{"id":2724,"date":"2010-03-05T15:32:55","date_gmt":"2010-03-05T15:32:55","guid":{"rendered":"https:\/\/baixacultura.org\/?p=2724"},"modified":"2010-03-05T15:32:55","modified_gmt":"2010-03-05T15:32:55","slug":"as-confusoes-de-uma-industria-da-pesada-parte-2","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/baixacultura.org\/2010\/03\/05\/as-confusoes-de-uma-industria-da-pesada-parte-2\/","title":{"rendered":"As confus\u00f5es de uma ind\u00fastria da pesada – parte 2"},"content":{"rendered":"

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Quase um ano atr\u00e1s, Edson publicou aqui um texto<\/a> que tratava das confus\u00f5es de uma certa “Ind\u00fastria da Pesada”, um eufemismo utilizado por ele para falar das arbitrariedades do lado engravatado da for\u00e7a – MPAA, RIAA, \u00a0representantes dos est\u00fadios de Hollywood e grandes gravadores musicais dos Estados Unidos, e a brasileir\u00edssima APCM (Associa\u00e7\u00e3o Antipirataria de Cinema e M\u00fasica), uma entidade dirigida por um ex-policial federal que simplesmente tem \u201csaudade de prender<\/a>\u201d, respons\u00e1vel pelo patrulhamento da comunidade Discografias, do Orkut, e de blogs musicais como Som Barato<\/a> e Um Que Tenha<\/a> (que, felizmente, sobreviveram aos ataques policialescos e continuam \u00a0viva\u00e7os, basta entrar nos links de cada uma para perceber).<\/p>\n

Se tu acompanha o notici\u00e1rio sobre o assunto j\u00e1 deve de ter visto que a “Ind\u00fastria da Pesada” continua na ativa. Talvez com ainda mais gana de patrulhar o compartilhamento livre do que antes, porque o desespero de quem est\u00e1 perdendo a guerra, nestes casos, faz com que ainda mais arbitrariedades e lobbys <\/em>econ\u00f4micos\u00a0– disfar\u00e7ados de conselhos – sejam perpetuados mundo afora. A sensa\u00e7\u00e3o de incredulidade com tais iniciativas ganha n\u00edveis alt\u00edssimos quando se depara com textos como esse<\/a>, do blog de tecnologia do di\u00e1rio brit\u00e2nico The Guardian, escrito por Bobbie Johnson<\/a>. O t\u00edtulo j\u00e1 d\u00e1 uma amostra do que se trata – When using open source makes you an enemy of state<\/strong>, quando usar c\u00f3digo aberto torna voc\u00ea inimigo do Estado – <\/em>mas vamos seguir comentado algumas coisas do texto.<\/p>\n

O post trata de comentar uma iniciativa descarada de desacreditar e desaconselhar o uso de software livre no planeta, capitaneada pela\u00a0International Intellectual Property Alliance<\/a> , um “guarda-chuva” que engloba organiza\u00e7\u00f5es como MPAA e RIAA. Eles resolveram aconselhar o\u00a0US Trade Representative<\/a>, escrit\u00f3rio que administra o com\u00e9rcio no e com os Estados Unidos, para que fiquem de olho em pa\u00edses como Indon\u00e9sia, Brasil e \u00cdndia, por conta do uso do software livre. A ideia \u00e9 \u00a0coloc\u00e1-los na Special 301 watchlist<\/a><\/em>, uma suposta “lista negra” que cont\u00e9m pa\u00edses que s\u00e3o uma “amea\u00e7a” \u00e0 propriedade intelectual [como \u00e9 dito no post, \u00e9 uma lista velada de pa\u00edses que os EUA consideram absurdamente como “inimigos do capitalismo”].<\/p>\n

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post do The Guardian<\/p><\/div>\n

