{"id":455,"date":"2008-11-07T14:21:51","date_gmt":"2008-11-07T14:21:51","guid":{"rendered":"https:\/\/baixacultura.org\/?p=455"},"modified":"2008-11-07T14:21:51","modified_gmt":"2008-11-07T14:21:51","slug":"a-memoria-da-musica","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/baixacultura.org\/2008\/11\/07\/a-memoria-da-musica\/","title":{"rendered":"A mem\u00f3ria da m\u00fasica"},"content":{"rendered":"

[youtube=http:\/\/www.youtube.com\/watch?v=8Hc0FGmXONk]<\/p>\n

H\u00e1 alguns dias, o jornalista Pedro Alexandre Sanches [leia o livro, leia mesmo o livro<\/a>] fez um coment\u00e1rio sobre dois [este<\/a> e este<\/a>] document\u00e1rios recentes dedicados \u00e0 m\u00fasica brasileira, e\u00a0acabou levantando\u00a0uma quest\u00e3o\u00a0interessant\u00edssima sobre o papel cultural do download e da pirataria.<\/p>\n

O lance \u00e9 que enquanto via os document\u00e1rios\u00a0Sanches se tocava duma coisa: h\u00e1 ali v\u00e1rias imagens que entraram pra hist\u00f3ria precisamente por n\u00e3o<\/strong> poderem ser vistas, imagens \u00e0s quais o acesso era\u00a0negado e das quais em alguns casos se dizia inclusive que haviam se perdido definitivamente. Dita por mim, essa\u00a0constata\u00e7\u00e3o talvez n\u00e3o\u00a0valha muito. Mas\u00a0pense que Sanches \u00e9\u00a0dono\u00a0de um dos\u00a0mais vastos\u00a0repert\u00f3rios musicais do atual jornalismo, e isso n\u00e3o quer dizer apenas que tenha ouvido todos os discos, mas tamb\u00e9m que possui rara compreens\u00e3o cultural dos movimentos da m\u00fasica brasileira e que deve sempre ser ouvido, mesmo quando est\u00e1 errado. Se ele n\u00e3o viu, dificilmente algu\u00e9m\u00a0o fez.\u00a0Acho que tu devia ler a \u00edntegra do texto<\/a>,\u00a0mas repara nisso\u00a0[grifos meus]:<\/p>\n

enfim, a surpresa de simplesmente poder ver<\/strong> esses document\u00e1rios me parece t\u00e3o impactante quanto as hist\u00f3rias fabulosas, entre grimm, shakespeare e freud, que os celul\u00f3ides desenrolam. e a\u00ed a pergunta que ribomba \u00e9: onde \u00e9 que essas imagens andaram esse tempo todo?, como e por que \u00e9 que o brasil as escondeu (e ainda esconde) por tantas d\u00e9cadas?<\/strong><\/p>\n

para que inventaram fita vhs, dvd, blu-ray, se n\u00e3o servem para trazer de volta um pouco do que h\u00e1 de mais precioso no nosso passado? para lan\u00e7ar dvd do show ao vivo do disco ao vivo do show do disco de est\u00fadio, a voz do morto?<\/p>\n

e ainda resmungam e n\u00e3o conseguem compreender como e por que \u00e9 que tomaram conta do peda\u00e7o a pirataria (essa criminos\u00edssima via de democratiza\u00e7\u00e3o da arte, da cultura, do entretenimento e das abobrinhas), o download e o youtube (sim, ali, no youtube, h\u00e1 fragmentos de quase tudo um pouco, aperitivos de secos & molhados, novos baianos & outros caetanos)? \u00e3h\u00e3.<\/p><\/blockquote>\n

Discordo\u00a0exclamativamente da postura do jornalista em rela\u00e7\u00e3o \u00e0 pirataria (“essa criminos\u00edssima via de democratiza\u00e7\u00e3o” etc.). N\u00e3o porque acredite que ela seja outra coisa que n\u00e3o ilegal. Isso \u00e9 um fato, n\u00e9?\u00a0O que eu acredito \u00e9 que s\u00e3o as leis que precisam\u00a0se adequar \u00e0\u00a0din\u00e2mica e\u00a0\u00e0 urg\u00eancia da democratiza\u00e7\u00e3o da cultura [inclusive daquela\u00a0\u00e0 qual\u00a0nomeia “abobrinha”, o que a mim soa apenas patrulhesco]. N\u00e3o \u00e9 o Bataille quem diz que a verdadeira poesia existe fora das leis? Provavelmente diz em outro contexto, mas cabe certinho assim, descontextualizado, recontextualizado.<\/p>\n

O que me interessa do coment\u00e1rio de Sanches \u00e9 essa lembran\u00e7a das m\u00eddias digitais como um espa\u00e7o paradoxalmente adequad\u00edssimo \u00e0 mem\u00f3ria da cultura, o benef\u00edcio das novas m\u00eddias\u00a0tamb\u00e9m pro passado cultural. O ineditismo das imagens que tanto surpreende o jornalista est\u00e1 relacionado a um fato pra l\u00e1 de espec\u00edfico: num passado n\u00e3o t\u00e3o distante, elas integravam o acervo das redes de TV. Como e se era poss\u00edvel acess\u00e1-las [se visitas ao acervo eram permitidas, se c\u00f3pias dos programas eram disponibilizadas para venda] eu n\u00e3o sei. S\u00f3 sei que as TVs est\u00e3o onde sempre estiveram, no Rio e em S\u00e3o Paulo, e eu moro na putaquepariu! Agora, no n\u00e3o-lugar da rede,\u00a0as imagens\u00a0est\u00e3o a\u00ed, ao alcance de qualquer pesquisa desleixada.<\/p>\n

A minha, por exemplo, me\u00a0levou ao\u00a0encontro de\u00a0ningu\u00e9m menos que Jackson do Pandeiro<\/strong> e Jo\u00e3o do Vale<\/strong> dando uma canja no rastap\u00e9:<\/p>\n

[youtube=http:\/\/www.youtube.com\/watch?v=qUawNS9JTP8]<\/p>\n

E que tal esse Erasm\u00e3o<\/strong>?<\/p>\n

[youtube=http:\/\/www.youtube.com\/watch?v=HwRm7kzwIQM]<\/p>\n

[Penso ainda no primeiro v\u00eddeo e lembro de Marcelo Montenegro descrevendo Jo\u00e3o do Vale como o Muddy Waters do sert\u00e3o<\/a>, e lembro do nosso outro bluesman. Encontro-o assim,\u00a0com seus \u00f3culos antigos, seu cigarro, sua m\u00e1goa e o viol\u00e3o, e divido contigo mais esse v\u00eddeo:]<\/p>\n

[youtube=http:\/\/www.youtube.com\/watch?v=L8U1Y9PBfig]<\/p>\n

[Reuben da Cunha Rocha.<\/strong>]<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

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