{"id":4742,"date":"2011-05-02T16:25:00","date_gmt":"2011-05-02T16:25:00","guid":{"rendered":"https:\/\/baixacultura.org\/?p=4742"},"modified":"2011-05-02T16:25:00","modified_gmt":"2011-05-02T16:25:00","slug":"juremir-machado-e-os-finados-direitos-autorais-na-internet","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/baixacultura.org\/2011\/05\/02\/juremir-machado-e-os-finados-direitos-autorais-na-internet\/","title":{"rendered":"Juremir Machado e os (finados?) direitos autorais na internet"},"content":{"rendered":"
O jornalista, doutor em Sociologia, escritor, tradutor e professor da PUC-RS, Juremir Machado da Silva<\/a> andou expressando suas d\u00favidas e descr\u00e9ditos quanto aos direitos autorais dos escritores na internet. As opini\u00f5es saltaram do twitter para dois posts em seu blog no jornal Correio do Povo, no qual \u00e9 colunista. Nos textos “a lei de Gerson da internet” 1<\/a> e 2<\/a>, ele basicamente refaz a pergunta que assola o mundo h\u00e1 muito tempo: e o dinheiro?<\/a> onde est\u00e1 o dinheiro dos direitos autorais na rede? Ele existe, ou a internet est\u00e1 acabando com o direito autoral?<\/p>\n A seguir, come\u00e7amos um di\u00e1logo com os textos de Juremir, a fim de entendermos suas ideias e, tamb\u00e9m, de colocar as nossas, al\u00e9m de buscar outras informa\u00e7\u00f5es que complementam a discuss\u00e3o. Claro que n\u00e3o temos um pingo da sabedoria e da ironia de quem lida com mercado editorial h\u00e1 pelo menos 20 anos, mas bora l\u00e1.<\/p>\n Deve existir direito autoral?<\/strong><\/p>\n Entrei numa briga ao lado de um amigo, o editor da Sulina. Luis Gomes ficou chocado quando viu livros inteiros do seu cat\u00e1logo dispon\u00edveis num blog chamado, se n\u00e3o me engano, \u201clivrosletrasUSP\u201d. Reclamou.<\/p>\n O nome da USP foi tirado.<\/p>\n A editora Jorge Zahar, pelo jeito, tamb\u00e9m se queixou da disponibiliza\u00e7\u00e3o de livros de Bauman, autor em voga.<\/p>\n A press\u00e3o aumentou. O site foi tirado \u201cdo ar\u201d.<\/p>\n Virou pol\u00eamica no twitter.<\/p>\n Como toda pol\u00eamica, segundo o ritual, com boas tiradas, muitas provoca\u00e7\u00f5es, alguma grosseria e at\u00e9 humor.<\/p>\n A quest\u00e3o \u00e9 esta: ainda \u00e9 poss\u00edvel e leg\u00edtimo ganhar dinheiro com livros?<\/p>\n Ou: como resolver o conflito complexo entre o ideal de acesso gratuito e universal ao conhecimento e o respeito ao trabalho alheio e aos investimentos em torno desse trabalho? O que deve prevalecer?<\/p>\n Parece que os donos do blog s\u00e3o alunos da USP preocupados com os pre\u00e7os altos dos livros e com a livre difus\u00e3o do conhecimento. Faz sentido. Muito sentido.<\/p>\n Eu acredito que o modelo atual de produ\u00e7\u00e3o e comercializa\u00e7\u00e3o de livros est\u00e1 comprometido. Deve caminhar para a rela\u00e7\u00e3o direta entre editoras e leitores. Ou entre autores e leitores (consumidores?)<\/p><\/blockquote>\n As d\u00favidas sobre a “pirataria digital” s\u00e3o frequentes e merecem ser discutidas, principalmente algu\u00e9m com uma grande influ\u00eancia como Juremir. Como j\u00e1 dito, ele evidencia: “A quest\u00e3o \u00e9 esta: ainda \u00e9 poss\u00edvel e leg\u00edtimo ganhar dinheiro com livros?<\/strong>“. Leg\u00edtimo e poss\u00edvel, sim. Mas \u00e9 muito dif\u00edcil viver dos direitos dos livros, como j\u00e1 comentamos<\/a>.