{"id":3811,"date":"2011-02-21T12:08:15","date_gmt":"2011-02-21T12:08:15","guid":{"rendered":"https:\/\/baixacultura.org\/?p=3811"},"modified":"2011-02-21T12:08:15","modified_gmt":"2011-02-21T12:08:15","slug":"do-que-nao-vivem-os-escritores","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/baixacultura.org\/2011\/02\/21\/do-que-nao-vivem-os-escritores\/","title":{"rendered":"Do que N\u00c3O vivem os escritores"},"content":{"rendered":"
Lido faz mais de A quest\u00e3o primordial que uniu a leitura desses dois textos, separados por um longo per\u00edodo de tempo, foi a seguinte:\u00a0afinal, do que vivem os escritores<\/strong>? Ou melhor, <\/span>existem\u00a0escritores que hoje consigam vivem apenas<\/strong> dos direitos autorais de suas obras?<\/span><\/p>\n O questionamento \u00e9 sempre interessante, mais ainda em \u00e9poca de debate acirrado sobre direitos autorais, copyright e creative commons provocado pela decis\u00e3o da atual Ministra da Cultura do Brasil, Ana de Hollanda, de retirar a licen\u00e7a CC do site do MinC<\/a> – o que prenuncia, todos a esta altura devem saber, uma poss\u00edvel regress\u00e3o conservadora<\/a> na pol\u00edtica p\u00fablica brasileira diante dos direitos do autor e j\u00e1 instaurou campanhas e debates acirrados na m\u00eddia. [sobre o assunto, vale ouvir a entrevista com S\u00e9rgio Amadeu<\/a> e o texto de Hermano Vianna em sua coluna no Globo<\/a>, duas \u00f3timas refer\u00eancias brasileiras quando se fala de cultura livre].<\/p>\n Vale lembrar que um dos argumentos mais persistentes em favor do atual regime de copyright \u00e9 de que ele esta a\u00ed para incentivar a cria\u00e7\u00e3o e favorecer o autor – e, se favorece o autor, subtende-se que o autor consiga viver com o valor obtido pela venda das c\u00f3pias de sua obra, right<\/em>?<\/p>\n Diante de uma boa hip\u00f3tese recomenda-se uma pesquisa (mais ou menos<\/em>) aprofundada, ent\u00e3o vamos nessa por partes.<\/span><\/p>\n 1: Dados e fatos<\/span><\/strong><\/p>\n O todo-poderoso Borges s\u00f3 come\u00e7ou a viver de copyright depois dos 60<\/p><\/div>\n Segundo texto no blog do partido pirata argentino (uma republica\u00e7\u00e3o do “Derecho a Leer<\/a>“, um blog de apoio a Hor\u00e1cio Potel, de quem j\u00e1 comentamos por aqui<\/a>), Pablo Avelluto<\/strong>, diretor editorial da editora Sudamericana<\/a>, fala que “Borges empez\u00f3 a vivir de sus derechos despu\u00e9s de los 60 a\u00f1os”<\/em>.<\/span><\/p>\n Talvez a sinceridade de Avelluto possa ser interpretada tamb\u00e9m como um velado recado a escritores menos c\u00e9lebres que tenham somente pretens\u00f5es monet\u00e1rias com suas obras. Talvez. Mas a seguinte declara\u00e7\u00e3o \u00e9 mais realista:<\/p>\n “Los escritores que viven de los derechos de autor en la Argentina no creo que lleguen a diez, y eso es porque el tama\u00f1o del mercado es muy peque\u00f1o”<\/em>.<\/p>\n<\/blockquote>\n N\u00e3o acreditamos que no Brasil (e qui\u00e7\u00e1 em boa parte do mundo) a situa\u00e7\u00e3o seja muito diferente da Argentina. Uma das escritoras mais comentadas da “nova gera\u00e7\u00e3o”, Carol Bensimon<\/a>, tamb\u00e9m n\u00e3o acredita<\/a>, [“N\u00e3o consigo pensar nem em meia d\u00fazia que podem se dar ao luxo de viver de direito autoral<\/em><\/strong>\u201c, diz ela], assim como o escritor e cr\u00edtico S\u00e9rgio Rodrigues [“Viver de direito autoral, viver de ser escritor, \u00e9 algo muito dif\u00edcil. Outras coisas precisam entrar no bolo”<\/strong>, <\/em>disse Rodrigues<\/a>]<\/p>\n A fala de Avelluto segue com um c\u00e1lculo interessante, adem\u00e1s de conhecido por todos que lidam com essa \u00e1rea:<\/p>\n “Un c\u00e1lculo r\u00e1pido: del precio de tapa de un libro, un 10 % queda para el autor […] tanto en Sudamericana<\/a> como en Planeta<\/a> dicen que cuando de literatura argentina hablamos, y exceptuando a los pocos escritores que son garant\u00eda de ventas masivas, un libro que vende dos mil ejemplares es considerado exitoso. Por un libro que tiene un precio de tapa de 50 pesos, un autor percibir\u00e1 por dos mil libros un total de diez mil pesos. Si tuvo suerte y la producci\u00f3n de la novela le llev\u00f3 s\u00f3lo un a\u00f1o, le quedar\u00edan, en promedio, 830 pesos por mes”<\/em>.