos pontos vai para cada pasta, de um máximo total estimado do orçamento municipal. Depois, a distribuição do orçamento da cidade ideal foi confrontada com a de Ribeirão Preto, e com algumas discrepâncias notadas (por ex: a destinação para educação foi menor na ideal do que na Ribeirão Preto) vai se detalhando como funciona a distribuição de recursos públicos em um município. É uma ótima forma de aprender política jogando.

E, ufa, antes das 5h de viagem Ribeirão-Campinas-SP ainda teve uma nova roupa nova pro ônibus, a cargo dos grafiteiros Lelin, Lola e Brô.

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Fotos: Sheila Uberti (1,2,4, 5, 6, 7, 8, 9, 10, 12, 13, 15, 16, 17, 18, 19, 21, 22, 23, 24)
Me põe na boa (3, 11, 14), Raul Costa (20) Mais fotos aqui.

P.s (atualização 26/7): Fotos da “Partida De Futebol Mais Rápida do Mundo”, pelo coletivo Fuligem. Na sequência, os dois times escalados (1 e 2) e a partida (3 e 4). E o vídeo-registro, editado pelos participantes da oficina.

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[Oficina teórico-prática] GUERRILHA DA COMUNICAÇÃO (4 a 6h) https://baixacultura.org/2015/05/25/oficina-teorico-pratica-guerrilha-da-comunicacao-4-a-6h/ https://baixacultura.org/2015/05/25/oficina-teorico-pratica-guerrilha-da-comunicacao-4-a-6h/#respond Mon, 25 May 2015 04:12:32 +0000 https://baixacultura.org/novo/?p=14535

Seria a melhor subversão a alteração dos códigos em vez da destruição destes? Partindo dessa ideia, de algumas leituras e da documentação ao longo dos anos de ações “guerrilheiras” de comunicação aqui no site, é que nasceu a oficina de Guerrilha da Comunicação. A proposta da oficina é a de apresentar teoria e prática de táticas de comunicação de guerrilha: distanciamento, sobreidentificação, happenings, snipers (os franco-atiradores semióticos), subvertising (propagandas anti­consumo com símbolos do capitalismo), cut­-up, happenings, eventos eventos falsos e outras práticas agrupadas na ideia de artivismo. Nomes como Adbusters, Critical Art Ensemble, Wu Ming, Luther Blisset, William Burroughs, Stewart Home, En Medio, Espai in Blanc Provos e BaixoCentro são algumas das referências da oficina.

Veja um resumo das 3 edições abaixo: 

Publicações

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https://baixacultura.org/2015/05/25/oficina-teorico-pratica-guerrilha-da-comunicacao-4-a-6h/feed/ 0
Viver sem tempos mortos https://baixacultura.org/2014/01/29/vivem-sem-tempos-mortos/ https://baixacultura.org/2014/01/29/vivem-sem-tempos-mortos/#comments Wed, 29 Jan 2014 04:59:40 +0000 https://baixacultura.org/?p=9791 adbusters 1

O que diabos você pensa que está fazendo?

Nós não sabemos, nunca soubemos e nem vamos saber, e por isso voltamos a escrever e (promessa, promessa!) a publicar mais seguido aqui.

Recomeçamos de leve, como sempre, destacando os sempre necessários Adbusters, uma organização anti-consumista que publica uma bela revista de anti-publicidade que sempre que podemos falamos por aqui.

Desta vez o toque vai justo para uma edição da revista, de set/out de 2011, que fala sobre pós-anarquismo, e que pode ser lida em formato de posts (ou impressa, se você quiser comprá-la; ou ainda escutada, cada texto lido por alguém). Tem até artigo de Manuel Castells sobre as manifestações (que naquela época eram apenas embrionárias no Brasil), “The disgust becomes a network“, e uma provocação de Franco Berardi Bifo sobre o mesmo tema: “The time for indignation is over. We don’t have to get indignant anymore, we have to revolt“.

É dela as imagens que ilustram esse post, a frase que dá título e o trecho-chamamento-provocação escrito por Micah White, que não fazemos ideia de quem seja (mentira: é editor da AdBusters e o criador da ideia/logo original do Occupy WallStreet) e que resolvemos traduzir, de maneira interpretativa e rápida.

To live without dead time means to embody a great refusal, to find pleasure in struggle, to transform every moment of existence into a repudiation of the consumerist nightmare and an affirmation of revolutionary possibility. A semester, a year, a decade without Big Macs, Frappucinos and World of Warcraft but overflowing with midnight adventures of blackspotted billboards, guerrilla gardening and spectacular synchronized global memewar actions. Imagine if a huge number of us start living in this way, turning daily life itself into a form of resistance that re-enchants the city and reawakens the promise of a people’s insurrection. The way forward is through this kind of radical play.

(Viver sem tempos mortos significa incorporar uma grande recusa e encontrar prazer na dificuldade de transformar cada momento da existência em um repúdio do pesadelo consumista e uma afirmação da possibilidade revolucionária. Um semestre, um ano, uma década sem Big Macs, Frappucinos e World of Warcraft, mas repleto de ações subversivas de significados na calada da noite, jardinagem de guerrilha e uma guerra espetacular de ações globais sincronizadas de memes. Imagine se um grande número de nós começar a viver desse jeito, transformando a própria vida diária em uma forma de resistência que re-encanta a cidade e desperta a promessa de insurreição de um povo. O caminho a avançar é através desse tipo de ações radical.)

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P.s.1: Post para ler ao som da trilha sonora compilada pelos próprios adbusters para ler a revista:

P.s.2: Feliz 2014 com uma ode a indginação.

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Arqueologia da reciclagem digital https://baixacultura.org/2013/01/23/arqueologia-da-reciclagem-digital/ https://baixacultura.org/2013/01/23/arqueologia-da-reciclagem-digital/#comments Wed, 23 Jan 2013 16:43:36 +0000 https://baixacultura.org/?p=9538  

 

Para dar sequência ao resgate da biblioteca rizomática (veja os outros textos), trazemos pra cá um artigo que, por que não dizer, virou quase um clássico das redes: a “cultura da reciclagem”, do jornalista/pesquisador/artista e professor da PUCSP Marcus Bastos.

O trabalho circulou pela primeira vez na seção Novo Mundo da revista Trópico, editada por Giselle Beiguelman (hoje editora da Select) e uma das principais revistas de arte contemporânea (e digital) na rede em inícios e meados da década de 2000. Uma segunda versão foi apresentada no NP de Semiótica do congresso da Intercom e uma terceira, da qual nos baseamos aqui, foi publicada no Rizoma em 1 de junho de 2005.

O artigo/ensaio é um tour de force, como se diz por aí, sobre a a reapropriação – ou reciclagem – na cultura contemporânea. Bastos busca a história do sampler e uma série de iniciativas realizadas até o início dos 2000 para sugerir que a reciclagem se insere progressivamente em setores sociais cada vez mais amplos e, também, como uma prática comum no universo das mídias digitais. Explica: “O símbolo de uma sociedade preocupada em preservar suas reservas naturais e reaproveitar os detritos sólidos não é o Memex, é o sampler“.

O certo pioneirismo em tratar desse assunto com uma abordagem acadêmica e multidiscplinar em inícios dos 2000 faz o texto ser, ainda hoje, uma referência importante para quem pesquisar e saber mais sobre o como a reciclagem – ou o remix, reapropriação, quer seja o nome – está fatalmente cada vez mais presente na nossa cultura.

Alguns dos exemplos citados parecem ultrapassados diante da proliferação do remix, mas aí também reside o valor “arqueológico” que o ensaio/artigo adquiriu hoje ao recuperar essas manifestações. Vale dizer que atualizamos algumas informações, destacamos trechos, buscamos imagens pra ilustração (a que abre o post é um clássico do “remix ativista” do Adbusters), colocamos alguns links (como os dos seminais textos sobre bricolage e sampler na história da arte) e outras pequenas arrumações para que o texto flua e funciona melhor. Boa leitura!

A cultura da reciclagem 

Marcus Bastos

O carrinho do supermercado raspa no canto do refrigerador e as latas de Pepsi twist chacoalham em loop sincronizado com o ritmo da música que escapa pelas frestas entre o fone e o ouvido propriamente dito. No apartamento, enquanto o telefone não toca e os arquivos no Shareaza não completam o destino até o HD, um ritual comum a adeptos de todas as tribos e sub-tribos espalhadas pelas ruas da cidade: separar o lixo orgânico, não-orgânico, o plástico, o metal, o papel. A cena, familiar em sua trivialidade, vai além da mera descrição de um sábado qualquer antes do sushi com saquê, depois cinema, depois balada. O texto que aqui se inicia é justamente uma tentativa de entender que relações são possíveis entre momentos cotidianos como o descrito e a formulação do conhecimento que circula nos diversos circuitos que o institucionalizam. É o retrato de um processo que envolve entusiasmo, decepção, rigidez, preguiça e outros. Sentimentos humanos, ocultos entre linhas que querem relacionar os vários estímulos que fazem o habitante das metrópoles contemporâneas pensar e agir assim ou assado. Para que serve, afinal, o conhecimento senão para amenizar o fato de que, segundo Kenneth Branagh, não existem adultos, apenas crianças com dívidas no banco.

A favor dessa relação estranha, um método esquisito que permite perceber como um dos grandes temas da crítica cultural contemporânea, o hibridismo das manifestações simbólicas, também pode ser aplicado ao estudo da fórmula de marketing preferida da indústria alimentícia, que inunda as prateleiras de supermercado com misturas pré-fabricadas de guaraná com laranja, suco-de-abacaxi com hortelã, doritos com bacon e outros primores de uma culinária tão artificial quanto a inteligência que os cientistas cognitivos buscam em suas pesquisas. A coincidência revela que há mais coisas entre o estado de um época e as várias formas de transformá-la em livros, CDs e DVDs, do que supõe a nossa vã — e às vezes pouco disposta a investigar o que acontece fora do mundo do pensamento reconhecido pelos pares — filosofia. Começa aqui o terceiro tratamento de um texto que é muito anterior à sua escrita propriamente dita.