\u00a0Sobre ganhar alguns trocados, que o diga o mestre Paulo Coelho, que se autopirateia<\/a> faz tempo e nem por isso deixou de vender. Vamos abrir um parenteses e atentar para alguns detalhes da supralinkada not\u00edcia:<\/p>\n [Sem o livro impresso e munido da tradu\u00e7\u00e3o para o russo, Coelho decidiu disponibiliz\u00e1-la em seu site. “Recebia muitos e-mails que faziam refer\u00eancia \u00e0 edi\u00e7\u00e3o pirata do site.” Entusiasmado, o escritor resolveu repetir a estrat\u00e9gia com outros livros em outras l\u00ednguas colacionando links das obras dos sites troca de arquivos. “Criei o meu “Pirate Coelho!<\/a>“]<\/p>\n<\/blockquote>\n Claro, Paulo Coelho \u00e9 um escritor best-seller. \u00a0Por conta disso, \u00e9 muito mais f\u00e1cil fazer qualquer a\u00e7\u00e3o de marketing – mesmo que sem saber. Mas ele sacou (talvez \u00e0 for\u00e7a ou sem querer, enfim) que existe alternativas de neg\u00f3cio na rede.<\/p>\n Continuando com Juremir, ele admite que o atual modelo de comercializa\u00e7\u00e3o de livros est\u00e1 comprometido e que “Deve caminhar para a rela\u00e7\u00e3o direta entre editoras e leitores. Ou entre autores e leitores (consumidores?)<\/strong>“<\/em>. \u00c9 o j\u00e1 velho dogma que a internet trouxe sobre o fim da Ind\u00fastria da Intermedia\u00e7\u00e3o – que n\u00e3o temos como saber por enquanto se \u00e9 s\u00f3 previs\u00e3o furada ou de fato verdade.<\/p>\n At\u00e9 se compreende que as potencialidades interativas do digital ainda n\u00e3o tenham sido experimentadas pela maioria das grandes editoras e escritores. O apego aos modelos antigos de com\u00e9rcio resulta em pregui\u00e7a de inovar. E, talvez, os ganhos editorais ainda n\u00e3o sejam t\u00e3o altos a ponto de fazer perder o medo na busca pelo diferente.<\/p>\n Paulo Coelho sacou, sem querer, que existem formas alternativas de neg\u00f3cio para na rede<\/p><\/div>\n *<\/p>\n Quanto a produ\u00e7\u00e3o acad\u00eamica financiada com recursos p\u00fablicos, j\u00e1 defendemos<\/a> que ela deve ser disponibilizada sempre gratuitamente.<\/p>\n A produ\u00e7\u00e3o acad\u00eamica em curso n\u00e3o precisa mais de editoras e distribuidores. Pode simplesmente ser colocada na rede. Por exemplo, nos sites de cada institui\u00e7\u00e3o.<\/p>\n Por que isso n\u00e3o ocorre? Por falta de h\u00e1bito ou porque alguns autores buscam um prest\u00edgio ainda ligado a editoras convencionais ou a livros em papel?<\/p>\n<\/blockquote>\n Disso ele levanta a quest\u00e3o de como determinar a qualidade se for tudo liberado<\/strong>. Obviamente que o conte\u00fado tera que ser lido\/consumido para a avalia\u00e7\u00e3o e cita dois tipos de quem poderia avaliar: <\/em>“Alguns apostam em comiss\u00f5es de especialistas. Outros, no julgamento difuso da popula\u00e7\u00e3o, o chamado tribunal das reputa\u00e7\u00f5es intelectuais. Ser\u00e1 que uma comiss\u00e3o consegue julgar sem preconceitos ideol\u00f3gicos ou de outra natureza?”.\u00a0<\/em>E por que n\u00e3o os dois? E como assim uma “comiss\u00e3o” conseguiria julgar SEM ideologia? Existe algo “puro”, n\u00e3o atravessado por uma ideologia?<\/p>\n Estes tempos ultra-modernos tem nos mostrado que uma coisa n\u00e3o mata outra: a conviv\u00eancia de diversas op\u00e7\u00f5es\/m\u00eddias\/modelos de neg\u00f3cio\/modos de viver \u00e9 poss\u00edvel e desej\u00e1vel<\/strong>. Mesmo que o caos predomine no in\u00edcio, haver\u00e1 uma nova uma forma de se trabalhar com ele de modo produtivo.