<\/p>\n<\/blockquote>\n Convertendo o peso para o real (1 peso= R$0,42, em m\u00e9dia) e considerando que o mercado editorial brasileiro \u00e9 maior que o argentino, ainda assim acreditamos que a realidade brasileira n\u00e3o \u00e9 muito diferente da 2. Exemplos<\/strong><\/p>\n \n <\/p>\n <\/p>\n <\/p>\n <\/p>\n <\/p>\n <\/p>\n <\/p>\n Cristov\u00e3o Tezza “vive” de literatura desde 2009<\/p><\/div>\n <\/p>\n <\/p>\n <\/p>\n <\/p>\n <\/p>\n <\/p>\n <\/p>\n <\/p>\n O peri\u00f3dico “El Interpretador” realizou uma enquete<\/a> com diversos escritores argentinos – dos mais conhecidos por aqui, como Alan Pauls<\/a>,\u00a0at\u00e9 outros nem tanto, como Pablo Toledo<\/a> – para saber, afinal de contas, do que eles vivem. As justificativas s\u00e3o as mais variadas (vale a leitura completa), mas as respostas s\u00e3o todas: n\u00e3o, n\u00e3o vivemos de literatura<\/strong> – pelo menos n\u00e3o da venda de livros<\/strong>, j\u00e1 que n\u00e3o adentramos aqui o viver <\/em>de literatura no sentido figurado.<\/p>\n Na enquete argentina, todos tem algum tipo de of\u00edcio – jornalistas, tradutores, editores, funcion\u00e1rios p\u00fablicos, professores universit\u00e1rios ou de Ensino M\u00e9dio, livreiros e roteiristas s\u00e3o os mais comuns – que lhe paga as contas ao fim do m\u00eas.<\/p>\n N\u00e3o conhecemos uma enquete do tipo no Brasil, mas receio que, se existisse, as respostas n\u00e3o seriam muito diferentes. Tirando aquele seleto time de best-sellers, a boa maioria dos escritores nacionais vivem (mais uma vez, no sentido de “pagar as contas no fim do m\u00eas”) de outra coisa.<\/p>\n Um exemplo que vem \u00e0 tona agora \u00e9 o de Cristov\u00e3o Tezza<\/a>. Hoje reconhecido como do “primeiro time” da literatura nacional, Tezza era professor de lingu\u00edstica na UFPR<\/a> at\u00e9 2009, quando resolveu largar a doc\u00eancia e “viver de literatura”.<\/p>\n Claro que, para isso, os diversos pr\u00eamios abocanhados com seu best-seller (e livra\u00e7o, vale dizer) “O Filho Eterno<\/a>” foram fundamentais. Basta somar os valores ganhos nos pr\u00eamios –\u00a0S\u00e3o Paulo de Literatura, Portugal Telecom, Jabuti (melhor romance), Associa\u00e7\u00e3o Paulista de Cr\u00edticos de Arte (melhor fic\u00e7\u00e3o) e revista “Bravo!” (livro do ano), todos de 2008, mais Pr\u00eamio Passo Fundo Zaffari & Bourbon de Literatura de 2009\u00a0– e tu ver\u00e1 a gorda quantia que Tezza ganhou em sua conta.<\/p>\n 3. Argumentos, argumentos<\/strong><\/p>\n \n <\/p>\n <\/p>\n <\/p>\n <\/p>\n <\/p>\n <\/p>\n <\/p>\n DRM \u00e9 foda<\/p><\/div>\n <\/p>\n <\/p>\n <\/p>\n <\/p>\n <\/p>\n <\/p>\n <\/p>\n <\/p>\n O texto do Derecho a leer<\/a> faz uma argumenta\u00e7\u00e3o deveras interessante a respeito do funcionamento da Ind\u00fastria Editorial – ainda que, deixemos claro, bastante pol\u00eamica. Em homenagem, vamos reproduzir aqui abaixo este trecho, <\/strong>somente fazendo uma “tradu\u00e7\u00e3o livre” para o portugu\u00eas:<\/p>\n “O mundo material da ind\u00fastria da produ\u00e7\u00e3o e distribui\u00e7\u00e3o de livros compete para reduzir custos e tornar mais abundante o produto, e nisso consiste o benef\u00edcio coletivo que a sociedade recebe. Em rela\u00e7\u00e3o ao financiamento do of\u00edcio do autor, \u00e9 muito mais\u00a0rent\u00e1vel<\/strong> trabalhar em qualquer outra<\/strong> escala da linha produtiva do livros –\u00a0como vendedor de uma livraria, por exemplo\u00a0– do que como\u00a0escritor.