{"id":4026,"date":"2011-02-07T11:52:34","date_gmt":"2011-02-07T11:52:34","guid":{"rendered":"https:\/\/baixacultura.org\/?p=4026"},"modified":"2011-02-07T11:52:34","modified_gmt":"2011-02-07T11:52:34","slug":"anais-da-contracultura-1-os-provos-da-venturosa-amsterdam","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/baixacultura.org\/2011\/02\/07\/anais-da-contracultura-1-os-provos-da-venturosa-amsterdam\/","title":{"rendered":"Anais da Contracultura (1): Os Provos da Venturosa Amsterdam"},"content":{"rendered":"
Dando in\u00edcio a mais uma sess\u00e3o inconclusa do BaixaCultura, falamos agora de alguns interessantes causos<\/em> (a maioria pr\u00e9-digital) contraculturais que surgiram mundo afora no ruidoso s\u00e9culo passado (XX) que ajudaram a humanidade ser um pouco menos careta.<\/p>\n N\u00e3o poder\u00edamos deixar de come\u00e7ar pelo Provos<\/a>, um “movimento” que surgiu na Holanda da d\u00e9cada de 1960 e \u00e9, em muitos aspectos, precursor e inspirador do famoso Maio de 68 na Fran\u00e7a (tema de um pr\u00f3ximo texto, quem sabe) e da cultura hippie que se alastrou no final da d\u00e9cada de 1960 e in\u00edcio de 1970. Nas palavras de Matteo Guarnaccia<\/a> em seu livro Provos – Amsterdam e o nascimento da contracultura<\/a>, lan\u00e7ado pela Conrad pela famosa cole\u00e7\u00e3o Baderna (e que serve de base pra esse post), “juntamente com os Beatles, Allen Ginsberg e Bob Dylan, os Provos foram um dos elementos decisivos <\/em>daquela estranha opera\u00e7\u00e3o de alquimia que, por volta da metade dos anos 60, produziu uma deflagra\u00e7\u00e3o de consci\u00eancias<\/em>“.<\/p>\n Se s\u00e3o t\u00e3o importantes assim, tu deve estar se perguntando como que (provavelmente) nunca ouviu falar deles. N\u00f3s de pronto te respondemos que a culpa \u00e9 do idioma, o pouco disseminado holand\u00eas, l\u00edngua em que a maioria dos registros do movimento foram deixados – salvo rar\u00edssimas publica\u00e7\u00f5es em ingl\u00eas. A \u00fanica publica\u00e7\u00e3o de f\u00f4lego (em portugu\u00eas) que temos conhecimento sobre os Provos \u00e9 o livro de Matteo Guarnaccia.<\/p>\n PROVOS?<\/strong><\/p>\n O nome “Provos” vem da abrevia\u00e7\u00e3o de\u00a0provokatie<\/em> (provoca\u00e7\u00e3o em holand\u00eas). O “movimento” Provos, se \u00e9 que podemos cham\u00e1-lo de “movimento”, nasce da apatia em que um mundo imerso na sociedade de consumo pode provocar em seus habitantes. O excesso de conforto, de seguran\u00e7a e o amplo acesso aos bens de consumo na Holanda da d\u00e9cada de 1960 deixava tudo muito chato, careta, sem gra\u00e7a,\u00a0conformado<\/em>. Na busca eterna do graal anti-marasmo, alguns jovens holandeses, herdeiros bastardos da tradi\u00e7\u00e3o anarquista, passaram a fazer o que lhes parecia mais interessante no momento: provocar. Provocar a sociedade de consumo, o poder civil organizado, a apatia das pessoas perante aos meios de massa. Provocar.<\/p>\n A partir dessa insatisfa\u00e7\u00e3o contra um suposto “nada”, manifesta\u00e7\u00f5es espont\u00e2neas e isoladas de perform\u00e1ticos contestadores da ind\u00fastria e da propaganda come\u00e7aram a \u201cpipocar\u201d aqui e ali na venturosa Amsterdam, que por ser um lugar mais do que especial merece um t\u00f3pico a parte.