{"id":5298,"date":"2011-08-12T15:26:36","date_gmt":"2011-08-12T15:26:36","guid":{"rendered":"https:\/\/baixacultura.org\/?p=5298"},"modified":"2011-08-12T15:26:36","modified_gmt":"2011-08-12T15:26:36","slug":"aaron-swartz-e-o-manifesto-da-guerrilla-open-access","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/baixacultura.org\/2011\/08\/12\/aaron-swartz-e-o-manifesto-da-guerrilla-open-access\/","title":{"rendered":"Aaron Swartz e o manifesto da Guerrilla Open Access"},"content":{"rendered":"

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Talvez voc\u00ea j\u00e1 tenha ouvido a hist\u00f3ria: Aaron Swartz, o magr\u00e3o a\u00ed da foto, estava pesquisando no centro de ensino da universidade em que estuda, o MIT<\/a> de Cambridge, entre os dias de 24 de setembro de 2010 e 06 de janeiro de 2011, quando resolveu baixar alguns arquivos de uma p\u00e1gina de reposit\u00f3rio de artigos. Resultado: Swartz foi processado e enfrenta uma investiga\u00e7\u00e3o que pode deix\u00e1-lo 35 anos na pris\u00e3o, al\u00e9m de ter que pagar uma multa de US$ 1 milh\u00e3o.<\/p>\n

O site era o JSTOR<\/a>, criado em 1995 e do qual participam atualmente<\/a> 7 mil bibliotecas e organiza\u00e7\u00f5es que formam um acervo de quase 350 mil artigos, segundo o The New York Times<\/a>. Supostamente, \u00e9 um servi\u00e7o sem fins lucrativos [conforme a pr\u00f3pria descri\u00e7\u00e3o<\/a>], mas que cobra US$ 19 por m\u00eas de quem quer acessar os seus papers. Como indicou um leitor<\/a> no caderno Link, a CAPES<\/a> gastava R$ 75 milh\u00f5es em 2007<\/a> com o reposit\u00f3rio.<\/p>\n

Swartz tem um curr\u00edculo que fez o JSTOR desconfiar de suas inten\u00e7\u00f5es. Criador do Open Library<\/a>, mantido pelo Internet Archive; criador do Watchdog.net<\/a>, um portal Excelencias<\/a> dos Estados Unidos; co-fundador do Reddit<\/a>, um site de avalia\u00e7\u00e3o de links para conte\u00fado na web; co-autor do sistema de feeds de RSS<\/a>. Ainda em 2009, tornou p\u00fablicas 20 milh\u00f5es de p\u00e1ginas<\/a> do poder judici\u00e1rio dos EUA.<\/p>\n

Os caras do JSTOR n\u00e3o curtiram muito a ideia de ele baixar de seu laptop 4 milh\u00f5es e 800 mil artigos e resumos da base de dados do servi\u00e7o. Um “significativo mau uso”, nas palavras deles<\/a>. Swartz n\u00e3o tinha nem divulgado o download, mas o JSTOR o acusou<\/a> de “fraude eletr\u00f4nica, fraude de computador, de obten\u00e7\u00e3o ilegal de informa\u00e7\u00f5es a partir de um computador protegido”.<\/p>\n

Swartz se entregou na manh\u00e3 de 19 de julho no Tribunal de Boston<\/a> e se declarou inocente das acusa\u00e7\u00f5es. Pra ser liberado, teve que pagar US$ 100 mil de fian\u00e7a. As investiga\u00e7\u00f5es seguem, mesmo que o jovem tenha devolvido os arquivos baixados. A pr\u00f3xima audi\u00eancia est\u00e1 marcada para o dia 9 de setembro.<\/p>\n

Muito se noticiou o enrosco de Aaron. O mais estranho foi ver\u00a0 in\u00fameros sites jornal\u00edsticos se referirem ao incidente como um “roubo” [n\u00e9 G1<\/a>?], como se copiar dados fosse a mesma coisa que tir\u00e1-los de l\u00e1. O site QuestionCopyright lembrou<\/a> muito bem da musica de Nina Paley<\/a>: “Copiar n\u00e3o \u00e9 roubar”. Agora, em defesa de Aaron foi criado tamb\u00e9m uma esp\u00e9cie de peti\u00e7\u00e3o p\u00fablica – em um site que ele mesmo criou, o Demand Progress<\/a> [assina l\u00e1 se voc\u00ea simpatiza com a ideia].<\/p>\n

Outra forma de apoiar a causa foi a que v\u00e1rios sites come\u00e7arem a republicar<\/a> o Manifesto da Guerrilla Open Acces<\/strong>, um prof\u00e9tico texto escrito por Aaron em seu blog, l\u00e1 no ano de 2008<\/a>. E \u00e9 ele que republicamos e traduzimos abaixo. No texto, o autor\u00a0 critica a forma como o conhecimento ainda \u00e9 travado<\/del> tratado, mesmo com todos os recursos informacionais de hoje. E no fim tamb\u00e9m intica: de que lado tu vai ficar?<\/p>\n

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“Informa\u00e7\u00e3o \u00e9 poder. Mas, como todo o poder, h\u00e1 aqueles que querem mant\u00ea-lo para si mesmos. A heran\u00e7a inteira do mundo cient\u00edfico e cultural, publicada ao longo dos s\u00e9culos em livros e revistas, \u00e9 cada vez mais digitalizada e trancada por um punhado de corpora\u00e7\u00f5es privadas. Quer ler os jornais apresentando os resultados mais famosos das ci\u00eancias? Voc\u00ea vai precisar enviar enormes quantias para editoras como a Reed Elsevier<\/a>.<\/p>\n

