{"id":55,"date":"2008-09-15T17:55:18","date_gmt":"2008-09-15T17:55:18","guid":{"rendered":"https:\/\/baixacultura.org\/?p=55"},"modified":"2008-09-15T17:55:18","modified_gmt":"2008-09-15T17:55:18","slug":"copia-boa-copia-ma","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/baixacultura.org\/2008\/09\/15\/copia-boa-copia-ma\/","title":{"rendered":"C\u00f3pia boa, C\u00f3pia m\u00e1 – Ou o in\u00edcio"},"content":{"rendered":"

\"\"<\/a><\/p>\n

1.<\/strong><\/p>\n

Q<\/strong>uando\u00a0a certa altura\u00a0do filme<\/a> um funcion\u00e1rio da ind\u00fastria fonogr\u00e1fica lamenta o fechamento de centenas de lojas de discos nos Estados Unidos como consequ\u00eancia da pirataria,\u00a0\u00e9 inevit\u00e1vel que minha mem\u00f3ria dispare certeira praquele tempo de minha adolesc\u00eancia em que qualquer disco parecia raro e qualquer banda obscura,\u00a0o que repercutia\u00a0simetricamente no pre\u00e7o das iguarias que encontr\u00e1vamos, eu e mais um punhado de moleques magros nas tardes quentes de S\u00e3o Luis.<\/p>\n

A\u00a0conclus\u00e3o inevit\u00e1vel que retiro da\u00a0mem\u00f3ria\u00a0\u00e9 que esse e outros argumentos da ind\u00fastria do entretenimento n\u00e3o s\u00e3o apenas falaciosos, mas solipsistas.\u00a0Eles\u00a0mascaram\u00a0o problema\u00a0do acesso com a histeria em torno da viola\u00e7\u00e3o de direitos e do lucro indevido,\u00a0sem\u00a0nenhuma vergonha do anacronismo ademais antidemocr\u00e1tico (afinal, o acesso \u00e0 cultura\u00a0diz muito da\u00a0qualidade de uma democracia) do tratamento\u00a0dispensado\u00a0a quest\u00f5es como a\u00a0da\u00a0c\u00f3pia livre\u00a0ou o\u00a0sampler, essa t\u00e9cnica j\u00e1 secular.<\/p>\n

Secular, pois \u00e9. Praticada na literatura\u00a0desde\u00a0Lautr\u00e8amont<\/a> e, d\u00e9cadas depois, adotada por surrealistas<\/a>, situacionistas<\/a>, e uma p\u00e1 de outros doidos defensores de que numa sociedade entupida de informa\u00e7\u00e3o,\u00a0a utiliza\u00e7\u00e3o de\u00a0materiais pr\u00e9-existentes pode ser bem mais subversiva do que produzir a partir dum vago princ\u00edpio de originalidade<\/a>.<\/p>\n

Depois vieram\u00a0dub,\u00a0rap,\u00a0hip hop, os soundsystems, respostas da periferia (econ\u00f4mica, mas tamb\u00e9m geogr\u00e1fica) ao car\u00e1ter unidirecional da cultura pop.\u00a0Respostas\u00a0mais e mais\u00a0amea\u00e7adoras para a ind\u00fastria\u00a0\u00e0 medida que a\u00a0tecnologia digital\u00a0se torna\u00a0largamente acess\u00edvel para qualquer um que queira produzir<\/em> e compartilhar<\/em> cultura. Nesse ponto, n\u00e3o apenas os modos de produ\u00e7\u00e3o, mas tamb\u00e9m os de distribui\u00e7\u00e3o e consumo de produtos culturais\u00a0necessitam de revis\u00e3o.<\/p>\n