<\/p>\n AMSTERDAM<\/strong><\/p>\n N\u00e3o \u00e9 novidade que Amsterdam sempre foi visto como uma cidade de vanguarda, representante da exce\u00e7\u00e3o, durante s\u00e9culos acolhida de ideias e pessoas n\u00e3o convencionais – de judeus foragidos da Pen\u00ednsula Ib\u00e9rica (entre os quais, a comunidade de origem do fil\u00f3sofo Spinoza<\/a>) aos huguenotes franceses<\/a>, brigados com a maioria cat\u00f3lica na Fran\u00e7a dos s\u00e9culos XVI e XVII – e morada estilos de vida francamente liberais e anti-militaristas. Guarnaccia nos conta que encontrar um acordo sobre um modo de conviv\u00eancia para melhorar o pr\u00f3prio estilo de vida foi, desde sempre, uma necessidade dos moradores daquele aglomerado que foi se desenvolvendo ao redor de um dique (dam<\/em>, em holand\u00eas) no Rio Amstel, sempre sujeito \u00e0 inunda\u00e7\u00f5es e sem qualquer barreira natural de defesa. A popula\u00e7\u00e3o teve que, literalmente,”sair do p\u00e2ntano”, o que demandou uma relativa criatividade de sua popula\u00e7\u00e3o para a busca de um bem-estar social.<\/p>\n Essa, digamos, criatividade natural do povo de Amsterdam, somado \u00e0 atitude de abertura \u00e0 ideias e pessoas extravagantes, tornou a cidade (a \u00fanica capital do governo a n\u00e3o ser sede do governo, que se localiza em Haia) particularmente turbulenta, resistente ao poder de quem fosse e cen\u00e1rio prop\u00edcio para o surgimento de formas criativas e radicais de protesto\/provoca\u00e7\u00e3o, como os happenings do pr\u00f3ximo t\u00f3pico.<\/p>\n HAPPENINGS!<\/strong><\/p>\n Desde o in\u00edcio da d\u00e9cada de 1960, diferentes movimentos contr\u00e1rios a ordem social conviviam em Amsterdam: os\u00a0Nozems<\/a>, conhecidos como v\u00e2ndalos dos bairros populares ao redor do porto da cidade, um dos maiores do mundo; jovens anarquistas, ansiosos em se rebelar contra algo<\/em>;\u00a0os Pleiners, <\/strong>uma cambada que se vestia de preto e que buscava no jazz, na filosofia e na arte novas formas de ver o mundo, possuindo um gosto particular pela cultura francesa; al\u00e9m de “toda aquela fauna\u00a0formada por artistas, exibicionistas, beatniks<\/a>, estudantes que largaram a escola, marginalizados felizes, degustadores de LSD, sonhadores, vagabundos e poetas, que desde sempre constituem o ingrediente b\u00e1sico de toda revolu\u00e7\u00e3o<\/em>“, como diz Guarnaccia no livro.<\/p>\n Um tipo particular – e \u00e0\u00a0\u00e9poca rec\u00e9m come\u00e7ado a ser chamado por este nome <\/a>– de manifesta\u00e7\u00e3o art\u00edstica passou a ganhar a aten\u00e7\u00e3o de todos eles: o happening. [De forma muito did\u00e1tica e simpl\u00f3ria, podemos dizer que o Happening \u00e9 uma forma de fundir a arte com a vida di\u00e1ria, uma manifesta\u00e7\u00e3o art\u00edstica que pega elementos das artes visuais, das artes c\u00eanicas e da performance para criar situa\u00e7\u00f5es art\u00edsticas em ambientes cotidianos como pra\u00e7as, ruas, parques, etc.<\/em>]. Um desses muito “desocupados-artistas-exibicionistas”,\u00a0Robert Jasper Grootveld<\/a> (na foto abaixo<\/em>), passa a liderar uma serie de happenings<\/em>, se tornando o “mago” dos Provos e um dos pai bastardos de boa parta das revolu\u00e7\u00f5es acontecidas na d\u00e9cada de 1960.