Talvez a questão central nem mesmo esteja presente no eixo evidente de sua organização, o que ficou claro nessa oportunidade de voltar ao tema (1). Daí o gesto pouco recomendado de afastar do leitor o tema central do artigo, obrigando-o a leitura de uns poucos parágrafos resultantes da busca pelas motivações para a tentativa esboçada adiante, de associar o universo fugaz — intoxicado por modas e outras formas mundanas de preservar o imediato — das diversões, eletrônicas ou não, que fazem o fim-de-semana nas cidades do mundo, ao universo compenetrado — enrijecido por normas e outras formas livrescas de mediar o que se pretende preservado — das universidades e outras instituições dedicadas à construção, ao acumulo, à circulação dos saberes.

e talvez seja uma história chata, mas você não precisa ouvir, ela disse, porque ela sempre soube que ia ser daquele jeito”, disse Bret Easton Ellis [o mesmo de Psicopata Americano] em “Os jogos da atração“. Os livros sobre Internet e mídias digitais fazem referências constantes ao Memex e à Arpanet, assim como os livros de história contam invasões, batalhas e guerras. Mas a história das mídias digitais não precisa ser necessariamente o resgate das pesquisas financiadas pelo governo com fins militares, assim como nem sempre os livros de história precisam ater-se às grandes narrativas, deixando de lado fatos cotidianos igualmente significativos. Buscando as raízes da cultura digital em outras paragens seria possível encontrar inúmeras manifestações de igual importância histórica e maior relevância cultural (2).

A história da Internet é, por exemplo, a história de como vários atores da contracultura que se consolida dos anos 60 em diante optam por colocar suas idéias em prática na indústria então emergente dos computadores pessoais. O presente artigo sugere que a reciclagem, um dos exemplos de como o ideário dessa contracultura se insere progressivamente em setores sociais cada vez mais amplos, é uma prática comum também no universo das mídias digitais. O símbolo de uma sociedade preocupada em preservar suas reservas naturais e reaproveitar os detritos sólidos não é o Memex, é o sampler. Assim, parece razoável aproximar a linguagem digital do universo em que este se desenvolve, na construção das pequenas amostras de  pensamento desenvolvidas abaixo, para que o leitor combine da forma que achar mais interessante.

 

Uma breve história do sampler

Herdeiro do Fairlight CMI (imagem acima e como novidade apresentada na TV em 1980), um computador criado pelos australianos Kim Rydie e Peter Vogel em 1979, e aperfeiçoado na dança anônima da música eletrônica, o sampler é um aparelho que grava e permite a manipulação de amostras sonoras.

Com o sampler, compor torna-se também na música pop a arte de combinar sons e trechos de músicas. O procedimento remete às práticas da música eletroacústica, mas desenvolve-se com nome e atitude nos subúrbios das grandes cidades norte-americanas, sendo o rap nova-iorquino e a música criada para as warehouse parties (festas em armazéns abandonados precursoras das raves) que de Detroit as manifestações pioneiras. Em 1948 a palavra sample servia apenas para designar amostras colhidas em exames médicos e pesquisas qualitativas.

Sem saber que o termo em breve ganharia outros sentidos, Pierre Schaeffer fala em música concreta para descrever suas experiências na rádio francesa ORTF. No artigo “A experiência musical”, o compositor explica como “toma partido composicionalmente dos materiais oriundos do dado sonoro experimental /…/ não mais com relação a abstrações sonoras preconcebidas, mas com relação a fragmentos sonoros existentes concretamente, e considerados como objetos sonoros definidos e íntegros, mesmo quando e sobretudo se eles escapam das definições elementares do solfejo(3).

Além de facilitar a composição a partir dos sons, o funcionamento do sampler sinaliza para a possibilidade de explorar a re-utilização de materiais como técnica para produzir textos, imagens e música, e pode ser associado às diversas formas de colagem e apropriação produzidas na história da arte e da literatura. Essa relação já foi explorada em artigos como “On bricolage“, de Anne-Marie Boisvert, “Art history shake and bake“, de Sara Diamond, e na primeira versão deste artigo, publicado na revista Trópico sob o título Cultura Sampler (4).

Apesar de importante, por inserir o sampler num  contexto cultural mais amplo, a relação com manifestações semelhantes não esgota o assunto. Além disso, os exemplos descritos nos artigos em questão, mostram que o uso de amostras como forma de manipulação de linguagem em que há um novo tratamento de material previamente criado não se restringe à música, o que permite generalizar o conceito de sampler, especialmente quando se observa que o computador unifica as práticas de tratamento de mídias, na medida em que as manipula todas a partir do parâmetro comum do código binário. Mesmo em micros domésticos é possível converter praticamente qualquer produto cultural em arquivos que  podem ser armazenados, editados e distribuídos em formato digital. Nesse sentido, o scanner pode ser usado como um sampler de imagens, o OCR como um sampler de textos, o bloco de notas como um sampler de códigos fonte, as placas de captura de vídeo como um sampler audiovisual, e assim por diante.

Projeto Care, de Nelson Leirner; uma apropriação.

A apropriação e o remix

No universo musical, o novo tratamento dado ao material sonoro recebe o nome de remix. Em “Models of Autorship in New Media(5), Lev Manovich afirma que, nos últimos anos, a prática do remix ganha espaço fora do universo musical, apesar de não ser admitida abertamente. Para Manovich, o remix implica em um novo tipo de relação de autoria, resultado do diálogo assíncrono entre criadores, ainda que, em áreas como as artes visuais, o cinema e a literatura, o remix seja visto como violação de direitos autorais. Para preservar os direitos do autor, quando se escreve sobre as idéias de outra pessoa, é de praxe usar marcas textuais como: ainda segundo Manovich, fora do universo musical o termo mais próximo de remix é apropriação.

Ao contrário do que sugere o teórico russo, a apropriação e o remix têm finalidades bastante diferentes. A prática do remix se resume, na maioria das vezes, a um novo tratamento rítmico do material sonoro. Não acontecem grandes mudanças na estrutura melódica e harmônica da composição, geralmente re-embalada com fins de adequá-la às sonoridades predominantes nas paradas de sucesso ou nas pistas-de-dança. Isso não tira o mérito da prática, especialmente em casos em que há mais interferência no original, de que as 7 mixagens diferentes de Papua New Guinea, do FSOL, são um bom exemplo. Além disso, uma série de artistas começa a explorar, especialmente com a popularização das mídias digitais, formas alternativas de remix. É o caso dos trabalhos de Rick Silva, que mistura referências da literatura e música pop (6), e dos trabalhos audiovisuais de VJs como Alexis, e sua manipulação ao vivo de Cidade de Deus, ou Luiz Duva, que recriou o clássico Made in Brazil, de Letícia Parente, na programação do 14º VideoBrasil.

No caso da apropriação, ao contrário do remix, não há um novo tratamento de material produzido com fins culturais, mas recontextualização de objetos dos mais diversos tipos. Dois bons exemplos são as obras Projeto Care e Trabalhos Feitos em Cadeira de Balanço Assistindo Televisão. Nelas, Nelson Leirner recupera o imaginário do consumo e da cultura urbana, interferindo em objetos anônimos, como cartões de natal e latas de refrigerante. Ao fazê-lo, atribui uma assinatura aos mesmos, denunciando nos bastidores do mercado de arte um culto à personalidade ironicamente semelhante ao star system de Hollywood — mesmo que fundado em rituais completamente diferentes. Além disso, práticas comuns no contexto do situacionismo (7), como trocar os balões de HQs para subverter seu sentido, ressurgem na Internet, com o auxílio dos recursos de tratamento digital e distribuição possíveis (8).

Na literatura, a prática remonta a poemas como Um metro e meio de poesia (Gastão Debreix), Punk Poem (Edgard Braga) e Em Progresso (Tadeu Jungle). Neles, também ocorre a re-significação de objetos cotidianos (a fita métrica, o alfinete, a bandeira do Brasil). Mas, como poesia é feita em livro e livro se multiplica, o que era objeto único tirado do contexto vira página reproduzida, mesmo que artesanalmente.

Além disso, outra diferença entre a apropriação literária e a apropriação nas artes visuais é que a primeira pode se restringir ao plano textual. Ainda que isso aproxime a prática das diversas formas de intertextualidade, é preciso deixar claro que só há apropriação quando existe um reaproveitamento físico dos materiais que compõem o texto de partida. Um exemplo é o poema Cummings: Não- tradução (Paulo Miranda), em que o texto do poeta americano é transposto para as páginas da revista Artéria 2 por métodos gráficos.

A digitalização

As mídias digitais acentuam esse jogo de reciclagens, presentes de maneiras distintas na colagem, na apropriação e no remix. Isso fica claro pela quantidade de exemplos em que há novos tratamentos de material digitalizado, sejam clássicos da literatura (HyperMacbeth, música de Kid Koma, letras de William Shakespeare; ainda disponível na rede), obras importantes da história do cinema (Alpha Beta Disco: Godard Remix, do duo americano Drop Box), trilhas sonoras de videogame (Overclocked Remix, uma comunidade de trilhas de videogame), sites (o remix de ~Real para Jodi) e diagramas (complex net art diagram, a remix of mtaa’s simple net art diagram, de Abe Linkoln), entre outros.

