{"id":4702,"date":"2011-04-18T14:50:43","date_gmt":"2011-04-18T14:50:43","guid":{"rendered":"https:\/\/baixacultura.org\/?p=4702"},"modified":"2011-04-18T14:50:43","modified_gmt":"2011-04-18T14:50:43","slug":"o-futuro-da-nova-cadeia-produtiva-da-musica","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/baixacultura.org\/2011\/04\/18\/o-futuro-da-nova-cadeia-produtiva-da-musica\/","title":{"rendered":"O futuro da nova cadeia produtiva da m\u00fasica"},"content":{"rendered":"

\"\"<\/a><\/p>\n

Marcelo Branco<\/a> – j\u00e1 conhecido desse espa\u00e7o<\/a> e, dentre outras coisas, ex-coordenador da campanha de Dilma Roussef nas redes sociais e ativista da Softwarelivre.org<\/a> – fez, no in\u00edcio da semana passada, um podcast para a se\u00e7\u00e3o Radar Econ\u00f4mico<\/a>, do Estad\u00e3o. Nele, Branco tratou de cutucar o principal argumento que as gravadoras propagam por a\u00ed: de que a pr\u00e1tica do compartilhamento de arquivos na rede est\u00e1 “matando” a ind\u00fastria fonogr\u00e1fica – e por consequ\u00eancia os artistas, na vis\u00e3o torpe da ind\u00fastria.<\/p>\n

Vamos publicar aqui a transcri\u00e7\u00e3o do que Branco falou, com alguns coment\u00e1rios nosso em it\u00e1lico e colchetes. A discuss\u00e3o \u00e9 boa e merece todas as cr\u00edticas e pontos de vistas poss\u00edveis.<\/p>\n

\u201cEu copio, tu baixas e n\u00f3s compartilhamos: o futuro da nova <\/strong>cadeia produtiva da m\u00fasica<\/strong><\/p>\n

Os ganhos da ind\u00fastria fonogr\u00e1fica despencaram, em 10 anos, de US$ 26 bilh\u00f5es para US$ 16 bilh\u00f5es.<\/p>\n

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[\u00d3timo!]<\/em><\/p>\n<\/blockquote>\n

Diante desse, cen\u00e1rio \u00e9 comum escutarmos, por meio da publicidade dos representantes das gravadoras, que o que est\u00e1 matando a ind\u00fastria fonogr\u00e1fica \u00e9 a pr\u00e1tica de baixarmos m\u00fasicas gratuitamente atrav\u00e9s da internet. Outro argumento utilizado pelas gravadoras, para atacar as pr\u00e1ticas de compartilhamento de m\u00fasicas pela rede, \u00e9 que isso est\u00e1 afetando negativamente o rendimento dos artistas e que estimula o crime organizado.<\/p>\n

As afirma\u00e7\u00f5es acima n\u00e3o passam de propaganda enganosa e o Conar (Conselho Nacional de Regulamenta\u00e7\u00e3o Publicit\u00e1ria) deveria agir com rigor. Baixar m\u00fasicas pela Internet n\u00e3o est\u00e1 matando a ind\u00fastria fonogr\u00e1fica, nem diminuindo o ganho dos artistas. Nos \u00faltimos anos, diversos estudos comprovam que o que est\u00e1 matando a ind\u00fastria fonogr\u00e1fica \u00e9 a incapacidade desta de se adequar aos novos tempos e o apego aos velhos modelos superados pelo desejo dos novos consumidores.<\/p>\n

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[Isto \u00e9 a mais sensata verdade. At\u00e9 os que discordam de qualquer flexibiliza\u00e7\u00e3o nos direitos autorais hoje entendem que as gravadoras e alguns artistas est\u00e3o em um processo de suic\u00eddio lento, a come\u00e7ar por gente como o Metallica, que fez o c\u00famulo de processar os seus pr\u00f3prios f\u00e3s, no maior tiro no p\u00e9 da d\u00e9cada de 00<\/a>. Se \u00e9 bom ou ruim que as grandes gravadoras estejam morrendo \u00e9 papo de outro post. Tendemos a acreditar cegamente que sim, \u00e9 \u00f3timo.<\/em>]<\/p>\n<\/blockquote>\n

Via de regra, a publicidade das gravadoras e o lobby das entidades arrecadadoras para cima de governos e de legisladores apostam em medidas coercitivas com repress\u00e3o, vigil\u00e2ncia indiscriminada, quebra de privacidade, criminaliza\u00e7\u00e3o e corte do acesso dos usu\u00e1rios da rede mundial, como j\u00e1 vem acontecendo em alguns pa\u00edses como a Fran\u00e7a.<\/p>\n