<\/p>\n A primeira e mirabolante ideia de Grootveld \u00e9 criar um templo antifumo, a Igreja da Depend\u00eancia Consciente da Nicotina<\/strong>, onde passou a trabalhar em happenings<\/em> contra o v\u00edcio inconsequente da nicotina. Um exemplo: dezenas de “fi\u00e9is” entoava o mantra “cof, cof, cof, cof” pelo tempo e ruas pr\u00f3ximas. Outro exemplo: Grootveld sai a pichar outdoors e cartazes com um \u201ck\u201d negro, inicial da palavra kanker<\/em> (c\u00e2ncer). Mais um: o mesmo Grootveld sai pelas ruas de Amsterdam pedindo cigarro a todos que encontra. Em vez de jogar fora ou algo do tipo, ele fuma todos cigarros que consegue, virando uma chamin\u00e9 de nicotina ambulante. Objetivo: mostrar, atrav\u00e9s de seu pr\u00f3prio corpo, o mal que faz o cigarro.<\/p>\n D\u00e1 uma olhada nesse enxerto do document\u00e1rio “It’s a happening<\/em> (1966)”, onde\u00a0Grootveld explica\/confunde\/mostra seu happening:<\/p>\n [youtube=http:\/\/www.youtube.com\/watch?v=omb23Qm_RG8]<\/p>\n Com uma seita consider\u00e1vel de malucos \u00e0 sua volta, o “mago” passa a liderar happenings<\/em> que acontecem todo s\u00e1bado,\u00a0uma pra\u00e7a na Spui, ao redor da est\u00e1tua de Lieverdje \u2013 obra do escultor Carel Kneuman, que representa um menino de rua \u2013, doada para Amsterd\u00e3 por uma ind\u00fastria de tabaco (na foto abaixo<\/em>). Grootveld pousa seus olhos nessa est\u00e1tua e decide fazer ali, toda noite de s\u00e1bado, seus rituais contra a pasmaceira geral: cerim\u00f4nias que incluem dan\u00e7a, canto, teatro, jogos e discursos absurdos (frutos do movimento dada\u00edsta), que terminam com uma imensa fogueira alimentada pelos curiosos e uma \u201ccongrega\u00e7\u00e3o\u201d de jovens.<\/p>\n Happening na Spui, centro de Amsterdam<\/p><\/div>\n Os encontros eram organizados sob o espanto geral da popula\u00e7\u00e3o e da pol\u00edcia, que enxergava ali uma por\u00e7\u00e3o de baderneiros que deveria banir com trucul\u00eancia. Sempre que aparecia na Spui, a pol\u00edcia era recebida com risos e dispers\u00e3o; um dos “preceitos” nascentes dos Provos era a n\u00e3o-viol\u00eancia e a provoca\u00e7\u00e3o, sempre mais importante que o revide.<\/p>\n \u201cNa Europa, j\u00e1 temos de tudo: televis\u00e3o, liq\u00fcidificadores e motocicletas. J\u00e1 que na China eles ainda n\u00e3o t\u00eam liq\u00fcidificadores, seu \u00fanico objetivo \u00e9 de os terem o quanto antes. Quanto chegamos a possuir tudo, eis que inesperadamente chega uma esp\u00e9cie de vazio<\/em>\u201d, Robert Jasper Grootveld<\/strong><\/p>\n<\/blockquote>\n Das jun\u00e7\u00f5es na Spui surgem outros \u201cxam\u00e3s\u201d anunciando mudan\u00e7as \u2013 Roel Van Duijin, Rob Stolk e Luud Schimmelpenninck<\/strong>, que v\u00e3o ser dos mais destacados l\u00edderes Provos.<\/p>\n PROVOS EM A\u00c7\u00c3O<\/strong><\/p>\n As milhares de pessoas que se uniam em torno dos happenings <\/em>de Grootveld passam a se reunir com cada vez mais frequ\u00eancia. A partir dessas reuni\u00f5es, Roel\u00a0Van Duijin e\u00a0\u00a0Rob Stolk <\/strong>encabe\u00e7am a publica\u00e7\u00e3o de uma revista mensal, intitulada\u00a0Provos – <\/em>que come\u00e7a como um panfleto colocado clandestinamente dentro de jornais conservadores, onde defendem uma conduta antisocial (contra o bem-estar holand\u00eas), o nomadismo, a arte, a ecologia, o fim da monarquia, dentre outras bandeiras. Atrav\u00e9s da publica\u00e7\u00e3o, os Provos conclamam os jovens a se unirem contra toda a sorte de alvos (carros, pol\u00edcia, igreja, monarquia, sociedade de consumo, etc) e se colocam a favor do uso da bicicleta, da emancipa\u00e7\u00e3o sexual, do homossexualismo, da maconha, do fim da propriedade privada e de qualquer forma de poder ou proibi\u00e7\u00e3o.