Sem categoria – BaixaCultura https://baixacultura.org Cultura livre & (contra) cultura digital Thu, 03 Nov 2022 00:31:54 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=6.0.9 https://baixacultura.org/wp-content/uploads/2022/09/cropped-adesivo1-32x32.jpeg Sem categoria – BaixaCultura https://baixacultura.org 32 32 O Futuro é Cooperativo https://baixacultura.org/2022/11/02/o-futuro-e-cooperativo/ https://baixacultura.org/2022/11/02/o-futuro-e-cooperativo/#respond Thu, 03 Nov 2022 00:28:25 +0000 https://baixacultura.org/?p=14953 Dois eventos na próxima semana pretendem discutir uma das mais promissoras “saídas” para um futuro digital menos distópico. O primeiro é a Conferência Internacional de Cooperativismo de Plataforma – Rio 2022, que reúne uma série de ativistas, pesquisadores, trabalhadores brasileiros e internacionais no Museu do Amanhã entre os dias 4, 5 e 6 de novembro. E o segundo é o ciclo de eventos “O Futuro é Cooperativo“, organizado pelo Sesc Avenida Paulista, com uma programação ampla de debates, oficinas, cursos – e também lançamento do “A Cultura é Livre” presencial, dia 10/11, 19h30, em que eu estarei na mesa relacionando a cultura livre com o cooperativismo de plataforma e outras discussões tecnopolíticas junto de Giselle Beiguelman e a cantora e compositora Letty.

 


Como podemos construir uma economia digital cooperativa engenhosa e assertiva no Sul Global – uma economia que foi super explorada e extraída pelo colonialismo de dados e trabalho do Norte Global? O que significa para as cooperativas escalar enquanto aderem aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU? Organizações Autônomas Descentralizadas (DAOs), blockchains e outras tecnologias distribuídas tão em voga ajudarão essas aspirações de crescimento e abordarão questões de governança? Organizado pelo Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro – ITS , ITS Rio, e o Platform Cooperativism Consortium, sediado na The New School, em Nova York, a conferência vai ter a participação de Trebor Scholz, diretor do Institute for the Cooperative Digital Economy Platform Cooperativism Consortium, principal divulgador do conceito de cooperativismo de plataforma pelo mundo, a partir do livro de mesmo nome, lançado no Brasil pela Editora Elefante – e tema de BaixaCharla #4, em 2019; James Muldoon, professor de ciência política na Universidade de Exeter e coordenador de pesquisa digital no think tank Autonomy, autor de “Platform Socialism: How to Reclaim our Digital Future from Big Tech“, entrevistado pelo DigiLabour aqui; Anita Gurumurthy, fundadora e diretora executiva da ‘IT for Change’, onde lidera pesquisas sobre economia de plataforma, governança de dados e IA, democracia na era digital e estruturas feministas sobre justiça digital; Rosana Pinheiro-Machado, antropóloga e cientista social, professora da Escola de Geografia da University College Dublin e pesquisadora principal do projeto “Flexible Work, Rigid Politics in Brazil, India, and the Philippines” do European Research Council; os já conhecidos por aqui Rafael Grohmann, líder e criador do DigiLabour, hoje Professor Assistente de Estudos de Mídia com foco em Estudos Críticos de Plataformas e Dados na University of Toronto Scarborough (UTSC); e Rafael Zanatta, Diretor da Associação Data Privacy Brasil de Pesquisa, e que já nos ajudou na entrevista com Nathan Schneider sobre o tema em “O Futuro da Economia Será Compartilhado?“; entre muitos outras pessoas – veja aqui a programação completa.