<\/p>\n Continuando com Juremir:<\/p>\n S\u00e3o quest\u00f5es em aberto. Certo \u00e9 que o conhecimento acad\u00eamico, especialmente aquele produzido com verba p\u00fablica, pode e deve ser disponibilizado na rede.<\/p>\n Isso significa o fim do direito autoral?<\/p>\n<\/blockquote>\n Lessig, como secret\u00e1rio de justi\u00e7a dos EUA, abolindo os direitos autorais. Fic\u00e7\u00e3o poss\u00edvel?<\/p><\/div>\n Lembremos do post passado<\/a>, onde no filme “Prometeus” surge a previs\u00e3o de que Lawrence Lessig<\/a> abolir\u00e1 o direito autoral quando chegar a secret\u00e1rio de Justi\u00e7a dos EUA, nos idos de 2020. E tamb\u00e9m do texto de Rick Falkvinge<\/a>, do Partido Pirata da Su\u00e9cia: “se a legisla\u00e7\u00e3o n\u00e3o for modificara\u201d, a pr\u00f3xima gera\u00e7\u00e3o de pol\u00edticos vai abolir de uma vez s\u00f3 o monop\u00f3lio do Copyright.\u00a0<\/strong>O quanto isso \u00e9 fic\u00e7\u00e3o ou previs\u00e3o certeira s\u00f3 o tempo dir\u00e1. Mas \u00e9 f\u00e1cil de imaginar que, quando a gera\u00e7\u00e3o que nasceu com a internet estiver no “poder”, daqui a uns bons 20 a 30 anos, o copyright vai se modificar radicalmente.<\/p>\n O que fazer com quem publica livros, mesmo de ci\u00eancias humanas, sem verba p\u00fablica e espera ter retorno financeiro e at\u00e9 viver das suas publica\u00e7\u00f5es?<\/p>\n<\/blockquote>\n Se at\u00e9 os escritores de fic\u00e7\u00e3o raramente “vivem de literatura” que dir\u00e1 os acad\u00eamicos que s\u00f3 s\u00e3o lidos por um selet\u00edssimo p\u00fablico no Brasil.<\/p>\n O que fazer com uma editora que comprou os direitos de publica\u00e7\u00e3o de um livro estrangeiro, pagou a tradu\u00e7\u00e3o, a editora\u00e7\u00e3o e a impress\u00e3o?<\/p>\n \u00c9 correto e justo pegar esse livro e disponibilizar na rede para acesso gratuito? Isso n\u00e3o pode ser visto como apropria\u00e7\u00e3o de trabalho e de investimento alheios?<\/p><\/blockquote>\n Por exemplo, um livro de Bauman.<\/p>\n Alguns alegam que disponibilizar na rede n\u00e3o afeta as vendas. Ser\u00e1? Qual a comprova\u00e7\u00e3o disso? Por que n\u00e3o?<\/p><\/blockquote>\n Vejamos um exemplo n\u00e3o muito novo: a s\u00e9rie Harry Potter. Em 2007, quando foi lan\u00e7ado o \u00faltimo livro da s\u00e9rie inglesa, leitores\/consumidores\/f\u00e3s traduziram as 784 p\u00e1ginas em 10 dias<\/a>,\u00a0na \u00e2nsia de saber o fim da hist\u00f3ria. Mesmo assim, a editora Rocco n\u00e3o deixou de lan\u00e7ar a edi\u00e7\u00e3o pela tradutora oficial, Lia Wyler.\u00a0E duvidamos que tenha dado preju\u00edzo.<\/p>\n Com um autor como Bauman, mundialmente conhecido e citado, n\u00e3o deve ser muito diferente. At\u00e9 porque quem n\u00e3o puder comprar, vai xerocar o livro, como muito pesquisador\/professor precisa fazer para trabalhar.<\/p>\n Outros sugerem que cada um deve ser livre para comprar os livros que achar interessantes e baixar os desinteressantes, de interesse passageiro ou de leitura escolar. Os \u201cdesinteressantes\u201d n\u00e3o t\u00eam custo?<\/p>\n Autores med\u00edocres ou \u201cdesinteressantes\u201d n\u00e3o devem ser protegidos pela lei do direito autoral?