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[O Hadopi, que j\u00e1 comentemos por aqui<\/a><\/em>]<\/p>\n<\/blockquote>\n

Um recente estudo da \u2018London School of Economics<\/a>\u00a0<\/strong>[A \u00edntegra t\u00e1 no Scribd, na nossa biblioteca<\/a>]<\/em>\u00a0comprova, mais uma vez, que compartilhar m\u00fasicas pela internet n\u00e3o est\u00e1 afetando o rendimento dos autores e esta nova pr\u00e1tica social n\u00e3o \u00e9 inimiga dos criadores. Segundo o estudo, a condu\u00e7\u00e3o negativa do debate proposto pela ind\u00fastria fonogr\u00e1fica e pelas arrecadadoras, e a forma de prote\u00e7\u00e3o inadequada da propriedade intelectual nos tempos de Internet, \u00e9 o que tem causado danos \u00e0 ind\u00fastria criativa da m\u00fasica<\/strong>.<\/p>\n

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[Bingo!. E a\u00ed tu v\u00ea uma entrevista como essa, de Greg Frazier<\/a>\u00a0(foto abaixo)\u00a0vice-presidente executivo da Associa\u00e7\u00e3o Cinematogr\u00e1fica dos EUA (MPAA) \u00e0 Folha, e tem certeza de que, sim, o erro continua. O homem, pelo menos, \u00e9 sincero: assume que n\u00e3o est\u00e1 entre os interesses da entidade democratizar a cultura<\/strong>. E continua na velha met\u00e1fora de que, se \u00e9 roubo entrar em uma loja de DVD e sair com um disquinho embaixo do bra\u00e7o, porque baixar um filme em um computador \u00e9 diferente? Esquece-se de que sim, \u00e9 diferente, estamos falando de outras condi\u00e7\u00f5es, de digital, d\u00edgitos, redes, internet, um ecossistema que n\u00e3o vai ser conseguir ser cerceado pela lei restritiva que est\u00e1 sendo usada para a manuten\u00e7\u00e3o de monop\u00f3lios danosos para o acesso ao conhecimento.<\/em>]<\/p>\n<\/blockquote>\n

\"\"<\/a>

O poderoso vice-presidente da MPAA, Greg Frazier<\/p><\/div>\n

O estudo sugere tamb\u00e9m que uma nova legisla\u00e7\u00e3o de direito autoral deveria estimular a pr\u00e1tica dos internautas, e n\u00e3o reprimir.<\/p>\n

[N\u00e3o \u00e9 o que possibilitaria a Reforma da Lei de Direito Autoral<\/a>\u00a0no Brasil, pois continuava deixando o download e a c\u00f3pia privada na ilegalidade. Ainda assim, era uma reforma que avan\u00e7ava em diversos pontos<\/a>, todos os quais, agora, com Ana de Hollanda no MinC, podem ser cortados \u00e0 foice da MPAA e do ECAD.]\u00a0<\/em><\/p>\n

Outros fatores que est\u00e3o influindo na queda do rendimento das gravadoras, apontados pelo estudo, s\u00e3o o aumento do custo dos servi\u00e7os b\u00e1sicos, da moradia e das taxas de desemprego e o crescimento do mercado dos \u2018games\u2019. Por tudo isso est\u00e1 sobrando menos grana para a compra dos CDs.<\/p>\n

O argumento de que quem compartilha m\u00fasica pela internet est\u00e1 \u2018roubando\u2019 a propriedade das gravadoras, diminuindo seus rendimentos, tamb\u00e9m j\u00e1 foi desmentido em um estudo de 2007 publicado pelo \u2018Journal of Political Economy\u2019 [que foi comentado por aqui<\/a>]. Segundo este estudo, a maioria das pessoas que baixam m\u00fasicas pela rede n\u00e3o escutaria seus m\u00fasicos prediletos se tivessem que comprar nos pre\u00e7os de hoje. Isso quer dizer que, baixar m\u00fasicas pela Internet tem um efeito nas vendas que, estatisticamente, \u00e9 praticamente zero.<\/p>\n

Outra fal\u00e1cia \u00e9 que a pr\u00e1tica social de baixarmos m\u00fasicas pela internet vai deixar os autores sem alternativas de rendimento e sem est\u00edmulo para criar. Isso tamb\u00e9m n\u00e3o \u00e9 verdade. A grande maioria dos artistas vive de apresenta\u00e7\u00f5es ao vivo, dos seus shows.<\/p>\n

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Capa do novo disco de Marcelo Camelo, "Toque Dela"<\/p><\/div>\n