<\/p>\n As “bandeiras” provos d\u00e3o origem aos Planos Brancos<\/strong>, uma s\u00e9rie de textos ve\u00edculados nas v\u00e1rias edi\u00e7\u00f5es da revista\u00a0Provos <\/em>e que acabaram constituindo o grosso das ideias\/a\u00e7\u00f5es do movimento para a cidade. \u00a0Alguns deles (ou todos) s\u00e3o extremamente avan\u00e7ados para o pensamento da \u00e9poca (e ainda para hoje), de modo que vale a pena resumir um pouco deles aqui abaixo:<\/p>\n _ Plano da Bicicleta Branca<\/strong>: _ Plano do Cad\u00e1ver Branco<\/strong>; _ Plano das Galinhas Brancas<\/strong>;<\/p>\n Buscava uma reorganiza\u00e7\u00e3o da pol\u00edcia de Amsterdam e propunha a transforma\u00e7\u00e3o do policial em um trabalhador social. Para isso, tinha como objetivos que \u00a0a)<\/strong> que a pol\u00edcia andasse desarmada e de branco, b)<\/strong> que fosse submetida \u00e0 C\u00e2mara de Veradores, e n\u00e3o \u00e0 Prefeitura, c)<\/strong> que cada municipalidade tivesse o direito de escolher o Chefe de Pol\u00edcia democraticamente. O nome”galinha” \u00e9 usado porque era com esse termo (“kip<\/em>“, em holand\u00eas) que os Provos se referiam aos policiais, tipo o “porco” usado para o mesmo fim no Rio Grande e acreditamos que em diversos estados do Brasil.<\/p>\n _ Plano das Chamin\u00e9s Brancas<\/strong>; _ Plano das Mulheres Brancas<\/strong>; _ Plano das Moradias Brancas<\/strong>; JOGO BOM \u00c9 JOGO R\u00c1PIDO<\/strong><\/p>\n <\/strong><\/p>\n <\/strong><\/p>\n <\/strong><\/p>\n <\/strong><\/p>\n <\/strong><\/p>\n <\/strong><\/p>\n <\/strong><\/p>\n <\/strong><\/p>\n <\/strong><\/p>\n <\/strong><\/p>\n <\/strong><\/p>\n Material da Campanha Provos para a C\u00e2mara de Amsterdam<\/p><\/div>\n <\/strong><\/p>\n <\/strong><\/p>\n <\/strong><\/p>\n <\/strong><\/p>\n <\/strong><\/p>\n <\/strong><\/p>\n <\/strong><\/p>\n <\/strong><\/p>\n <\/strong><\/p>\n <\/strong><\/p>\n <\/strong><\/p>\n A partir do crescente sucesso da a\u00e7\u00e3o do movimento – particularmente depois do casamento real da princesa Beatriz<\/a> e do ex-nazista Claus von Amsberg<\/a>, em 10 de mar\u00e7o de 1966, onde os Provos, com suas bombas de fuma\u00e7a branca, tomaram a dianteira dos protestos – \u00a0o movimento deixou de ser “underground” e tiveram suas id\u00e9ias assimiladas por grande parte da popula\u00e7\u00e3o holandesa. Dentro do movimento, articulou-se a cria\u00e7\u00e3o de um partido pol\u00edtico, cujos l\u00edderes seriam alguns dos dirigentes da organiza\u00e7\u00e3o, que acabam candidatos para a C\u00e2mara de Vereadores de Amsterdam, numa campanha que \u00e9 puro Provos, com suti\u00e3s & janelas pintados com o n\u00famero 12 da chapa, decora\u00e7\u00f5es natalinas disfar\u00e7adas de propaganda, esculturas florescentes e bonecos coloridos divulgando o “12”. Mesmo com tamanho jogo anti-pol\u00edtico, e atrapalhados pelo fato de que s\u00f3 maioires de 23 anos votavam na Holanda da \u00e9poca, os Provos conquistam 2,5% dos votos e conquistam uma cadeira.