<\/p>\n A lei francesa permite at\u00e9 a pris\u00e3o de quem baixa arquivos na internet ilegalmente.<\/p>\n O Brasil deve ser mais flex\u00edvel?<\/p><\/blockquote>\n N\u00e3o h\u00e1 nenhuma raz\u00e3o para o Brasil adotar a Lei Hadopi. Por que o Brasil deve continuar a se sujeitar e ser maria-vai-com-as-outras? \u00a0O Hadopi<\/a> \u00e9 uma lei radical que determina o corte da internet caso um usu\u00e1rio baixe conte\u00fado protegido pelo desatualizado copyright. H\u00e1 at\u00e9 uma pesquisa, de franceses inclusive, dizendo que o esse tipo de lei pode ter um efeito reverso e aumentar a “pirataria”<\/a>.<\/p>\n Eu sou a favor de mudan\u00e7as na lei do direito autoral vigente no Brasil. Acho que o tempo para cair em dom\u00ednio p\u00fablico deve baixar bastante. A parte do autor no pre\u00e7o de um livro deve ser sempre maior que a do editor. Atravessadores devem ser eliminados. Sonho com livros a R$ 1 real na internet. O trabalho intelectual tem pre\u00e7o. Livros esgotados devem ser copiados. Governos devem investir muito mais em bibliotecas. Isso deve conduzir ao fim do direito autoral? Ganhar com livros \u00e9 il\u00edcito?<\/p>\n Por que Chico Buarque n\u00e3o seria propriet\u00e1rio das suas can\u00e7\u00f5es? Por que ele n\u00e3o poderia viver da venda de grava\u00e7\u00f5es das suas m\u00fasicas? Por que jogadores t\u00eam direito de imagem e intelectuais n\u00e3o seriam propriet\u00e1rios das suas ideias, boas ou ruins, brilhantes ou med\u00edocres?<\/p>\n<\/blockquote>\n Depois dessas especula\u00e7\u00f5es, Juremir sugere uma opera\u00e7\u00e3o “liberta\u00e7\u00e3o dos livros”, em que estudantes comprariam direitos de livros estrangeiros ou obteriam a libera\u00e7\u00e3o de autores e editoras para liberar na rede.<\/p>\n Eu sou a favor de sites com livros integrais. Sugiro que jovens brilhantes ou n\u00e3o, com ajuda dos seus professores, mergulhem numa opera\u00e7\u00e3o \u201cliberta\u00e7\u00e3o de livros\u201d: comprem direitos de livros estrangeiros, ou obtenham a libera\u00e7\u00e3o com seus autores e editoras, fa\u00e7am as tradu\u00e7\u00f5es e disponibilizem na rede.<\/strong> Poderiam come\u00e7ar por Habermas, cuja obra principal n\u00e3o tem tradu\u00e7\u00e3o no Brasil.<\/p>\n<\/blockquote>\n Que tal usar o crowdfunding para isso? Financiar a compra dos direitos autorais de livros estrangeiros, a tradu\u00e7\u00e3o e a disponibiliza\u00e7\u00e3o na rede? Al\u00f4, Catarse<\/a>.<\/p>\n Agora, simplesmente pegar o que outros fizerem e disponibilizar parece uma apropria\u00e7\u00e3o ind\u00e9bita. \u00c9 f\u00e1cil ver o editor como o capitalismo selvagem sedento de lucros. Boa parte das editoras \u00e9 pequena. Elas mal sobrevivem. Criam empregos. Gastam. Querem retorno.<\/p>\n Por que nossos bravos guris da USP n\u00e3o botam na rede inteiro o excelente cat\u00e1logo da Cia. das Letras? Por que n\u00e3o a atacam por n\u00e3o favorecer essa opera\u00e7\u00e3o? Ser\u00e1 que n\u00e3o querem se queimar com uma editora charmosa e com prest\u00edgio? Querem ter a porta aberta para publicar l\u00e1?<\/p>\n<\/blockquote>\n Vai ver ainda n\u00e3o tiveram a oportunidade de escanear os livros da Cia. das Letras<\/a>.