{"id":3244,"date":"2010-07-15T11:59:11","date_gmt":"2010-07-15T11:59:11","guid":{"rendered":"https:\/\/baixacultura.org\/?p=3244"},"modified":"2010-07-15T11:59:11","modified_gmt":"2010-07-15T11:59:11","slug":"os-encartes-da-apanhador-so","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/baixacultura.org\/2010\/07\/15\/os-encartes-da-apanhador-so\/","title":{"rendered":"Os encartes da Apanhador S\u00f3"},"content":{"rendered":"

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Os cinco pneus da bicicleta da banda ga\u00facha Apanhador S\u00f3 t\u00eam rodado muito mais pelo Brasil desde o lan\u00e7amento do primeiro cd. O quarteto liberou as 13 m\u00fasicas em seu site oficial<\/a> no dia 11 de abril – dez dias antes de fazerem um show de gra\u00e7a no Teatro Renascen\u00e7a, em Porto Alegre. Atualmente eles est\u00e3o em S\u00e3o Paulo, mas um dos lugares por onde passaram foi Santa Maria, no bar Macondo Lugar em 26 de junho.<\/p>\n

\"\"<\/a>At\u00e9 ent\u00e3o n\u00e3o t\u00ednhamos nos surpreendido com a atitude deles de disponibilizar gratuitamente a produ\u00e7\u00e3o – que j\u00e1 rendeu mais de 7 mil downloads feitos. O que nos chamou aten\u00e7\u00e3o – al\u00e9m da apresenta\u00e7\u00e3o tranquila das belas faixas do disco, boa parte delas acompanhadas pelo coro que era entoado no recheado espa\u00e7o – foi o acabamento dado ao suporte f\u00edsico das 13 m\u00fasicas. Mais precisamente o encarte do cd.<\/p>\n

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Ao custo de 15 reais, 15 cart\u00f5es (ou cards), no lugar de um esperado encarte de abrir, v\u00eam junto ao disco dentro da caixa de papel\u00e3o envelopada por uma capa mais fina. Em cada quadrado, as letras das can\u00e7\u00f5es est\u00e3o ali – escritas \u00e0 m\u00e3o pelos integrantes – mas do outro lado h\u00e1 ilustra\u00e7\u00f5es que auxiliam na assimila\u00e7\u00e3o das composi\u00e7\u00f5es. Agrupados, formam um bonito mural, sem uma interpreta\u00e7\u00e3o definida, mas cuja gra\u00e7a reside nessa subjetividade, nessa indefini\u00e7\u00e3o. Afinal seria um tanto sem gra\u00e7a ter um \u00fanico significado, principalmente por se tratar de m\u00fasica e poesia.<\/p>\n

\"\"<\/a>Tal iniciativa de se fazer um acabamento gr\u00e1fico maior sobre o disco \u00e9 um bom exemplo para as gravadoras e para a industria cultural como um todo. Com a inevit\u00e1vel dissemina\u00e7\u00e3o digital do conte\u00fado, \u00e9 preciso criar maneiras de justificar a exist\u00eancia do produto material. Poucas pessoas, no m\u00e1ximo os f\u00e3s doentes, querem comprar um produto, no caso um cd, e receber uma caixinha de pl\u00e1stico com fotinhos e\/ou as letras. Para vender e despertar a curiosidade de muitas pessoas, \u00e9 preciso usar a criatividade e pensar em novas, e baratas, formas de valorizar uma cria\u00e7\u00e3o art\u00edstica. E isso pode ser realizado investindo no aspecto visual. Transpondo o exemplo para outros suportes pode se citar livros com capas mais trabalhadas, como essas edi\u00e7\u00f5es dos livros de J\u00falio Verne<\/a>; filmes que venham com um livreto sobre a produ\u00e7\u00e3o, como a cole\u00e7\u00e3o de dvds da cinemateca Veja<\/a>. Nos discos, podem ser criados adesivos, im\u00e3s, p\u00f4steres, papercrafts, jogos de carta, de tabuleiro, enfim, n alternativas atrativas. O blog Encarte<\/a>, infelizmente desatualizado, mostra outros \u00f3timos exemplos. Isso ainda traz de volta a reclamada intera\u00e7\u00e3o da m\u00fasica com a arte do disco, que antigamente era de vinil e de maior tamanho. O caso da Apanhador S\u00f3 mostra o quanto o cen\u00e1rio independente tem se movimentado e buscado outras maneiras de lucrar com seu trabalho, dando uma li\u00e7\u00e3o em muita gente que fica chorando preju\u00edzos.<\/p>\n

\"\"<\/a>Os desenhos dos cart\u00f5es [alguns est\u00e3o espalhados no post] foram feitos pelo ilustrador Fabiano Gummo<\/a> e o projeto gr\u00e1fico foi de Rafael Rocha, diretor de arte da revista Noize<\/a>. Rafael que decidimos entrevistar por e-mail para saber como foi a concep\u00e7\u00e3o do encarte diferenciado – e fomos gentilmente atendidos. Na conversa abaixo ele conta sobre o planejamento e de sua vis\u00e3o sobre o ato de se investir mais no meio material como forma de fazer valer a venda da m\u00fasica. Ele \u00e9 baixista de uma banda recente, a Wannabe Jalva<\/a>, que possui tr\u00eas m\u00fasicas gravadas e tamb\u00e9m liberadas pra baixar<\/a>.<\/p>\n