<\/p>\n De Vries (de branco), o gal\u00e3 Provo que virou vereador<\/p><\/div>\n Bernad De Vries <\/strong>(na foto, \u00e0 direita)\u00a0\u00e9 o escolhido. Seu comportamento na c\u00e2mara \u00e9 exemplar: veste-se sempre de branco, ocasionalmente pintando o rosto e as m\u00e3os da mesma cor, anda sempre descal\u00e7o e inicia suas falas com um sonoro arroto. \u00c9 \u00a0prova de que os Provos n\u00e3o estavam interessados e\/ou n\u00e3o sabiam o que fazer com o poder. A partir das elei\u00e7\u00f5es e da desist\u00eancia da vida pol\u00edtica por De Vries (que vai tentar ser gal\u00e3 de cinema, onde teve poucas chances<\/a>), ocorreram divis\u00f5es no movimento e os l\u00edderes acabaram optando pelo seu fim. Sob a alega\u00e7\u00e3o de que os Provos eram “um grande choque” enquanto eram considerados anti-sociais, por\u00e9m, assim que o sistema come\u00e7ou a acolh\u00ea-los, seu real significado dissipara-se, o grupo optou pela dissolu\u00e7\u00e3o.<\/p>\n Mas, como bons provocadores que eram, sua despedida n\u00e3o passaria em “branco”. Foi espalhado um Boato Branco, dizendo que as universidades americanas tinham interesse em adquirir os “arquivos\u00a0provo<\/em>“, documentos que na verdade n\u00e3o existiam. A Universidade de Amsterdam, temendo que o “tesouro sociol\u00f3gico” (basicamente uma caixa de papel\u00e3o com todos os n\u00fameros de\u00a0Provo<\/em>) pudesse desaparecer al\u00e9m mar, rapidamente fez uma oferta que os provos n\u00e3o poderiam recusar. E assim, t\u00e3o r\u00e1pido quando surgiu, dissipou-se o movimento Provo.<\/p>\n REPERCUSS\u00c3O<\/strong><\/p>\n <\/strong><\/p>\n <\/strong><\/p>\n <\/strong><\/p>\n <\/strong><\/p>\n <\/strong><\/p>\n <\/strong><\/p>\n <\/strong><\/p>\n <\/strong><\/p>\n <\/strong><\/p>\n <\/strong><\/p>\n <\/strong><\/p>\n <\/strong><\/p>\n <\/strong><\/p>\n <\/strong><\/p>\n <\/strong><\/p>\n <\/strong><\/p>\n Segundo Guarnaccia, a Revolta Provo – que durou ef\u00eameros 2 anos, de 1965 a 1967 – foi o primeiro movimento em que os jovens, como grupo social independente, tentaram influenciar a pol\u00edtica, fazendo-o de modo absolutamente original, sem propor ideologias, mas um novo e generoso estilo de vida anti-autorit\u00e1rio e ecol\u00f3gico.\u00a0Caminhando contra a corrente do \u201ccair fora\u201d beat, pensavam em descaradamente permanecer \u201cdentro\u201d da sociedade, para provocar nela um curto-circuito\u201d. <\/strong>\u00c0 diferen\u00e7a do maio de 1968 na Fran\u00e7a, que queria levar a imagina\u00e7\u00e3o ao poder, o Provo utilizou a imagina\u00e7\u00e3o\u00a0contra <\/em>o poder <\/em>; semearam, por meio de imagens, as sementes de um novo modo de vida, um dos meios mais poderosos de influenciar pessoas.<\/strong><\/p>\n “Os Provos amam a vida, sua cidade, Amsterdam, e seus habitantes. Encenam exibi\u00e7\u00f5es de tosse em massa contra os cigarros, o s\u00edmbolo mais ‘evidente’ do consumidor sem escolhas, escravizado (…) agem contra a destrui\u00e7\u00e3o de \u00e1rvores e contra os jornais que fazem lavagem cerebral nas pessoas. Invadem os caminh\u00f5es que transportam os rolso de papel para impress\u00e3o e em seguida os desenrolam como tapetes nas ruas de tr\u00e2nsito mais intenso. (…)<\/em> Provo \u00e9 uma imagem<\/p><\/div>\n Alguns projetos dos Provos vingaram e ainda hoje fazem parte da rotina de Amsterdam, como as bicicletas brancas e a liberaliza\u00e7\u00e3o da maconha. Al\u00e9m disso, os Provos tem muita cupla da cidade