A base dessa cultura é “invisível” para o usuário. É comum na programação — especialmente depois da popularização da programação orientada a objetos — a re-utilização/atualização de códigos-fonte. A própria lógica da indústria da informática é, assim, um bom exemplo de reciclagem. Basta substituir o número depois do nome de cada programa pelo nome do diretor de programação acompanhado da palavra mix, e tudo fica mais claro — para deleite do público e azar de quem for assinar o Windows (Plug-and-pray remix) e o Windows (Xtra Problemas Version)!

Mas reciclar produtos culturais não é exatamente como reciclar detritos sólidos ou programas de computador. Na reciclagem de lixo, o produto resultante será utilizado novamente, com poucos e declarados prejuízos em relação ao material não-reciclado. Na reciclagem de produtos culturais, há o risco de efeito inverso. Como o procedimento é amplo, podendo ser utilizado nos mais diversos contextos, serão consideradas pertinentes à cultura da reciclagem apenas as práticas criativas que exploram a materialidade das linguagens, manipulando com postura crítica e/ou irônica o material tratado, especialmente nos casos em que isso acontece em ambiente digital.

Um bom exemplo é o trabalho do site plagiarist.org, que usou o programa em Perl Travesty para realizar o recente Travesty Corporate PR Infomixer, repetindo a estratégia do mais antigo Plagiarist Manifesto. Ambos se apropriam de trechos de texto combinados por meio de um algoritmo que os rearranja com base na freqüência em que as palavras aparecem no texto de partida. Além deles, destaca-se o pioneiro Reciclador Multi-Cultural (ainda em funcionamento), em que um programa seleciona imagens de câmeras web indicadas pelo usuário, para compor uma imagem aleatória. Nos dois casos, o algoritmo de programação é o elemento central dos trabalhos. Além do caráter modular, permutacional e instável da Internet, os trabalhos tematizam ainda o jogo econômico do capitalismo coorporativo e, especialmente, seus reflexos nas práticas de plágio e proteção dos direitos autorais (9).

Reciclador multicultural

Mais próximo da apropriação, errata :: erratum (DJ Spooky) é uma metáfora do remix como arte de girar discos, e homenagem cinética à técnica do scratch. Inspirado em Anemic Cinema (Marcel Duchamp), o trabalho oferece uma versão digital dos discos originais, para que o usuário gire e combine conforme os movimentos de mouse possíveis no arquivo de Flash disponível na galeria digital do Museu de Arte Contemporânea de São Francisco (EUA). Apesar das implicações institucionais passíveis de discussão no gesto, especialmente pelo fato de um site não depender do espaço do museu para ser veiculado, o trabalho de Spooky não foi objeto de polêmicas tão contundentes quanto as que envolveram os trabalhos de Duchamp.

Sinal de que a cultura contemporânea já absorveu práticas similares. Há boas discussões sobre esse paradoxo no artigo “Contra o Pluralismo”, de Hal Foster (10). O tema aparece, ainda que em outro contexto, quando Naomi Klein descreve no seu “Sem Logo“, as diversas formas que a indústria da cultura encontra para neutralizar as manifestações que desafiam os discursos dominantes, sempre transformando em moda, tendência ou estratégia de marketing tudo o que desafia o coro dos contentes (11).

Outro aspecto dessa cultura de reciclagem aparece em trabalhos que lidam com o imaginário do nomadismo. Um aspecto sutil dos movimentos constantes de mídias e códigos é sua migração entre sistemas e as questões que ela acarreta. Assim, é sintomático que uma artista com trabalhos pioneiros no universo do efêmero e do reciclável, como é o caso de Giselle Beiguelman (O livro depois do livro), tematize em seguida o universo do nomadismo contemporâneo.

Ainda que a maior parte do fluxo atual ainda seja resultado de transmissão de dados por pessoas presas ao escritório pelos fios do computador de mesa, os dispositivos móveis ganham cada vez mais espaço. Esse trânsito aparece na evolução tecnológica e na temática de Leste o Leste?, Egoscópio (imagem acima) e Poetrica, trilogia em que Beiguelman explora painéis eletrônicos para orquestrar dinâmicas coletivas cada vez menos presas ao computador pessoal.

Não importa a sensação de que “nos veículos de massa, esses tipos de apropriação são tão ubíquos que parecem não ter agentes”, nas palavras de Hal Foster. No entorno do universo inaugurado pelo sampler, as práticas de re-utilização, apropriação e reciclagem de mídias invertem o lugar do anônimo. Nesse contexto, reciclar é marca de uma sociedade em que o excesso e a velocidade interessa.

Notas

1. O texto A cultura da reciclagem teve uma primeira versão publicada na seção Novo Mundo da revista Trópico, editada por Giselle Beiguelman, e uma segunda versão apresentada no NP de Semiótica do Intercom, coordenado por Irene Machado. Agradeço a ambas e a Lúcia Santaella pelas oportunidades e estímulos constantes à acreditar na força das pequenas polaróides cotidianas, desvios e ajustes do olhar em busca de imagens mais definitivas.
2. O livro depois do livro (São Paulo, Peirópolis, 2004), de Giselle Beiguelman, é um bom exemplo de reflexão sobre a Internet pautada por preocupações desvinculadas dos usos conservadores da rede, conforme apresentação mais extensa na resenha “Está provado que já é possível filosofar em digital”, publicada pelo autor do presente texto na revista Galáxia n.7 (São Paulo, Edusp,2004).
3. Cf. Menezes, Flô [org.]. Música Eletroacústica. História e Estéticas. São Paulo: Edusp, 1996.
4. Os textos de Boisvert e Diamond foram publicados na Horizon Zero n. 8, a primeira versão do presente artigo publicada na Trópico não está mais disponível.
5. http://www.manovich.net
6. os sites Cuechamp e DJ RABBI.
7.  “A miséria do meio estudantil considerada em seus aspectos econômico, político, psicológico, sexual e, mais particularmente intelectual, e sobre alguns meios para remediá-la”, in: Situacionista. Teoria e Prática da Revolução. São Paulo: Baderna, 2002.
8. Cf. “The remix of politics”, de Rick Silva.
9. Para um discussão mais extensa sobre o uso de códigos no trabalho da Plagiarist.org e outros expoentes da cultura digital, ver O livro depois do livro, de Giselle Beiguelman (São Paulo: Peirópolis, 2004).
10. In: Foster, Hal. Recodificação. Arte, espetáculo, política cultural. São Paulo: Casa Editorial Paulista, 1996.
11. Cf. Klein, Naomi. Sem logo. A tirania das marcas em um planeta vendido. São Paulo: Record, 2002.

 Créditos: Adbusters, Sampler, Leirner, Art, recycler, Egoscópio.
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https://baixacultura.org/2013/01/23/arqueologia-da-reciclagem-digital/feed/ 1
Estamos Vencendo: resistência global no Brasil e no Mundo https://baixacultura.org/2012/02/02/estamos-vencendo-e-a-resistencia-global-no-planeta/ https://baixacultura.org/2012/02/02/estamos-vencendo-e-a-resistencia-global-no-planeta/#comments Thu, 02 Feb 2012 17:18:47 +0000 https://baixacultura.org/?p=5746

Bem antes de Charlie Shen adotar o lema “Winning” ou de Mark Zuckerberg pensar em criar o Facebook, um movimento profético se rebelava contra a falência de um sistema (financeiro, político) em pleno coração do capitalismo.

Este movimento – que no subterrâneo existe desde sempre, seja nas mãos dos anarquistas, do movimento estudantil ou dos punks, situacionistas e outras redes culturais – tomou de “assalto” as ruas da capital grunge, Seattle, em 30 de novembro de 1999, na reunião da OMC (Organização Mundial do Comércio), no que foi conhecido como a “Batalha de Seattle“.

Isso tudo tu já deve saber, pois explicamos brevemente neste texto. O que não falamos é que Seattle foi a ponta de lança de um movimento subversivo –  anticapitalismo, anti-globalização, ou o nome que se queira dar – que se espalhou pelo mundo nos anos seguintes. Especialmente no período de 2000 a 2003, cidades como Washington, nos EUA, Gênova, na Itália, Praga, na República Tcheca, Quebec no Canadá, e São Paulo, no Brasil, foram palco de manifestações contra as múltiplas facetas autoritárias/ maléficas que a $$, o preconceito e o individualismo podem trazer para a sociedade.

No Brasil, uma das melhores referências para entender o que aconteceu é o livro “Estamos Vencendo! – Resistência Global no Planeta“, de Pablo Ortellado e André Ryoki, publicado pela Conrad em 2004 na linda Coleção Baderna. Ele documenta, através das fotos do historiador Andre Ryoki, e reflete, com um texto do hoje professor da USP Pablo Ortellado, como se deram as manifestações “antiglobalização” em terras brasileiras, especialmente aquelas que ocorreram em São Paulo, Fortaleza, Belo Horizonte e Curitiba.

São as fotos do livro que tu encontra mais abaixo nesse post, colocadas em uma galeria do Picasa para facilitar a visualização. Clicando em cada foto, você é direcionado para o Picasa e poderá ver as fotos e as legendas originais que estão no livro.

Cartaz do Adbusters, que esteve em Seattle 1999 e Wall Street 2011

Qualquer semelhança de protestos no “coração” do sistema financeiro que foi (é) Occupy Wall Street não é mera coincidência. Como escrevemos anteriormente, existe (pelo menos) um elo que une estes dois momentos históricos: o Adbusters, revista/movimento anticonsumo com sede no Canadá, que esteve nas manifestações de Seattle em 1999 e convocou o Occupy Wall Street em 2011. [E que, em breve, vai ganhar mais destaque por aqui; aguarde].