<\/p>\n Essa quest\u00e3o tem v\u00e1rias pontas. Uma delas \u00e9 o acesso ao conhecimento. Outra, a car\u00eancia dos estudantes. S\u00e3o quest\u00f5es leg\u00edtimas. Quem deve pagar a conta? As editoras? Os autores? \u00c9 poss\u00edvel um modelo que contemple todos os envolvidos? A internet n\u00e3o \u00e9 uma biblioteca qualquer. Parece mais uma livraria sem pagamento. O efeito \u00e9 diferente. Por que n\u00e3o est\u00e3o na rede, que eu saiba, em sites ou blogs comentados e divulgados, livros como \u201c1808\u201d e \u201c1822\u201d? Algumas editoras e autores s\u00e3o poupados?<\/p>\n N\u00e3o haveria por tr\u00e1s disso uma ideologia anticapitalista radicalizada e contradit\u00f3ria pela qual o livro, em alguns casos, n\u00e3o pode ser mercadoria?<\/p>\n<\/blockquote>\n Uma busca r\u00e1pida no google com as palavras “1808 download<\/a>” achou\u00a011.300.000 resultados. Algum deles deve estar funcionando, n\u00e3o?<\/p>\n Por que eu, mesmo med\u00edocre, n\u00e3o poderia ser dono das minhas ideias e dos meus livros? Por que algu\u00e9m poderia dispor deles para reprodu\u00e7\u00e3o ilimitada sem me consultar?<\/p>\n Dado que a tecnologia permite reprodu\u00e7\u00e3o ilimitada, devemos abrir m\u00e3o da possibilidade de viver da venda de livros? De qualquer livro? Ou s\u00f3 de ci\u00eancias humanas? Ou s\u00f3 de ci\u00eancias humanas com financiamento p\u00fablico?<\/p>\n<\/blockquote>\n Cristov\u00e3o Tezza acha que o livro em papel e digital v\u00e3o conviver juntos<\/p><\/div>\n O livro ainda pode (e deve) ser vendido, tanto digital quanto fisicamente. Mas saiba que, com os pre\u00e7os abusivos atuais no Brasil, por exemplo, ele\u00a0tamb\u00e9m<\/em>\u00a0ser\u00e1 encontrado para baixar na internet. Mas h\u00e1 uma quest\u00e3o extra que, por enquanto, tem salvado os escritores, como disse o escritor\u00a0 [Baixar um livro \u00e9 infinitamente mais f\u00e1cil que baixar um filme e mesmo uma m\u00fasica, mas a leitura digital de um texto longo no monitor \u00e9 desconfort\u00e1vel \u2013 \u00e9 isso, at\u00e9 aqui, que vem salvando os escritores. Com a chegada dos livros digitais, isso pode mudar. At\u00e9 porque, parece que n\u00e3o h\u00e1 formato de arquivo, por mais exclusivo que seja, que n\u00e3o acabe convertido em outro de uso corrente.]<\/p>\n<\/blockquote>\n O despreparo das editoras \u00e9 vis\u00edvel tamb\u00e9m nas livrarias online. Dois casos ilustram isso: o da vers\u00e3o do livro digital ser mais cara que a do livro impresso, e o de e-books com frete. Em 2009, a editora Plus alertou<\/a> que o pre\u00e7o da vers\u00e3o digital do livro O Seminarista, de Ruben Fonseca, estava custando mais caro do que o da vers\u00e3o impressa em lojas virtuais indicadas pela Editora Ediouro<\/strong>. Pouco depois a Editora baixou o pre\u00e7o da vers\u00e3o digital (mas continuava caro). Outro empecilho para a venda de livros digitais \u00e9 o prazo da entrega, ou seja, o frete dos bits. Em 2010, o Gizmodo mostrou a dif\u00edcil compra<\/a> do e-book “1822”, e que iria demorar quatro dias para chegar ao consumidor. Ser\u00e1 que os clientes est\u00e3o sem raz\u00e3o?<\/p>\n Todos os artistas que brigam por direitos autorais defendem direitos mercantis ileg\u00edtimos e repugnantes?<\/p>\n A lei n\u00e3o deve ser aplicada a estudantes e professores que defendem a universaliza\u00e7\u00e3o do saber?<\/p><\/blockquote>\n N\u00e3o cansemos de repetir: a lei est\u00e1 desatualizada.