{"id":4924,"date":"2011-06-20T13:57:45","date_gmt":"2011-06-20T13:57:45","guid":{"rendered":"https:\/\/baixacultura.org\/?p=4924"},"modified":"2011-06-20T13:57:45","modified_gmt":"2011-06-20T13:57:45","slug":"breve-historia-dos-movimentos-de-contestacao-do-copyright","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/baixacultura.org\/2011\/06\/20\/breve-historia-dos-movimentos-de-contestacao-do-copyright\/","title":{"rendered":"Breve hist\u00f3ria dos movimentos de contesta\u00e7\u00e3o do copyright"},"content":{"rendered":"
\"\"<\/a>

"Voc\u00ea pode e deve entender os computadores agora!", Ted Nelson<\/p><\/div>\n

Nossa Biblioteca ganha hoje mais uma contribui\u00e7\u00e3o: trata-se da monografia\u00a0Copy me\u00a0e\u00a0Remix me: o movimento de\u00a0contesta\u00e7\u00e3o do\u00a0copyright\u00a0no contexto da cibercultura, <\/strong>de Aracele Torres, historiadora pela UFPI e atualmente mestranda na mesma \u00e1rea na USP.<\/p>\n

Topamos com a “metida a historiadora da cibercultura e a ativista do Software Livre”, como Aracele se apresenta na rede, nos idos de 2009. Seu blog, o Cibermundi<\/a>, frequentemente era uma das nossas paradas a procura de ideias e informa\u00e7\u00f5es (ou pautas, na linguagem jornal\u00edstica) para escrever pro Baixa.<\/p>\n

Nessa \u00e9poca, Aracele<\/a> se debru\u00e7ava sobre a hist\u00f3ria do movimento do software livre e do Pirate Bay para escrever sua monografia de gradua\u00e7\u00e3o em hist\u00f3ria na calorenta Teresina, no Piau\u00ed.<\/p>\n

Nos intervalos das aulas, das pesquisas e da vida, a mo\u00e7a tocava seu blog com afinco; trazia entrevista<\/a> com a eurodeputada Amelia Anderstotter, quando a sueca esteve no Brasil por conta do I F\u00f3rum da Cultura Digital, linkava mat\u00e9ria<\/a> sobre a necessidade da desconex\u00e3o, traduzia (como n\u00f3s, em Notas sobre copyright e copyleft<\/a>) textos do coletivo italiano Wu Ming<\/a> – \u00a0al\u00e9m, \u00e9 claro, \u00a0de falar do SL<\/a> da qual era (ainda \u00e9) usu\u00e1ria e\u00a0defensora.<\/p>\n

Eis que neste junho de 2011 surgiu a oportunidade de pedirmos um texto \u00e0 ela sobre a sua pesquisa, e o que tu vai ler abaixo \u00e9 um texto da mo\u00e7a sobre sua monografia de gradua\u00e7\u00e3o em hist\u00f3ria, defendida em 2009.<\/p>\n

Como o t\u00edtulo desse post j\u00e1 entrega, a pesquisa versa sobre os movimentos de contesta\u00e7\u00e3o ao copyright<\/strong> e historiciza<\/em> as tecnologias que potencializaram isso hoje<\/strong> – o computador e a internet – a partir de dois fundamentais atores (protagonistas?) de um movimento que defende uma cultura livre e, por consequ\u00eancia, uma flexibiliza\u00e7\u00e3o nas retr\u00f3gradas leis de direitos autorais no planeta: o The Pirate Bay e o Movimento do Software Livre.<\/p>\n

Boa leitura (e n\u00e3o te esque\u00e7a que, ao fim do post e na biblioteca aqui do lado, tu poder\u00e1 ler a monografia da Aracele via Scribd).<\/p>\n

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1.
\nToda vez que lembramos de algo, querendo ou n\u00e3o, nesta visita ao passado sempre fazemos uma reavalia\u00e7\u00e3o e uma reelabora\u00e7\u00e3o das nossas lembran\u00e7as. S\u00e3o as artimanhas da mem\u00f3ria! De modo que se fosse escrever um texto sobre a minha monografia em 2009, ano de sua produ\u00e7\u00e3o, com certeza ele sairia muito diferente deste que escrevo agora.<\/p>\n

Assim, este texto se escreve a partir destas artimanhas. Porque ao tentar lembrar da minha monografia, das circunst\u00e2ncias em que foi feita e das ideias que a tornaram poss\u00edvel, ao tentar lembrar do fato passado, sobre o qual j\u00e1 se conhecem os erros e os acertos, a nossa tend\u00eancia \u00e9 procurar justificar os erros e exaltar os acertos.\u00a0Pois bem! Tendo confessado isso, sigo para o pr\u00f3ximo passo que \u00e9 come\u00e7ar este processo de reelabora\u00e7\u00e3o da mem\u00f3ria sobre a minha pesquisa feita em 2009.<\/p>\n