Participo de uma mesa no segundo dia do evento, sábado 5/11 às 14h, chamada “The Brazilian Artists Who Are Helping Themselves“, onde vamos discutir, por diferentes perspectivas, como as abordagens baseadas em bens comuns têm sido adotadas por cooperativas e outras organizações culturais. George Oates, diretora executiva e uma das fundadoras do Flickr, fala sobre “Como você pode ajudar a preservar bilhões de fotos“; Victor Barcellos, do ITS e também um dos articuladores do evento, investiga como as cooperativas de plataforma podem melhorar as condições de trabalho dos artistas no país em “Equity for Brazilian Artists: A Critical Study of Platform Coops“; Miguel Said Vieira argumenta que as cooperativas podem se tornar mais impactantes e inclusivas ao compreender e empregar estratégias baseadas no comum, na fala chamada “The Power of Commons-Based Strategies for Cooperatives in the Global South“; e eu falarei a partir de uma aproximação da cultura livre com o cooperativismp, tentando buscar inspirações e lições da cultura livre (e também do Creative Commons) para formação de cooperativas de plataforma no setor cultural: “Can Free Culture Save the Day for Platform Coops in the Cultural Sector?“.

 

 

O cooperativismo é o nome que damos para a produção e administração de negócios em que o poder de decisão é distribuído entre os trabalhadores e trabalhadoras, que fazem parte de uma cooperativa. Enquanto conjunto de ideias e práticas organizadas, tem sua origem no século XVIII e XIX, na Europa, como uma alternativa política e econômica ao capitalismo que eliminasse o patrão e o intermediário e concedesse ao trabalhador a propriedade de seus instrumentos de trabalho e a participação nos resultados de seu próprio desempenho. Socialistas utópicos como Robert Owen e Charles Fourier, por exemplo, criaram cooperativas de produção no século XIX. No século XX, o cooperativismo se complexificou; ganhou força dentro do capitalismo, com a formação de cooperativas gigantescas, passou a ter diferentes categorias (de trabalho, consumo, de crédito, agropecuária) e diferentes práticas. No Brasil, se aproximou com a economia solidária, prática econômica que visa a criação de estruturas de gestão que não estejam baseadas na desigualdade e exploração dos trabalhadores e onde os que produzem são considerados os proprietários do empreendimento em questão, não havendo distinção entre patrões e empregados, com a distribuição igualitária dos ganhos entre todos os membros da empresa. Aqui encontrou a contribuição de Paul Singer, que defendia, como professor, intelectual e membro do governo brasileiro (foi o criador e durante muitos anos o itular da Secretaria Nacional de Economia Solidária – Senaes), que a economia solidária poderia aproveitar a mudança nas relações de produção provocada pelo grande capital para lançar os alicerces de novas formas de organização da produção, à base de uma lógica oposta àquela que rege o mercado capitalista.

Unindo esses princípios com o mundo digital, o conceito de cooperativismo de plataforma tem se colocado como uma alternativa à chamada economia de compartilhamento que se compromete com princípios democráticos e transparentes para os trabalhadores e seus clientes. Assim como o cooperativismo tradicional, o de plataforma não propõe soluções rápidas para problemas complexos, mas mostra que é possível reproduzir tecnologias como as de plataformas de entretenimento e mobilidade urbana de modo realmente colaborativo, na contramão da uberização do trabalho. Em resumo: é uma ideia/prática que busca unir importantes reivindicações de trabalho digno (cooperativismo) com novas (ou nem tanto) discussões sobre tecnologias livres e autonomia e cria uma oportunidade rara de fazer um futuro tecnopolítico menos capitalista e distópico, como já comentamos em “Cooperativismo de plataforma & tecnologias livres: alimentando a (now) topia”; Falamos também de sua importância para o trabalho via aplicativos em “Breque dos Apps e as alternativas para o trabalho digitalizado“, quando do principal breque dos Apps até aqui, em 2020; e também do Plano de ação para Cooperativismo de Plataforma no Brasil, carta criada a partir do seminário sobre cooperativismo de plataforma e políticas públicas realizado em junho em Porto Alegre, em junho de 2022.

