{"id":9362,"date":"2012-10-05T20:01:58","date_gmt":"2012-10-05T20:01:58","guid":{"rendered":"https:\/\/baixacultura.org\/?p=9362"},"modified":"2012-10-05T20:01:58","modified_gmt":"2012-10-05T20:01:58","slug":"a-politica-vicejante-se-manifesta","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/baixacultura.org\/2012\/10\/05\/a-politica-vicejante-se-manifesta\/","title":{"rendered":"A pol\u00edtica vicejante se manifesta"},"content":{"rendered":"

\"\"<\/a><\/p>\n

 <\/p>\n

\nEm v\u00e9spera de elei\u00e7\u00e3o, nada melhor que um texto ir\u00f4nico\/certeiro para ecoar em nossas mentes pol\u00edtico-torcedoras.O Manifesto da Esquerda Vicejante\u00a0foi escrito em 1994 e, 11 anos depois, virou livro de mesmo nome<\/a>, somado com mais outros textos da mesma linha do \u00a0jornalista e poeta pernambucano Marcelo M\u00e1rio de Melo, um esquerdista de carterrinha ainda hoje <\/a>.\u00a0\u00c9 uma s\u00e9rie de “leis” (36) mordazes (e engra\u00e7adas) pra caramba sobre a fal\u00eancia das esquerdas e, de um modo geral, de toda a pol\u00edtica – que como gostamos de repetir por aqui, “<\/span>n\u00e3o nos representa mais<\/em>“, ainda que, sim, represente.<\/span><\/p>\n

Como Jos\u00e9 Paulo Cavalcanti Filho escreve <\/span>na apresenta\u00e7\u00e3o<\/a>, o Manifesto “n\u00e3o tem a pretens\u00e3o de merecer estudo nenhum”.\u00a0A ideia de usar \u201cmanifestos\u201d como o da Esquerda Vicejante para divulgar id\u00e9ias \u00e9 antiga: remonta desde o cl\u00e1\u00e1\u00e1ssico “<\/span>Manifesto Comunista<\/em>” de Marx e Engels, no s\u00e9culo XIX at\u00e9, j\u00e1 no s\u00e9culo XX, o \u201c<\/span>Manifesto Futurista<\/a>\u201d de Filippo Tomaso Marinetti, publicado no Jornal Figaro (1909); \u00a0os brasileir\u00edssimos \u201c<\/span>Manifesto Antrop\u00f3fago<\/a>\u201d e “<\/span>Manifesto da Poesia Pau-Brasil<\/a>\u201d, do mestre Oswald de Andrade.<\/span><\/p>\n