Lembro que as primeiras impress\u00f5es que tive quando li Pierre L\u00e9vy foram as de que suas falas a respeito das tecnologias digitais eram muito otimistas, no sentido de que exaltavam muito mais os aspectos positivos destas tecnologias na nossa vida social que os aspectos nocivos. A partir dessa percep\u00e7\u00e3o eu tamb\u00e9m pude pensar as possibilidades da minha pesquisa.<\/p>\n

A ideia era tentar escapar dessa vis\u00e3o otimista, n\u00e3o queria que no meu trabalho houvesse a ideia de que as tecnologias digitais v\u00e3o \u201csalvar o mundo\u201d! At\u00e9 porque o meu papel como historiadora n\u00e3o era esse. Era muito mais o de apresentar a hist\u00f3ria destas tecnologias, no caso o computador e a internet, e procurar identificar como elas contribu\u00edram para a fabrica\u00e7\u00e3o de um movimento social que contesta o copyright e defende uma cultura livre.<\/p>\n<\/blockquote>\n

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GNUUUUUUUUuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuu<\/dd>\n<\/dl>\n<\/div>\n
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Mas, talvez por causa do meu ativismo, da minha cren\u00e7a no potencial libertador dessas tecnologias, meu trabalho n\u00e3o escapou de um certo otimismo. Por outro lado, acredito tamb\u00e9m que apenas por causa desse ativismo \u00e9 que esse trabalho foi poss\u00edvel. O meu envolvimento com o movimento software livre, a partir de 2007, foi crucial para a escolha desse tema para pesquisa.<\/p>\n

Mas o fato de perceber um certo tom de otimismo nesse trabalho, n\u00e3o quer dizer que eu o condene ou o desqualifique. N\u00e3o o renego por ele n\u00e3o corresponder \u00e0 vis\u00e3o que tenho hoje sobre o tema. O coloco dentro do contexto no qual foi produzido. Ele diz muito sobre como eu era, sobre a minha forma de acontecer naquele momento.<\/p>\n

Hoje, quase dois anos depois e muitas leituras depois, a coisa parece bem diferente. E vejo isso se refletir nas pesquisas atuais. Agora, na minha pesquisa de mestrado, procuro deixar muito mais claro que essa leitura das tecnologias digitais como libertadoras \u00e9 apenas mais uma leitura poss\u00edvel, esta n\u00e3o \u00e9 uma concep\u00e7\u00e3o un\u00e2nime e, embora eu partilhe dela, n\u00e3o devo ignorar as outras possibilidades de leitura<\/strong>.<\/p>\n

Portanto, a proposta desse novo trabalho \u00e9 discutir, tendo como exemplo o Projeto GNU, como se articula na contemporaneidade o debate sobre estas tecnologias digitais enquanto tecnologias que constroem liberdade e intelig\u00eancia coletiva. O foco est\u00e1 nas quest\u00f5es que envolvem a produ\u00e7\u00e3o e distribui\u00e7\u00e3o do conhecimento. Mas isso \u00e9 assunto pra outro post futuro, quando o trabalho j\u00e1 estiver pronto. \ud83d\ude09 Agora, \u00e9 melhor deixar de filosofar e mostrar o que essa pesquisa teve\/tem!<\/p>\n<\/blockquote>\n

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Software Livre para uma sociedade livre<\/dd>\n<\/dl>\n<\/div>\n
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2.
\nBem, a ideia do trabalho era historicizar o movimento social contempor\u00e2neo de contesta\u00e7\u00e3o do copyright, no contexto da cibercultura, identificando seus personagens, seus discursos e pr\u00e1ticas<\/strong>. Para isso escolhi como refer\u00eancias o
movimento software livre<\/a> e o The Pirate Bay<\/a>.<\/p>\n

De in\u00edcio me senti na obriga\u00e7\u00e3o de fazer uma breve apresenta\u00e7\u00e3o da hist\u00f3ria do nascimento dos computadores eletr\u00f4nicos e da internet\/web. Isso por se tratar de um assunto novo no campo historiogr\u00e1fico e, tamb\u00e9m, por eu acreditar que o pr\u00f3prio desenvolvimento destas tecnologias estava diretamente ligado \u00e0 esse movimento de defesa do conhecimento livre. Dessa forma, o primeiro cap\u00edtulo do trabalho foi dedicado ao nascimento do novo espa\u00e7o comunicacional (ciberespa\u00e7o) e da nova forma de cultura (cibercultura), que emergiram com o uso das tecnologias digitais<\/strong>.<\/p>\n