Mas também há diferenças bem claras. Naomi Klein, escritora/ativista e autora de “No Logo” (traduzido aqui como “Sem Logo- A tirania das marcas em um planeta vendido“), livro essencial para entender o mundo hoje, fez um discurso no parque Zucotti, em Wall Street, em que ressaltou estas diferenças de alvo, tática e contexto – não sem antes afirmar que “amava” os manifestantes que ali acampavam. Publicamos o discurso na íntegra, em tradução do professor Idelber Avelar, e reproduzimos aqui os trechos em que ela traça o paralelo entre as diferenças entre os dois movimentos:

Em Seattle, em 1999, nós escolhemos as cúpulas como alvos: a Organização Mundial do Comércio, o Fundo Monetário Internacional, o G-8. As cúpulas são transitórias por natureza, só duram uma semana. Isso fazia com que nós fôssemos transitórios também. Aparecíamos, éramos manchete no mundo todo, depois desaparecíamos. E na histeria hiper-patriótica e nacionalista que se seguiu aos ataques de 11 de setembro, foi fácil nos varrer completamente, pelo menos na América do Norte.

O Ocupar Wall Street, por outro lado, escolheu um alvo fixo. E vocês não estabeleceram nenhuma data final para sua presença aqui. Isso é sábio. Só quando permanecemos podemos assentar raízes. Isso é fundamental. É um fato da era da informação que muitos movimentos surgem como lindas flores e morrem rapidamente. E isso ocorre porque eles não têm raízes. Não têm planos de longo prazo para se sustentar. Quando vem a tempestade, eles são alagados.

Mas a grande diferença que uma década faz é que, em 1999, encarávamos o capitalismo no cume de um boom econômico alucinado. O desemprego era baixo, as ações subiam. A mídia estava bêbada com o dinheiro fácil. Naquela época, tudo era empreendimento, não fechamento.

Nós apontávamos que a desregulamentação por trás da loucura cobraria um preço. Que ela danificava os padrões laborais. Que ela danificava os padrões ambientais. Que as corporações eram mais fortes que os governos e que isso danificava nossas democracias. Mas, para ser honesta com vocês, enquanto os bons tempos estavam rolando, a luta contra um sistema econômico baseado na ganância era algo difícil de se vender, pelo menos nos países ricos.

Dez anos depois, parece que já não há países ricos. Só há um bando de gente rica. Gente que ficou rica saqueando a riqueza pública e esgotando os recursos naturais ao redor do mundo.

Rodrigo Savazoni também lembra o discurso de Naomi e a relação Seattle 1999 Wall Street 2011 em um texto na revista Select deste bimestre (que entra no site na próxima semana), que também vale a leitura.

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Como diz o texto de divulgação de “Estamos Vencendo!”, “as fotos destacam três dimensões constitutivas desse novo movimento: a ação direta das ruas, a criatividade auto-expressiva das manifestações e a constituição de um novo tipo de coletividade onde a massa homogênea é substituída pela diversidade individualizada da multidão“. A maioria delas estão aqui abaixo, gentilmente cedidas por André Ryoki, a quem agradecemos imensamente. [O livro está em Copyleft].

“Sobre a passagem de um grupo de pessoas por um breve período da história”, texto de Pablo Ortellado que abre o livro, contextualiza de forma interessantíssima o que ocorreu nas ruas brasileiras daquele início de década passada. Traz inicialmente uma breve explicação de onde e como surgiu o movimento antiglobalização no Brasil – “da convergência de outros dois movimentos que surgiram ou re-emergiram nos anos 1980, o movimento estudantil independente e autogestionário e o movimento anarquista propriamente dito”.

Estas duas vertentes, continua Pablo, “convergiram, mais ou menos casualmente, atraídas pelos fascinantes acontecimentos de Seattle. Mas o movimento, claro, não começou em Seattle, como dizia o slogan das manifestações contra a ALCA em 2001. De fato, Seattle foi a vitrine midiática de um movimento que pode ter muitas origens, mas que, na sua vertente radical, remonta à inspiração da revolta zapatista em 1994 e à articulação dos dias de ação global em 1998.” [Para um estudo aprofundado dessas origens, ler Aproximações ao movimento ‘antiglobalização’“, do próprio Pablo]

A partir dessa contextualização inicial, o doutor em filosofia e hoje professor da USP Ortellado propõe reflexões sobre o movimento em torno de sete eixos: autonomia, anticapitalismo, redes, liderança, auto-expressão, mídias e alternativas. São páginas que todo movimento de hoje deveria ler para se fortalecer enquanto movimento e, principalmente, para aprender com as experiências anteriores, já que o texto é bem sincero e crítico quanto as agruras e maravilhas de se estar num convívio com pessoas diferentes de forma horizontal.

Na parte que trata das redes, por exemplo, ele as diferencia conceitualmente de outras formas semelhantes de organização e aponta características dessa relativamente nova forma de se organizar que são as redes. Uma das características aqui abaixo:

“As redes não precisam se desfazer e refazer a cada oportunidade, elas podem simplesmente adquirir diferentes formatos e composições. Se num determinado momento, um grupo tem um desentendimento pontual, ele não precisa abandonar a rede, mas pode simplesmente não colaborar naquele ponto, da mesma forma que, em momentos específicos, a rede pode incorporar a colaboração extraordinária de novos agentes que se interessam apenas por uma ação específica. Isso significa apenas levar o velho princípio anarquista da livre-associação até a sua conseqüência lógica: a livre dissociação.”

Por questões de espaço (o texto de abertura tem 15 páginas!), não vamos publicar aqui a íntegra. Pela mesma questão de espaço, não publicamos também a cronologia que o livro faz dos acontecimentos da época. Mas todas estas partes que não são fotos e imagens do livro podem ser lidas, baixadas e compartilhadas neste link.

É uma referência histórica importante para entendermos o ativismo do intenso 2011 que passou e do transformador 2012 que está começando.

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DA NECESSIDADE DE CONTINUAR OCUPANDO AS RUAS

[Clique nas fotos para ver o restante da galeria.]

O31, 2002. No dia 31 de outubro de 2002, ministros dos países envolvidos com o projeto da ALCA reuniram-se em Quito, Equador, para mais uma rodada de negociações. Houve manifestações em todo o continente americano. Em São Paulo, os manifestantes organizaram uma passeata desde as escadarias da Casper Líbero na Av. Paulista até o Largo do Patriarca, no centro da cidade. No final do percurso houve distribuição de feijoada vegan para o pessoal que saía do trabalho.

 

SE EU NÃO PUDER DANÇAR, NÃO É MINHA REVOLUÇÃO

 

N9, 2001. Uma rápida parada durante o McLanche Feliz.


MULTIDÃO

J20, 2001


ANEXOS (documentos, panfletos e cartazes de algumas das manifestações que ocorreram no período)

Cartaz de estudantes da USP chamando ao I Fórum Social Mundial em Porto Alegre.

[Leonardo Foletto, Marcelo De Franceschi]

Crédito da imagem: 1 [we are winning] 2 [adbusters]
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https://baixacultura.org/2012/02/02/estamos-vencendo-e-a-resistencia-global-no-planeta/feed/ 3
Ativismo (digital) em Conexão Global https://baixacultura.org/2012/01/24/ativismo-digital-em-conexao-global/ https://baixacultura.org/2012/01/24/ativismo-digital-em-conexao-global/#comments Tue, 24 Jan 2012 14:08:18 +0000 https://baixacultura.org/?p=6220

O ano é 1999.

O mundo pop assiste ao momentâneo desaparecimento do rock das paradas, que são tomadas por boy e girls band insossas. O planeta econômico vive um de seus auges do livre-comércio, mercado regulando a tudo e a todos e “só” desfavorecendo quem não pode entrar nesse jogo – 99% da população global.

Nos Estados Unidos, a OMC (Organização Mundial do Comércio), todo poderoso orgão do livre-mercado, escolhe Seattle como mais uma de suas reuniões anuais. Em 30 novembro de 1999, data da reunião, um inesperado levante de pessoas – entre 40 e 100 mil, estudantes, anarquistas, trabalhadores, pacifistas, dentre outros tantos – paralizam as ruas da cidade berço do grunge. Os manifestantes bloquearam os cruzamentos de Seattle de modo a não deixar os delegados dos governos chegaram ao local de encontro da OMC. A polícia responde com violência e o encontro é cancelado.

Quem imaginaria que, exatamente no momento em que o tal “poder” estava mais certo de que vencera a tudo e todos, eles apareceriam? Seattle se torna a vitrine de um movimento subversivo – anticapitalismo, anti-globalização, ou o nome que se queira dar – que, nas palavras do sociólogo francês Edgar Morin, inaugura o século XXI.

Corta para 2011. A primavera árabe, Occupy WallStreet e os ocupes que se espalharam pelo mundo, os Indignados da #spanishrevolution. “Cadê aquela juventude de tão saudável apatia?” Nós somos os 99%. De novo: quem imaginaria que, exatamente no momento em que o “poder” estava mais certo de que vencera a tudo e todos, eles apareceriam?

Apareceram. E com uma arma que, lá em 1999, ainda engatinhava em suas potencialidade de uso: a internet.

Conexões Globais, que começa amanhã (25/01) na Casa de Cultura Mário Quintana em Porto Alegre, tenta fazer uma ponte entre estas duas datas (e realidades) importantes. O Conexões está dentro da programação do Fórum Social Temático, versão 2012 para o Fórum Social Mundial criado em 2001, tendo por sede inicial Porto Alegre – e, por uma das inspirações, os movimentos do 30N de 1999 em Seattle.

[O Fórum e o Adbusters, movimento anti-consumo que esteve nas manifestações de Seattle em 1999 e convocou o Occupy Wall Street em 2011, são os possíveis elos perdidos entre os dois períodos.]