A programação do “O Futuro é Cooperativo”, organizado pelo Sesc Avenida Paulista, teve uma série de cursos, oficinas e discussões importantes para o tema, “Como Construir uma Plataforma de Trabalho Coletiva?”, “Cooperativismo na América Latina: Uma história de resistência”, “Trabalho Cooperativo nos Dias de Hoje”. Ainda teremos dia 17/10, às 19h30, a exibição do documentário “Paul Singer: Uma Utopia Militante“, de Ugo Giorgetti, que versa sobre a vida e obra de Paul Singer, grande articulador teórico e prático da chamada economia solidária, que no Brasil se aproxima e por vezes se confunde com o cooperativismo.

Também teremos, por fim, na quinta feira 10/11 19h30 um lançamento (presencial) do “A Cultura É Livre”, onde vamos distribuir o livro (gratuitamente, cortesia da co-editora Fundação Rosa Luxemburgo) e debater sobre direito à cultura e o compartilhamento de conhecimentos, a importância dos softwares livres e sua relação com a cidadania e a democracia, além de uma reflexão sobre o atual cenário da produção cultural atual frente grandes plataformas de entretenimento. A querida Giselle Beiguelman, autora do texto da contracapa do livro, estará conversando comigo e Letty, cantora e compositora, sob a mediação de Fernando Mekaru, sobre todos esses temas e muitos outros correlatos que sempre surgem.

 

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Este não é mais um texto sobre Elon Musk e o Twitter https://baixacultura.org/2022/04/29/este-nao-e-mais-um-texto-sobre-elon-musk-e-o-twitter/ https://baixacultura.org/2022/04/29/este-nao-e-mais-um-texto-sobre-elon-musk-e-o-twitter/#comments Fri, 29 Apr 2022 17:55:33 +0000 https://baixacultura.org/?p=13967

Não ia escrever sobre a venda do Twitter para o Elon Musk porque muita gente já escreveu sobre isso e nada tenho mais a dizer do que, por exemplo, a Tatiana Dias escreveu nesta nota no The Intercept Brasil: que a compra pode piorar o diálogo institucional da empresa com autoridades brasileiras, como disse o Carlos Afonso no Uol; resultar na chegada de um botão de editar postagens, como noticiou o Rafael Capanema no Núcleo.jor; dar transparência aos algoritmos, como imaginou Pablo Ortellado no Twitter; pode incorporar um modelo de liberdade de expressão sem limites, como notou Nelson de Sá na Folha e Tatiana, no primeiro link deste parágrafo, destrinchou – na real, mesmo que mude, o fato é que o Twitter já é um lugar onde conteúdos violentos (fake news, pedofilia, violência, etc) circulam a partir da suposta bandeira da “liberdade de expressão”.

O que me motivou a escrever sobre isso foi esta nota do Radios Libres e esta thread de Shoshana Zuboff, no próprio Twitter. Começamos pelas questões do primeiro texto: o que implica para os meios comunitários a compra do Twitter por parte de Elon Musk? Mais além da preocupação pelo direito à comunicação e expressão, o fato é que essa mudança de propriedade não representa alterações na estrutura de propriedade nem na gestão da plataforma – que, afinal, continuará nas mãos de um homem branco milionário.

Ainda assim, a venda do Twitter serve para demonstrar, mais uma vez, que:

_ As discussões centradas na figura de Elon Musk e sua excentricidade não fazem mais do que desviar o verdadeiro tema da discussão: a concentração de poder;

_ Os “problemas das redes sociais”, como a garantia da liberdade de expressão, a proteção da privacidade, a polarização do discurso público, a violência machista online,etc, dificilmente se resolverá “com uma linha de código”, como se diz. Não há solucionismo tecnológico que dê conta de problemas complexos como estes.

_ A concentração das plataformas digitais é o verdadeiro perigo a democracia e o debate público;

_ O motor que move o mundo é o capital especulativo. E essa transação não está motivada pela defesa da liberdade de expressão, de direitos fundamentais, de debate público. 

Seja com Jack Dorsey ou com Elon Musk, criar e gerir nossos meios de comunicação segue sendo uma propriedade.

