{"id":3427,"date":"2010-08-18T10:55:00","date_gmt":"2010-08-18T10:55:00","guid":{"rendered":"https:\/\/baixacultura.org\/?p=3427"},"modified":"2010-08-18T10:55:00","modified_gmt":"2010-08-18T10:55:00","slug":"como-a-tecnologia-esta-tornando-a-censura-irrelevante","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/baixacultura.org\/2010\/08\/18\/como-a-tecnologia-esta-tornando-a-censura-irrelevante\/","title":{"rendered":"Como a tecnologia est\u00e1 tornando a censura irrelevante"},"content":{"rendered":"

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No domingo de 1\u00ba de agosto, a revista Wired<\/a> publicou um texto de Peter Kirwan<\/a> sobre a censura em pa\u00edses dominados por regimes totalit\u00e1rios e a sua rela\u00e7\u00e3o com a tecnologia e a internet que merece alguns coment\u00e1rios por aqui.<\/p>\n

Com o nome “From Samizdat to Twitter: How Technology Is Making Censorship Irrelevant<\/a><\/em>“, o artigo faz refer\u00eancia a um caso espec\u00edfico de censura que houve na antiga Uni\u00e3o Sovi\u00e9tica para ilustrar como hoje a web e a tecnologia por detr\u00e1s dela pode ajudar a censura a se tornar cada vez mais irrelevante.<\/p>\n

A argumenta\u00e7\u00e3o central do texto \u00e9 mais ou menos a seguinte: como tem crescido o n\u00famero de blogs e o uso de redes sociais em todo o planeta<\/strong> –\u00a0 e o texto apresenta dados que mostram crescimento ainda maior em pa\u00edses dominados por regimes totalit\u00e1rios, como os do mundo \u00c1rabe –\u00a0 quais as consequ\u00eancias que a liberdade de express\u00e3o inerente \u00e0 web pode trazer\u00a0 \u00e0 pol\u00edtica e a sociedade de pa\u00edses onde h\u00e1 censura<\/strong>?<\/p>\n

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“El poder milagroso de la plata”<\/p><\/div>\n

Uma gama ampla de quest\u00f5es s\u00e3o levantadas (e ilustradas) a partir dessa principal. Por exemplo: mais pro fim do texto, Kirwan traz um caso que ocorreu em Dubai (foto acima<\/em>), o famoso para\u00edso consumista que sobrevive a custa de um regime feudal de trabalho, que faz com que 4 de cada 5 pessoas do lugar sejam imigrantes chamados a trabalhar em condi\u00e7\u00f5es “abaixo do humano”, segundo diversas entidades de Direitos Humanos.<\/p>\n

Em Dubai, como se pode imaginar, informa\u00e7\u00f5es como a que eu acabei de trazer acima n\u00e3o podem ser livremente divulgadas. Jornais, televis\u00f5es e r\u00e1dios s\u00e3o impedidos de trazer informa\u00e7\u00e3o que atente contra a moral e os bons costumes dos que comandam o pequeno emirado com pouco mais de 1,5 milh\u00f5es de habitantes.<\/p>\n

Na web, o governo bloqueia o acesso a todo site que traz conte\u00fado “incompat\u00edvel” com estes valores. Na pr\u00e1tica, isso quer dizer que tu encontrar\u00e1 dificuldades para entrar em sites que tratem de sexo, namoro, jogos, religi\u00e3o, \u00e1lcool, medicamentos e inclusive aplicativos que usam a tecnologia VolP<\/a> (Voz sobre IP), como o Skype.<\/p>\n

Mas, como se sabe, encontrar dificuldades<\/em> na web n\u00e3o significa que tu n\u00e3o poder\u00e1, com um bom conhecimento do assunto, entrar<\/em> nestes sites teoricamente proibidos, ou, ainda, achar alternativas criativas de conte\u00fado \u00a0\u00e0quilo de que \u00e9 expressamente proibido. E a\u00ed que come\u00e7am os problemas da censura \u00e0 web que o caso citado no texto da Wired (e no pr\u00f3ximo par\u00e1grafo daqui) ilustra um poquito.<\/p>\n

James Piecowye, um professor canadense que d\u00e1 aula numa universidade do Emirado e comanda um talk show em uma r\u00e1dio em Dubai, estava falando no ar sobre “algo que n\u00e3o poderia ser falado”<\/a>. Ele n\u00e3o dava informa\u00e7\u00f5es precisas sobre o tal assunto porque ia contra as leis de Dubai, mas eis que ele recebe uma mensagem no celular de um ouvinte que diz: “N\u00f3s sabemos o que voc\u00ea est\u00e1 tentando falar, ent\u00e3o porque voc\u00ea n\u00e3o simplesmente FALA disso?”.<\/p>\n

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“Um Dois Feij\u00e3o com Arroz Tr\u00eas Quatro Feij\u00e3o no Prato”<\/p><\/div>\n

Uma outra situa\u00e7\u00e3o colocada d\u00e1 mostra do poder da tecnologia “dissidente” e envolve algo que conhecemos bem: a rapidez da resposta que uma a\u00e7\u00e3o repressora provoca. O texto cita um caso do governo chin\u00eas, que baniu 2,3 mil soldados<\/a> do People’s Liberation Army<\/a> do pa\u00eds no \u00faltimo 15 de junho, pelo absurdo e inafian\u00e7\u00e1vel crime de “blogar”.<\/p>\n