Mesmo que fazer a tal ponte não seja o objetivo declarado do evento, o paralelo é inevitável: as movimentações de Seattle em 1999 trouxeram novamente para a pauta do dia (e da “grande mídia”) a revolta contra um sistema (político, econômico) que tinha como principal produto a desigualdade (social, econômica).

O mundo de 2012 é outro. O ano passado trouxe novamente para a pauta do dia a movimentação e a revolta contra um sistema (econômico, social, político) que, como dizem os indignados espanhóis, “não nos representa”. Mas agora há a diferença de que a “grande mídia” não é mais aquela que escolhia sobre o quê todos deveriam falar. Com a rede e os computadores, todos nós, descontentes ou não com a imprensa, podemos noticiar e divulgar o que quisermos – e, tão importante quanto, temos a infinita possibilidade de escolher o que ver.

A internet taí, a diluir as barreiras do on e offline e a favorecer a diferença. É, enfim, a mais poderosa arma para realmente fazer crer o slogan do Fórum: um outro mundo é possível.

O Conexões Globais traz, em sua programação, palestras, desconferências, oficinas, shows e diálogos sobre ativismo, comunicação e cultura digital. Os Diálogos Globais (quarta a sábado, das 16 e 18h15), estabelecerão conexões diretas entre os presentes em Porto Alegre e participantes de movimentos ativistas em voga hoje, como a Primavera Árabe, os Indignados da Espanha, o Occupy em Nova York e Londres.

Além da presença de ativistas que participaram dos movimentos acima, alguns dos destaques da programação são Javier de la Cueva – advogado espanhol, especialista em direitos digitais, defensor do Ladinamo (primeira sentença que reconheceu o Copyleft), na quarta, às 16h15; Gilberto Gil, às 18h15 da mesma quarta, num painel com Olga Rodríguez, jornalista que acompanhou a movimentação da Primavera Árabe;  Stéphane M. Grueso, diretor do doc “¡Copiad, malditos!”, primeiro ducumentário exibido pela TVE (Televisão Espanhola) com licenças Creative Commons, na quinta às 18h15; Domenico de Siena, urbanista italiano que pesquisa o urbanismo e as cidades open codes, dos mais ativos atores no 15 M na Espanha; dentre outros participantes nacionais conhecidos na área da cultura digital, como Sérgio Amadeu, Ivana Bentes, Rodrigo Savazoni, Claudio Prado, Giuseppe Cocco, dentre outros.

[A programação completa do evento, que vai ser transmitido por streaming, você vê aqui].

O Conexões acontece numa hora movimentada para o ativismo digital planetário, principalmente pelos acontecimentos da semana passada. Só um pequeno balanço dos principais fatos da semana passada já rendem alguns parágrafos. Vejamos:

_Blecaute ao SOPA: Um grande número de sites aderiu ao bleucate, nos Estados Unidos e no Brasil. Nos país de Obama, o protesto não contou com os grandões da NetCoalition, Facebook e Google [que chegou a colocar uma tarja preta na homepage de seu site americano e, depois, postou, abaixo da linha de busca, o link “Diga ao Congresso: Por favor, não censure a internet!“], mas foi liderado pela Wikipedia, que em sua versão em inglês mostrava apenas a página acima quando se realizava alguma busca.

Os protestos conseguiram um primeiro objetivo: adiar a votação. O  deputado republicano Lamar Smith, autor da lei, decidiu adiar a votação do projeto até que “haja amplo acordo sobre uma solução”, segundo informações do Terra. O Protect IP Act (PIPA), projeto semelhante em andamento no Senado que seria votado hoje (24/01), também não foi votado. O senador Harry Reid afirmou que adiou em virtude dos “recentes acontecimentos”.

Mas não se engane: o lado de lá está se reorganizando. E vai voltar à carga em breve, “pois o que se conseguiu até aqui foi parar o trator, mas não impedir –de uma vez por todas- a demolição das bases sobre as quais usamos a rede”, como escreveu o professor Sílvio Meira em sua coluna no Terra.

Fechamento do Megaupload: um dos maiores sites de compartilhamento online do mundo, o Mega foi desativado pelo FBI na última quinta-feira (19/01). O fundador do site, o gigante alemão Kim DotCom, e três executivos da empresa foram presos na Nova Zelândia a pedido das autoridades norte-americanas. A acusação diz que o site lesou proprietários de direitos autorais em mais de US$ 500 milhões [Queríamos entender como o cálculo que chega a este número é feito] ao abrigar conteúdo pirateado, particularmente filmes e músicas.

A ação aconteceu um dia depois do blecaute contra o SOPA e PIPA, que estavam em discussão no Congresso dos Estados Unidos

Reação do Anonymous: Em retaliação ao fechamento do MegaUpload, o Anonymous pegou os discos e filmes da Sony/Universal – um dos principais conglomerados de entretenimento que apoia o SOPA – e disponibilizou tudo para download neste site, em torrents ou em outros sites que hospedam arquivos na rede, como o Deposit Files.

Além de uma bela jogada política, a ação do Anonymous facilitou e muito o acesso ao belo acervo da Universal, organizando-o todo em ordem alfabética. Ali tem desde toda a discografia do Pink Floyd a do Michael Jackson, para ficar só em dois nomes clássicos do rock/pop, até diversos filmes recentes do braço de cinema da Universal, divididos por ano de lançamento (de 2001 a 2011; corra até o fim da página para ver os links).

Não foi só isso que o Anonymous andou aprontando: no mesmo dia 19/1, quinta-feira passada, eles derrubaram temporariamente sites de grupos como a Warner até órgãos ligados ao governo norte-americano, como o FBI e o Departamento de Justiça dos Estados Unidos, e da França, como o site do Hadopi, nefasta lei que pode cortar o acesso a rede para quem baixar conteúdo supostamente protegido por copyright no país do Asterix.

Sites que o Anonymous “derrubou” em 19/01

Será o início de uma guerra digital global?

A ver.

P.S: Nas próximas semanas, iniciaremos uma série sobre os protestos em Seattle 1999 e os que vieram a ocorrer inspirados por este. 

Créditos fotos: 1 (André Ryoki, Estamos Vencendo!); 2 (OccupyWallStreet); 4 (Wikipedia Blackout); 5 (Anonymous) e 6 (sites derrubados pelo Anonymous)

]]> https://baixacultura.org/2012/01/24/ativismo-digital-em-conexao-global/feed/ 8 O comercial e a propagação do Occupy Wall Street https://baixacultura.org/2011/10/24/o-comercial-e-propagacao-do-occupy-wall-street/ https://baixacultura.org/2011/10/24/o-comercial-e-propagacao-do-occupy-wall-street/#comments Mon, 24 Oct 2011 16:17:34 +0000 https://baixacultura.org/?p=5670

Completados pouco mais de um mês dos protestos que começaram dia 17 de setembro, o movimento Occupy Wall Street – cuja versão em São Paulo sequer foi noticiada na TV – usou de uma nova estratégia para divulgar a causa. Dia 12 de outubro foi publicado no youtube uma propaganda de 30 segundos com depoimentos de diversos manifestantes. A intenção era veicular o vídeo em TVs por assinatura por meio do Google TV Ads, a plataforma digital para divulgação e mensuração de anúncios na TV. Depois de ter sido produzido pelo diretor  David Sauvage e pelo compositor Glenn Grossman, eram necessários 5 mil dólares para a veiculação, que foram arrecadados através de uma campanha no site de crowdsourcing LoudSauce. Conseguiram US$ 6,278.

Abaixo tu pode ver o resultado que foi ao ar, legendado por nós:

[youtube=http://www.youtube.com/watch?v=udn6P5kZSXc]

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Apesar dos rumores de dispersão, Occupy Wall Street ganha força no mundo inteiro. Especialmente a partir das manifestações do Global Change, em 15 de outubro, o movimento passou a ser internacional – muitas destas manifestações estão sendo mapeadas e documentadas no site Occupy Together, onde tu pode baixar de grátis o cartaz acima e mais outros tantos disponíveis. A cada semana colaboradores (entidades, organizações, pensadores) de peso se juntam, alastrando o lema “ocupar” para milhares de lugares e causas.

Por exemplo: em Nova York, foi lançado em 20 de outubro o Occupy Museums, que conclama o público a confrontar as regras de “um sistema de arte hierárquico, baseado na falsa escassez e na propaganda”, que visa apenas “o ganho monetário da elite das elites”, como nos conta Giselle Beiguelman, em relato especial para a revista Select. A manifestação dos artistas dos EUA segue na linha de uma dos escritores e aparece quase simultaneamente ao anúncio da convocação da #RobinHood Global March pelos ativistas do Ad Busters para o dia 29 de outubro, véspera do encontro do G20 em Paris.

[A taxa Robin Hood é uma bem humorada (mas ao mesmo tempo muito séria) proposta de taxa que pretende recolher 1% de toda e qualquer transação financeira e monetária para ser aplicado em um fundo e destinado a programas sociais e iniciativas de proteção ambiental.]

No Brasil, 15 de outubro foi a data inicial de diversos protestos/acampamentos em apoio ao Occupy Wall Street e contra a um sistema econômico/político que, definitivamente, não nos representa. Alguns dos mais salientes acampamentos são os de São Paulo e o do Rio de Janeiro; o #ocupario já tem um vídeo de apresentação/convocação:

[youtube=http://www.youtube.com/watch?v=0fKhomILE_k&feature=youtu.be]

Enquanto que o #acampasampa, localizado no Vale do Anhangabaú, extremo centro da cidade, já teve participação do rapper de brasília GOG, tem comunidade no Facebook, e, pelo que nos informa a antropóloga hacker Gabriella Coleman, está sendo observado/intimidado por um verdadeiro exército de PM, como mostra a foto abaixo, feita hoje (segunda, 24 de outubro). [NE: Fomos ao #acampasampa na quarta-feira dia 26 e conversamos com os acampados, que nos esclareceram que esta foto diz respeito a uma formatura de PMs, tradicionalmente realizada no vale. Dizem que os formandos foram até parceiros com o #acampasampa. Nada de intimidação, portanto.]