Ainda teve os “Manifestos Dada\u00edsta<\/a>s”, de Sami Rosentein \u2013 dito Tristan-Tzara; Andr\u00e9 Breton publicou em 1924 e 1930 dois “Manifestos Surrealistas”, pregando o n\u00e3o conformismo e a f\u00f3rmula de cria\u00e7\u00e3o denominada \u201cautomatismo ps\u00edquico\u201d. Mais recentemente tivemos o Manifesto Neo-concreto<\/a>, de Ferreira Gullar, Lygia Clark, Am\u00edlcar de Castro, entre outros; o Manifesto da Poesia Praxis, de M\u00e1rio Chamie<\/a>. Mais recente ainda tem o “Manifesto da Poesia Sampler<\/a>“, de Fred Coelho e Mauro Gastpar (o pr\u00f3ximo que publicaremos). E \u00e9 bem prov\u00e1vel que muitos outros \u201cmanifestos\u201d existam ainda, por esse mund\u00e3o afora.<\/div>\n
<\/div>\n
O <\/span>Manifesto da Esquerda Vicejante<\/em> n\u00e3o quer, claro, se comparar com esses todos a\u00ed de cima. Ele prop\u00f5e, \u0093em lugar da esquerda autorit\u00e1ria, arrogante e autof\u00e1gica, a esquerda auditiva, criativa e cativante.\u0094 Desenha \u0093a caricatura da milit\u00e2ncia\u0094, identificando: \u0093partidos pol\u00edticos \u0096minha elei\u00e7\u00e3o, meu marketing, meus cargos; sindicatos \u0096meu diss\u00eddio, minha data-base, minha categoria; movimento social \u0096 meu segmento; associa\u00e7\u00f5es de moradores, meu grupo, minha rua, meu bairro; organiza\u00e7\u00f5es n\u00e3o-governamentais \u0096meu projeto, meu pobre, meu gringo.<\/span><\/div>\n
<\/div>\n
Na defesa ir\u00f4nica do socialismo, o autor faz uma met\u00e1fora sexual: \u0093liberalismo, neoliberalismo, \u00e9 masturba\u00e7\u00e3o sem gozo; social-democracia \u00e9 gozar fora e em p\u00e9; socialismo stalinista \u00e9 transar sem sarro e, muitas vezes, sobre cama de caco de vidro e areia; socialismo com cidadania popular, pluralismo e controle civil \u00e9 sarro, dan\u00e7a, gozo dentro, conjunto e muitas vezes repetido em boa cama\u0094.<\/div>\n
<\/div>\n
Disfrute.<\/div>\n
<\/div>\n
\n
O Manifesto<\/strong><\/div>\n
<\/div>\n
\u201cVicejar (De vi\u00e7o + ejar)<\/em><\/div>\n
1)Ter vi\u00e7o, vegetar com opul\u00eancia, vi\u00e7ar (…).<\/em><\/div>\n
2)Ostentar-se de maneira brilhante ou exuberante; garrir (…).<\/em>
\n 3) Dar o vi\u00e7o a (…).<\/em><\/div>\n
4)Fazer brotar exuberantemente (…).5) Brotar, produzir, lan\u00e7ar (…)\u201d<\/em>
\n (Novo Dicion\u00e1rio Aur\u00e9lio, Ed. Nova Fronteira,\u00a02a edi\u00e7\u00e3o 1986, p\u00e1g 1773<\/em>)<\/div>\n
\n

1<\/strong><\/p>\n

* Em lugar da esquerda arrogante e autof\u00e1gica, a esquerda criativa e cativante.<\/p>\n<\/div>\n

* Em lugar do otimismo compuls\u00f3rio, a esperan\u00e7a cr\u00edtica.<\/div>\n
* Em lugar dos sonhos ut\u00f3picos, as vig\u00edlias program\u00e1ticas e pragm\u00e1ticas.<\/div>\n
* Em lugar das cartas de princ\u00edpio, os bilhetes de come\u00e7o, meio e fim.<\/div>\n
* Sempre que se levantar quest\u00f5es, baixar solu\u00e7\u00f5es.<\/div>\n
* No horizonte dos pontos de partida, os encontros de chegada.<\/div>\n
* Antes de procurar as sa\u00eddas, encontrar as entradas.<\/div>\n
* Em lugar das viciadas veredas, os desafiantes caminhos.<\/div>\n
* Em lugar das rotas rotinas, as radiosas rupturas.<\/div>\n
* Em sintonia com o esp\u00edrito que norteia, o corpo que suleia.<\/div>\n
* E quanto pior, pior.<\/div>\n
* E quanto melhor, melhor.<\/div>\n
* E o importante s\u00e3o os talhes dos detalhes.<\/div>\n
\n

2<\/strong><\/p>\n

* Abaixo MDU: Mito, Dogma, Utopia.
\n* MDU: o trio tenebroso.
\n* Mito \u00e9 a sombra do an\u00e3o fazendo gigante no muro.
\n* Dogma \u00e9 a ponte avan\u00e7ando antes de o rio nascer.
\n* Utopia \u00e9 a costura seguindo sem a linha na agulha.<\/p>\n

3<\/strong><\/div>\n
<\/div>\n
* Que a esquerda tenha a coragem de se olhar de frente no espelho.\u00a0E sem maquiagem.<\/div>\n
* Ampla distribui\u00e7\u00e3o de espelhos retrovisores para que todos tamb\u00e9m possam ver a pr\u00f3pria cauda.<\/div>\n
\n

