{"id":6353,"date":"2012-02-23T16:37:49","date_gmt":"2012-02-23T16:37:49","guid":{"rendered":"https:\/\/baixacultura.org\/?p=6353"},"modified":"2012-02-23T16:37:49","modified_gmt":"2012-02-23T16:37:49","slug":"piratearam-a-historia-da-arte","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/baixacultura.org\/2012\/02\/23\/piratearam-a-historia-da-arte\/","title":{"rendered":"Piratearam a Hist\u00f3ria da Arte"},"content":{"rendered":"
Acho fascinante a ideia de uma hist\u00f3ria da arte pirata.<\/p>\n Em tempos de repetida criminaliza\u00e7\u00e3o da pirataria e dos downloads, \u00e9 importante recuperar alguns momentos, hist\u00f3rias e anedotas na hist\u00f3ria da arte em que a apropria\u00e7\u00e3o criativa (e “ilegal”) rolou solta e gerou produtos variados – algo que mais ou menos temos tentado por aqui com as tr\u00eas edi\u00e7\u00f5es da s\u00e9rie Pequenos Grandes Momentos Ilustrados da Hist\u00f3ria da Recombina\u00e7\u00e3o <\/strong>(detournement<\/a>, \u00a0machinima<\/a> e \u00a0cut-up<\/a>).<\/p>\n Nos faz lembrar que nada se cria do nada, que toda cria\u00e7\u00e3o vem de outra, que a cria\u00e7\u00e3o se defende compartilhando, que os direitos autorais precisam ser revistos face \u00e0 nova realidade digital, que o pl\u00e1gio tem uma hist\u00f3ria longu\u00edssima<\/a>, que muitos ilustres foram tamb\u00e9m plagiadores<\/a>\u00a0–\u00a0e que ele, o pl\u00e1gio, apesar de uma a\u00e7\u00e3o sempre presente no mecanismo da produ\u00e7\u00e3o art\u00edstica, continua tendo um peso relativamente escasso\u00a0no discurso sobre a cria\u00e7\u00e3o art\u00edstica ou sobre o status do artista<\/a>.<\/p>\n Com tamanha expectativa \u00e9 que fui ver “Hist\u00f3ria da Arte Pirata<\/a>“, um remix do cl\u00e1ssico de 1950 “A Hist\u00f3ria da Arte”, de Ernst Gombrich<\/a>, criado\/organizado pela artista Bia Bittencourt<\/a>. A ideia do livro \u00e9 a seguinte: provocada pela amiga inglesa Lyn Harris – que comanda o “Piracy Project<\/a>“, projeto que tem o objetivo de criar uma biblioteca de livros de arte pirateados em Londres – Bia convidou artistas amigos e abriu uma chamada para receber colabora\u00e7\u00f5es no site\u00a0IdeaFixa<\/a>. Na chamada, ela explicou que a ideia era \u201cfunzinear\u201d o cl\u00e1ssico da hist\u00f3ria da arte de Gombrich – um dos livros mais conhecidos no ramo e leitura comum nos cursos de artes.<\/p>\n p.103, por Luciano Dehmer<\/p><\/div>\n Bia selecionou os materiais compilados e enviou a cada um dos artistas uma c\u00f3pia da p\u00e1gina do livro a ser recriada. De tanto material que recebeu, surgiu a ideia de fazer um livro mesmo, n\u00e3o “apenas” um fanzine sob a obra de Gombrich. A grana necess\u00e1ria para 100 c\u00f3pias numeradas (R$3,5 mil) veio via Movere.me<\/a>, um site de crowdfunding.<\/p>\n Foi assim que o livro saiu em edi\u00e7\u00e3o impressa com CD encartado – que, como eram c\u00f3pias numeradas, j\u00e1 est\u00e1 esgotado. Mas al\u00e9m desta surgiram mais “edi\u00e7\u00f5es”: uma \u201cpara ver<\/a>\u201d online, outra \u201cpara roubar<\/a>\u201d, em forma de download no MediaFire, e outra em m\u00eddias para ouvir e baixar<\/a>. Os nomes dos artistas participantes est\u00e3o ao fim do livro, assim como dos 41 que contribu\u00edram no Movere.me para a produ\u00e7\u00e3o do livro.<\/p>\n p.119, por Ricardo Cavalera<\/p><\/div>\n Quando fiquei sabendo do livro, em agosto do ano passado via Caderno Link do Estad\u00e3o<\/a>,\u00a0pensei que a obra seria uma compila\u00e7\u00e3o de momentos & causos saborosos de pirataria\/roubo\/apropria\u00e7\u00e3o ind\u00e9bita na hist\u00f3ria da arte\u00a0mundial – algo que eu gostaria muito de ler.<\/p>\n Mas n\u00e3o \u00e9 essa a proposta aqui. Em suas 128 p\u00e1ginas, “Hist\u00f3ria da Arte Pirata” traz interpreta\u00e7\u00f5es visuais (ilustra\u00e7\u00f5es, desenhos, gravuras, colagens) e sonoras (\u00e1udios no CD encartado que podem ser escutados no site) das antes austeras p\u00e1ginas do livro de Gombrich. S\u00e3o diversos estilos, abordagens e pr\u00e1ticas que funcionam como (re)cria\u00e7\u00f5es visuais que, n\u00e3o raro, exigem idas e vindas entre a obra pireteada e a sua derivada – algo que eu n\u00e3o pude fazer, por n\u00e3o ter o livro de Gombrich em m\u00e3os.<\/p>\n [No decorrer da feitura desse post, descobri que existe uma c\u00f3pia do “Hist\u00f3ria da Arte” de Gombrich dispon\u00edvel no Slideshare<\/a>.<\/em>]<\/p>\n Mas o fato de “Hist\u00f3ria da Arte Pirata” estar mais para um objeto-arte do que propriamente um “livro de hist\u00f3ria” \u00e9 uma surpresa das boas. As interpreta\u00e7\u00f5es presentes na obra s\u00e3o instigantes, criativas, bizarras, belas, provocadoras e comp\u00f5e um objeto-arte-fanzine sensacional. Permitem tamb\u00e9m uma leitura\/aprecia\u00e7\u00e3o desconexa, do tipo “abra uma p\u00e1gina sem crit\u00e9rio e aprecie”. E falo isso apenas olhando a vers\u00e3o online – provavelmente a impressa \u00e9 ainda mais atrativa.<\/p>\n [Vendo as fotos do lan\u00e7amento<\/a>\u00a0–\u00a0uma delas logo aqui acima – na galeria Choque Cultural<\/a>, em S\u00e3o Paulo, percebo que, neste caso, a vers\u00e3o impressa \u00e9 REALMENTE mais interessante <\/em>].<\/p>\n N\u00e3o ser aquela hist\u00f3ria da arte pirata que imaginei, com causos, obras, brigas e barracos envolvendo a apropria\u00e7\u00e3o criativa (ou n\u00e3o) de outras obras, traz at\u00e9 uma sugest\u00e3o: a de que essa hist\u00f3ria precisa ser escrita – ou (re)escrita, remixada, compilada, traduzida, rearranjada, reciclada, enfim.<\/p>\n [Leonardo Foletto]<\/em><\/p>\n<\/a><\/p>\n
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