{"id":9901,"date":"2014-06-08T23:13:29","date_gmt":"2014-06-08T23:13:29","guid":{"rendered":"https:\/\/baixacultura.org\/?p=9901"},"modified":"2014-06-08T23:13:29","modified_gmt":"2014-06-08T23:13:29","slug":"robos-e-jornalismo-um-futuro-proximo","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/baixacultura.org\/2014\/06\/08\/robos-e-jornalismo-um-futuro-proximo\/","title":{"rendered":"Robos e jornalismo – um futuro pr\u00f3ximo?"},"content":{"rendered":"
Na primeira semana de maio de 2014, li um texto que me instigou bastante: \u201cum jornal impresso feito por rob\u00f4s \u00e9 o futuro da m\u00eddia ou apenas uma atividade secund\u00e1ria<\/a><\/i><\/b>?\u201d. Nele, o jornalista relatava o causo de que o The Guardian, um dos principais jornais da Inglaterra \u2013 certamente um dos mais inovadores do planeta, especialmente na seara digital \u2013 experimentou uma edi\u00e7\u00e3o limitada de seu jornal impresso totalmente produzido por algoritmos, as sequ\u00eancias de c\u00e1lculos automatizadas que est\u00e3o por tr\u00e1s de todo software. E a partir da not\u00edcia, fazia a pergunta que d\u00e1 t\u00edtulo ao artigo, questionando tamb\u00e9m se \u00e9 este, de fato, o jornalismo que queremos de nossos famigerados jornais impressos.<\/p>\n Como ando pesquisando a cultura hacker e o jornalismo no doutorado, esse \u00e9 um assunto que me interessa. N\u00e3o \u00e9 de hoje que vemos um crescimento absurdo da influ\u00eancia da tecnologia digital em todos os processos e produtos jornal\u00edsticos. Enquanto trabalhamos como jornalistas, apuramos, escrevemos, filmamos, editamos, gravamos, fazemos fotos, publicamos e fazemos circular nossas mat\u00e9rias, reportagens, v\u00eddeos e fotografias em m\u00e1quinas governadas por d\u00edgitos, combina\u00e7\u00f5es infinitas e complexas de bin\u00e1rios (0 e 1).<\/p>\n N\u00e3o importa o suporte que o jornalismo \u00e9 veiculado, todos eles est\u00e3o tomados por m\u00e1quinas digitais em alguma \u2013 ou em todas \u2013 etapas.\u00a0A n\u00e3o ser que voc\u00ea queira fazer um jornal artesanal, escrever a m\u00e3o, copiar o texto em mime\u00f3grafos (existem ainda?) e distribuir na rua, ou em bancas e livrarias, n\u00e3o h\u00e1 como escapar da digitaliza\u00e7\u00e3o.<\/p>\n Da\u00ed que, ao ler a mat\u00e9ria sobre o avan\u00e7o dos \u201crob\u00f4s\u201d sobre os processos jornal\u00edsticos que antes humanos faziam, diversas quest\u00f5es vieram \u00e0 tona. Se a compet\u00eancia da t\u00e9cnica \u00e9 cada vez mais importante na produ\u00e7\u00e3o do jornalismo, e se a forma de \u2018objetividade\u2019 na atividade jornal\u00edstica, especialmente nas se\u00e7\u00f5es \u201c\u00faltimas not\u00edcias\u201d dos sites, desumaniza tanto o processo que fica f\u00e1cil um rob\u00f4 fazer isso, o que aconteceria se eles, rob\u00f4s (scripts, combina\u00e7\u00f5es v\u00e1rias de algoritmos bem constru\u00eddos de sele\u00e7\u00e3o e hierarquiza\u00e7\u00e3o da informa\u00e7\u00e3o) substitu\u00edssem de fato um editor de um jornal?