<\/p>\n S\u00e3o imbecis e fascistas todos aqueles que pretendem ganhar dinheiro com seus livros e que defendem o respeito a contratos firmados com editoras ou com gravadoras?<\/p>\n \u00c9 moralmente superior pregar a apropria\u00e7\u00e3o do trabalho alheio, com todos os seus custos e expectativas, em nome de uma suposta universaliza\u00e7\u00e3o do conhecimento?<\/p>\n<\/blockquote>\n \u00c9 l\u00edcito que algu\u00e9m assine um contrato com uma editora, em busca de prest\u00edgio ou de dados para o seu curr\u00edculo, sendo beneficiado por um investimento, e depois disponibilize o livro na rede pensando, ou at\u00e9 dizendo, \u201cazar do editor, eu j\u00e1 consegui o que precisava\u201d?<\/p>\n<\/blockquote>\n E-book de Chico Buarque mais caro do que a vers\u00e3o impressa. Preju\u00edzo de quem? [clique para ampliar] Se a rela\u00e7\u00e3o custo\/benef\u00edcio da compra do livro impresso valer a pena, as pessoas v\u00e3o comprar o livro. Entram a\u00ed diversas quest\u00f5es, como a qualidade da edi\u00e7\u00e3o e o quanto (n\u00e3o) \u00e9 c\u00f4modo ler este livro no computador.<\/p>\n Lendo algumas das mensagens dos garotos da USP, que me foram repassadas, simpatizei com eles: ir\u00f4nicos, esp\u00edrito libert\u00e1rio, debochados, sarc\u00e1sticos, disc\u00edpulos, talvez de Guy Debord… Posso me permitir pensar que est\u00e3o analisando parcialmente o problema?<\/p><\/blockquote>\n Sinto-me tranquilo para falar: fa\u00e7o campanha permanente pela queda dos pre\u00e7os dos livros. Acho absurdo que um livro saia da gr\u00e1fica por R$ 2 e seja vendido por R$ 40. Aposto na tecnologia para que isso seja mudado.<\/p>\n A melhor mudan\u00e7a \u00e9 liquidar o direito autoral?<\/p>\n<\/blockquote>\n Liquidar? Talvez. Apropri\u00e1-lo para o meio digital seria a op\u00e7\u00e3o mais sensata.<\/p>\n Andei escrevendo Cossac em lugar de Cosac. Imaginei uma editora brasileira recente de autores sovi\u00e9ticos tardios. Uma editora fashion sustentada por banqueiros idealistas e comprometidos com a arte. Tudo bobagem da minha cabe\u00e7a. Foi s\u00f3 um erro. Essa editora s\u00f3 me chama a aten\u00e7\u00e3o pelas capas duras e os livros feios e caros.<\/p>\n Sou preconceituoso, implicante, grosseiro, sem import\u00e2ncia e maldito, o Bolsonaro do direito autoral.<\/p>\n Defendi a pris\u00e3o dos copiadores de livros. Mas sem cela especial, pois, se bem entendi, eles ainda n\u00e3o se formaram. J\u00e1 os professores…<\/p>\n Pirata que \u00e9 pirata precisa rir de si mesmo.<\/p>\n Salvo se for algo mais simples, um pragmatismo libert\u00e1rio:se n\u00e3o gosto ou n\u00e3o acho importante, n\u00e3o pago, mas uso. Ou, se d\u00e1 para copiar, por que pagar?<\/p>\n Afinal, o preju\u00edzo \u00e9 de outros mesmo.<\/p>\n<\/blockquote>\n O estopim para os textos de Juremir foi o caso do blog, j\u00e1 deletado (na imagem acima), LetrasUSp Download<\/a>, que depois mudou para Livros de Humanas<\/a>, e foi apagado, e agora est\u00e1 no twitter<\/a> [Leiauma entrevista com o respons\u00e1vel<\/a>]. Um novo modelo de neg\u00f3cio da produ\u00e7\u00e3o intelectual escrita \u00e9 preocupa\u00e7\u00e3o n\u00e3o s\u00f3 aqui, mas no exterior h\u00e1 bastante tempo, como mostra essa mat\u00e9ria do The New York Times<\/a> traduzida pelo Terra h\u00e1 dois anos. O cen\u00e1rio era quase o mesmo. Algumas editoras de l\u00e1 empregam funcion\u00e1rios para rastrearem links que contenham obras protegidas, mas n\u00e3o adianta muito:<\/p>\n [“\u00c9 uma ca\u00e7a intermin\u00e1vel”, disse Russell Davis, autor e presidente da Escritores de Fic\u00e7\u00e3o Cient\u00edfica e Fantasia da Am\u00e9rica, uma associa\u00e7\u00e3o comercial que ajuda escritores a perseguir piratas digitais. “Voc\u00ea acaba com um e outros cinco aparecem”.]