{"id":3623,"date":"2010-09-28T10:03:11","date_gmt":"2010-09-28T10:03:11","guid":{"rendered":"https:\/\/baixacultura.org\/?p=3623"},"modified":"2010-09-28T10:03:11","modified_gmt":"2010-09-28T10:03:11","slug":"revalorizar-o-plagio-na-criacao-1","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/baixacultura.org\/2010\/09\/28\/revalorizar-o-plagio-na-criacao-1\/","title":{"rendered":"Revalorizar o pl\u00e1gio na cria\u00e7\u00e3o (1)"},"content":{"rendered":"

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Como j\u00e1 comentamos no post sobre o detournament <\/a>algum tempo atr\u00e1s, e no coment\u00e1rio sobre as vantagens financeiras do anticopyright<\/a>, o pl\u00e1gio, em sua forma criativa, vem sido pouco falado atualmente, especialmente quando se tem relacionado as mudan\u00e7as na cultura a partir da evolu\u00e7\u00e3o da cultura digital. Esquece-se, propositalmente ou n\u00e3o, do rico cabedal de informa\u00e7\u00f5es que a rede j\u00e1 hoje nos proporciona para a cria\u00e7\u00e3o de algo novo, que potencializa enormemente, e como nunca antes, a cria\u00e7\u00e3o.<\/p>\n

Para tentar discutir estas e outras quest\u00f5es, publicamos hoje uma primeira vers\u00e3o de uma esp\u00e9cie de ensaio sobre o assunto. \u00c9 um texto livremente plagiado de \u201cPl\u00e1gio, hipertextualidade e produ\u00e7\u00e3o cultural eletr\u00f4nica<\/em>\u201d, cap\u00edtulo quatro de “Dist\u00farbio Eletr\u00f4nico<\/strong>” do Critical Art Ensemble<\/strong> (publicado no Brasil pela cole\u00e7\u00e3o Baderna da Editora Conrad<\/a>, em 2001), com trechos recombinados de outros textos, alguns deles destacados ao final da segunda parte como uma esp\u00e9cie de bibliografia, e outros sutilmente citados – t\u00e3o sutis que nem lembramos mais de onde nos surgiu aquela ideia\/palavra\/cita\u00e7\u00e3o.<\/p>\n

Vamos publicar em duas partes, totalmente work in progress<\/em>; qualquer coment\u00e1rio\/coloca\u00e7\u00e3o\/inquieta\u00e7\u00e3o\/cr\u00edtica \u00e9 muito bem-vinda. Depois destas duas partes do ensaio, uma outra edi\u00e7\u00e3o – digamos, revista, ampliada e remisturada<\/em> – ser\u00e1 \u00a0publicada posteriormente em vers\u00e3o impressa.<\/p>\n

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Revalorizar o Pl\u00e1gio na Cria\u00e7\u00e3o<\/strong><\/p>\n

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\u201cPegue suas pr\u00f3prias palavras ou as palavras a serem ditas para serem ‘as pr\u00f3prias palavras’ de qualquer outra pessoa morta ou viva. Voc\u00ea logo ver\u00e1 que as palavras n\u00e3o pertencem a ningu\u00e9m. As palavras tem uma vitalidade pr\u00f3pria. Sup\u00f5em-se que os poetas libertam as palavras \u2013 e n\u00e3o que as acorrentam em frases. Os poetas n\u00e3o t\u00eam \u201csuas pr\u00f3prias palavras\u201d. Os escritores n\u00e3o s\u00e3o os donos de suas palavras. Desde quando as palavras pertencem a algu\u00e9m?\u201dSuas pr\u00f3prias palavras\u201d, ora bolas! E quem \u00e9 voc\u00ea?\u201d<\/em><\/p>\n<\/blockquote>\n

N\u00e3o \u00e9 de hoje que o pl\u00e1gio tem sido considerado um mal no mundo cultural. Normalmente, a palavra \u00e9 usada para designar algo francamente ruim, um \u201croubo\u201d de linguagens, ideias e imagens executado por pessoas pouco talentosas que s\u00f3 querem aumentar sua fortuna ou seu prest\u00edgio pessoal. No entanto, como a maioria das mitologias, o mito do pl\u00e1gio pode ser facilmente invertido. N\u00e3o \u00e9 exagero dizer que as a\u00e7\u00f5es dos plagiadores, em determinadas condi\u00e7\u00f5es sociais, podem ser as que mais contribuem para o enriquecimento cultural.<\/p>\n