4<\/strong><\/p>\n<\/div>\n

* Abaixo a caricatura atual da milit\u00e2ncia!<\/div>\n
* Partidos pol\u00edticos: \u201cminha elei\u00e7\u00e3o\u201d , \u201cmeu espa\u00e7o\u201d , \u201cmeus cargos\u201d<\/div>\n
* Sindicatos: \u201cmeu diss\u00eddio\u201d , \u201cminha data-base\u201d, \u201cminha categoria\u201d<\/div>\n
* Movimentos sociais: \u201cmeu segmento\u201d.<\/div>\n
* Associa\u00e7\u00f5es de moradores: \u201cmeu grupo\u201d \u201cminha rua\u201d, \u201cmeu bairro\u201d.<\/div>\n
* Organiza\u00e7\u00f5es N\u00e3o Governamentais: \u201dmeu projeto\u201d, \u201cmeu pobre\u201d, \u201cmeu gringo\u201d<\/div>\n
* Espa\u00e7o de a\u00e7\u00e3o: \u201cmeu protesto\u201d, meu \u201ccom\u00edcio\u201d, \u201cmeu f\u00f3rum\u201d<\/div>\n
<\/div>\n
5<\/strong><\/div>\n
<\/div>\n
* Abaixo os atos-p\u00fablicos-atos-\u00edntimos de a gente olhando pra n\u00f3s, os protestos sem cont\u00e1gio e as greves gerais irreais.<\/div>\n
* Fora com o automatismo da a\u00e7\u00e3o pol\u00edtica calendarizada e eventualista.<\/div>\n
* Pela subordina\u00e7\u00e3o dos barulhos do marketing ao trabalho de massas.<\/div>\n
* Mais programa\u00e7\u00e3o ao vivo e menos em circuito fechado.<\/div>\n
* E aos que pretendem insistir na mesma infecunda mesmice, recomenda-se a contrata\u00e7\u00e3o de grupos teatrais para encena\u00e7\u00e3o de assembl\u00e9ias, passeatas, piquetes e com\u00edcios.
\n* Al\u00e9m de atores e figurantes, dubl\u00eas e s\u00f3sias impec\u00e1veis dos dirigentes permitir\u00e3o que eles assistam a tudo em casa e em cores, onde assinar\u00e3o depois os maravilhosos documentos de avalia\u00e7\u00e3o com a abertura: \u201cfoi uma vit\u00f3ria\u201d ; e o fecho: \u201d a luta continua\u201d.<\/div>\n
\n

6<\/strong><\/p>\n<\/div>\n

* Chega de reproduzir no movimento popular aquilo que se critica nas cantigas do poder.<\/div>\n
* Ningu\u00e9m cria o que n\u00e3o vivencia, lugar de teoria \u00e9 na pr\u00e1tica e democracia pra ser boa come\u00e7a de casa.<\/div>\n
* Que se instaure a democracia entre as for\u00e7as e os cidad\u00e3os de esquerda, n\u00e3o apenas enquanto medida provis\u00f3ria ou estado de emerg\u00eancia, mas como premissa e conclus\u00e3o, meta e m\u00e9todo, escada, trampolim e mergulho de vida e conviv\u00eancia.<\/div>\n
* Pela alfabetiza\u00e7\u00e3o democr\u00e1tica.<\/div>\n
* Que se providenciem as escolinhas de democracia, do maternal ao curso noturno, para todas as tend\u00eancias e sub-tend\u00eancias da esquerda.<\/div>\n
<\/div>\n
7<\/strong><\/div>\n
<\/div>\n
* Abaixo a ditadura da meia d\u00fazia.<\/div>\n
* Chega de falar em nome do povo sem procura\u00e7\u00e3o nem consulta.<\/div>\n
* Pela mobiliza\u00e7\u00e3o dos n\u00e3o consultados ante as imposi\u00e7\u00f5es de diret\u00f3rios, diretorias, gabinetes, escrit\u00f3rios, chefias, equipes, caciques, mandat\u00e1rios e porta-vozes em geral \u2013 autorizados, autointitulados, telep\u00e1ticos e medi\u00fanicos.* Em lugar da ditadura das palavras de ordem, a sintonia com os anseios do povo.<\/div>\n
* Contra a privatiza\u00e7\u00e3o do movimento popular por indiv\u00edduos ou grupos: gurus, tutores, protetores, patronos, papais, mam\u00e3es, sociedades an\u00f4nimas, companhias limitadas, condom\u00ednios e cons\u00f3rcios.<\/div>\n
<\/div>\n
8<\/strong><\/div>\n
* Fora com o sadomasoquismo reverberante do tipo: \u201cpassei a noite sem dormir\u201d, \u201choje quase n\u00e3o comi\u201d e \u201cestou morto de tanto trabalhar\u201d.
\n* Se noite de sono, fome e excesso de trabalho forem padr\u00e3o de qualidade militante, que se promova como vanguarda pol\u00edtica o trio formado por um vigilante noturno, um faquir e um jumento.
\n* E que se livre a todos do discurso chantagista da hora-extra militante, utilizada como poupan\u00e7a, lucro ou dividendo, com direito a grosseria e pompa, por quem se considera acionista majorit\u00e1rio da luta popular.
\n* Pela concilia\u00e7\u00e3o entre a luta popular e o leito copular.
\n* Por uma milit\u00e2ncia com poesia, prazer, amizade e humor.<\/div>\n