<\/p>\n<\/blockquote>\n O texto termina com uma frase do escritor Cory Doctorow<\/a>, que ser\u00e1 tema de um pr\u00f3ximo post aqui, defendendo as c\u00f3pias digitais, pois elas atraem novos leitores: “”Realmente sinto que meu problema n\u00e3o \u00e9 a pirataria”, Doctorow disse. “\u00c9 a obscuridade”.<\/em><\/p>\n <\/em>Terminemos o di\u00e1logo com Juremir com tr\u00eas exemplos\/possibilidades. O primeiro vem de\u00a0Robert Darnton<\/a>, diretor da biblioteca de Harvard, que escreveu um texto chamado “Cinco mitos sobre a idade da informa\u00e7\u00e3o<\/em>“, que foi traduzido pelo Observat\u00f3rio da Imprensa<\/a>. L\u00e1 no meio do texto, Darnton tenta acabar com a vis\u00e3o manique\u00edsta de “e-books contra livros”:<\/p>\n [Uma vis\u00e3o mais sutil recusaria a no\u00e7\u00e3o comum de que livros velhos e e-books ocupam os extremos opostos e antag\u00f4nicos num espectro tecnol\u00f3gico. Devia-se pensar em livros velhos e e-books como aliados, e n\u00e3o como inimigos.]<\/p>\n<\/blockquote>\n O segundo trata de uma bem azeitada fala de Bob Stein<\/a>, presidente do Institute for the Future of the Book, que veio ao Brasil ano passado, no F\u00f3rum da Cultura Digital 2010<\/a>.<\/p>\n \u201cO futuro do livro segue em duas dire\u00e7\u00f5es.\u00a0O livro impresso se transformar\u00e1 em um objeto de arte.<\/strong>\u00a0Em outras palavras, pessoas abastadas poder\u00e3o comprar lindas vers\u00f5es de livros impressos. Eles ter\u00e3o mais ilustra\u00e7\u00f5es e servir\u00e3o como um souvenir.\u00a0J\u00e1 a maioria dos livros ter\u00e1 como padr\u00e3o o formato digital<\/strong>. Voc\u00ea poder\u00e1 imprimi-lo, se quiser, e a leitura se tornar\u00e1 muito mais social e din\u00e2mica.\u201d<\/em><\/p>\n<\/blockquote>\n Or\u00e1culo de Palomas, o vidente juremiriano<\/p><\/div>\n E o terceiro \u00e9 do pr\u00f3prio Juremir. Apocal\u00edptico, o \u00e1cido profe\/escritor\/pensador\/cronista usa seu “Or\u00e1culo de Palomas” – personagem inspirado em sua cidade preferida, Palomas, um vilarejo fict\u00edcio baseado em uma vila perto de Santana do Livramento, terra de Juremir e cidade fronteiri\u00e7a do RS com o Uruguai – para fazer algumas previs\u00f5es sobre o futuro de toda essa discuss\u00e3o,\u00a0via twitter<\/a>.<\/p>\n _ A tecnologia vai acabar com o direito autoral, salvo se politicamente n\u00e3o se quiser. Isso vai acabar com as editoras.<\/p>\n _ O fim de editoras e livros em papel pode n\u00e3o ser trag\u00e9dia. A trag\u00e9dia, sem direito autoral, ser\u00e1 o fim do escritor.<\/p>\n _ M\u00fasicos fazem shows. Escritores, sem direito autoral, viveram de qu\u00ea? De palestras? E os que s\u00e3o ruins nisso? Fim.<\/p>\n _ Com o fim das editoras e dos direitos autorais, voltaremos ao dilentantismo e ao beletrismo. Os melhores desistir\u00e3o.<\/p>\n _ O fim do direito autoral levar\u00e1 ao fim de editoras e autores. Ainda bem que tudo isso ser\u00e1 suplantado pelo fim da escrita.