{"id":3659,"date":"2010-10-12T19:16:11","date_gmt":"2010-10-12T19:16:11","guid":{"rendered":"https:\/\/baixacultura.org\/?p=3659"},"modified":"2010-10-12T19:16:11","modified_gmt":"2010-10-12T19:16:11","slug":"criminosos-do-copyright","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/baixacultura.org\/2010\/10\/12\/criminosos-do-copyright\/","title":{"rendered":"Criminosos do Copyright"},"content":{"rendered":"

\"Cartaz<\/a><\/p>\n

Lan\u00e7ado nos Estados Unidos no in\u00edcio deste ano no canal p\u00fablico PBS<\/a>,\u00a0“Copyright Criminals” \u00e9 um document\u00e1rio que destrincha uma t\u00e9cnica cada vez mais conhecida nestes tempos: o sampling, que poderia ser resumidamente explicado como o “ato de usar um trecho de uma produ\u00e7\u00e3o como parte de uma produ\u00e7\u00e3o pr\u00f3pria<\/em>“.\u00a0Uma t\u00e9cnica que tem origem no in\u00edcio dos anos 1960, nas experimenta\u00e7\u00f5es caseiras de malucos como William Burroughs<\/a> e Brion Gysin<\/a>, e entra na d\u00e9cada seguinte como um dos elementos centrais do hip-hop, de onde desde ent\u00e3o costuma ser mais associado.<\/p>\n

O document\u00e1rio trata de falar dos mais diversos aspectos da t\u00e9cnica, partindo dessa \u00e9poca de nascimento do hip hop, nos bairros negros da Nova York da d\u00e9cada de 1970, chegando at\u00e9 a ind\u00fastria milion\u00e1ria do rap deste anos 2000 (inclusive, como ilustra\u00e7\u00e3o, h\u00e1 uma\u00a0timeline do sampling<\/a> feito pela produ\u00e7\u00e3o do filme e disponibilizada no site da emissora PBS).<\/p>\n

De um modo quase did\u00e1tico, primeiro o filme mostra algumas das, digamos, “vantagens sentimentais” do uso do sampling, como a potencializa\u00e7\u00e3o da lembran\u00e7a de m\u00fasicas antigas e dos consequentes momentos em que elas foram escutadas, visto que a vida \u00e9 (sempre foi) permeada de m\u00fasica. Isso tanto valoriza o que passou quanto traz a tona um repert\u00f3rio desconhecido pra pessoas que n\u00e3o viveram a \u00e9poca da m\u00fasica em quest\u00e3o, tornando-se assim um link divulgador de um contexto aplicado em um novo.<\/p>\n

Aparece tamb\u00e9m o “outro lado”, \u00a0aquele que diz que o sampling pode ser considerado um modo “pregui\u00e7oso” de se produzir m\u00fasica – afinal, dizem, \u00e9 muito f\u00e1cil pegar algo que j\u00e1 est\u00e1 bom e por o pr\u00f3prio nome nisso do que compor <\/em>esse trecho. \u00a0Nesse caso, joga-se os holofotes em artistas\u00a0como\u00a0Clyde Stubblefield<\/a>, baterista de James Brown, considerado uma das pessoas mais sampleadas da hist\u00f3ria, mas que nunca ganhou nem mesmo cr\u00e9dito nestes trocentos samplers de sua rica batera funkeada.<\/p>\n

Desta e outras hist\u00f3rias contadas ficam alguns questionamentos: usar determinado trecho de uma m\u00fasica e inser\u00ed-la em outro contexto, transformando do jeito que lhe parecer melhor, seria aprimoramento, progresso, regresso, roubo, cria\u00e7\u00e3o ou o qu\u00ea?<\/p>\n

Questionamentos a parte, \u00e9 claro que tem gente que n\u00e3o gosta que mexam com uma linha de suas m\u00fasicas, especialmente quem as v\u00ea somente como mercadoria que vale X dinheiros no mercado. Vis\u00e3o esta que tamb\u00e9m \u00e9 mostrada no filme, atrav\u00e9s de entrevista com alguns m\u00fasicos e gravadoras que n\u00e3o aprovam quaisquer vers\u00f5es derivadas de \u201csuas\u201d can\u00e7\u00f5es.<\/p>\n

\"copyright<\/a><\/p>\n

Como j\u00e1 falado aqui e sabido de muitos, os samplers s\u00e3o a base musical do hip hop, criado a partir das batidas do funk e da m\u00fasica de raiz negra em geral com o acr\u00e9scimo dos vocais ritmados\/rimados – o tal do\u00a0rap<\/a><\/em>, frequentemente relacionado como sin\u00f4nimo de hip-hop<\/a>, o que n\u00e3o \u00e9 (entre nos links de cada uma das palavras para saber mais sobre suas diferen\u00e7as).<\/p>\n