ser conhecida como “A cidade das bicicletas<\/a>” e ter, em 2006, quase 500 mil bicicletas para uma popula\u00e7\u00e3o de pouco mais de 750 mil habitantes. O que parece permanecer, sobretudo, \u00e9 semente de um outro modo de vida na sociedade holandesa, manifestada em falas como a desse artigo do conservador Telegraph<\/a>, reproduzido no livro de Guarnaccia: \u201cA sociedade holandesa nunca se recuperou das loucuras hippies, do flower power e das viagens para fora da realidade provocadas pela droga. Enquanto todas as sociedades ocidentais foram trazidas de volta \u00e0 Terra, a sociedade holandesa ficou nas nuvens<\/em>\u201d.<\/p>\n Links Dando in\u00edcio a mais uma sess\u00e3o inconclusa do BaixaCultura, falamos agora de alguns interessantes causos (a maioria pr\u00e9-digital) contraculturais que surgiram mundo afora no ruidoso s\u00e9culo passado (XX) que ajudaram a humanidade ser um pouco menos careta. N\u00e3o poder\u00edamos deixar de come\u00e7ar pelo Provos, um “movimento” que surgiu na Holanda da d\u00e9cada de 1960 e […]<\/p>\n","protected":false},"author":2,"featured_media":8110,"comment_status":"open","ping_status":"open","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":[],"categories":[126,409],"tags":[502,503,504,505,506,507,508,147,509,510,511,512,513,514,515,516,517,518,519,171,520,521,522,523,524],"post_folder":[],"jetpack_featured_media_url":"","_links":{"self":[{"href":"https:\/\/baixacultura.org\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/4026"}],"collection":[{"href":"https:\/\/baixacultura.org\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"https:\/\/baixacultura.org\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/baixacultura.org\/wp-json\/wp\/v2\/users\/2"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/baixacultura.org\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=4026"}],"version-history":[{"count":0,"href":"https:\/\/baixacultura.org\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/4026\/revisions"}],"wp:featuredmedia":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/baixacultura.org\/wp-json\/"}],"wp:attachment":[{"href":"https:\/\/baixacultura.org\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=4026"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"https:\/\/baixacultura.org\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=4026"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"https:\/\/baixacultura.org\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=4026"},{"taxonomy":"post_folder","embeddable":true,"href":"https:\/\/baixacultura.org\/wp-json\/wp\/v2\/post_folder?post=4026"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}<\/a><\/p>\n
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\nIniciado por Schimmelpennick, o plano previa o fechamento do centro de Amsterdam para todos que andassem com ve\u00edculos motorizados, incluindo motos. A ideia era fazer com que pelo menos 40% das pessoas usassem o transporte p\u00fablico da cidade. T\u00e1xis eram aceitos, desde que fossem movidos a eletricidade e que n\u00e3o passasem de 25 km\/h. O plano previa a compra, pelo governo municipal, \u00a0de 20 mil bicicletas por ano, que deveriam ser espalhadas pela cidade para uso p\u00fablico. Como o plano n\u00e3o foi aceito pela prefeitura holandesa, o Provos resolveu tocar o plano \u00e0 sua maneira; reuniram mais de 50 bicicletas, pintaram-as de branco e espalharam pela cidade. A pol\u00edcia apreendeu as bicicletas, alegando que elas n\u00e3o podiam ser deixadas pelo munic\u00edpio sem estar cadeadas, e as devolveu para os Provos, que buscaram uma solu\u00e7\u00e3o criativa para o impasse: colocaram cadeados em cada uma e pintaram a combina\u00e7\u00e3o do cadeado em preto no corpo de cada bicicleta (como d\u00e1 para ver na imagem acima desse par\u00e1grafo)<\/em>.<\/p>\n
