{"id":9413,"date":"2012-10-17T13:00:29","date_gmt":"2012-10-17T13:00:29","guid":{"rendered":"https:\/\/baixacultura.org\/?p=9413"},"modified":"2012-10-17T13:00:29","modified_gmt":"2012-10-17T13:00:29","slug":"como-fazer-fortuna-roubando-dos-outros-os-piratas-de-hollywood","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/baixacultura.org\/2012\/10\/17\/como-fazer-fortuna-roubando-dos-outros-os-piratas-de-hollywood\/","title":{"rendered":"Como fazer fortuna roubando dos outros: os piratas de Hollywood"},"content":{"rendered":"
Olhe bem pra essa foto p&b com esses senhores sisudos e bem vestidos. S\u00e3o integrantes da Motion Picture Patents Company<\/a>, o primeiro grande truste de est\u00fadios de cinema dos Estados Unidos. Entre as nobres figuras est\u00e1\u00a0Thomas Edison<\/a>, empres\u00e1rio\/inventor de mais de 2 mil patentes. Data: 1908.<\/p>\n Um ano antes, Thomas Edison – que mais do que inventor, foi um\u00a0patenteador<\/em> – tinha ganho na corte dos EUA o \u00a0monop\u00f3lio de explora\u00e7\u00e3o de uma novidade tecnol\u00f3gica: o cinet\u00f3graf<\/a>o, na \u00e9poca a primeira c\u00e2mera de cinema bem-sucedida. Esse monop\u00f3lio significava que qualquer c\u00e2mera de cinema igual ao cinet\u00f3grafo que estivesse rodando nos Estados Unidos tinha que ter permiss\u00e3o do senhor Edison para funcionar.<\/p>\n At\u00e9 ent\u00e3o, o ass\u00e9dio de Edison sobre os fabricantes ou distribuidores “n\u00e3o autorizados” de sua m\u00e1quina eram bem conhecidos. O apoio jur\u00eddico foi o que ele esperava para criar a MPPC, um cartel de patentes composto\u00a0das principais empresas da pel\u00edcula e fornecedores da \u00e9poca, principalmente de Nova York, a meca do cinema do cinema mudo do in\u00edcio do s\u00e9culo.<\/p>\n Patente do cinet\u00f3grafo, por Edison<\/p><\/div>\n Como se esse tipo de controle n\u00e3o fosse suficiente, a MPPC fundou outra companhia, chamada “General Film Company<\/em>“, cujo objetivo era adquirir todo o estoque de filmes do pa\u00eds e bloquear a importa\u00e7\u00e3o de filmes estrangeiros. Em 1911, a General Film adquiriu 68 “sacos” de distribui\u00e7\u00e3o de filmes e negou a licen\u00e7a para outras 11, segundo informa este livro<\/a>.<\/p>\n Foi o que bastou para uma das empresas afetadas se rebelar. A\u00a0“Greater New York Film Rental Company<\/em>” optou por n\u00e3o vender nem aceitar o pre\u00e7o de Edison.\u00a0O propriet\u00e1rio era um empres\u00e1rio de origem h\u00fangara que tinha come\u00e7ado no neg\u00f3cio em 1904, com a compra de uma empresa no Brooklyn por 1 600 d\u00f3lares – e que, anos depois, seria dono de um imp\u00e9rio de 400 milh\u00f5es<\/a> de doletas. Seu nome era William Fox.<\/p>\n Adolph Zukor (Paramount), William Fox (Twenty Century Fox), Carl Laemmle (Universal), Samuel Goldwyn (MGM), William Wadsworth Hodkinson (Paramount)<\/p><\/div>\n Eufemismos<\/strong><\/p>\n <\/strong>Desafiando Edison e seus amigos da MPPC, um grupo de donos de sala de cinema e produtores decidiu ignorar o monop\u00f3lio e a lei. Ainda que a MPPC produzisse filmes num ritmo alucinante de um por semana em seus est\u00fadios, Fox e seus comparsas achava que havia um mercado muito maior, para qual essa oferta n\u00e3o era suficiente.<\/p>\n Muitos desses empreendedores do cinema se chamavam de “independentes” para se diferenciar da turma de Edison. Mas estes claramente poderiam ser chamados de “ilegais”, ou “piratas”, ou “ladr\u00f5es de propriedade intelectual”, segundo os par\u00e2metros da \u00e9poca, porque n\u00e3o pagavam royalties pelas patentes nem pediam permiss\u00e3o para usar o invento dos outros. Ainda fabricavam equipamentos “ilegalmente” e mantinham uma rede de distribui\u00e7\u00e3o de filmes clandestina. Por conta da persegui\u00e7\u00e3o que sofriam, resolveram fugir de Nova York e da sanha gananciosa da turma de Edison.<\/p>\n Nasce Hollywood<\/strong><\/p>\n Os exibidores, produtores e diretores “independentes” tinham por objetivo fugir da Big Apple e se estabelecer a uma dist\u00e2ncia razo\u00e1vel da cobran\u00e7a de royalties dos advogados da MPPC. O lugar encontrado foi do outro lado do pa\u00eds, um sub\u00farbio de 5000 habitantes chamado Hollywood, a 4500 km de NY – convenientemente pr\u00f3ximo da fronteira com o M\u00e9xico, caso precisassem fugir de novo.<\/p>\n O resto \u00e9 conhecido. Longe da sanha patenteadora de Edison e da MPPC, o grupo de “independentes” fundou os principais est\u00fadios de cinema dos Estados Unidos – Fox, Warner Brothers, Universal, Paramount, MGM<\/em>. E os que se mantiveram sob a guarda da tecnologia de Edison morreram esquecidos com seus est\u00fadios – “Biograph Studios”, “Essanay Film Manufacturing Company”, “Kalem Company”.