<\/p>\n _ Com o fim da escrita, compreenderemos que Tiririca estava na vanguarda. O problema do analfabetismo estar\u00e1 enfim resolvido.<\/p>\n<\/blockquote>\n P.s:\u00a0Pedimos sinceras desculpas ao mestre por reproduzir suas falas. Como bom defensor da propriedade e da privatiza\u00e7\u00e3o de seu pr\u00f3prio intelecto, da venda de tudo que sai dele, e da fiscaliza\u00e7\u00e3o e da cadeia para quem vender sem sua autoriza\u00e7\u00e3o, como andou dizendo estes tempos em seu twitter, Juremir est\u00e1 convidado a aparecer\u00a0aqui neste espa\u00e7o e reinvindicar seus centavos pelo nosso roubo de ideias. Grato.\u00a0<\/em><\/p>\nCr\u00e9dito das imagens: 1<\/a>, 2<\/a>, 3 <\/a>, 4<\/a>.<\/address>\n\u00a0<\/address>\n [Marcelo De Franceschi. Leonardo Foletto]<\/em><\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":" O jornalista, doutor em Sociologia, escritor, tradutor e professor da PUC-RS, Juremir Machado da Silva andou expressando suas d\u00favidas e descr\u00e9ditos quanto aos direitos autorais dos escritores na internet. As opini\u00f5es saltaram do twitter para dois posts em seu blog no jornal Correio do Povo, no qual \u00e9 colunista. Nos textos “a lei de Gerson […]<\/p>\n","protected":false},"author":2,"featured_media":8045,"comment_status":"open","ping_status":"open","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":[],"categories":[88,122,91,126],"tags":[216,679,466,680,374,681,682,683,165,476,618,163,684,685,463,320,278,686,137,480,687,281,688,689,690,588,691,692,550,590,693,694,695],"post_folder":[],"jetpack_featured_media_url":"","_links":{"self":[{"href":"https:\/\/baixacultura.org\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/4742"}],"collection":[{"href":"https:\/\/baixacultura.org\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"https:\/\/baixacultura.org\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/baixacultura.org\/wp-json\/wp\/v2\/users\/2"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/baixacultura.org\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=4742"}],"version-history":[{"count":0,"href":"https:\/\/baixacultura.org\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/4742\/revisions"}],"wp:featuredmedia":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/baixacultura.org\/wp-json\/"}],"wp:attachment":[{"href":"https:\/\/baixacultura.org\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=4742"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"https:\/\/baixacultura.org\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=4742"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"https:\/\/baixacultura.org\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=4742"},{"taxonomy":"post_folder","embeddable":true,"href":"https:\/\/baixacultura.org\/wp-json\/wp\/v2\/post_folder?post=4742"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}<\/a><\/p>\n
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\nCoincid\u00eancia ou n\u00e3o, as vers\u00f5es do livro em papel, quando reeditadas naquela l\u00edngua, bateram 1 milh\u00e3o de exemplares vendidos.<\/p>\n<\/a>
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babaca que n\u00e3o vende livro<\/a><\/del>\u00a0Cristov\u00e3o Tezza\u00a0nesta entrevista<\/a>\u00a0de 2009:<\/p>\n\n
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