**

Por fim, citamos em especial aqui dois discursos em Wall Street que correram as redes e listas mundo afora nas últimas semanas: o de Slavoj Zizek, o prolífico filósofo que, felizmente, teve sua visita ao parque Zucotti registrado em vídeo:

[youtube=http://www.youtube.com/watch?v=oEUZNfOtPlE]

E o de Naomi Klein, uma das principais intelectuais e militantes anticapitalistas do planeta, autora de No Logo, uma crítica das multinacionais e do seu uso do trabalho escravo, e  A Doutrina do Choque: A Ascensão do Capitalismo do Desastre. Idelber Avelar, da Revista Fórum, traduziu o discurso e publicou no site da revista. Republicamos aqui abaixo, na íntegra, porque é uma leitura bonita e importante para entender toda essa chacoalhada planetária que já está tornado esse 2011 um ano histórico para a história recente:

Eu amo vocês.

E eu não digo isso só para que centenas de pessoas gritem de volta “eu também te amo”, apesar de que isso é, obviamente, um bônus do microfone humano. Diga aos outros o que você gostaria que eles dissessem a você, só que bem mais alto.

Ontem, um dos oradores na manifestação dos trabalhadores disse: “Nós nos encontramos uns aos outros”. Esse sentimento captura a beleza do que está sendo criado aqui. Um espaço aberto (e uma ideia tão grande que não pode ser contida por espaço nenhum) para que todas as pessoas que querem um mundo melhor se encontrem umas às outras. Sentimos muita gratidão.

Se há uma coisa que sei, é que o 1% adora uma crise. Quando as pessoas estão desesperadas e em pânico, e ninguém parece saber o que fazer: eis aí o momento ideal para nos empurrar goela abaixo a lista de políticas pró-corporações: privatizar a educação e a seguridade social, cortar os serviços públicos, livrar-se dos últimos controles sobre o poder corporativo. Com a crise econômica, isso está acontecendo no mundo todo.

Só existe uma coisa que pode bloquear essa tática e, felizmente, é algo bastante grande: os 99%. Esses 99% estão tomando as ruas, de Madison a Madri, para dizer: “Não. Nós não vamos pagar pela sua crise”.

Esse slogan começou na Itália em 2008. Ricocheteou para Grécia, França, Irlanda e finalmente chegou a esta milha quadrada onde a crise começou.

“Por que eles estão protestando?”, perguntam-se os confusos comentaristas da TV. Enquanto isso, o mundo pergunta: “por que vocês demoraram tanto? A gente estava querendo saber quando vocês iam aparecer.” E, acima de tudo, o mundo diz: “bem-vindos”.

Muitos já estabeleceram paralelos entre o Ocupar Wall Street e os assim chamados protestos anti-globalização que conquistaram a atenção do mundo em Seattle, em 1999. Foi a última vez que um movimento descentralizado, global e juvenil fez mira direta no poder das corporações. Tenho orgulho de ter sido parte do que chamamos “o movimento dos movimentos”.

Mas também há diferenças importantes. Por exemplo, nós escolhemos as cúpulas como alvos: a Organização Mundial do Comércio, o Fundo Monetário Internacional, o G-8. As cúpulas são transitórias por natureza, só duram uma semana. Isso fazia com que nós fôssemos transitórios também. Aparecíamos, éramos manchete no mundo todo, depois desaparecíamos. E na histeria hiper-patriótica e nacionalista que se seguiu aos ataques de 11 de setembro, foi fácil nos varrer completamente, pelo menos na América do Norte.

O Ocupar Wall Street, por outro lado, escolheu um alvo fixo. E vocês não estabeleceram nenhuma data final para sua presença aqui. Isso é sábio. Só quando permanecemos podemos assentar raízes. Isso é fundamental. É um fato da era da informação que muitos movimentos surgem como lindas flores e morrem rapidamente. E isso ocorre porque eles não têm raízes. Não têm planos de longo prazo para se sustentar. Quando vem a tempestade, eles são alagados.

Ser horizontal e democrático é maravilhoso. Mas esses princípios são compatíveis com o trabalho duro de construir e instituições que sejam sólidas o suficiente para aguentar as tempestades que virão. Tenho muita fé que isso acontecerá.

Há outra coisa que este movimento está fazendo certo. Vocês se comprometeram com a não-violência. Vocês se recusaram a entregar à mídia as imagens de vitrines quebradas e brigas de rua que ela, mídia, tão desesperadamente deseja. E essa tremenda disciplina significou, uma e outra vez, que a história foi a brutalidade desgraçada e gratuita da polícia, da qual vimos mais exemplos na noite passada. Enquanto isso, o apoio a este movimento só cresce. Mais sabedoria.

Mas a grande diferença que uma década faz é que, em 1999, encarávamos o capitalismo no cume de um boom econômico alucinado. O desemprego era baixo, as ações subiam. A mídia estava bêbada com o dinheiro fácil. Naquela época, tudo era empreendimento, não fechamento.

Nós apontávamos que a desregulamentação por trás da loucura cobraria um preço. Que ela danificava os padrões laborais. Que ela danificava os padrões ambientais. Que as corporações eram mais fortes que os governos e que isso danificava nossas democracias. Mas, para ser honesta com vocês, enquanto os bons tempos estavam rolando, a luta contra um sistema econômico baseado na ganância era algo difícil de se vender, pelo menos nos países ricos.

Dez anos depois, parece que já não há países ricos. Só há um bando de gente rica. Gente que ficou rica saqueando a riqueza pública e esgotando os recursos naturais ao redor do mundo.

A questão é que hoje todos são capazes de ver que o sistema é profundamente injusto e está cada vez mais fora de controle. A cobiça sem limites detona a economia global. E está detonando o mundo natural também. Estamos sobrepescando nos nossos oceanos, poluindo nossas águas com fraturas hidráulicas e perfuração profunda, adotando as formas mais sujas de energia do planeta, como as areias betuminosas de Alberta. A atmosfera não dá conta de absorver a quantidade de carbono que lançamos nela, o que cria um aquecimento perigoso. A nova normalidade são os desastres em série: econômicos e ecológicos.

Estes são os fatos da realidade. Eles são tão nítidos, tão óbvios, que é muito mais fácil conectar-se com o público agora do que era em 1999, e daí construir o movimento rapidamente.

Sabemos, ou pelo menos pressentimos, que o mundo está de cabeça para baixo: nós nos comportamos como se o finito – os combustíveis fósseis e o espaço atmosférico que absorve suas emissões – não tivesse fim. E nos comportamos como se existissem limites inamovíveis e estritos para o que é, na realidade, abundante – os recursos financeiros para construir o tipo de sociedade de que precisamos.

A tarefa de nosso tempo é dar a volta nesse parafuso: apresentar o desafio à falsa tese da escassez. Insistir que temos como construir uma sociedade decente, inclusiva – e ao mesmo tempo respeitar os limites do que a Terra consegue aguentar.

A mudança climática significa que temos um prazo para fazer isso. Desta vez nosso movimento não pode se distrair, se dividir, se queimar ou ser levado pelos acontecimentos. Desta vez temos que dar certo. E não estou falando de regular os bancos e taxar os ricos, embora isso seja importante.

Estou falando de mudar os valores que governam nossa sociedade. Essa mudança é difícil de encaixar numa única reivindicação digerível para a mídia, e é difícil descobrir como realizá-la. Mas ela não é menos urgente por ser difícil.

É isso o que vejo acontecendo nesta praça. Na forma em que vocês se alimentam uns aos outros, se aquecem uns aos outros, compartilham informação livremente e fornecem assistência médica, aulas de meditação e treinamento na militância. O meu cartaz favorito aqui é o que diz “eu me importo com você”. Numa cultura que treina as pessoas para que evitem o olhar das outras, para dizer “deixe que morram”, esse cartaz é uma afirmação profundamente radical.

Algumas ideias finais. Nesta grande luta, eis aqui algumas coisas que não importam:
Nossas roupas.
Se apertamos as mãos ou fazemos sinais de paz.
Se podemos encaixar nossos sonhos de um mundo melhor numa manchete da mídia.
E eis aqui algumas coisas que, sim, importam:
Nossa coragem.
Nossa bússola moral.
Como tratamos uns aos outros.

Estamos encarando uma luta contra as forças econômicas e políticas mais poderosas do planeta. Isso é assustador. E na medida em que este movimento crescer, de força em força, ficará mais assustador. Estejam sempre conscientes de que haverá a tentação de adotar alvos menores – como, digamos, a pessoa sentada ao seu lado nesta reunião. Afinal de contas, essa será uma batalha mais fácil de ser vencida.

Não cedam a essa tentação. Não estou dizendo que vocês não devam apontar quando o outro fizer algo errado. Mas, desta vez, vamos nos tratar uns aos outros como pessoas que planejam trabalhar lado a lado durante muitos anos. Porque a tarefa que se apresenta para nós exige nada menos que isso.

Tratemos este momento lindo como a coisa mais importante do mundo. Porque ele é. De verdade, ele é. Mesmo.

Crédito da foto: 1, 2, 3.