H\u00e1 aqueles que lutam para mudar esta situa\u00e7\u00e3o. O Movimento Open Access tem lutado bravamente para garantir que os cientistas n\u00e3o assinem seus direitos autorais por a\u00ed, mas, em vez disso, assegura que o seu trabalho \u00e9 publicado na internet, sob termos que permitem o acesso a qualquer um. Mas mesmo nos melhores cen\u00e1rios, o trabalho deles s\u00f3 ser\u00e1 aplicado a coisas publicadas no futuro. Tudo at\u00e9 agora ter\u00e1 sido perdido.<\/p>\n

Esse \u00e9 um pre\u00e7o muito alto a pagar. Obrigar pesquisadores a pagar para ler o trabalho dos seus colegas? Digitalizar bibliotecas inteiras mas apenas permitindo que o pessoal da Google possa l\u00ea-las? Fornecer artigos cient\u00edficos para aqueles em universidades de elite do Primeiro Mundo, mas n\u00e3o para as crian\u00e7as no Sul Global? Isso \u00e9 escandaloso e inaceit\u00e1vel.<\/p>\n

“Eu concordo”, muitos dizem, “mas o que podemos fazer? As empresas que det\u00eam direitos autorais fazem uma enorme quantidade de dinheiro com a cobran\u00e7a pelo acesso, e \u00e9 perfeitamente legal – n\u00e3o h\u00e1 nada que possamos fazer para det\u00ea-los. Mas h\u00e1 algo que podemos, algo que j\u00e1 est\u00e1 sendo feito: podemos contra-atacar.<\/p>\n

Aqueles com acesso a esses recursos – estudantes, bibliotec\u00e1rios, cientistas – a voc\u00eas foi dado um privil\u00e9gio. Voc\u00eas come\u00e7am a se alimentar nesse banquete de conhecimento, enquanto o resto do mundo est\u00e1 bloqueado. Mas voc\u00eas n\u00e3o precisam – na verdade, moralmente, n\u00e3o podem – manter este privil\u00e9gio para voc\u00eas mesmos. Voc\u00eas t\u00eam um dever de compartilhar isso com o mundo.\u00a0 E voc\u00eas t\u00eam que negociar senhas com colegas, preencher pedidos de download para amigos.<\/p>\n

Enquanto isso, aqueles que foram bloqueados n\u00e3o est\u00e3o em p\u00e9 de bra\u00e7os cruzados. Voc\u00eas v\u00eam se esgueirando atrav\u00e9s de buracos e escalado cercas, libertando as informa\u00e7\u00f5es trancadas pelos editores e as compartilhando com seus amigos.<\/p>\n

Mas toda essa a\u00e7\u00e3o se passa no escuro, num escondido subsolo. \u00c9 chamada de roubo ou pirataria, como se compartilhar uma riqueza de conhecimentos fosse o equivalente moral a saquear um navio e assassinar sua tripula\u00e7\u00e3o. Mas compartilhar n\u00e3o \u00e9 imoral – \u00e9 um imperativo moral. Apenas aqueles cegos pela gan\u00e2ncia iriam negar a deixar um amigo fazer uma c\u00f3pia.<\/p>\n

Grandes corpora\u00e7\u00f5es, \u00e9 claro, est\u00e3o cegas pela gan\u00e2ncia. As leis sob as quais elas operam exigem isso – seus acionistas iriam se revoltar por qualquer coisinha. E os pol\u00edticos que eles t\u00eam comprado por tr\u00e1s aprovam leis dando-lhes o poder exclusivo de decidir quem pode fazer c\u00f3pias.<\/p>\n

N\u00e3o h\u00e1 justi\u00e7a em seguir leis injustas. \u00c9 hora de vir para a luz e, na grande tradi\u00e7\u00e3o da desobedi\u00eancia civil, declarar nossa oposi\u00e7\u00e3o a este roubo privado da cultura p\u00fablica.<\/p>\n

Precisamos levar informa\u00e7\u00e3o, onde quer que ela esteja armazenada, fazer nossas c\u00f3pias e compartilh\u00e1-la com o mundo. Precisamos levar material que est\u00e1 protegido por direitos autorais e adicion\u00e1-lo ao arquivo. Precisamos comprar bancos de dados secretos e coloc\u00e1-los na Web. Precisamos baixar revistas cient\u00edficas e subi-las para redes de compartilhamento de arquivos. Precisamos lutar pela Guerilla Open Access.<\/p>\n

Se somarmos muitos de n\u00f3s, n\u00e3o vamos apenas enviar uma forte mensagem de oposi\u00e7\u00e3o \u00e0 privatiza\u00e7\u00e3o do conhecimento – vamos transformar essa privatiza\u00e7\u00e3o em algo do passado. Voc\u00ea vai se juntar a n\u00f3s?<\/div>\n

Aaron Swartz
\nJulho de 2008,
Eremo<\/a>, It\u00e1lia.<\/p>\n

P.s: Agradecimentos ao Andre Deak<\/a> pelos conselhos na parte final da tradu\u00e7\u00e3o – que, ali\u00e1s, n\u00e3o \u00e9 nem pretende ser definitiva, mas apenas uma contribui\u00e7\u00e3o para a divulga\u00e7\u00e3o do texto.
\n<\/em><\/p>\n<\/blockquote>\n

Cr\u00e9dito das Imagens: 1<\/a>, 2<\/a>.<\/address>\n

[Marcelo De Franceschi]<\/em><\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

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