{"id":4380,"date":"2011-02-10T14:26:17","date_gmt":"2011-02-10T14:26:17","guid":{"rendered":"https:\/\/baixacultura.org\/?p=4380"},"modified":"2011-02-10T14:26:17","modified_gmt":"2011-02-10T14:26:17","slug":"a-pintura-nos-pixels","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/baixacultura.org\/2011\/02\/10\/a-pintura-nos-pixels\/","title":{"rendered":"A pintura nos pixels"},"content":{"rendered":"
O experimentalista David Hockney, esse velhinho a\u00ed de 73 anos, voltou a receber os holofotes midi\u00e1ticos recentemente. A revista \u00c9poca de 24 de janeiro trouxe uma mat\u00e9ria<\/a> sobre a nova exposi\u00e7\u00e3o do artista pl\u00e1stico brit\u00e2nico realizada em Paris: “David Hockney, Fleurs Fra\u00eeches” (David Hockney, Flores Frescas). 200 pinturas comp\u00f5em a mostra com o pequeno grande detalhe de n\u00e3o serem pintadas com uma tinta comum, mas sim de “tinta” virtual\/eletr\u00f4nica. Os \u201cquadros\u201d, com estilo de aquarelas,\u00a0 foram produzidos diretamente no iPhone ou no iPad, e s\u00e3o exibidos nesses aparelhos. A exposi\u00e7\u00e3o tamb\u00e9m \u00e9 atualizada constantemente, a partir do envio de novas produ\u00e7\u00f5es do artista.<\/p>\n At\u00e9 aqui nada demais. Hockney<\/a> \u00e9 conhecido por fazer experimentos com pinturas e\/ou fotografias utilizando-se de novas tecnologias. Nos anos 80 fazia mosaicos com polaroids<\/a> e j\u00e1 na mesma d\u00e9cada usava programas de computador para pintar \u2013 tu pode ver ele em a\u00e7\u00e3o na s\u00e9rie de v\u00eddeos Painting With Light<\/a>. Al\u00e9m disso, deve haver outros milhares de artistas que desenham apenas no meio digital. O problema \u00e9 que por ter essa notoriedade apareceram pessoas querendo comprar as obras originais expostas. S\u00f3 que nesse caso, n\u00e3o havia uma pintura original. Qual original, se as produ\u00e7\u00f5es podem ser reproduzidas e compartilhadas ad infinitum<\/em>?<\/p>\n Como d\u00e1 pra ver, h\u00e1 uma modifica\u00e7\u00e3o no suporte da pintura, algo bastante semelhante ao que ocorreu com a m\u00fasica digital. O artigo \u201cA m\u00fasica na \u00e9poca de sua reprodutibilidade digital\u201d de S\u00e9rgio Amadeu \u2013 dispon\u00edvel no livro O Futuro da m\u00fasica depois da morte do cd<\/a> – cont\u00e9m boas ideias para se pensar a pintura feita em tela de cristal. Citando Walter Benjamin (j\u00e1 citado por aqui<\/a>), Silveira diz que o hic et nunc<\/em> (“aqui e agora”), a autenticidade, a AURA, \u00a0da obra de arte no digital n\u00e3o podem ser encontrados numa \u00fanica obra f\u00edsica, mas sim no processo, na produ\u00e7\u00e3o<\/strong>.<\/p>\n Seria como naquelas situa\u00e7\u00f5es dos grafiteiros de paisagens no cal\u00e7ad\u00e3o ou daqueles ilustradores que fazem caricaturas por um precinho camarada. Sem a escassez e o desgaste da \u201cobra-prima\u201d, o encanto maior poderia estar no in\u00edcio e no durante da pintura – e n\u00e3o no fim. Prova disso \u00e9 que na exposi\u00e7\u00e3o de Hockney alguns aparelhos mostravam, em velocidade alta, todas as etapas da elabora\u00e7\u00e3o da pintura. Que tal marcar para uma “pintura ao vivo” com o artista, transmitida simultaneamente para usu\u00e1rios conectados?<\/p>\n A propriedade de uma obra, e seu poss\u00edvel lucro, se d\u00e1 por meio da nega\u00e7\u00e3o do acesso, como diz S\u00e9rgio Amadeu: \u201cTratar um conjunto de id\u00e9ias, um conto, alguma imagem desenhada ou uma m\u00fasica como um terreno ou como um peda\u00e7o valioso de metal \u00e9 o necess\u00e1rio para exigir os mesmos direitos de propriedade<\/strong>.\u201d Na mat\u00e9ria de \u00c9poca, h\u00e1 alguns artistas que pensam em conferir uma propriedade f\u00edsica \u00e0 pintura digital, como o argumento pat\u00e9tico de \u201cimprimir a imagem uma \u00fanica vez e assin\u00e1-la<\/em>\u201d. Outros ainda afirmam que tem medo e que n\u00e3o v\u00e3o aderir a nova forma de pintar: \u201cO uso das novas tecnologias por si s\u00f3 n\u00e3o significa qualidade. N\u00e3o d\u00e1 para ficar se submetendo \u00e0s novidades<\/em>\u201d. Prefer\u00eancias a parte, a pintura pixelada pode ter um outro efeito: valorizar ainda mais a pintura pict\u00f3rica. Um quadro \u00fanico, f\u00edsico, provavelmente vale mais do que \u201cn\u201d quadros, n\u00e3o acha?<\/p>\n Por outro lado, devido a praticidade e portabilidade dos aparelhos tablets, poder\u00e1 tornar a pr\u00e1tica da pintura acess\u00edvel (quando os aparelhos realmente<\/em> baratearem, claro, tanto quanto um mp3 player de hoje) a quem n\u00e3o tinha condi\u00e7\u00f5es, ou aptid\u00f5es, de pintar em tela de pano. O que poder\u00e1 aumentar a visibilidade de novos pintores, e consequentemente aumento de qualidade de boas produ\u00e7\u00f5es, necess\u00e1ria para se destacar entre a variedade, como assinala S\u00e9rgio Amadeu no fim do artigo. N\u00e3o d\u00e1 pra negar que a facilidade\u00a0 de um tablet pode aproximar as artes pl\u00e1sticas das pessoas e que poder\u00e1 se popularizar no futuro – que aponta para variedade de marcas<\/a>.<\/p>\n Para finalizar, \u00e9 algo que tamb\u00e9m est\u00e1 sendo feito pelo Art Project<\/a>, lan\u00e7ado dia 1 de fevereiro<\/a>. O servi\u00e7o da Google possibilita uma visita virtual a, por enquanto, 17 museus do mundo todo \u2013 menos do Brasil, que ainda n\u00e3o possui nenhum representante. Pode se navegar n\u00e3o apenas pela estrutura dos museus, como no Google Street View, mas tamb\u00e9m dar zoom nas imagens, e conferir os detalhes e as pinceladas de cada obra presente.\u00a0 D\u00e1 uma olhada nesse, al\u00e9m de muitos outros recursos, no v\u00eddeo abaixo:<\/p>\n<\/a><\/p>\n
<\/a>Capa desenhada no iPhone pelo artista portugu\u00eas Jorge Colombo<\/a>.<\/p>\n