9<\/strong><\/p>\n

* Contra o del\u00edrio pol\u00edtico e a fic\u00e7\u00e3o na a\u00e7\u00e3o.
\n* Que os militantes assimilem a objetividade dos humoristas.
\n* Pela implementa\u00e7\u00e3o dos Centros Integrados de Arte para Pol\u00edticos \u2013 CIAPs \u2013 com abund\u00e2ncia de professores surrealistas, abstracionistas e perform\u00e1ticos.<\/p>\n

10<\/strong><\/p>\n

* Pelo est\u00edmulo \u00e0 desinibi\u00e7\u00e3o religiosa entre militantes, notadamente, no c\u00edrculo dos que se dizem ateus, agn\u00f3sticos e materialistas, para que diminuam o fanatismo, as igrejinhas, as confrarias e as seitas pol\u00edticas.
\n* Que os ateus aut\u00eanticos colaborem com os religiosos de todos os matizes no esfor\u00e7o pela dessacraliza\u00e7\u00e3o da vida pol\u00edtica e para o exerc\u00edcio dos cultos nos lugares devidos.<\/p>\n

11<\/strong><\/div>\n

* Pelas assessorias especializadas para todas as vertentes da esquerda psiqui\u00e1trica.<\/p>\n

12<\/strong><\/p>\n

* Por uma adequada pol\u00edtica de administra\u00e7\u00e3o de narcisos.<\/p>\n<\/div>\n

13
\n<\/strong><\/div>\n
<\/div>\n
* Contra a amn\u00e9sia pol\u00edtica daqueles que pretendem soterrar o passado ditatorial.<\/div>\n
* Chega do saudosismo vitimista dos que analisam a hist\u00f3ria a partir do seu umbigo torturado.<\/div>\n
* Fora com as mitifica\u00e7\u00f5es e os tabus.<\/div>\n
* Que as viv\u00eancias, os depoimentos e as mem\u00f3rias sejam tratados como fontes de informa\u00e7\u00e3o a servi\u00e7o da atualidade pol\u00edtica e da verdade hist\u00f3rica.
\n* Contra a necrofilia pol\u00edtica.<\/div>\n
* Que seja repensada a quest\u00e3o dos mortos e desaparecidos durante a ditadura, colocando-se em primeiro plano, n\u00e3o as chagas do seu mart\u00edrio, mas o significado p\u00fablico e a responsabilidade da sua perda, as informa\u00e7\u00f5es sobre as suas vidas e os seus jeitos de rir.
\n
\n14<\/strong><\/div>\n

* Pela interioriza\u00e7\u00e3o da pol\u00edtica.
\n* Que a esquerda metropolitana deixe de falar em nome de todo o estado, em eventos de composi\u00e7\u00e3o municipal e crach\u00e1 estadual.<\/p>\n