[Marcelo De Franceschi. Leonardo Foletto]

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https://baixacultura.org/2011/10/24/o-comercial-e-propagacao-do-occupy-wall-street/feed/ 1
Nós somos os 99%: Occupy Wall Street https://baixacultura.org/2011/10/03/nos-somos-os-99-occupy-wall-street/ https://baixacultura.org/2011/10/03/nos-somos-os-99-occupy-wall-street/#comments Mon, 03 Oct 2011 13:31:51 +0000 https://baixacultura.org/?p=5499

A esta altura tu certamente já ouviu falar do #OccupyWallStreet, manifestações/protestos no coração do Império E.U.A que acontecem desde 17 de setembro inspiradas pelas revoltas pró-democracia na África e o Oriente Médio.

[Não ouviu? Então talvez tu tenha como principal fonte de informação a televisão e alguns jornais, que nada noticiaram a respeito.]

O Occupy Wall Street é um movimento sem líderes que surgiu para protestar de forma não violenta contra o sistema capitalista, a corrupção e a favor da democracia e da liberdade. Foi convocado em julho deste ano através da organização anticonsumista Adbusters, e desde 17 de setembro tem reunido milhares de pessoas nas proximidades de Wall Street, rua que é o coração financeiro dos Estados Unidos (e consequentemente do mundo), em Nova York.

O protesto começou pacífico, como queriam os organizadores. Mas logo a polícia de Nova York tratou de querer “botar ordem” na coisa. Só no último sábado, 1º de outubro, foram presos cerca de 700 manifestantes que bloqueavam a ponte do Brooklyn, um dos principais acessos a Manhattan, a ilha que ocupa o centro de Nova York. Antes disso, a polícia chegou a usar spray de pimenta nos manifestantes.

Polícia se prepara para prender manifestantes na ponte do Brooklyn

Uma semana antes, polícia usa spray de pimenta para "reprimir" manifestantes

A crescente resposta truculenta da polícia dos EUA tem provocado o efeito de alastrar o movimento para além de Wall Street. Diante das prisões de sábado, o sindicato nacional dos trabalhadores do setor siderúrgico (USW), com 1,2 milhões de filiados, declarou seu apoio ao Occupy Wall Street. Os mariners do Exército Americano anunciaram, via página no Facebook, que vão a Wall Street proteger os manifestantes. Também no sábado, cidades como Los Angeles, Seattle, Albuquerque, Chicago e Boston realizaram manifestações de apoio ao movimento.

Alguns “famosos” também têm entrado na luta. O diretor Michael Moore, a atriz Susan Sarandon e o empresário do rap Russel Simmons foram ver os manifestantes no Parque Zucotti, na vizinhança da Bolsa de Valores de Nova York, onde estão acampados a maior parte dos manifestantes. No sábado 1º de outubro, surgiram boatos de que o Radiohead ia fazer um show para os manifestantes, o que não se confirmou. Mas virou um “hoax” que acabou juntando mais gente no parque Zucotti e chamou mais atenção ainda para a causa.

Cartaz convocando para o início dos protestos, em 17 de setembro

Occupy WallStreet começa a ganhar outras cidades

Susan Sarandon com os manifestantes

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No trecho do texto Por quê? de uma das páginas que dá suporte ao movimento, podemos entender melhor quais são as principais motivações que originaram o protesto (e no vídeo a seguir, um panorama do clima do evento):

As pessoas que vêm para Wall Street em 17 de setembro, vêm por várias razões, mas o que une todos elas é a oposição ao princípio que passou a dominar não só a nossa vida econômica, mas a nossa vida inteira: o lucro acima de tudo. (…) O mundo não tem que ser dessa maneira. Uma sociedade de crueldade e isolamento pode ser confrontada e substituída por uma sociedade de cooperação e comunidade. Os cínicos dirão que este mundo não é possível. Que as forças dispostas contra nós ganharam e sempre vencerão e, talvez, devam sempre ganhar. Mas eles não são deuses. Eles são seres humanos, como nós. Eles são um produto de uma sociedade que recompensa o comportamento que nos trouxe para onde estamos hoje. Eles podem ser confrontados. E mais, eles podem ser alcançados. Eles só precisam nos ver. Ver além das etiquetas de preços que levamos. E se eles são deuses? Então seremos Prometeu. E vamos rir pois estamos amarrados à pedra para esperar a águia.

[Valeu @araceletorres pela tradução e pelo empréstimo desse parágrafo acima, retirado de seu blog, Cibermundi)

[youtube=http://www.youtube.com/watch?v=bouY663RzQI&feature=player_embedded#!]

Já que os compromissados meios de comunicação de massa não falam quase nada do #ocuppywallstreet, convém ficar ligado na rede para se informar. Escolha sua(s) fonte(s) abaixo e acompanhe tudo:

_ Site “oficial” [ou o mais completo] – http://occupywallst.org/

_ Twitter: @OccupyWallSt

[No Brasil, o parceiro @josemurilo tem acompanhado direto os protestos, sempre com links interessantes, assim como o Bruno Torturra, também conhecido como diretor de redação da TRIP – que, nesta segunda 3 de outubro, vai entrevistar alguns dos manifestantes no “Segunda Dose”, programa que comanda na PósTV ]

_ Hashtags: #OccupyWallStreet [twitter, tumblr] #TakeWallStreet [twitter, tumblr]

_ Live stream: http://www.livestream.com/globalrevolution

_ Facebook: https://www.facebook.com/event.php?eid=144937025580428

_ Tumblr: http://occupywallstreet.tumblr.com/

[Há também o We Are the 99 percent, que traz alguns dos apoiadores dos protestos explicando, em cartinhas escritas a mão, o porquê de protestar]

_ Wikipedia [Sim, o verbete da Wikipedia em inglês tá atualizadíssimo, mostrando como até mesmo a Wikipedia pode ser um bom evento pra coberturas desse tipo].

Atualização 4/10: Saiu o primeiro comunicado oficial do #occupywallstreet. E também a sua tradução para o português, a cargo de Idelber Avelar, publicado na Revista Fórum e reproduzido aqui abaixo:

Este comunicado foi votado unanimemente pelos membros do Ocupar Wall Street, por volta das 20:00 do dia 29 de setembro. É nosso primeiro documento oficial. Temos outros três em preparação, que provavelmente serão lançados nos próximos dias: 1) uma declaração de demandas do movimento; 2) princípios de solidariedade; 3) documentação sobre como formar o seu próprio Grupo de Ocupação de Democracia Direta.

Este é um documento vivo. Você pode receber uma cópia oficial da última versão pelo e-mail c2anycga@gmail.com.

Ao nos reunirmos em solidariedade para expressar um sentimento de injustiça massiva, não devemos perder de vista aquilo que nos reuniu. Escrevemos para que todas as pessoas que se sentem atingidas pelas forças corporativas do mundo saibam que somos suas aliadas.

Unidos como povo, reconhecemos a realidade: que o futuro da raça humana exige a cooperação de seus membros; que nosso sistema deve proteger nossos direitos e que, ante a corrupção desse sistema, resta aos indivíduos a proteção de seus próprios direitos e daquElas de seus vizinhos; que um governo democrático deriva seu justo poder do povo, mas as corporações não pedem permissão para extrair riqueza do povo e da Terra; e que nenhuma democracia real é atingível quando o processo é determinado pelo poder econômico. Nós nos aproximamos de vocês num momento em que as corporações, que colocam o lucro antes das pessoas, o interesse próprio antes da justiça, e a opressão antes da igualdade, controlam nosso governo. Nós nos reunimos aqui, pacificamente, em asssembleia, como é de direito nosso, para tornar esses fatos públicos.

Elas tomaram nossas casas através de um processo de liquidação ilegal, apesar de que não eram donos da hipoteca original.
Elas receberam impunemente socorro financeiro tirado dos contribuintes, e continuam dando bônus exorbitantes a seus executivos.
Elas perpetuaram a desigualdade e a discriminação no local de trabalho, baseados em idade, cor da pele, sexo, identidade de gênero e orientação sexual.
Elas envenenaram a oferta de comida pela negligência e destruíram a agricultura familiar através do monopólio.
Elas lucraram com a tortura, o confinamento e o tratamento cruel de incontáveis animais não-humanos, e deliberadamente escondem essas práticas.
Elas continuamente arrancaram dos empregados o direito de negociar melhores salários e condições de trabalho mais seguras.
Elas mantiveram os estudantes reféns com dezenas de milhares de dólares em dívidas pela educação, que é, em si mesma, um direito humano.
Elas consistentemente terceirizaram o trabalho e usaram essa terceirização como alavanca para cortar salários e assistência médica dos trabalhadores.
Elas influenciaram os tribunais para que tivessem os mesmos direitos que os seres humanos, sem qualquer das culpabilidades ou responsabilidades.
Elas gastaram milhões de dólares com equipes de advogados para encontrar formas de escapar de seus contratos de seguros de saúde.
Elas venderam nossa privacidade como se fosse mercadoria.
Elas usaram o exército e a polícia para impedir a liberdade de imprensa.
Elas deliberadamente se recusaram a recolher produtos danificados que ameaçavam as vidas das pessoas, tudo em nome do lucro.
Elas determinaram a política econômica, apesar dos fracassos catastróficos que essas políticas produziram e continuam a produzir.
Elas doaram enormes quantidades de dinheiro a políticos cuja obrigação era regulá-las.
Elas continuam a bloquear formas alternativas de energia para nos manter dependentes do petróleo.
Elas continuam a bloquear formas genéricas de remédios que poderiam salvar vidas das pessoas para proteger investimentos que já deram lucros substanciais.
Elas deliberadamente esconderam vazamentos de petróleo, acidentes, arquivos falsificados e ingredientes inativos, tudo na busca do lucro.
Elas deliberadamente mantiveram as pessoas malinformadas e medrosas através de seu controle da mídia.
Elas aceitaram contratos privados para assassinar prisioneiros mesmo quando confrontadas com dúvidas sérias acerca de sua culpa.
Elas perpetuaram o colonialismo dentro e fora do país.
Elas participaram da tortura e do assassinato de civis inocentes em outros países.
Elas continuam a criar armas de destruição em massa para receber contratos do governo.