A l\u00f3gica industrial da cultura [a l\u00f3gica cultural dominante ao longo do s\u00e9culo 20] se baseia num esquema feroz de controle autoral (o copyright), mais ou menos feroz a depender do volume de grana envolvido [no Brasil, pelo menos, os contratos de edi\u00e7\u00e3o de livro s\u00e3o bastante flex\u00edveis se comparados aos acordos abusivos da ind\u00fastria fonogr\u00e1fica]. Quando a tecnologia\u00a0digital\u00a0torna imposs\u00edvel esse\u00a0controle, e aos lucros cada vez menores da ind\u00fastria\u00a0se equipara\u00a0uma produ\u00e7\u00e3o cultural\u00a0descentralizada, diversificada\u00a0e auto-gerenciada; quando a rea\u00e7\u00e3o da ind\u00fastria \u00e9 uma dispendiosa campanha “contra a pirataria” por vezes redundando em leis ignorantes, \u00e9 a\u00ed que o toque dado por Ronaldo Lemos<\/strong> em seu depoimento ao filme serve como uma luva: a sociedade \u00e9 a grande concorrente da ind\u00fastria<\/strong>.<\/p>\n

A\u00a0declara\u00e7\u00e3o de Ronaldo ganha for\u00e7a com o exemplo da produ\u00e7\u00e3o cinematogr\u00e1fica nigeriana [que de t\u00e3o fant\u00e1stico merece outro post, uma s\u00e9rie deles]. Um dos primeiros pa\u00edses a\u00a0investir em\u00a0cinema digital [\u00e9 mais barato], a Nig\u00e9ria produz mais filmes que os EUA e<\/strong> que a \u00cdndia. E, ao menos at\u00e9 a realiza\u00e7\u00e3o do document\u00e1rio, isso tudo sem\u00a0lei nenhuma\u00a0de propriedade intelectual<\/strong>.<\/p>\n

Ali, ou\u00a0na contra-ind\u00fastria\u00a0tecnobrega de\u00a0Bel\u00e9m do Par\u00e1, ou no trabalho criativo e criminoso<\/a> [viva!] do dj Danger Mouse, ou em centenas de experi\u00eancias que o BaixaCultura<\/strong> pretende cobrir, o que est\u00e1 em jogo \u00e9 um tipo de\u00a0organiza\u00e7\u00e3o que segundo os crit\u00e9rios de avalia\u00e7\u00e3o das velhas leis e dos homens-de-preto da ind\u00fastria j\u00e1 nasceu pirata, e\u00a0o incr\u00edvel apego que esses mesmos homens nutrem por um modelo de ind\u00fastria que\u00a0existe h\u00e1 apenas um s\u00e9culo, contra\u00a0um monte de\u00a0outros s\u00e9culos de produ\u00e7\u00e3o art\u00edstica.<\/p>\n

Hum. E talvez os dados j\u00e1 estejam\u00a0at\u00e9 desatualizados, mais ainda assim pensar que nos \u00faltimos seis anos a ind\u00fastria fonogr\u00e1fica perdeu 7 bilh\u00f5e$ de bar\u00f5es \u00e9 mais do que animador, e confere um justificado senso de desobedi\u00eancia aos nossos queridos downloads.<\/p>\n

2.<\/strong><\/p>\n

O\u00a0donwload, a mat\u00e9ria-prima deste blog. Aqui a pauta \u00e9 a\u00a0rede como suporte e produtora de cultura, tanto faz se\u00a0m\u00fasica, literatura, cinema, artes visuais, teatro,\u00a0ou algum objeto n\u00e3o identificado, produtos virtuais que tenham a web como ponto de partida, passagem ou chegada.\u00a0O ponto de vista\u00a0\u00e9 jornal\u00edstico, mas\u00a0de um jornalismo aberto pro que\u00a0ainda desconhecemos.<\/p>\n

Este blog a princ\u00edpio funciona em modo de teste, em todos os sentidos: pautas,\u00a0formatos de texto, forma dos posts,\u00a0categorias de links, fontes, imagens ou v\u00eddeos disponibilizados,\u00a0BaixaCultura<\/strong> in progress<\/em>, erros e acertos\u00a0\u00e0 vista.<\/p>\n

[Reuben da Cunha Rocha.<\/strong> Leonardo Foletto.<\/strong>]<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

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