{"id":2616,"date":"2010-03-27T11:23:48","date_gmt":"2010-03-27T11:23:48","guid":{"rendered":"https:\/\/baixacultura.org\/?p=2616"},"modified":"2010-03-27T11:23:48","modified_gmt":"2010-03-27T11:23:48","slug":"pequeno-ensaio-para-o-final-de-semana-1","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/baixacultura.org\/2010\/03\/27\/pequeno-ensaio-para-o-final-de-semana-1\/","title":{"rendered":"Pequeno ensaio para o final de semana (1)"},"content":{"rendered":"
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Volte-e-meia, fizemos por aqui postagens um pouco mais te\u00f3ricas que as convencionais, que pendem para o lado mais jornal\u00edstico. A busca te\u00f3rica adv\u00e9m de um desejo natural de buscar o entendimento do contexto onde se situam os fatos que por vezes noticiamos e\/ou comentamos (n\u00e3o que consigamos entender, mas \u00e9 por este caminho a nossa busca). Com a superabund\u00e2ncia de informa\u00e7\u00e3o de nossos tempos, \u00e9 cada vez mais f\u00e1cil surfar na atualiza\u00e7\u00e3o cont\u00ednua e se afogar na informa\u00e7\u00e3o pura e simples, que provoca o desconhecimento do contexto de onde elas surgiram \u2013 \u00e9 not\u00f3rio que a busca incessante por atualidade toma demasiado tempo para que um dia, de apenas 24 horas, seja usado para qualquer outra coisa que n\u00e3o se atualizar.<\/p>\n *<\/p>\n \n Dito isso, eis que vale a pena aqui resgatar, ainda que da maneira sucinta, um texto presente no livro Al\u00e9m das Redes de Colabora\u00e7\u00e3o: internet, diversidade cultural e tecnologias do poder<\/strong>, j\u00e1 citado por aqui<\/a>, organizado por S\u00e9rgio Amadeu e Nelson de Lucca Pretto e resultado de dois semin\u00e1rios realizados em 2007, nos dois Rio Grande brasileiros (o do sul e o do norte). O texto – escrito por Alex Primo, pesquisador da \u00e1rea de cibercultura bastante conhecido no Brasil e que dispensa apresenta\u00e7\u00f5es<\/a> – \u00e9 um dos bons exemplos de como a academia pode ser extremamente did\u00e1tica e clara em suas elocubra\u00e7\u00f5es sem a necessidade de ser simplista. O t\u00edtulo do artigo em quest\u00e3o \u00e9 grande e at\u00e9 sugere uma prolixidade que, felizmente, \u00e9 dissipada na leitura: Fases do desenvolvimento tecnol\u00f3gico e suas implica\u00e7\u00f5es nas formas de ser, conhecer, comunicar e produzir em sociedade.<\/strong><\/p>\n As fases do desenvolvimento tecnol\u00f3gico de que Primo fala foram trabalhadas em profundidade por Andr\u00e9 Lemos<\/a>,\u00a0outro te\u00f3rico dos mais destacados na \u00e1rea aqui no Brasil, em seu livro Cibercultura: tecnologia e vida social na cultura contempor\u00e2nea<\/em> (editado em 2002 pela Editora Sulina<\/a>, infelizmente n\u00e3o dispon\u00edvel na \u00edntegra online), obra referencial de Lemos, professor sediado na FACOM da UFBA. S\u00e3o tr\u00eas as ditas fases: a fase da indiferen\u00e7a<\/strong>, que tem como principal tra\u00e7o a \u201cmistura entre arte, religi\u00e3o, ci\u00eancia e mito\u201d e que vai da pr\u00e9-hist\u00f3ria at\u00e9 a Idade M\u00e9dia; a fase do conforto<\/strong>, que corresponde \u00e0 modernidade e tem como principal novidade o fato de que a ci\u00eancia vai substituir a religi\u00e3o no monop\u00f3lio da verdade, e, nas palavras de Lemos encontradas na p\u00e1gina 56 de seu livro, \u201ca tecnologia faz do homem um Deus na administra\u00e7\u00e3o racional do mundo\u201d; e, por fim, a fase da ubiquidade<\/strong>, que corresponde ao tempo de hoje e tamb\u00e9m a dita p\u00f3s-modernidade, per\u00edodo que corresponde aos condicionamentos advindos do uso das tecnologias digitais na sociedade, nas palavras de Primo (na p\u00e1gina 60 do livro j\u00e1 citado).<\/span><\/strong><\/p>\n Esta distin\u00e7\u00e3o \u00e9 buscada pelo pesquisador para fazer um levantamento de como as tecnologias se transformaram com o tempo, e, por sua vez, de como elas mesmas transformaram o seu tempo \u2013 um tipo de distin\u00e7\u00e3o que, mais do que reduzir a evolu\u00e7\u00e3o dos tempos a categorias estanques, busca dar uma no\u00e7\u00e3o que facilita a contextualiza\u00e7\u00e3o das mudan\u00e7as que vivenciamos hoje em todas as \u00e1reas e particularmente na cultura, que \u00e9 nosso foco por aqui.<\/p>\n **<\/p>\n \n \n Uma conversa que ilustra bem a "indiferen\u00e7a" medieval<\/p><\/div>\n Indiferen\u00e7a<\/strong><\/p>\n \n A primeira fase \u00e9 caracterizada por uma \u201cindiferen\u00e7a\u201d, ou at\u00e9 um “preconceito”, com rela\u00e7\u00e3o a t\u00e9cnica. A misturan\u00e7a que ocorre entre a arte, a religi\u00e3o, o mito e a ci\u00eancia torna o poder governante algo m\u00e1gico, oriundo de um poder divino que n\u00e3o distingue a t\u00e9cnica como algo relevante. Entendia-se a t\u00e9cnica como um trabalho menor, subjugado ao interesse “religioso” e da tradi\u00e7\u00e3o, esses sim os portadores do conhecimento<\/strong>. As sociedades n\u00e3o ligavam o seu destino ao desenvolvimento tecnol\u00f3gico; sem a ci\u00eancia, a t\u00e9cnica n\u00e3o era independente e os seus produtos eram influenciados pelos homens que as constru\u00edram.