<\/p>\n No mundo digital, onde a c\u00f3pia e a distribui\u00e7\u00e3o de livros se torna uma tarefa sem custo, manter a escassez do produto<\/strong> (as c\u00f3pias) para poder obter um benef\u00edcio com sua venda implica no emprego de algum mecanismo artificial, seja tecnol\u00f3gico (DRM<\/a>) ou legal (copyright<\/em>), que necessariamente limite a liberdade<\/strong> de todo aquele que n\u00e3o seja titular dos direitos. Limita\u00e7\u00f5es que s\u00e3o quase impercept\u00edveis no mundo material (onde se necessita uma imprensa para fazer as c\u00f3pias e log\u00edstica para distribui\u00e7\u00e3o) mas que s\u00e3o significativas no mundo virtual (onde basta um computador e uma conex\u00e3o a internet para se ter acesso).<\/p>\n Tendo em conta as implica\u00e7\u00f5es \u00e9ticas envolvidas em sustentar estrat\u00e9gias baseadas exclusivamente em manter de forma artificial a escassez do produto, seria lament\u00e1vel que o dito modelo comercial atual pague aos escritores de um jeito t\u00e3o ex\u00edgu0 como o atual. A ind\u00fastria da distribui\u00e7\u00e3o de c\u00f3pias careceria de outro sentido econ\u00f4mico no meio digital exceto o de financiar a autoria<\/strong> – que, como vimos aqui, n\u00e3o \u00e9 a \u00fanica possibilidade de ganhar dinheiro com o of\u00edcio de escrever.<\/p>\n Nota-se que a fonte de recursos da ind\u00fastria editorial \u00e9 uma s\u00f3 [Ou costumava ser<\/em>]: o que os consumidores pagam pelos livros. Esse ingresso bruto se reparte em diferentes n\u00edveis da cadeia, da ind\u00fastria que produz o papel ao vendedor da livraria, passando pelos trabalhadores que imprimem o livro, o editor e a sua secret\u00e1ria, etc. Que o escritor n\u00e3o receba um “sal\u00e1rio” nem remotamente semelhante \u00e0 estes e seja um ref\u00e9m desse sistema \u00e9 algo que n\u00e3o parece preocupar os editores nem os ministros da cultura<\/a>. [N.T: O link \u00e9 o original do texto. E quanto ao trecho imediatamente anterior, de um “sal\u00e1rio” a ser pago ao escritor, h\u00e1 de se dizer que, ainda que sejam exce\u00e7\u00f5es,<\/em> existem sim escritores que o recebem, pelo menos no Brasil.] <\/em><\/p>\n <\/em>Parece que tudo ia muito bem para as editoras, at\u00e9 que as obras come\u00e7aram a ser distribu\u00eddas por outros meios fora de seu controle. E a\u00ed sim parece que come\u00e7ou a existir os “autores”.<\/p>\n<\/blockquote>\n Ah sim, se n\u00e3o ficou claro a resposta do t\u00edtulo do post, retomemos: de copyright \u00e9 que N\u00c3O vivem os escritores.<\/p>\n \n","protected":false},"excerpt":{"rendered":" Lido faz mais de dois meses atr\u00e1s quatro meses atr\u00e1s, um post do blog do Partido Pirata Argentino ressonou por aqui no final do ano passado, cutucada pela fala do researcher Bob Stein no F\u00f3rum da Cultura Digital 2010 – e, especialmente, pela fala nesta entrevista que citamos nesse post. 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dois meses atr\u00e1s<\/del> quatro meses atr\u00e1s, um post do blog do Partido Pirata Argentino<\/a> ressonou por aqui no final do ano passado, cutucada pela fala do researcher <\/em>Bob Stein<\/a> no F\u00f3rum da Cultura Digital 2010 – e, especialmente, pela fala nesta entrevista<\/a> que citamos nesse post<\/a>.<\/p>\n<\/a>
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argentina<\/del> dos nossos vizinhos.<\/p>\n<\/a>
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