{"id":2878,"date":"2010-04-05T13:00:11","date_gmt":"2010-04-05T13:00:11","guid":{"rendered":"https:\/\/baixacultura.org\/?p=2878"},"modified":"2010-04-05T13:00:11","modified_gmt":"2010-04-05T13:00:11","slug":"insights-musicais-1","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/baixacultura.org\/2010\/04\/05\/insights-musicais-1\/","title":{"rendered":"Notas sobre o futuro da m\u00fasica (1): Romulo Fro\u00e9s e a m\u00fasica brasileira de hoje"},"content":{"rendered":"
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O feriad\u00e3o de p\u00e1scoa me trouxe muitas d\u00favidas, discuss\u00f5es e leituras sobre a Ind\u00fastria Musical de hoje, incluso as potencialidades e os limites da cena brasileira\/paulista\/independente. Antes que eu (ou voc\u00eas) falem “mas o que isso tem a ver com o BaixaCultura?”, eu vos digo o que todo mundo sabe: todas estas d\u00favidas s\u00e3o decorrentes da tal “revolu\u00e7\u00e3o” digital que falamos aqui desde setembro de 2008, data de cria\u00e7\u00e3o deste espa\u00e7o.<\/p>\n [A palavra “revolu\u00e7\u00e3o”, ainda que colocada entre aspas, n\u00e3o precisaria estar desse modo, porque, afinal de contas, a wikip\u00e9dia me diz que revolu\u00e7\u00e3o<\/a> –\u00a0do\u00a0latim revolutio<\/em>, “uma volta” – \u00e9 uma fundamental transforma\u00e7\u00e3o social no poder ou nas estruturas organizacionais que t\u00eam lugar em um per\u00edodo relativamente curto de tempo, <\/em>o que se aplica perfeitamente no caso da cultura, especialmente na m\u00fasica, n\u00e3o?]<\/p>\n O grande catalisador de insights, e pr\u00e9-insights-que-ainda-precisam-de-tempo-para-fixar, foi essa entrevista com R\u00f4mulo Fro\u00e9s<\/a>, publicado em 1\u00ba de abril no Scream & Yell<\/a>, dos melhores s\u00edtios de jornalismo cultural no Brasil desde 2000 (!), ano de sua cria\u00e7\u00e3o. R\u00f4mulo<\/a>, o que canta na foto que abre este post,\u00a0\u00e9 m\u00fasico, cantor e compositor com tr\u00eas discos no curr\u00edculo (“Calado”, de 2004, “C\u00e3o”, de 2006, e o duplo “No ch\u00e3o sem o ch\u00e3o”, lan\u00e7ado ano passado) e\u00a0uma das cabe\u00e7as pensantes mais interessantes da nova safra musical brasileira.<\/p>\n \u00c9 dif\u00edcil resumir a entrevista, ou fazer um “the best of” com os melhores momentos, ou ainda um lide (no jarg\u00e3o jornal\u00edstico, o primeiro par\u00e1grafo da not\u00edcia, que traz as informa\u00e7\u00f5es b\u00e1sicas ao responder as perguntas “O qu\u00ea?”, “Quem?”, “Quando?”, “Onde?”, “Como?”, e “Por qu\u00ea?”).\u00a0S\u00e3o muitas quest\u00f5es relacionadas, abordagens distintas , assuntos tratados em mais de cinco horas de entrevista relatadas em muitos milhares de caracteres. Basta dizer, por hora, que R\u00f4mulo faz um diagn\u00f3stico com rara lucidez do estado da arte<\/em> da cena musical brasileira, e de como a “revolu\u00e7\u00e3o” digital tem papel fundamental nessa hist\u00f3ria.<\/p>\n Um exemplo do que estou falando est\u00e1 nesse trecho:<\/p>\n A gente tem um mercado falido. A Tropic\u00e1lia surgiu no final dos anos 60, com militares no poder, mas eles ainda conseguiram aparecer no mercado, conseguiram chamar a aten\u00e7\u00e3o. \u00c9 que hoje existe uma oferta muito grande de coisas. Antigamente voc\u00ea tinha um disco do Caetano e s\u00f3 ia pintar um disco da Gal, do Chico, meses depois. Ent\u00e3o voc\u00ea ficava um bom tempo em cima daquele disco do Caetano. Agora a gente tem o seu disco e na semana seguinte sai o da Lulina\u2026<\/strong><\/p>\n (…) Acho que a gente pertence a uma