Em resposta, dez dias depois um grupo ligado a ONG Rep\u00f3rteres Sem Fronteiras montou uma rede privada virtual<\/a> concebida para jornalistas, blogueiros e dissidentes que desejarem, justamente, blogar sem correr o risco de serem interceptados e banidos do pa\u00eds por isso.<\/p>\n

Tu que entende um pouco de criptografia e assuntos correlatos sabe bem que \u00e9 perfeitamente poss\u00edvel publicar na web sem ter o risco de ser identificado – n\u00f3s mesmos j\u00e1 mostramos alguns truques que facilitam a navega\u00e7\u00e3o an\u00f4nima na segunda parte desse post<\/a>. \u00a0Pode ser at\u00e9 dif\u00edcil e exaustivo, mas \u00e9 poss\u00edvel.<\/p>\n

No texto da Wired, essa rapidez no contra-ataque \u00e0 a\u00e7\u00f5es de repress\u00e3o governamental \u00e9 justificada por uma fala do conhecido te\u00f3rico Clay Shirky<\/a>: o poder tende a tornar os governantes “certos do que ir\u00e1 acontecer na etapa seguinte<\/em>“. Como resultado dessa soberba, explica Shirky, o governo “tenta menos coisas<\/em>” que os dissidentes, que acabam se preparando muito mais para situa\u00e7\u00f5es adversas.<\/p>\n

O que acontece ent\u00e3o \u00e9 que quando o governo resolve agir, proibir o acesso a um tipo de p\u00e1gina como em Dubai ou banir pessoas pelo simples fato de terem blogs como na China, os “dissidentes” j\u00e1 est\u00e3o com um contra-ataque planejad\u00edssimo, assim como t\u00eam uma segunda, terceira e at\u00e9 uma quarta carta na manga para caso de uma delas n\u00e3o funcionar.<\/p>\n

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A quest\u00e3o amea\u00e7adora que se coloca \u00e9:\u00a0\u00a0 se o “outro lado”, a censura, estiver mais r\u00e1pida no gatilho que os tais “dissidentes”?<\/strong> Ser\u00e1 que eles v\u00e3o conseguir proibir MESMO a a\u00e7\u00e3o na web de quem quer ter sua liberdade de express\u00e3o exercida? Ampliando um pouco mais o espectro para o neg\u00f3cio do copyright: os bar\u00f5es de Hollywood e das grandes gravadoras v\u00e3o conseguir um dia dobrar a internet e impossibilitar o livre compartilhamento de arquivos na rede?<\/p>\n

N\u00f3s apostamos que n\u00e3o. As tentativas para censurar a rede est\u00e3o a\u00ed, na frustrada Lei Azeredo <\/a> e nas a\u00e7\u00f5es de magistrados e organiza\u00e7\u00f5es “ca\u00e7a-piratas”<\/a> como a APCM no Brasil, na decis\u00e3o contr\u00e1ria<\/a> ao Pirate Bay na Su\u00e9cia, no deliranteHadopi franc\u00eas<\/a>, na velada a\u00e7\u00e3o contra o dom\u00ednio p\u00fablico dos EUA proposta pela Disney<\/a>, dentre outros famigerados acontecimentos mundo afora.<\/p>\n

Elas tem funcionado? Talvez s\u00f3 para incomodar um pouco e dificultar o download de arquivos protegidos por copyright para o usu\u00e1rio com menos conhecimento dos mecanismos de funcionamento da web – aquele que n\u00e3o sabe (ou tem pregui\u00e7a) de ir atr\u00e1s de um disco que antes era facilmente encontrado na comunidade Discografias do Orkut<\/a>, por exemplo.<\/p>\n

[Ta\u00ed: quem sabe vamos ensinar \u00e0 todos como baixar e disponibilizar arquivos na rede em salutares “cursos de download gr\u00e1tis<\/strong>” para a popula\u00e7\u00e3o de todos os cantos do planeta? Imagine, “Oficina de Download”, t\u00f3pico I Como Achar M\u00fasica Na Rede<\/strong>, t\u00f3pico II<\/em>, Como Burlar o RapidShare e Baixar Mais de Um Arquivo Simultaneamente<\/strong>, t\u00f3pico III, Como Criar Um Espa\u00e7o Pr\u00f3prio de Mais de Um Terabyte de Armazenamento de Arquivos<\/strong>, e assim por diante?<\/em>]<\/p>\n

Mais um bom motivo para “aprendermos a baixar”: n\u00e3o permitir que leis draconianas nos pro\u00edbam de compartilhar<\/strong>, ou, em maior escala, n\u00e3o deixar que o freio legal trave o desenvolvimento tecnol\u00f3gico. Porque, como certa vez disseram, se algo est\u00e1 morrendo – seja um sistema econ\u00f4mico, um modelo de neg\u00f3cio ou mesmo uma banda de rock setentista – que morra. Saudemos o que vir\u00e1 para substituir (ou ampliar, ou nada disso) o que acaba de morrer.<\/p>\n

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Cr\u00e9ditos fotos: \u00a0Dubai<\/a>, China<\/a>,<\/address>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

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