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De onde partiu a ideia de fazer o encarte com cart\u00f5es, de ti, do ilustrador ou da banda?<\/strong><\/p>\n

Rafael Rocha: A Ideia partiu de mim mesmo, a partir de v\u00e1rias reuni\u00f5es com o Alexandre (vocalista da banda), algumas junto com o Gummo (ilustrador), e de v\u00e1rios processos de estudo e brain solit\u00e1rio em cima do projeto. Essa id\u00e9ia surgiu da viagem que eu tinha ao escutar o som da Apanhador, que tem muitas linguagens, e diferentes estilos unidos atrav\u00e9s do som caracter\u00edstico que a banda faz. Ent\u00e3o, a ideia dos cart\u00f5es foi algo que representasse cada m\u00fasica como uma arte separada, e a uni\u00e3o de todas, compusesse uma obra final. Justamente como \u00e9 o disco.<\/p>\n

Tinha a inten\u00e7\u00e3o de agregar um valor a mais para a musica, para que realmente valesse o suporte f\u00edsico?<\/strong>
\nCom certeza, a id\u00e9ia, desde o come\u00e7o, era fazer algo rebuscado e que tamb\u00e9m agregasse valor ao disco em si. E tamb\u00e9m considerei desde o come\u00e7o, que a Apanhador, pelo seu primeiro EP “Embrulho para levar”, j\u00e1 tinha projetos gr\u00e1ficos muito bacanas e rebuscados, ent\u00e3o, dar continuidade a isto era algo natural.<\/p>\n

Como foi a composi\u00e7\u00e3o dos desenhos, eles tem algum esquema para fazer sentido?<\/strong>
\nA composi\u00e7\u00e3o dos desenhos, inicialmente, era para fazer uma hist\u00f3ria, ou algum sentido concreto e de f\u00e1cil assimila\u00e7\u00e3o. Por\u00e9m, deixei totalmente nas m\u00e3os do Gummo para ele criar e pirar em como ele quisesse chegar a este resultado. O resultado foi algo muito interessante, bem na linha de como \u00e9 o seu trabalho, com um tra\u00e7o bem caracter\u00edstico, com algumas refer\u00eancias que se repetem ao longo das cards e criam uma liga\u00e7\u00e3o muito bacana. E o mais interessante \u00e9 a forma que eles devem ser apreciados, um a um, a partir da composi\u00e7\u00e3o inicial das letras das m\u00fasicas e do desenho da bicicleta.<\/p>\n

Quais as influ\u00eancias do trabalho? Conhece algum outro cd que tenha o encarte diferenciado?<\/strong>
\nAs influ\u00eancias vem de todo o lugar. Meu trabalho de Dire\u00e7\u00e3o de Arte e Design tem uma rela\u00e7\u00e3o bem org\u00e2nica, de unir elementos feitos \u00e0 m\u00e3o com a utiliza\u00e7\u00e3o do computador e a fotografia, acho a uni\u00e3o destas est\u00e9ticas muito interessante.
\nEu sempre, desde pi\u00e1, tinha um sonho de trabalhar pro resto da vida com encarte de discos. Minha vida se move a m\u00fasica. Na NOIZE, na Wannabe Jalva (revista em que trabalho e minha banda)… Infelizmente, os discos fis\u00edcos s\u00e3o cada vez mais raros. Por\u00e9m, vivemos um momento de transi\u00e7\u00e3o e acredito em futuro muito positivo para o mercado musical, relacionado as artes gr\u00e1ficas.
\nDe outros projetos que eu gosto posso citar alguns discos do Of Montreal, White Stripes, Pearl Jam, os discos em vinil do Caetano, entre outros. Nos \u00fatlimos 3 anos apenas comprei discos pelo projeto gr\u00e1fico. Sou completamente maluco por isso.<\/p>\n

Aceitaria novos trabalhos semelhantes? Acha que esse design de discos e encarte, essa imbrica\u00e7\u00e3o entre arte e m\u00fasica, \u00e9 uma \u00e1rea, um servi\u00e7o, que ser\u00e1 mais procurada tanto pelas bandas independentes quanto pelas gravadoras?<\/strong>
\nAceitaria de FATO! Acho que agora a fuga, para se querer vender discos de fato, \u00e9 investir no projeto gr\u00e1fico, entregar algo a mais. Mas, vejo o futuro virando para a produ\u00e7\u00e3o de vinil ao inv\u00e9s de CDs, e com artes cada vez mais impactantes e rebuscadas. As gravadoras tem que absorver o “low cost” no meio virtual e investir mais nos discos f\u00edsicos como um material que o f\u00e3 que tem esse desejo tang\u00edvel queria MESMO ter. Eu gostaria muito que isso acontecesse. Para isso, precisamos de uma uni\u00e3o de pensamentos entre gravadoras\/selos, designers e principalmente do p\u00fablico, que tem que consumir este material.<\/p>\n<\/blockquote>\n

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[Marcelo De Franceschi]<\/em><\/p>\n

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