\n

15<\/strong><\/p>\n

* Pelo cr\u00e9dito de confian\u00e7a nos controles.
\n* Todos sabem que dor de cotovelo, gripe, picada de inseto, burocratismo, barata, ran\u00e7o, m\u00e1 f\u00e9, antipatia, idiotice, autoritarismo e picaretagem, n\u00e3o s\u00e3o privil\u00e9gios de nenhuma corrente ideol\u00f3gica e atacam a todas, com poss\u00edveis varia\u00e7\u00f5es de grau.
\n* Em lugar da confian\u00e7a cega em dirigentes e dirigidos, mecanismos eficazes de controle civil e presta\u00e7\u00e3o de contas de lado a lado, de cima pra baixo e, principalmente, de baixo pra cima.
\n* Pela desconfian\u00e7a constante ante todas as vers\u00f5es e invers\u00f5es oficiais.
\n* Que n\u00e3o se ponha a m\u00e3o no fogo por ningu\u00e9m.<\/p>\n<\/div>\n

\n

16<\/strong><\/p>\n

* Pela \u00f3tica com \u00e9tica e a coer\u00eancia no cotidiano.
\n* Quanto \u00e0 \u00e9tica socialista, n\u00e3o usai seu santo nome em v\u00e3o.
\n* Em caso de pend\u00eancias dentro da esquerda, considerar, inicialmente, que vanguarda tamb\u00e9m \u00e9 massa, a carne \u00e9 fraca e cabe\u00e7a tamb\u00e9m \u00e9 corpo.
\n* Depois, recorrer em crescendo aos princ\u00edpios elementares de conviv\u00eancia entre as pessoas civilizadas e mais ou menos honestas, aos c\u00f3digos de \u00e9tica profissional, aos direito civil, aos dez mandamentos da lei de Deus e \u00e0 Declara\u00e7\u00e3o Universal dos Direitos do Homem.
\n* Se for necess\u00e1rio aplicar o C\u00f3digo Penal, concluir que n\u00e3o se trata de pend\u00eancia socialista e chamar a pol\u00edcia.<\/p>\n


\n17
\n<\/strong>
\n* Que as figuras carism\u00e1ticas e mitol\u00f3gicas da esquerda, da velha, m\u00e9dia ou jovem guarda, sejam tratadas como simples mortais, que comem e descomem.
\n* Sem ran\u00e7os de fan\u00e1tico desiludido nem ci\u00fames de candidato a cacique.<\/p>\n

18
\n<\/strong>
\n* Abaixo as cortinas de ferro, os muros de Berlim e os bloqueios do grupismo e do corporativismo: partid\u00e1rio, sindical, comunit\u00e1rio, segmental, grupal, executivo, legislativo e judici\u00e1rio, militar e civil, patronal e pe\u00e3ozal, intelectual e assessoroso, de baixo e de cima, dianteiro e traseiro, lateral e diagonal, paralelo e transversal.
\n* Pelos projetos globais, pensando na fam\u00edlia, na rua, no bairro, no munic\u00edpio, no estado e no pa\u00eds, inseridos no mundo e no cosmos.<\/p>\n

19<\/strong><\/p>\n

* Abaixo a ditadura do partidarizado.
\n* Pluralismo n\u00e3o \u00e9 sin\u00f4nimo de pluripartidarismo.
\n* Pela representa\u00e7\u00e3o eleitoral dos sem-partido.<\/p>\n<\/div>\n

\n

20<\/strong><\/p>\n

* Abaixo o derrotismo e o niilismo nacional com afeta\u00e7\u00f5es de Primeiro Mundo, de parte daqueles que sobrevivem e se pavoneiam no Terceiro.
\n* Chega de constru\u00e7\u00f5es lamentosas do tipo \u201c\u00e9 gente humilde\/que vontade de chorar\u201d, que a Esquerda Vicejante prop\u00f5e como o Hino Nacional da Mendic\u00e2ncia.<\/p>\n