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Brasil e \u00cdndia s\u00e3o refer\u00eancias mundiais em uso do software livre, a come\u00e7ar pelos pr\u00f3prios programas e p\u00e1ginas ligadas ao governo de ambos os pa\u00edses. J\u00e1 a Indon\u00e9sia, a outra citada pela IIPA, entrou para o time por conta de uma circular que sugere para final de 2011 – veja bem, 2011, nada foi feito ainda – o uso de software livre em todas as ag\u00eancias governamentais, como uma forma de, principalmente, cortar gastos e melhorar o funcionamento dos sistemas. Por conta dessa sugest\u00e3o<\/em> do governo da Indon\u00e9sia, dada no final do ano passado, a “alian\u00e7a internacional para a propriedade intelectual” colocou em seu relat\u00f3rio que o pa\u00eds “encoraja o enfraquecimento da ind\u00fastria do software<\/em>“, assim como “falha em construir respeito pelas direitos das propriedades intelectuais<\/em>“. D\u00eaem uma olhada em outros trechos do comunicado, se conseguirem conter o asco:<\/p>\n

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“The Indonesian government’s policy… simply weakens the software industry and undermines its long-term competitiveness by creating an artificial preference for companies offering open source software and related services, even as it denies many legitimate companies access to the government market.<\/em><\/p>\n

Rather than fostering a system that will allow users to benefit from the best solution available in the market, irrespective of the development model, it encourages a mindset that does not give due consideration to the value to intellectual creations.<\/em><\/p>\n

As such, it fails to build respect for intellectual property rights and also limits the ability of government or public-sector customers (e.g., State-owned enterprise) to choose the best solutions.<\/em><\/p>\n

[A pol\u00edtica do governo da Indon\u00e9sia simplesmente enfraquece a ind\u00fastria do software e mina sua competividade a longo prazo criando uma prefer\u00eancia artificial por companhias que oferecem software de c\u00f3digo aberto e servi\u00e7os relacionados, assim como nega acesso ao mercado governamental para v\u00e1rias companhias leg\u00edtimas.<\/em><\/p>\n

Ao inv\u00e9s de promover um sistema que ir\u00e1 permitir aos usu\u00e1rios beneficiados ter a melhor solu\u00e7\u00e3o dispon\u00edvel no mercado, independentemente do modelo de desenvolvimento, incentiva uma mentalidade que n\u00e3o d\u00e1 a devida aten\u00e7\u00e3o para o valor das cria\u00e7\u00f5es intelectuais.<\/em><\/p>\n

Como tal, falha em construir respeito pelos direitos de propriedade intelectual e tamb\u00e9m limita a capacidade do governo ou dos clientes do setor p\u00fablico (por exemplo, empresas p\u00fablicas) de escolher as melhores solu\u00e7\u00f5es]<\/em><\/p>\n<\/blockquote>\n

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Surreal, n\u00e3o?<\/p>\n

A v\u00eaemencia do comunicado at\u00e9 que n\u00e3o chega a surpreender, pois a IIPA nunca gostou de qualquer coisa open source, especialmente aquelas que pudessem tirar fatia de seus lucros. Mas incomoda ver o total desprezo por argumentos coerentes e o esquecimento deliberado de fatos importantes. Johnson cita um destes fatos no post: existem milhares de neg\u00f3cios constru\u00eddos sob o modelo open source<\/em> (\u00a0RedHat<\/a>, Canonical<\/a> e especialmente o WordPress<\/a>, amplamente utilizado mundo afora). Quer dizer que o uso destes programas \u00e9 tamb\u00e9m um desrespeito \u00e0 propriedade intelectual? Ou s\u00f3 \u00e9 desrespeito quando se trata de programas a serem utilizados por empresas p\u00fablicas, um grande mercado que a IIPA n\u00e3o quer perder nem deixar ningu\u00e9m tomar?<\/p>\n

Um outro exemplo, para finalizar: ao condenar o uso do software livre como uma alternativa simples, barata e eficiente – e, portanto, competitiva tamb\u00e9m <\/em>no tal mercado em que se movem – eles eliminam outra alternativa que n\u00e3o o monop\u00f3lio como estrat\u00e9gia de sobreviv\u00eancia nos neg\u00f3cios. Talvez o liberalismo econ\u00f4mico que tanto defendem seja livre para alguns poucos que podem pagar, e impeditivo para a maioria.<\/p>\n

[Leonardo Foletto<\/strong>.]<\/p>\n

Cr\u00e9ditos imagens: 1<\/a> e 2<\/a> (Bart).<\/address>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

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