\nPropunha que, a cada morte por atropelamento em Amsterdam, o assassino em quest\u00e3o, sob escolta da pol\u00edcia, deveria esculpir no asfalto os contornos de sua v\u00edtima com form\u00e3o e martelo, numa profundidade de 3cm, e preencher o espa\u00e7o com argamassa branca. Desse modo, diziam os Provos, “os outros aspirantes a assassinos tirar\u00e3o o p\u00e9 do acelerador por um instante, ao se aproximar do funesto local<\/em>“.<\/p>\n
\nQueria a cobran\u00e7a de multa para quem polu\u00edsse o ar com subst\u00e2ncias radioativas e t\u00f3xicas e a constru\u00e7\u00e3o obrigat\u00f3ria de incineradores, al\u00e9m da pintura de branco (\u00e9 claro) das chamin\u00e9s dos maiores polu\u00eddores.<\/p>\n
\nExigia a cria\u00e7\u00e3o de cl\u00ednicas p\u00fablicas que oferecessem, de gr\u00e1tis, conselhos e contraceptivos para mulheres a partir dos 16 anos. E argumentavam tamb\u00e9m, para o bem do controle populacional, que era imprescind\u00edvel para a sociedade que as mulheres n\u00e3o casassem virgens, e sim que experimentassem bem<\/em> antes de casar e ter filhos.<\/p>\n
\nPropunham que o Estado interviesse na especula\u00e7\u00e3o imobili\u00e1ria, freando-a, e que os pr\u00e9dios desocupados – enquanto estivessem na espera de algum a\u00e7\u00e3o de seus donos ou mesmo do poder p\u00fablico – fossem disponibilizados gratuitamente para habita\u00e7\u00e3o tempor\u00e1ria de quem precisasse.<\/p>\n<\/a><\/strong>
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\n Planejam uma cidade sem autom\u00f3veis e prop\u00f5em bindes gratuitos e a distribui\u00e7\u00e3o de 70 mil bicicletas ao dispor de todos os cidad\u00e3os. Querem que os agentes de pol\u00edcia se tornem assistentes sociais e que no lugar de armas carreguem sacos brancos cheios de doces e frutas a serem distribu\u00eddos aos transeuntes”, San Francisco Oracle, Yes Provos, No Yankees (fac-s\u00edmile, org. Allen Cohen, Regent Press, 1991)<\/strong><\/em><\/p>\n<\/blockquote>\n<\/a>
\n<\/strong><\/span>_ Al\u00e9m do livro de Guarnaccia, outra refer\u00eancia fundamental \u00e9 esta mat\u00e9ria da revista High Times<\/a> de janeiro de 1990, de Teu Voeten;
\n<\/span>_ Colocamos o “Provos – Amsterdam e o nascimento da Contracultura”, de Matteo Guarnaccia, na nossa Biblioteca<\/a>, em vers\u00e3o scaneada;<\/span><\/p>\n
\n<\/span>Agradecimentos
\n<\/strong><\/span>_ Aos textos do Gambiarre.org<\/a> e do JorWikiUSP<\/a>, do qual muitos par\u00e1grafos desse post foram inspirados e\/ou plagiados;<\/span><\/p>\n <\/address>\n <\/address>\n <\/address>\n <\/address>\n <\/address>\n <\/address>\nCr\u00e9ditos das Fotos
\n<\/strong>_\u00a0International Institute of Social History<\/a> (1, 2,5,7, 8, 10);<\/address>\n_ High Times<\/a> (4, 6, 9);<\/address>\n_ Larqdesign<\/a> (3);<\/address>\n <\/address>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"