* Chega de papo de burguesia bondosa distribuindo len\u00e7\u00f3is de seda para os miser\u00e1veis enxugarem as l\u00e1grimas.
\n* Abaixo a pol\u00edtica e a est\u00e9tica do vitimismo e da m\u00e3o suplicante.<\/p>\n


\n21
\n<\/strong>
\n* A Esquerda Vicejante denuncia o cupulismo como a mais requintada e repelente express\u00e3o da cultura pol\u00edtica nacional e identifica como seus produtos de exporta\u00e7\u00e3o:<\/p>\n

. o liberal de sala VIP;<\/p>\n

. o democrata de condom\u00ednio fechado;<\/p>\n

. o social-democrata de cobertura;<\/p>\n

. o comunista cinco estrelas;<\/p>\n

. o esquerdista de vitrine;<\/p>\n

. o anarquista de sal\u00e3o;<\/p>\n

. o agitador de corredor;<\/p>\n

. o ativista de sala de espera;<\/p>\n

. o dirigente de cadeira cativa;<\/p>\n<\/div>\n

\n

. o pr\u00e9-candidato a cacique;. o cacique jovem-guarda.. a lideran\u00e7a de outdoor; a transpar\u00eancia com vidro fum\u00ea.<\/p>\n

22<\/strong><\/p>\n

* A Esquerda Vicejante proclama que nada \u00e9 mais arrogante e raivoso do que um pequeno-burgu\u00eas, pensando que \u00e9 prolet\u00e1rio, despejando b\u00edlis noutro pequeno-burgu\u00eas.<\/p>\n

23<\/strong><\/p>\n

* A Esquerda Vicejante adverte que, a partir das duas horas de dura\u00e7\u00e3o, toda reuni\u00e3o \u00e9 in\u00fatil.
\n* Denuncia o car\u00e1ter antinacional, antipopular, antidemocr\u00e1tico e anti-socialista das reuni\u00f5es nas sextas-feiras \u00e0 noite.
\n* E prop\u00f5e que a sexta-feira seja oficializada como o dia da \u201ctransi\u00e7\u00e3o psicol\u00f3gica da semana\u201d, preservada contra reuni\u00f5es palavrosas e semin\u00e1rios semi-\u00e1ridos.<\/p>\n

24
\n<\/strong>
\n* A Esquerda Vicejante reconhece que, de fato, foi superado o fosso tradicional entre esquerda e direita.
\n* Mas, considerando o empobrecimento e a miserabiliza\u00e7\u00e3o crescentes das camadas populares, ao lado do enriquecimento m\u00e1ximo das classes dominantes, em verdade vos diz que o fosso foi transformado em abismo, muito mais largo e muit\u00edssimo mais profundo.<\/p>\n

25
\n<\/strong>
\n* Sem medo de ser de esquerda e socialista.
\n* A queda do muro de Berlim n\u00e3o mata nossa fome nem dilui nossa direita.
\n*A crise do Terceiro Mundo \u00e9 tamb\u00e9m a crise do Primeiro Mundo, onde se situam mandat\u00e1rios e patr\u00f5es.<\/p>\n

26<\/strong><\/p>\n

* Contra a pressa e a impaci\u00eancia pol\u00edtica.
\n* N\u00e3o identificar prazos de processo hist\u00f3rico com prazos de biografia individual.
\n* Chega de s\u00f3 pensar no fim do filme.
\n* Pela unidade entre a semana e o s\u00e9culo.
\n* Por mais coer\u00eancia e clareza.
\n* Contra os requebros da esquerda de quem vem, direita de quem vai, cujo s\u00edmbolo \u00e9 um camale\u00e3o com fita adesiva.
\n* N\u00e3o confundir conviv\u00eancia com ader\u00eancia.<\/p>\n

27
\n<\/strong>
\n* Sem medo do di\u00e1logo e contra o c\u00e2ncer do consenso compuls\u00f3rio.
\n* Um bom di\u00e1logo pode ser o come\u00e7o de uma excelente discord\u00e2ncia.
\n* Pela pol\u00eamica \u201cbrutal e sutil\u201d.<\/p>\n