Como toda essa import\u00e2ncia, o hip-hop \u00e9 bem representado em “Copyright Criminals” com os depoimentos de \u00edcones como Public Enemy, Pete Rock, De La Soul e Prefuse 73. Eles falam principalmente do seu trabalho de mixers<\/em> na recria\u00e7\u00e3o sobre cria\u00e7\u00f5es alheias, e de como que, assim que passaram a chamar aten\u00e7\u00e3o com o dinheiro que geravam, tiveram sua exist\u00eancia notada<\/em> pelos tais detentores dos copyrights das m\u00fasicas, <\/em>uma simp\u00e1tica coincid\u00eancia <\/em>motivada sabe se l\u00e1 porqu\u00ea, n\u00e3o?<\/p>\n

\"Samplers<\/a><\/p>\n

Desse sucesso do rap, \u00a0as \u201cmelodias emprestadas\u201d tornaram-se \u201cinfra\u00e7\u00f5es de copyright\u201d, o que fez surgir complica\u00e7\u00f5es judiciai$ com Djs que se utilizaram de trechos de can\u00e7\u00f5es de outros artistas. N\u00e3o \u00e9 demais dizer que muitos grupos mundialmente famosos se utilizaram de samplers, como os Beatles em Revolution 9<\/a>, e muitos imp\u00e9rios se formaram se aproveitando de outras cria\u00e7\u00f5es, como a Disney<\/a>.<\/p>\n

Injusti\u00e7as a parte, \u00e9 bom lembrar que o sampling virou um meio de subsust\u00eancia pra artistas que vivem puramente disso. N\u00e3o, n\u00e3o s\u00e3o os atuais bar\u00f5e$ do rap. Um exemplo mais expl\u00edcito s\u00e3o os londrinos do Eclectic Method, um trio de VJs que prefere n\u00e3o lan\u00e7ar sua produ\u00e7\u00e3o. Isso porque tudo que eles \u201ccriam\u201d \u00e9 ao vivo, improvisando com imagens e sons de qualquer produ\u00e7\u00e3o audiovisual. H\u00e1 alguns remixes dispon\u00edveis pra download no site oficial<\/a> deles e, nos canais Youtube e no Vimeo, algumas amostras do que \u00e9 gerado no show deles:<\/p>\n

http:\/\/www.youtube.com\/watch?v=OfltaQHf2xs<\/p>\n

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Analisando tudo, em “Copyright Criminals” tamb\u00e9m h\u00e1 os depoimentos de advogados, promotores e professores. Destaque para as falas de Jeff Chang<\/a> – autor de Can\u2019t Stop Won\u2019t Stop: A History of the Hip-Hop Generation<\/a> – e Siva Vaidhynathan<\/a> \u2013 autor de “Copyrights & Copywrongs: The Rise of Intellectual Property and How It Threatens Creativity”, dispon\u00edvel aqui<\/a>.<\/p>\n

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“Copyright Criminals” \u00e9 uma realiza\u00e7\u00e3o de Benjamin Franzen, fot\u00f3grafo e videomaker<\/em> radicado em Atlanta,\u00a0e Kembrew Mcleod<\/a>,\u00a0professor de comunica\u00e7\u00e3o da Universidade de Iowa. Entramos em contato com os dois realizadores atrav\u00e9s do site para saber se eles possu\u00edam um arquivo de legendas. Felizmente fomos atendidos e Mcleod, roteirista e produtor executivo, simpaticamente nos enviou as transcri\u00e7\u00f5es das falas. Ent\u00e3o resolvemos sincronizar as falas em ingl\u00eas<\/a> e traduzir para o portugu\u00eas<\/a>, disponibilizando ambas para download nos links acima.<\/p>\n

Kembrew tamb\u00e9m \u00e9 autor do livro Freedom of Expression\u00ae: Overzealous Copyright Bozos and Other Enemies of Creativity<\/a><\/em> lan\u00e7ado em 2005, e cujo cap\u00edtulo 2 serviu de inspira\u00e7\u00e3o para boa parte do document\u00e1rio, como j\u00e1 tinha alertado o Remixtures<\/a>. A vers\u00e3o pirata de “Copyright Criminals” pode ser baixada em duas partes \u2013 aqui<\/a> e aqui<\/a>. Esperamos que as legendas em ingl\u00eas tamb\u00e9m sirvam para outras tradu\u00e7\u00f5es \u2013 espanhol, franc\u00eas e qualquer outra l\u00edngua que tu queira se botar a traduzir.<\/p>\n

Enquanto faz o download, assista ao trailer do document\u00e1rio aqui abaixo:<\/p>\n