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[Aqui, mais por provoca\u00e7\u00e3o do que por outra coisa, colocamos uma pimenta: e se o m\u00fasico\/compositor n\u00e3o quiser fazer show? Haver\u00e1 de ter outro trabalho que o sustente?<\/strong> Marcelo Camelo tocou nessa quest\u00e3o em entrevista recente<\/a>, e embora discordamos radicalmente de algumas bobagens que ele falou – leia l\u00e1 e tente n\u00e3o se incomodar com algumas opini\u00f5es – n\u00e3o h\u00e1 como n\u00e3o pensar em qual modelo de neg\u00f3cio servir\u00e1 para este caso. A fala dele \u00e9 ilustrativa dessa quest\u00e3o: “O disco custa um pre\u00e7o, que n\u00e3o se paga com venda, porque todas as pessoas ouvem de gra\u00e7a. Eu, honestamente, n\u00e3o queria me lan\u00e7ar numa vida eternamente de shows. N\u00e3o quero passar o resto da vida viajando para ganhar o meu dinheiro<\/strong>.”]<\/em><\/p>\n<\/blockquote>\n

Nada mais estimulante. Quanto mais uma m\u00fasica \u00e9 difundida pela internet e o artista \u00e9 conhecido, mais shows e mais ingressos s\u00e3o vendidos. Em 2009, no Reino Unido, por exemplo, as receitas por shows ao\u00a0vivo ultrapassaram, pela primeira vez, o volume arrecadado por vendas de discos. A venda de discos movimentou 1,36 bilh\u00e3o de libras, e os shows movimentaram 1,54 bilh\u00e3o de libras.<\/p>\n

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[Uma conclus\u00e3o aqui pode ser tirada: se a receita de shows ao vivo ultrapassou o arrecadado pela venda de discos, isso tamb\u00e9m significa que os artistas est\u00e3o se dando conta de que, no est\u00e1gio atual, onde ningu\u00e9m sabe ao certo o cen\u00e1rio de amanh\u00e3, fazer shows \u00e9 a principal forma de sustento hoje;\u00a0<\/strong>sem shows, no (ou pouco) money.<\/em>]<\/p>\n<\/blockquote>\n

Toda essa discuss\u00e3o est\u00e1 muito atual no Brasil em fun\u00e7\u00e3o da proposta de reforma da lei do direito autoral e do novo discurso do Minist\u00e9rio da Cultura que, pelo que parece, embarcou na canoa furada das gravadoras e das entidades arrecadadoras.\u201d<\/p>\n

\n

[Quanto \u00e0 isso, o debate que se tem feito nestes primeiros meses de gest\u00e3o MinC n\u00e3o deixa d\u00favida.]<\/em><\/p>\n<\/blockquote>\n

Cr\u00e9ditos fotos: 1 (\u00a0Oper\u00e1rios, Tarsila do Amaral (Blog Discoteca Nacional<\/a>); 2 (Filipe Redondo, FolhaPress<\/a>) e 3 (Miroslav Tichy<\/a>, capa do disco de Marcelo Camelo, “Toque Dela”);<\/address>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

Marcelo Branco – j\u00e1 conhecido desse espa\u00e7o e, dentre outras coisas, ex-coordenador da campanha de Dilma Roussef nas redes sociais e ativista da Softwarelivre.org – fez, no in\u00edcio da semana passada, um podcast para a se\u00e7\u00e3o Radar Econ\u00f4mico, do Estad\u00e3o. Nele, Branco tratou de cutucar o principal argumento que as gravadoras propagam por a\u00ed: de […]<\/p>\n","protected":false},"author":2,"featured_media":8057,"comment_status":"open","ping_status":"open","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":[],"categories":[88,126],"tags":[146,147,626,627,266,628,278,137,629,630,631,259,632,633,421,159,367,634],"post_folder":[],"jetpack_featured_media_url":"","_links":{"self":[{"href":"https:\/\/baixacultura.org\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/4702"}],"collection":[{"href":"https:\/\/baixacultura.org\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"https:\/\/baixacultura.org\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/baixacultura.org\/wp-json\/wp\/v2\/users\/2"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/baixacultura.org\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=4702"}],"version-history":[{"count":0,"href":"https:\/\/baixacultura.org\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/4702\/revisions"}],"wp:featuredmedia":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/baixacultura.org\/wp-json\/"}],"wp:attachment":[{"href":"https:\/\/baixacultura.org\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=4702"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"https:\/\/baixacultura.org\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=4702"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"https:\/\/baixacultura.org\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=4702"},{"taxonomy":"post_folder","embeddable":true,"href":"https:\/\/baixacultura.org\/wp-json\/wp\/v2\/post_folder?post=4702"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}