Niallkennedy, CC BY NC 2.0

Shoshana, por sua vez, autora do já clássico “A Era do Capitalismo de Vigilância” (aqui em pdf grátis), faz a “fada sensata” e afirma: as variantes de ‘o que Elon fará?’ é um sinal de como estamos perdidos. Somos obcecados por um homem e seus caprichos porque ainda não temos o estado democrático de direito necessário para governar nossos espaços de informação. Sem lei o poder é perigoso”. Ela aponta que o resultado disso é que as pessoas, a sociedade e a democracia estão à mercê dos indivíduos que exercem a propriedade e/ou controle executivo sobre a informação. 

Segue: “aprendemos que o Facebook é um grande negócio no qual informações corruptas (corrupt information) estão positivamente correlacionadas com a receita. O imperativo de maximização de lucros do FB nos ignora. A privacidade é destruída. A informação corrupta triunfa. Fraturas da sociedade. O lucro ganha. Só a lei pode mudar isso”.

“Musk quer se juntar aos deuses que governam o espaço da informação e controlam as respostas às questões essenciais de conhecimento, autoridade e poder em nosso tempo: Quem sabe? Quem decide quem sabe? Quem decide quem decide? Mas nunca os elegemos para governar. Precisamos de leis, não de homens”.

“A democracia só avançará com leis e instituições projetadas para garantir nossos direitos de conhecimento e a integridade da informação no século digital. Na ausência da lei, somos forçados a nos preocupar: ‘O que Elon fará?’ Os imperadores têm todas as roupas, enquanto corremos nus.”

“Assim como Zuckerberg se apoia na “liberdade de expressão” para justificar fluxos de informações corruptos que promovem a extração de dados, Musk ocupa o centro do palco com a mesma retórica. É uma distorção vergonhosa da Primeira Emenda e da Bill of Right (dos Estados Unidos).”

No Brasil de 2022, onde as ditas instituições já não funcionam faz tempo, poderíamos dizer que só a lei NÃO pode mudar isso. Que não bastam leis para fazer esse tipo de mudança. Mas isso é papo longo que fica para outro texto.

[Leonardo Foletto]

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A Cultura é Livre no CPF Sesc https://baixacultura.org/2021/12/20/a-cultura-e-livre-no-cpf-sesc/ https://baixacultura.org/2021/12/20/a-cultura-e-livre-no-cpf-sesc/#respond Mon, 20 Dec 2021 18:02:32 +0000 https://baixacultura.org/?p=13905 Em março de 2021, logo depois que lancei o “A Cultura é Livre“, comecei a pensar que ele daria uma boa base pra um curso; até a ordem cronológica dos capítulos pode ajudar a ver a cultura livre como uma história da resistência antipropriedade através dos tempos.

Com ajuda de alguns amigues que me estimularam a estruturar essa ideia, nasceu então o curso, que em sua primeira edição (em formato mini) foi realizado dias 6, 7 e 8/12 no CPF SESC, o centro de pesquisa e formação da rede Sesc em São Paulo. A proposta foi expandir o livro, trazer outros causos, imagens, ideias que não couberam na publicação impressa, com foco no debate contemporâneo sobre a cultura livre na internet e com diferentes perspectivas sobre o tema que não a hegemônica ocidental – depois do livro tenho me debruçado mais nas visões orientais e ameríndias sobre a propriedade Intelectual, seguindo o meu próprio caminho pincelado no último capítulo.

O curso foi online e enxuto, para um público bem diverso. Aqui as apresentações utilizadas como guia para as aulas.

[Leonardo Foletto]

 

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Art is everywhere https://baixacultura.org/2020/06/04/duis-aute-iruret-dolor-in-prehenderit-in-voludptate-velit-esse-cillum-toret/ https://baixacultura.org/2020/06/04/duis-aute-iruret-dolor-in-prehenderit-in-voludptate-velit-esse-cillum-toret/#respond Thu, 04 Jun 2020 11:12:45 +0000 https://breton.qodeinteractive.com/?p=197

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“Duis aute iruret dolor in prehenderit in voludptate velit esse cillum toret eu giat enerit in volptate velit esse.”