<\/p>\n Ter\u00edamos um jornal somente da \u201cbolha\u201d de nossos amigos ou pessoas com pontos de vistas semelhantes, com informa\u00e7\u00f5es sobre coisas que j\u00e1 demonstramos interesse em algum momento na rede, como \u00e9 o caso da timeline do Facebook, o nosso \u201cjornal di\u00e1rio\u201d que consultamos diariamente (algu\u00e9m de voc\u00eas n\u00e3o faz isso?) e mistura not\u00edcias importantes, exibi\u00e7\u00e3o tur\u00edstica, gastron\u00f4mica e apaixonada alheia, memes da internet e muito, mas muito coment\u00e1rio sobre tudo e todos?<\/p>\n Imagino que nem eu nem ningu\u00e9m tenha respostas a estas quest\u00f5es. Para produzir um jornalismo de qualidade, que traz uma informa\u00e7\u00e3o que as vezes nem sab\u00edamos ser de suma import\u00e2ncia para o interesse p\u00fablico, sempre foi necess\u00e1rio aquele \u201cfeeling\u201d do rep\u00f3rter em buscar informa\u00e7\u00f5es, sentir quando elas podem se tornar not\u00edcias relevantes e de que forma elas devem ser apresentadas para fisgar quem l\u00ea\/assiste\/ouve. Com a maior influ\u00eancia da tecnologia no jornalismo, e a onipresen\u00e7a das redes digitais, cada vez mais informa\u00e7\u00f5es podem ser buscadas por ferramentas digitais, quanto mais avan\u00e7adas as buscas melhor a qualidade e a possibilidade de cruzamentos dessa informa\u00e7\u00e3o \u2013 e ta\u00ed o jornalismo de dados (ou\u00a0datajournalism<\/i>) e as reportagens multim\u00eddia para provar o qu\u00e3o bom jornalismo \u00e9 poss\u00edvel fazer dessa maneira.<\/p>\n Mas o \u201cfaro\u201d de identificar \u201cisto \u00e9 not\u00edcia!\u201d depende de tantos fatores, tantas vari\u00e1veis e de tantas quest\u00f5es subjetivas, que fica dif\u00edcil de elaborar, hoje, uma cole\u00e7\u00e3o de algoritmos (um \u201crob\u00f4\u201d) t\u00e3o robusta que d\u00ea conta de fazer automaticamente esse processo. Os rob\u00f4s do The Guardian talvez estejam tateando nesse caminho, mas se n\u00e3o houver quem os programe, quem coloque senten\u00e7as do tipo \u201cse a informa\u00e7\u00e3o X estiver na rede deve ser not\u00edcia, portanto publicada\u201d, n\u00e3o h\u00e1 rob\u00f4 que d\u00ea conta.<\/p>\n Al\u00e9m disso, outras quest\u00f5es surgem: e se as informa\u00e7\u00f5es de alguma forma n\u00e3o estiverem digitalizadas em nenhum espa\u00e7o na rede, como um rob\u00f4 ir\u00e1 saber quem entrevistar ou que esse acidente que aconteceu agora em frente a minha casa deve ser not\u00edcia? E se esse \u201cjornal di\u00e1rio\u201d feito pelos rob\u00f4s, baseados nos nossos interesses demonstrados nas redes sociais (posts que curtimos, fanpagens que seguimos, pessoas que mais acompanhamos e comentamos), n\u00e3o trouxer informa\u00e7\u00f5es b\u00e1sicas sobre o tempo, tr\u00e2nsito, hor\u00e1rios e pre\u00e7os, informa\u00e7\u00f5es b\u00e1sicas de interesse de uma coletividade organizada, em torno de uma cidade, por exemplo, consumir\u00edamos assim mesmo esse produto?<\/p>\n Quest\u00f5es, quest\u00f5es e mais quest\u00f5es que hoje n\u00e3o t\u00eam resposta, mas que s\u00f3 o fato de poderem ser colocadas d\u00e3o uma pista de como o mundo \u2013 e o jornalismo \u2013 est\u00e1 em profunda muta\u00e7\u00e3o.<\/p>\n [Leonardo Foletto] * Texto publicado originalmente no site de Claudemir Pereira<\/a><\/p>\n<\/a><\/p>\n
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