<\/em><\/p>\n Este mesmo grupo de independentes que criou Hollywood est\u00e1 atualmente na linha de frente de outro grupo que voc\u00ea conhece muito bem, a Motion Picture Association of America (MPAA<\/a>). Um s\u00e9culo atr\u00e1s eles fugiram para\u00a0evitar pagar royalties para o “dono da propriedade intelectual” de c\u00e2mera de cinema, inova\u00e7\u00e3o t\u00e9cnica que tinha permitido todo o seu neg\u00f3cio. Hoje, ca\u00e7am “piratas” que ousam distribuir e usufruir de seus produtos sem autoriza\u00e7\u00e3o pela internet.<\/p>\n E a hist\u00f3ria se repete: novos empreendedores, agora do ciberespa\u00e7o, fogem dos advogados de Hollywood para n\u00e3o pagar pelo conte\u00fado dos est\u00fadios\/gravadoras, ou distribuir estes mesmos produtos via P2P. Mas, depois de um s\u00e9culo de globaliza\u00e7\u00e3o, parece que n\u00e3o h\u00e1 mais dist\u00e2ncia suficientemente segura, pelo menos n\u00e3o dentro da terra<\/a>.<\/p>\n Paralelismos<\/strong><\/p>\n <\/strong>Em 1920, quando a pol\u00edcia dos EUA chegou ao Oeste para investigar as empresas instaladas em Hollywood, as patentes de Edison estavam por expirar. Isso porqu\u00ea, naquela \u00e9poca, as patentes duravam 17 anos. Isso mesmo: 17 anos. O copyright do in\u00edcio do s\u00e9culo passado (tanto nos EUA quanto em outros pa\u00edses) lidava com um per\u00edodo bem mais razo\u00e1vel do que os de agora: 14 anos desde a data de publica\u00e7\u00e3o. Hoje s\u00e3o absurdos 70 anos ap\u00f3s a morte do autor para a obra entrar em dom\u00ednio p\u00fablico<\/a>. E pode ser mais, se o governo dos EUA ceder de novo a armadilha Disney<\/a>.<\/p>\n Durante os anos de vig\u00eancia das patentes de Edison, Hollywood ganhou fortunas “com o trabalho intelectual de outros” sem pagar um centavo de royalties. Um s\u00e9culo depois, casos como o do Megaupload – em que Kim Dotcom ganha fortunas com publicidade em arquivos digitais<\/a> – \u00a0servem tamb\u00e9m para dizer\u00a0pra Hollywood o quanto eles est\u00e3o perdendo dinheiro em ca\u00e7ar estes “piratas”, e n\u00e3o roubar seus modelos de neg\u00f3cio.<\/p>\n Outro paralelo entre os dois casos \u00e9 a conclus\u00e3o de “\u00e9 fora do monop\u00f3lio que se incentiva a inova\u00e7\u00e3o<\/strong>“. Assim como as start-ups<\/em> inovadoras de hoje, que n\u00e3o raro exploram o mercado do cinema na rede desafiando o monop\u00f3lio de Hollywood, a\u00a0constata\u00e7\u00e3o dos “independentes” que fugiram de NY n\u00e3o foi s\u00f3 tecnol\u00f3gica, mas de mercado: encontraram formas de criar audi\u00eancias para filmes mais sofisticados e longa-metragens, convertendo assim o cinema em algo massivo e rent\u00e1vel. Coisa que Edson e a MPPC n\u00e3o conseguiram fazer em Nova York.<\/p>\n O esquema produtivo de Hollywood<\/strong><\/p>\n W. W. Hodkinson \u00e9 conhecido como “o homem que inventou Hollywood<\/a>“. Foi ele que organizou uma forma de comercializa\u00e7\u00e3o vertical entre est\u00fadios, produtores e exibidores que permitiu a produ\u00e7\u00e3o de longa-metragens e a distribui\u00e7\u00e3o em larga escala. Potencializou tamb\u00e9m o marketing no cinema e implementou o sistema de promo\u00e7\u00e3o conhecido nos meios teatrais, o “star system”, em que um reduzido grupo de estrelas garantiam o \u00eaxito dos filmes.<\/p>\n Como outros, Hodkinson esteve com Edison na MPPC, mas teve resist\u00eancia em aplicar suas ideias. Em 1912, estabeleceu contato com os “independentes”, em especial com\u00a0Adolph Zukor<\/a><\/em>, com quem fundaria em 1914 a Paramount Pictures<\/a>.<\/p>\n Na clandestinidade<\/strong><\/p>\n Em um artigo do New York Times de 1912<\/a>, Laemmle relatou alguns dos percal\u00e7os para conseguir filmar “fora da lei”. A MPPC leu o texto e, em repres\u00e1lia, entrou com uma representa\u00e7\u00e3o contra o empres\u00e1rio, alegando que a m\u00e1quina que usava para fazer filmes (acima<\/em>) infringia as patentes da \u00e9poca. Foi o que bastou para Laemmle seguir para Hollywood e fundar a hoje poderosa Universal Pictures.<\/p>\n <\/p>\n <\/p>\n Olhe bem pra essa foto p&b com esses senhores sisudos e bem vestidos. S\u00e3o integrantes da Motion Picture Patents Company, o primeiro grande truste de est\u00fadios de cinema dos Estados Unidos. Entre as nobres figuras est\u00e1\u00a0Thomas Edison, empres\u00e1rio\/inventor de mais de 2 mil patentes. Data: 1908. 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