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Tecnopolítica e contracultura: um experimento em ação https://baixacultura.org/2019/02/18/tecnopolitica-e-contracultura-um-experimento-em-acao/ https://baixacultura.org/2019/02/18/tecnopolitica-e-contracultura-um-experimento-em-acao/#comments Mon, 18 Feb 2019 15:42:26 +0000 https://baixacultura.org/?p=12728

Terminou na última quarta-feira, 13 de fevereiro, a primeira edição do curso “Tecnopolítica & Contracultura”, um passeio pelo pensamento e ação de autonomistas, anarquistas, hackers e outrxs rebeldes. Durante três dias, propomos – este que cá escreve, Leonardo Foletto, e Leonardo Retamoso palma – uma jornada por ideias, conceitos, práticas, ações e referências em busca da retomada de um pensamento tecnopolítico que bebe muito na fonte dos autonomismo e operaísmo italiano da década de 1960 para encontrar saídas de análise e ação dessa “ressaca da internet” que nos metemos neste final de década de 2010. Um público muito diverso, de cerca de 30 pessoas nos 3 dias, aceitou nossa proposta e embarcou no passeio: de recém saídos do Ensino Médio a professores pós-doutores de universidades, passando por artistas, programadores, designers, jornalistas e arquitetas, nos tornamos uma potente multidão em busca de abrir as caixas-pretas da tecnologia e entender como se dá essa louca composição que nos causa esperança e sofrimento, depressão e euforia, liberdade e prisão.

O autonomismo italiano serviu como um primeiro recorte histórico de um movimento/período/grupo que, além de tomar ruas, fábricas e universidades, criou suas próprias tecnologias (como a Rádio Alice, pioneira rádio livre criada em 1977 e com boa parte de seu acervo nesse site) e não se furtou a disputar a tecnologia em vez de demonizá-la – ou idolatrá-la como a salvação para os problemas da humanidade, esquecendo do elemento humano e político em sua construção. Depois, os fabulosos 1990 trouxeram altermundistas, zapatistas, ciberativistas, hackers e militantes do software livre a compor uma poderosa frente contra o capital global que buscava (e ainda busca) a decomposição em busca da dominação. A criatividade, expressa na guerrilha da comunicação/artivismo, foi essencial nesse período, com os teatros midiáticos coletivos de Luther Blisset e Wu Ming, bem conhecidos de quem frequenta esse espaço virtual; os protestos pacíficos dos Tute Bianche, que iam para o front (mesmo) dos protestos com chamativas roupas e equipamentos de brinquedo para pontuar o ridículo do conflito armado; os sit-in virtuais em prol dos zapatistas, que interditavam sites estratégicos em prol de uma causa específica. Com esses e outros diversos exemplos, trouxemos a discussão para o presente e identificamos como a arte, quando formada pelo encontro ingovernável de corpos eróticos, é fundamental na mudança de perspectiva sobre ruas, computadores, governos, instituições e nós mesmos.

Por fim, trouxemos os hackers e sua ética de liberdade e transparência, fundamental para a construção da internet livre como a conhecíamos até pouco tempo atrás. Pontuamos no debate os princípios contraculturais da ética hacker (aqui tem bastante material sobre isso, feito para minhas aulas de Cultura Hacker e Jornalismo), mas ouvimos o feedback que, por menos discriminatórios que sejam alguns dos princípios hackers, a prática nos diz que muitos hackers e programadores endossam o machismo e a misoginia. Para reverter esse processo é fundamental o trabalho de iniciativas que relacionam as questões feministas e LGBTQ com as tecnologias digitais e a cultura hacker, como muitas das que divulgamos nesse post no 8 de março de 2018, hackerspaces como MariaLab, grupos como Mulheres na Tecnologia e iniciativas recentes como o portal Acoso Online, que trata de trazer informações sobre publicação sem consentimento de imagens e vídeos íntimos por meios eletrônicos.