28<\/strong><\/p>\n

* Pela radicalidade te\u00f3rica e pr\u00e1tica.
\n* Vaselina somente para facilitar a entrada e aumentar a profundidade.
\n* Sem confundir radicalidade com unilateralidade, sectarismo, grosseria,fechamento ao di\u00e1logo, ofensa e atrito pessoal.
\n* \u201cRadicalidade \u00e9 descer \u00e0s ra\u00edzes\u201d.<\/p>\n

29
\n<\/strong>
\n* Contra a fome, o raquitismo pol\u00edtico e a subnutri\u00e7\u00e3o cultural.
\n* Pela inclus\u00e3o dos exclu\u00eddos.
\n* Por autonomia e cidadania popular.
\n* Pela Rep\u00fablica Alimentarista, fundada no direito democr\u00e1tico de o povo comer \u00e0\u00a0vontade.
\n* Rep\u00fadio a todas as modalidades da engenharia pol\u00edtica dominante na hist\u00f3ria do\u00a0Brasil:
\n. poder moderador;
\n. atos adicionais;
\n. atos institucionais;
\n. medidas provis\u00f3rias;
\n. pacotes e troca-trocas.<\/p>\n<\/div>\n

\n

30<\/strong><\/p>\n

*Abaixo as frentes eleitoreiras, nas quais, em alian\u00e7as com liberais, progressistas e populistas, os n\u00facleos populares, intelectuais, artistas, ativistas, \u201cpagam o boi\u201d em mais valia militante, elaborando programas, mobilizando, cumprindo tarefas, sem garantias nas a\u00e7\u00f5es de governo, nem mesmo, das migalhas do churrasco.
\n* Chega do eleitoralismo de esquerda.<\/p>\n

31<\/strong><\/p>\n

* Pela constru\u00e7\u00e3o de uma alian\u00e7a acima e al\u00e9m de eventos eleitorais, futricas grupais, inst\u00e2ncias oficiais e trique-triques de caciques.
\n* Pelas campanhas de mobiliza\u00e7\u00e3o popular partindo das necessidades reais das massas pesquisadas e consultadas
\n* Que se estabele\u00e7am objetivos atraentes e palp\u00e1veis, permitindo avan\u00e7os e vit\u00f3rias que melhorem a vida e elevem o astra.<\/p>\n<\/div>\n

32<\/strong><\/div>\n
<\/div>\n
* A esquerda vicejante proclama:<\/div>\n
* liberalismo\/neoliberalismo \u00e9 masturba\u00e7\u00e3o sem gozo;<\/div>\n
* social-democracia \u00e9 gozar fora e em p\u00e9;<\/div>\n
* socialismo stalinista \u00e9 transar sem sarro e, muitas vezes, sobre cama de caco\u00a0de vidro e areia;<\/div>\n
* socialismo com cidadania popular, pluralismo e controle civil \u00e9 sarro, dan\u00e7a, gozo dentro conjunto e muitas vezes repetido em boa cama.<\/div>\n
<\/div>\n
<\/div>\n
33
\n<\/strong><\/div>\n
<\/div>\n
* Pela unidade matem\u00e1tica da esquerda e do bloco democr\u00e1tico-popular, a partir das quatro opera\u00e7\u00f5es fundamentais, da soma alg\u00e9brica, da raz\u00e3o e da propor\u00e7\u00e3o, do m\u00e1ximo divisor e do m\u00ednimo m\u00faltiplo, da racionaliza\u00e7\u00e3o dos denominadores e das probabilidades.<\/div>\n
* Cuidado com as radicia\u00e7\u00f5es e as fra\u00e7\u00f5es.<\/div>\n
* E aten\u00e7\u00e3o especial no c\u00e1lculo das fun\u00e7\u00f5es, ante o risco de zerar o nosso denominador comum.<\/div>\n
<\/div>\n
<\/div>\n
34<\/strong><\/div>\n
<\/div>\n
* Pela reativa\u00e7\u00e3o cultural da esquerda.<\/div>\n
* Contra a demagogia dial\u00e9tica, a inven\u00e7\u00e3o de contradi\u00e7\u00f5es e a copidescagem da realidade.<\/div>\n
\u00a0* Que os intelectuais ag\u00f4nicos se situem no organogramsci democr\u00e1tico-popular,criando e recriando para as d\u00e9cadas.<\/div>\n
* Menos par\u00eanteses e mais tra\u00e7os de uni\u00e3o entre a produ\u00e7\u00e3o intelectual e a milit\u00e2ncia pol\u00edtica.<\/div>\n
* Pela aproxima\u00e7\u00e3o do intelectual ecl\u00e9tico com o povo sincr\u00e9tico.
\n* Abaixo os premoldados pol\u00edticos, te\u00f3ricos e pr\u00e1ticos.
\n* N\u00e3o confundir sociedade civil com constru\u00e7\u00e3o civil.
\n* Nem refer\u00eancia te\u00f3rica com rever\u00eancia te\u00f3rica.
\n* Nem paradigma com paradogma.
\n* Nem processo hist\u00f3rico com processo hist\u00e9rico.
\n* Chega de pensar as coisas do pa\u00eds e da vida como uma neurose de vanguarda.<\/div>\n<\/blockquote>\n
\n