gera\u00e7\u00e3o que tem uma percep\u00e7\u00e3o diferente. E tem que parar com isso. Eu cada vez me ponho mais o desafio: posso ser esse cara pra sempre, do meu tamanho, que gravo meus disquinhos, vendo mil c\u00f3pias e \u00e9 isso, acabou. Talvez n\u00e3o exista mais o fen\u00f4meno Caetano Veloso, Gilberto Gil, os caras que fizeram m\u00fasica de inven\u00e7\u00e3o e ainda assim tiveram apelo popular no Brasil inteiro. Talvez n\u00e3o tenha mais. Estou cada vez mais me for\u00e7ando a isso: voc\u00ea grava teu disco, tem uma turma que ouve, um povo te chama pra fazer entrevista, que gosta de voc\u00ea e \u00e9 isso, acabou. Talvez a sua tia nunca v\u00e1 saber que voc\u00ea grava disco. Tem um monte de parente meu que n\u00e3o sabe que eu gravo.<\/p>\n \n<\/blockquote>\n *<\/p>\n Se encaixarmos a fala de R\u00f4mulo com a de Gil ao final dessa postagem<\/a>, temos uma opini\u00e3o in process.<\/em> Vejamos Gil:<\/p>\n \u201cO problema \u00e9 que voc\u00eas querem que apare\u00e7a outro modelo \u00fanico, que n\u00e3o vai exigir esfor\u00e7o algum e te traga o sono de volta. A digitaliza\u00e7\u00e3o n\u00e3o exige que toda obra de arte seja de gra\u00e7a, mas que um modelo pr\u00f3prio de comercializa\u00e7\u00e3o seja criado para cada necessidade. A tend\u00eancia atual \u00e9 que pensemos n\u00e3o na propriedade, mas no comum, no compartilhado\u201d.<\/em><\/p>\n Para n\u00e3o descontextualizar: Gil respondia a uma banda de Santos, que achava muito bonito essa hist\u00f3ria de cultura livre, creative commons, etc, mas queria saber mesmo \u00e9 de ganhar dinheiro. A ideia de ganhar dinheiro com m\u00fasica obviamente que n\u00e3o deve ser descartada, mas relativizada, porque rios de d\u00f3lares para comprar iates de ouro e criar lago particulares dentro de sua pr\u00f3pria casa estavam diretamente relacionadas \u00e0 enorme quantidade de pessoas que consumiriam \u00e0 sua arte, algo que hoje n\u00e3o mais pode acontecer.<\/p>\n Dito de outra forma, a quantidade astron\u00f4mica de lucro dos artistas (mas principalmente das gravadoras) estava relacionada \u00e0 cultura de massa da qual a m\u00fasica se inseria – e ainda se insere. Mas hoje nem toda m\u00fasica est\u00e1 nessa l\u00f3gica de consumo massivo, e me arrisco a dizer que teremos cada vez menos m\u00fasica entrando nesse esquema, o que fatalmente far\u00e1 com que excentricidades do mais alto luxo como as citadas sejam casos de museu – e de dinossauros que tem saudade dessa \u00e9poca, n\u00e3o por acaso aqueles que mais s\u00e3o contr\u00e1rios a qualquer coisa que diga respeito ao livre compartilhamento de arquivos.<\/p>\n O fato de existir a possibilidade de n\u00e3o haver mais luxos para os m\u00fasicos n\u00e3o tem nada a ver com n\u00e3o ter mais dinheiro para os mesmos. \u00c9 claro que tem, s\u00f3 que de outras formas, de acordo com a m\u00fasica e as possibilidades de cada um. Alguns tem a ideia de que um sal\u00e1rio digno, uma conquista n\u00e3o s\u00f3 dos m\u00fasicos mas de toda uma classe trabalhadora atrav\u00e9s da hist\u00f3ria, venha a ser abolido por completo em nome do interc\u00e2mbio cultural e da “panac\u00e9ia” do gr\u00e1tis. Ora, o sal\u00e1rio digno continuar\u00e1 existindo – a menos que tu considere milh\u00f5es de d\u00f3lares na conta e doze Ferraris Maranello na garagem como o \u00fanico soldo digno para sua “arte”.