 Para os povos do mundo,

Nós, a Assembleia Geral de Nova York que ocupa Wall Street na Praça Liberdade, os convocamos a que façam valer o seu poder.

Exercitem o seu direito a assembleias pacíficas; ocupem os espaços públicos; criem um processo que lide com os problemas que enfrentamos; e gerem soluções acessíveis a todos.

A todas as comunidades que formem grupos e ajam no espírito da democracia direta, nós oferecemos apoio, documentação e todos os recursos que temos.

Juntem-se a nós e façam com que suas vozes sejam ouvidas.

Estas demandas não são exaustivas.

*

Créditos fotos: 1; 2-3-4; 5-6; 7-8-9-10-11;
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https://baixacultura.org/2011/10/03/nos-somos-os-99-occupy-wall-street/feed/ 7
Pequenos grandes momentos ilustrados da história da recombinação (1): Détournement https://baixacultura.org/2010/05/10/pequenos-grandes-momentos-ilustrados-da-historia-da-recombinacao-1-detournement/ https://baixacultura.org/2010/05/10/pequenos-grandes-momentos-ilustrados-da-historia-da-recombinacao-1-detournement/#comments Mon, 10 May 2010 11:23:50 +0000 https://baixacultura.org/?p=2886 .

Desde o início do BaixaCultura, temos falado de alguns tópicos que envolvem o histórico da recombinação voltada à arte e a cultura. Reuben comentou aspectos específicos dessa questão na tradução do pequeno manual do festival do plágio (parte I e II), um evento interessantíssimo criado por Stewart Home na Inglaterra dos anos 80 e influenciado pelo situacionismo, punk, neoísmo e outras vanguardas artísticas da qual o próprio Home tratou em seu livro “Assalto à Cultura“, um levantamento histórico e sarcástico das vanguardas artísticas do século XX.

Como você deve supor (ou não), muito se tem conversado sobre as mudanças que a rede e o compartilhamento de arquivos trazem para a sociedade, mas muito pouco tem se tratado das práticas criativas ligadas ao roubo que a rede também potencializa demais, ao colocar a dois toques do mouse um mundo de material prontinho para ser baixado, visto e usado como bem se entende (ou não, se você não quiser se incomodar com os barões do copyright). Como dissemos neste post, é natural que o debate mantenha o foco na recepção, pois as novas práticas de distribuição e consumo de cultura dizem respeito a toda a sociedade, enquanto que as práticas criativas dizem respeito a um grupo ainda seleto de pessoas.

Pensando nisso, começamos nesse post uma nova trincheira pro BaixaCultura, a de resgatar algumas práticas (momentos, charadas, causos) criativas do século XX ligadas ao uso – e roubo –  de outras criações. Existiram diversas formas e ocasiões de apropriação indébita de obras de outros artistas neste século passado, e, ademais de algumas práticas e causos serem bastante conhecidos hoje (o remix e, mais recentemente, o mashup estão aí para mostrar), existem outras tantas que pouco saíram dos guetos artísticos. Começamos nosso “resgate” justamente com uma dessas práticas relativamente pouco conhecidas, o chamado “détournement”.

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A origem

Détournement é uma palavra francesa que significa desvio, diversão, reencaminhamento, distorção, abuso, malversação, seqüestro, ou virar ao contrário do curso ou propósito normal. Ela (a palavra) foi apropriada para designar uma prática criativa pelo movimento situacionista, especialmente por dois de seus líderes, Guy Debord e Gil J. Wolman. Em 1956, Debord e Wolman publicaram um guia para um possível usuário do détournement numa revista surrealista belga chamada Les Lèvres Nues #8, um texto (aqui a sua tradução para o português, em duas versões) onde introduziam, conceituavam e abusavam da prática – claro que com muito sarcasmo e ironia, talvez a fim de que ninguém levasse totalmente a sério aquilo que eles diziam.

O que quer dizer

Poderíamos falar que o détournement é uma variação em um trabalho já conhecido que produz um significado antagônico ao original. As duas leis fundamentais da prática apontadas inicialmente seriam a perda de importância de cada elemento “detourned” (ou “detunado”, numa tradução literal para o português), que pode ir tão longe a ponto de perder completamente seu sentido original, e, ao mesmo tempo, a reorganização em outro conjunto de significados que confere a cada elemento um novo alcance e efeito. No guia produzido pelos situacionistas, são apresentados dois tipos principais: os menores, onde é feito um desvio de um elemento que não tem importância própria, e que portanto toma todo seu significado do novo contexto onde foi colocado; e os “enganadores“, onde é feito o desvio de um elemento intrínsecamente significativo, o qual toma um dimensão diferente a partir do novo contexto.

Exemplos

Guy Debord, um dos maiores e mais criativos plagiadores que o século 20 já viu, se tornou conhecido por sua atuação teórico-prática no Situacionismo e sobretudo pelo livro A Sociedade do Espetáculo, um clássico nos cursos de comunicação Brasil afora. No livro, Debord começa com um exemplo de détournement ao apresentar, já no primeiro parágrafo da obra, uma cópia de O Capital (de Karl Marx). Dá uma olhada:

Debord: “Toda a vida das sociedades nas quais reinam as condições modernas de produção se anuncia como uma imensa acumulação de espetáculos. “
Marx: “A riqueza das sociedades em que domina o modo-de-produção capitalista apresenta-se como uma “imensa aumulação de mercadorias”.
Sem entrar em muitos detalhes, a ideia de Debord era mostrar que a etapa do capitalismo em que vivíamos pelo acúmulo de mercadorias havia passado, e chegara o tempo em que passaríamos a acumular apenas imagens de mercadorias – espetáculos.  Assim que, ao invés de citar o parágrafo original e discorrer sobre ele até chegar a uma conclusão, procedimento tornado comum na academia, Debord julgou que seria melhor a substituição direta do que já não servia.
Um exemplo gráfico está aqui abaixo, feito por Francis Bacon a partir de uma pintura clássica do pintor Diego Velásquez, conhecido retratista espanhol do século XVII:

Bacon, Study after Velázquez’s Portrait of Pope Innocent X (1953)

Velázquez, Retrato do Papa Inocêncio X

Imagine que um observador mais atento vai ver que a obra de Bacon precede em três anos o lançamento do guia para o usuário de Debord e Wolman. Isso é mais uma prova de que a manifestação do détournament está longe de ser algo original, no sentido de ter sido criado pelos dois situacionistas franceses. Ela é, sim, mais uma manifestação de algo que vem se fazendo há muito tempo e que os dois, como bons plagiadores que foram, resolveram agrupar sob alguns conceitos e preceitos a fim de que pudesse chamar atenção para o uso do roubo criativo na prática artística.

E hoje?

O détournement foi algo desenvolvido nos longínquos anos 50, década em que – bueno, não é nem preciso dizer o quão mais díficil era o acesso à cultura naquela época, não?. Atualize para o século XXI as possibilidades que a prática do détournement permite, e tu tem um espectro criativo gigantesco a ser habitado e re-habitado e transformado no que tu quiser.

Engraçado é que, ainda hoje, assim como Debord e Wolman apontavam já na década de 1950, é na indústria do marketing (e do anti-marketing) que estão os melhores exemplos desse tipo de desvio criativo. São muitas as manifestações desenvolvidas pelo Adbusters, por exemplo, coletivo internacional (com sede no Canadá) que tem chamado a atenção para o absurdo do consumismo em publicações como essa aqui, onde Obama é o palhaço da questão eco-psicológica global, ou nessa imagem abaixo, uma crítica pesada à maneira como a famosa Nike põe seus tentáculos em todo o canto do planeta:

Essa prática de subversão de propagandas corporativas – um caso de détournament aplicado à propaganda, digamos  – é tão usual que tem até um nome próprio para designar, culture jamming. São tantos os exemplos de jamming que vamos deixar para mostrá-los e comentá-los em outro post. Por hora, fiquemos com uma amostrinha curiosa, vinda de Londres:

*

Música, literatura, cinema, fotografia, artes visuais, propaganda: teríamos mais uns quantos exemplos a serem mostrados de práticas ligadas ao détournement e, em uma esfera maior, ao plágio criativo. Tu mesmo deve conhecer vários, a começar pelas inocentes camisetas de turma de faculdade que se apropriam de logomarcas conhecidas até uma estranha frase que tu leu e pensou já ter visto em outro lugar, ligeiramente modificada.

Ao contrário do plágio praticado por pura falta de talento, a ideia do plágio criativo – e do détournement, me arrisco a dizer – funciona mais para revelar do que para ocultar suas origens. Ele talvez seja uma forma de entrar diretamente no longo diálogo do conhecimento, de expor suas referências e mostrar à todos o que tu quer e o que tu não quer absorver dessas referências – e da união do que tu aproveita de um lado com o que tu aproveita de outro é que nasce algo diferente. Parece sempre ter sido assim a criação, e barrar o uso dessas referências é, em todos os sentidos, limitar a criatividade.

No fim de sua vida, Debord passou a desistir do détournament, por acreditar que esse tipo de técnica seria adequada apenas a sociedades que fossem capazes de reconhecê-la. Será que hoje, com o advento da internet e toda a enorme cultura que está disponível à todos que tem acesso à rede, ele faria o mesmo?

Por questões de tamanho, deixaremos esta e outras perguntas e exemplos para as próximas edições desse post, que já ficou maior do que o esperado e é bom que termine por aqui.

Créditos: 1, 2, 3, 4, 5.


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