Antes do Iluminismo, por exemplo, o pl\u00e1gio era muito utilizado na dissemina\u00e7\u00e3o de ideias. Um poeta ingl\u00eas poderia se apropriar de um soneto do poeta italiano Francesco Petrarca<\/a>, traduzi-lo e dizer que era seu. De acordo com a est\u00e9tica cl\u00e1ssica de arte enquanto imita\u00e7\u00e3o, esta era uma pr\u00e1tica aceit\u00e1vel e at\u00e9 incentivada, pois tinha grande valor na dissemina\u00e7\u00e3o da obra para regi\u00f5es que de outro modo nunca teriam como ter acesso. Obras de escritores ingleses que faziam parte dessa tradi\u00e7\u00e3o – \u00a0Geofrey Chaucer<\/a>, \u00a0Edmund Spenser<\/a>, Laurence Sterne<\/a> e inclusive o todo-poderoso\u00a0Shakespeare<\/a> – ainda s\u00e3o parte vital de uma tradi\u00e7\u00e3o inglesa, e continuam a fazer parte do c\u00e2none liter\u00e1rio at\u00e9 hoje.<\/p>\n

\"\"<\/a>O Afetado Laurence Sterne (17613-168), autor de “A Vida e as Opini\u00f5es do Cavalheiro Tristram Shandy”, par\u00f3dia dos romances ingleses da \u00e9poca<\/em><\/address>\n
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No oriente, a id\u00e9ia do pl\u00e1gio \u00e9 ainda mais disseminada. O pl\u00e1gio \u00e9 parte do processo de aprendizado. Todos come\u00e7am a escrever, calcular, dan\u00e7ar e se socializar por meio da imita\u00e7\u00e3o e da c\u00f3pia. A estrutura social, da mitologia \u00e0 autoajuda, \u00e9 perpetuada pela reprodu\u00e7\u00e3o. Mesmo entre os criativos s\u00e3o raros os m\u00fasicos, escritores ou pintores que n\u00e3o tenham no pl\u00e1gio seu ponto de partida.<\/p>\n

Ao mesmo tempo em que a necessidade de sua utiliza\u00e7\u00e3o aumentou com o passar dos s\u00e9culos, o pl\u00e1gio foi, paradoxalmente, sendo jogado na \u201cclandestinidade\u201d, acusado de ser um crime de m\u00e1 f\u00e9 contra \u00e0 sobreviv\u00eancia dos autores. Passou, ent\u00e3o, a ser camuflado em um novo l\u00e9xico por aqueles desejosos de explorar essa pr\u00e1tica enquanto m\u00e9todo e como uma forma legitimada de discurso cultural.<\/p>\n

\"\"<\/a>Chineses riem com “Fonte”, de Marcel Duchamp, criados dos ready mades<\/address>\n
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Assim \u00e9 que, durante o s\u00e9culo XX, surgem pr\u00e1ticas como o ready-made<\/a><\/em>, colagens, <\/em>intertextos, remix<\/a><\/em>, mashup<\/a><\/em>, machinima<\/a> <\/em>e detournement<\/a><\/em>, <\/em>todas elas representando, em maior ou menor grau, incurs\u00f5es de pl\u00e1gio. Embora cada uma destas pr\u00e1ticas tenha a sua particularidade, todas cruzam uma s\u00e9rie de significados b\u00e1sicos \u00e0 filosofia e \u00e0 atividade de plagiar, pressupondo que nenhuma estrutura dentro de um determinado texto d\u00ea um significado universal e indispens\u00e1vel.<\/p>\n

A filosofia manifestada nestas a\u00e7\u00f5es ainda hoje subversivas \u00e9 a de que nenhuma obra de arte ou de filosofia se esgota em si mesma; todas elas sempre estiveram relacionadas com o sistema de vida vigente da sociedade na qual se tornaram eminentes. A pr\u00e1tica do pl\u00e1gio, nesse sentido, se coloca historicamente contra o privil\u00e9gio de qualquer texto fundado em mitos legitimadores como os cient\u00edficos ou espirituais. O plagiador v\u00ea todos os objetos como iguais, e assim horizontaliza o plano do sua a\u00e7\u00e3o; todos os textos tornam-se potencialmente utiliz\u00e1veis e reutiliz\u00e1veis.<\/p>\n

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O post seguinte est\u00e1 aqui<\/a>.<\/p>\n

Cr\u00e9ditos imagens: 1<\/a>,2<\/a>, 3<\/a>.\u00a0<\/em><\/address>\n

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