Fiz quest\u00e3o de apontar o car\u00e1ter de movimento social que teve o desenvolvimento dos primeiros computadores pessoais. E mostrar como este desenvolvimento tinha muito a ver com uma concep\u00e7\u00e3o libert\u00e1ria de que a inform\u00e1tica devia deixar de ser monop\u00f3lio dos grandes informatas e passar a servir tamb\u00e9m ao povo. Dessa forma, procurei mostrar esse processo de transi\u00e7\u00e3o: do momento da cria\u00e7\u00e3o dos primeiros computadores eletr\u00f4nicos, quando era apenas privil\u00e9gio de poucos; at\u00e9 o momento em que come\u00e7a a se desenvolver os primeiros computadores pessoais, a partir de um movimento que tinha como lema a frase Computers for the people<\/em>.<\/p>\n

Feito, ent\u00e3o, a contextualiza\u00e7\u00e3o necess\u00e1ria no primeiro cap\u00edtulo, parti, para a apresenta\u00e7\u00e3o do movimento em si, de seus discursos e a\u00e7\u00f5es diretas. Come\u00e7o falando sobre o movimento software livre, enquanto um movimento que entende a inform\u00e1tica como quest\u00e3o de liberdade. A ideia era apresentar o car\u00e1ter essencialmente social por tr\u00e1s das quest\u00f5es t\u00e9cnicas que permeiam a ideia do software livre<\/strong>.<\/p>\n<\/blockquote>\n

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A batalha come\u00e7ou, e n\u00e3o tem data pra acabar<\/dd>\n<\/dl>\n<\/div>\n
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Tentei mostrar que, mais do que uma necessidade t\u00e9cnica, a ideia do software livre (tendo como refer\u00eancia o nascimento do Projeto GNU) nasce de uma necessidade social, da necessidade de resist\u00eancia ao sistema de propriedade intelectual vigente<\/strong>. Assim, fa\u00e7o uma abordagem que tem como ponto de partida a cria\u00e7\u00e3o do Projeto GNU e os textos de Richard Stallman sobre suas concep\u00e7\u00f5es, que partem da premissa de que a t\u00e9cnica deve ser usada de forma socialmente \u00fatil e de que a liberdade de compartilhar o conhecimento \u00e9 o exerc\u00edcio de um direito natural nosso<\/strong>.<\/p>\n

Por fim, abordei o caso do The Pirate Bay, fazendo uma leitura do site como uma forma de desobedi\u00eancia civil. Procurei fazer uma an\u00e1lise que o compreendesse desde sua cria\u00e7\u00e3o at\u00e9 o seu julgamento e condena\u00e7\u00e3o<\/a> por \u201cpirataria\u201d, mostrando o pesadelo que este site, e o grupo que estava por tr\u00e1s dele, representa(va) para a ind\u00fastria do entretenimento<\/a>.<\/p>\n

O caso do TPB representa(va) um movimento em rede, que se articula em torno da ideia de que os bens culturais devem ser compartilhados e que a internet \u00e9 uma ferramenta potencializadora disso<\/strong>. O usei como exemplo por ter se tornado uma refer\u00eancia para o movimento e tamb\u00e9m por enxergar no processo de persegui\u00e7\u00e3o\/julgamento\/condena\u00e7\u00e3o, que foi um verdadeiro espet\u00e1culo midi\u00e1tico, uma demonstra\u00e7\u00e3o da crise pela qual passa o modelo de produ\u00e7\u00e3o e distribui\u00e7\u00e3o dos bens culturais hoje.<\/p>\n

Crise essa que tenta ser contornada atrav\u00e9s da proibi\u00e7\u00e3o e criminaliza\u00e7\u00e3o dos compartilhadores. O caso do TPB, portanto, mostra a tens\u00e3o entre os interesses do capital e do social, entre uma ind\u00fastria que se recusa a buscar alternativas e um movimento social que se fortalece mais \u00e0 medida que a t\u00e9cnica avan\u00e7a<\/strong>.<\/p>\n

O trabalho foi assim dividido nestas duas partes, dois cap\u00edtulos que abarcam apenas uma fatia do bolo. Que longe de pretender limitar a leitura e compreens\u00e3o do movimento, de pretender trat\u00e1-lo de forma homog\u00eanea, quis apenas mostrar algumas das experi\u00eancias sociais que comp\u00f5em o seu universo. Espero que gostem! \ud83d\ude09<\/p>\n

P.S: Esta vers\u00e3o da monografia \u00e9 a primeira vers\u00e3o, n\u00e3o corrigida depois que passou pela avalia\u00e7\u00e3o da banca. Hehe.<\/em><\/p>\n<\/blockquote>\n

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Cr\u00e9ditos imagens: 1<\/a>, 2<\/a>, 3<\/a>, 4<\/a>.<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

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