Finalizamos, nas duas horas finais das 12h de curso, com algumas inquietações, sugestões de ações e trechos de textos que nos convidam a agir.
Abrir as caixas-pretas, da tecnologia e dos sistemas políticos, econômicos e institucionais, em busca da transparência desses sistemas é um objetivo sempre em vista.
Que a urgência desse momento de tantos retrocessos e conservadorismo global seja uma inquietação para agir, não para se desesperar; há muito o que se construir, se unir e (re) lembrar afinal porque somos humanos e porque o conhecimento que produzimos pode servir para a busca de justiça social e redução das desigualdades.
Que, na aceleração da infoesfera que nos entope de informação, limitar (ou organizar) os muitos estímulos vindo de todos lados é não somente razoável como necessário para agir.
Que é importante politizar o mal-estar, como nos fala Amador Fernandez-Savater; que esse mal-estar geral que vivemos em torno dos retrocessos e ascensão de práticas relacionadas ao que chamamos de fascismo pode ser elaborado enquanto força afirmativa de transformação e de construção de possibilidades e modos de viver. Não deixar o choro e o sofrimento em casa, mas sim trazê-los, junto com o mal-estar, para o debate (hay que vir llorado de casa!) e falar sobre ele. Mesmo que não se saiba onde essa discussão vai dar: no caminho podem ocorrer mudanças que nos tiram do imobilismo da crítica pela crítica. Aprender a viver a partir e com a crise é um primeiro passo para sair dela, o que inclui não negar o subjetivo e os afetos na política, mas unir estes afetos, destrinchá-los e trabalhar com eles, compartilhando vulnerabilidades – situações como a dos três dias de curso que propomos são algumas das possíveis de fazer essa discussão.

“A ação da multidão não é outra coisa que esta proliferação contínua de experiências vitais que têm em comum a negação da morte, a recusa radical e definitiva do que paralisa o processo da vida”. (Antonio Negri)]

[A ‘deserotização’ da vida cotidiana é o pior desastre que a humanidade pode conhecer…é que se perde a
empatia, a compreensão erótica do outro…” (Franco Berardi, Bifo)]

[“A ação … diz respeito, antes de mais nada, ao sentir. Agir significa modificar a maneira de sentir junto…” (Maurizio Lazzarato)]

[“Refiro-me à multidão de festa, à multidão de alegria, à multidão espontaneamente amorosa, embriagada apenas pelo prazer de se reunir por se reunir.” (Gabriel Tarde)]

[“… o mais profundo é a pele…” (Paul Valéry)]

“Tecnopolítica e Contracultura” é um experimento disparador de ideias e ações que visam a nos tirar da letargia do “não há nada a fazer”. Como tal, segue em outros locais e com outras pessoas; nas próximas semanas vamos avisando os próximos passos e datas. Aqui está o material guia utilizado no curso. Adelante!

 

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A internet sob ataque cada vez mais forte https://baixacultura.org/2018/02/22/a-internet-sob-ataque-cada-vez-mais-forte/ https://baixacultura.org/2018/02/22/a-internet-sob-ataque-cada-vez-mais-forte/#respond Thu, 22 Feb 2018 13:11:07 +0000 https://baixacultura.org/?p=12168

Estamos sendo todos vigiados, a internet é uma máquina de controle quase perfeita, nossos dados são o “novo petróleo” para empresas digitais, o Marco Civil foi desfigurado no congresso e na prática: a internet está sob ataque, e você sabe disso. A ideia improvável que uniu hackers, hippies, acadêmicos, militares e empresas nos anos 1960, e que se tornou uma realidade mundial na década de 1990, não é mais o que prometia ser. E ninguém sabe ao certo o que ela poderá se tornar, mas pelo menos ter um panorama do que está sendo feito hoje, neste quase final da segunda década dos anos 2000.