<\/p>\n **<\/p>\n Como um exerc\u00edcio de pensamento, imaginemos hoje que o s\u00e9culo XX nunca tivesse existido – recordemos que antes do nascimento da ind\u00fastria fonogr\u00e1fica os m\u00fasicos costumavam ganhar a vida tocando de cidade em cidade. Tentemos explicar a alguma esp\u00e9cie de alien\u00edgena o que \u00e9 essa tal de m\u00fasica. Poder\u00edamos dizer que existem pessoas que gravam em casa (se poss\u00edvel, em um est\u00fadio profissional) can\u00e7\u00f5es que tentam enriquecer a sua exist\u00eancia e a do pr\u00f3ximo – ou que gravam para fazer as pessoas dan\u00e7arem, o que de outro modo tamb\u00e9m pode se encaixar no “enriquecer” a exist\u00eancia. Que assim que terminam, colocam na internet para que escute quem queira. Que as pessoas podem escutar estas can\u00e7\u00f5es de gr\u00e1tis a partir de um computador com acesso \u00e0 internet. Que se estas mesmas pessoas gostarem muito do que ouviram podem obter estas can\u00e7\u00f5es em alguns estabelecimentos restritos e raros, conhecido como lojas. Que, se o grupo ou artista que a criou vai atuar na tua cidade, tu poder\u00e1, normalmente mediante pago, ir ao show, escut\u00e1-la novamente agora ao vivo e com mais algumas quantas pessoas. E que, por fim, se tu gostar ainda mais depois de ter assistido ao show, pode comprar um ou mais objetos em que aquela “m\u00fasica” – ou qualquer coisa relacionada \u00e0 imagem de quem a criou –\u00a0esteja presente, obtendo assim um grau elevado de vincula\u00e7\u00e3o com aquele que, l\u00e1 no in\u00edcio, “enriqueceu” a sua simpl\u00f3ria exist\u00eancia.<\/p>\n Te parece muito mal tudo isso?<\/p>\n .<\/p>\n [Leonardo Foletto.]<\/em><\/p>\n P.s<\/em><\/strong>: Os insights surgidos da entrevista, ainda em a\u00e7\u00e3o, v\u00e3o proporcionar outras postagens. O \u00faltimo par\u00e1grafo desse post \u00e9 uma livre-adapta\u00e7\u00e3o de um texto publicado na revista espanhola Rock Delux<\/a>, edi\u00e7\u00e3o especial 2000-2009 publicada em novembro de 2009, chamado “La industria musical espa\u00f1ola diez a\u00f1os despu\u00e9s del tsunami”, que, de t\u00e3o boa contextualiza\u00e7\u00e3o que faz, ser\u00e1 em breve traduzido e remixado por aqui.<\/em><\/p>\nCr\u00e9ditos imagens: 1<\/a>, 2<\/a>, 3<\/a>.<\/address>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":" . O feriad\u00e3o de p\u00e1scoa me trouxe muitas d\u00favidas, discuss\u00f5es e leituras sobre a Ind\u00fastria Musical de hoje, incluso as potencialidades e os limites da cena brasileira\/paulista\/independente. 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\nEra a TV come\u00e7ando a rolar, n\u00e9. A internet \u00e9 o quarto momento disso. Primeiro teve a ind\u00fastria fonogr\u00e1fica, que come\u00e7ou a gravar disco.\u00a0Depois o r\u00e1dio, a TV e agora a internet.(…) A internet, de certa forma, fodeu uma galera tamb\u00e9m. O povo da MPB que fica chorando por causa da pirataria, falando que n\u00e3o vende disco, tipo o Fagner reclamando na TV. O Fagner se fodeu, em certo sentido. A Biscoito Fino [Gravadora<\/a> com diversos artistas da MPB em eu cat\u00e1logo, respons\u00e1vel pela notifica\u00e7\u00e3o e consequente ame\u00e7a de processo \u00e0 diversos blogs que disponibilizavam discos desses artistas para download<\/em>] fica reclamando\u2026\u00a0 uma banqueira. E tem a minha turma, que s\u00f3 existe por causa da internet. S\u00f3 que talvez seja a gera\u00e7\u00e3o mais dif\u00edcil de assentar e se mostrar justamente porque o neg\u00f3cio ficou muito amplo. \u00c9 muita gente fazendo no mundo inteiro a toda hora. Est\u00e1 cada vez mais dif\u00edcil de formar o neg\u00f3cio.<\/p>\n<\/a><\/p>\n
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