35<\/strong><\/p>\n

<\/strong>* Pela descomplica\u00e7\u00e3o verbal.
\n* Falar para ser entendido e n\u00e3o para ser decifrado.
\n* Que todos digam e ningu\u00e9m coloque.<\/p>\n

36
\n<\/strong>
\n* Pela moderniza\u00e7\u00e3o da esquerda, de A a Z.
\n* A mesmice da esquerda \u00e9 o tranq\u00fcilizante da direita.
\n* Que se assuma a modernidade em todos os n\u00edveis, enfrentando os preconceitos da Esquerda das Cavernas e sem engolir o dogma de que ser moderno \u00e9 se aproximar da direita.
\n* A Esquerda Vicejante reafirma que o maior indicador de modernidade do planeta \u00e9 o povo comer o m\u00ednimo de tr\u00eas vezes por dia, com suco e sobremesa.
\n*Vamos viver e conviver melhor, com mais universalidade, mais autenticidade, mais realismo, mais ousadia, mais abertura e mais luz.
\n*Sejamos uma esquerda com ra\u00edzes, caules, folhas, flores e frutos.<\/p><\/blockquote>\n<\/div>\n

\u00a0<\/address>\n
Cr\u00e9ditos: 1<\/a>, 2<\/a>.
\nObs: Valeu ao
Deak<\/a>\u00a0pela dica.<\/address>\n<\/div>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

  Em v\u00e9spera de elei\u00e7\u00e3o, nada melhor que um texto ir\u00f4nico\/certeiro para ecoar em nossas mentes pol\u00edtico-torcedoras.O Manifesto da Esquerda Vicejante\u00a0foi escrito em 1994 e, 11 anos depois, virou livro de mesmo nome, somado com mais outros textos da mesma linha do \u00a0jornalista e poeta pernambucano Marcelo M\u00e1rio de Melo, um esquerdista de carterrinha ainda […]<\/p>\n","protected":false},"author":2,"featured_media":9394,"comment_status":"open","ping_status":"closed","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":[],"categories":[260],"tags":[508,1744,1745,1746,1747,1748,1749,153,171],"post_folder":[],"jetpack_featured_media_url":"","_links":{"self":[{"href":"https:\/\/baixacultura.org\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/9362"}],"collection":[{"href":"https:\/\/baixacultura.org\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"https:\/\/baixacultura.org\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/baixacultura.org\/wp-json\/wp\/v2\/users\/2"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/baixacultura.org\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=9362"}],"version-history":[{"count":0,"href":"https:\/\/baixacultura.org\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/9362\/revisions"}],"wp:featuredmedia":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/baixacultura.org\/wp-json\/"}],"wp:attachment":[{"href":"https:\/\/baixacultura.org\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=9362"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"https:\/\/baixacultura.org\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=9362"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"https:\/\/baixacultura.org\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=9362"},{"taxonomy":"post_folder","embeddable":true,"href":"https:\/\/baixacultura.org\/wp-json\/wp\/v2\/post_folder?post=9362"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}