Todos os temas do parágrafo acima estão de alguma forma debatidos na mini-série “XPLOIT – Internet sob Ataque“, produção da TVDrone em parceria com a Actantes, TVT e Henrich Böll Stiftung, em 2017. Os seis episódios da série abordam “uma guerra silenciosa que acontece longe dos PCs, laptops e dispositivos móveis mas cujo o resultado interfere diretamente em nossas vidas online e offline”, como diz o texto de apresentação. Contou com a fala de um grupo de entrevistados que vai de Richard Stallman ao jornalista James Bamford, passando pela advogada Flávia Lefèvre, a jornalista Bia Barbosa (do Intervozes), a cientista social Esther Solano e o sociólogo e ciberativista Sérgio Amadeu da Silveira, e tem o mérito de introduzir qualquer pessoa em alguns meandros das disputas políticas políticas e econômicas que trazem consequências diretas em nossos diretos essenciais, dentro e fora do mundo digital. A direção de XPLOIT é de Fabrício Lima e a produção Executiva de André Takahashi. Vale destacar também que, no finald e 2017, receberam o prêmio de “Melhor Série de Documentário” no festival Rio WebFest.

Confira aqui abaixo (e na nossa BaixaTV) os 6 episódios da série

EPISÓDIO 1: Democracia Hackeada

O “Hackeamento” do Marco civil pelos poderes que deveriam zelar pelo estado democrático de direito e suas consequências direito uma democracia é o foco central do episódio. Há entrevistas com Sérgio Amadeu, Veridiana Alimonti, Bia Barbosa, Cristiana Gonzalez e Flávia Lefévre.

EPISÓDIO 2: Força Bruta

Neste episódio, fala-se da perseguição aos ativistas a partir das plataformas digitais, “23 do Rio”, o caso Balta Nunes e os ataques nos espaços periféricos. Entrevistas com Camila Marques, Esther Solano, Guilherme Boulos, Leonardo Sakamoto, de novo Sérgio Amadeu e Silvio Rhatto.

EPISÓDIO 3: Colonialismo 2.0

Como a concentração da infraestrutura da internet nas mãos de alguns países e empresas e a monocultura das grandes aplicações acaba desenhando contornos que lembram o período colonial entre os séculos XVI e XX, impondo uma dependência para seu funcionamento e restringindo a pluralidade sonhada pelos seus pioneiros. Com Carla Jancz, Rodolfo Avelino, Marina Pitta e Carlos Cecconi.

EPISÓDIO 4: Big Brother Big Data

Informações pessoais são o novo commoditie. E para desfrutar desse mercado valioso, empresas em todos os setores realizam uma caça indiscriminada de dados particulares em todo o mundo com consequências reais nas vidas das pessoas mesmo fora do ambiente digital. Planos de saúde recusados, crédito pessoal negado e produtos mais caros estão diretamente ligados à “listas de risco” baseada em uso de aplicativos ou bancos de dados de serviços e a compra e venda de bancos de dados – inclusive de serviços públicos. Diante disso, o congresso nacional vai cedendo ao lobby das corporações e protelando há quase 10 anos uma lei fundamental de proteção de dados pessoais. Falas de Rafael Zanatta, Sérgio Amadeu e Marina Pitta.

EPISÓDIO 5: Da liberdade ao controle

No seu início a internet era um universo de possibilidades. O navegador era uma janela para múltiplos espaços, pensamentos e invenções. Mas o mundo que conhecemos antes da rede mundial de computadores ser criada, não pode permitir que nada exista sem controle. E para um mundo de regras rígidas e relações de poder constituídas inflexíveis não pode permitir que um outro mundo espelhado nele possa existir de uma forma diferente. Assim, tanto corporações quanto Estados nacionais foram se apropriando, amarrando, restringindo e moldando a Internet. Mas nem sempre a Internet esteve sob controle. Houve uma outra internet que muitos já nem se lembram. Neste episódio tem Richard Stallman, Leo Germani, Pegs, Carlos Cecconi e Sacha Costanza-Chock.

EPISÓDIO 6: Resistência

A internet de hoje consegue agregar os piores pesadelos dos Estados totalitários com o ultra-liberalismo econômico. Controle da inovação, restrição do fluxo de ideias, guerra cibernética e caça aos dados pessoais dos usuários. Mas diante desse panorama, é possível resistir? Como e porquê vamos resistir? Entrevistas com Richard Stallman, Pegs, Leo Germani, James Bamford e Sacha Costanza-Chock.

 

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