\u00a0Ainda havia o fato de que as tecnologias produzidas por povos diferentes n\u00e3o podiam ser disseminadas t\u00e3o largamente, pois 1)<\/em> carregavam toda a carga cultural e caracter\u00edsticas da civiliza\u00e7\u00e3o a qual pertenciam – como \u00e9 salientado\u00a0neste texto do blog<\/a> de uma disciplina dada por Andr\u00e9 Lemos na Facom; e 2)<\/em> ficavam restritas a um espa\u00e7o f\u00edsico determinado, pois, n\u00e3o havendo qualquer meio de transmiss\u00e3o massivo, sua transmiss\u00e3o dependia de coincid\u00eancias geogr\u00e1ficas ou do deslocamento de pessoas para um outro ambiente.<\/p>\n A ideia de autoria nesse per\u00edodo \u00e9 baseada nessa vis\u00e3o de mundo. Nessa \u00e9poca \u2013 que vai aproximadamente at\u00e9 o fim da Idade M\u00e9dia, tendo talvez como marco final a inven\u00e7\u00e3o e a consolida\u00e7\u00e3o da imprensa, por Gutemberg – os textos raramente s\u00e3o identificados como sendo de um \u00fanico autor; s\u00e3o narrativas passadas de pessoa para pessoa e reveladas por alguns poucos autorizados, que geralmente t\u00eam as condi\u00e7\u00f5es morais e f\u00edsicas para isso. \u00a0O \u201cescritor\u201d seria o escriba de uma palavra que vinha de outro lugar, uma palavra que pertencia a uma tradi\u00e7\u00e3o e n\u00e3o tinha valor a n\u00e3o ser o de desenvolver, comentar, glosar aquilo que estava ali<\/em> (nas palavras de Roger Chartier<\/a> encontradas na p\u00e1gina 31 do incr\u00edvel A aventura do livro: do leitor ao navegador<\/strong>, editado no brasil em 1998 pela Unesp<\/a>, citado por Primo no texto e da capa abaixo).<\/p>\n A no\u00e7\u00e3o de autoria nesta \u00e9poca tamb\u00e9m est\u00e1 intimamente ligada aos meios de transmiss\u00e3o dos artefatos culturais. As formas de reprodu\u00e7\u00e3o eram ainda custosas, quando existiam \u2013 at\u00e9 a inven\u00e7\u00e3o da imprensa, os livros eram todos editados manualmente, letra por letra, pelos escribas. Como diz o advogado e professor de direito da UFMG T\u00falio Vianna<\/strong> em artigo sobre o assunto<\/a>, “as dificuldades inerentes aos processo de reprodu\u00e7\u00e3o dos originais, por si s\u00f3, j\u00e1 exerciam um poderoso controle da divulga\u00e7\u00e3o de id\u00e9ias, pois o n\u00famero de c\u00f3pias de cada obra era naturalmente limitado pelo trabalho manual dos copista<\/em>s”.<\/p>\n . Volte-e-meia, fizemos por aqui postagens um pouco mais te\u00f3ricas que as convencionais, que pendem para o lado mais jornal\u00edstico. A busca te\u00f3rica adv\u00e9m de um desejo natural de buscar o entendimento do contexto onde se situam os fatos que por vezes noticiamos e\/ou comentamos (n\u00e3o que consigamos entender, mas \u00e9 por este caminho a […]<\/p>\n","protected":false},"author":2,"featured_media":8190,"comment_status":"open","ping_status":"open","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":[],"categories":[359,126],"tags":[216,358,292,147,360],"post_folder":[],"jetpack_featured_media_url":"https:\/\/baixacultura.org\/wp-content\/uploads\/2012\/07\/essay1-1.jpg","_links":{"self":[{"href":"https:\/\/baixacultura.org\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/2616"}],"collection":[{"href":"https:\/\/baixacultura.org\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"https:\/\/baixacultura.org\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/baixacultura.org\/wp-json\/wp\/v2\/users\/2"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/baixacultura.org\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=2616"}],"version-history":[{"count":0,"href":"https:\/\/baixacultura.org\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/2616\/revisions"}],"wp:featuredmedia":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/baixacultura.org\/wp-json\/wp\/v2\/media\/8190"}],"wp:attachment":[{"href":"https:\/\/baixacultura.org\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=2616"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"https:\/\/baixacultura.org\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=2616"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"https:\/\/baixacultura.org\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=2616"},{"taxonomy":"post_folder","embeddable":true,"href":"https:\/\/baixacultura.org\/wp-json\/wp\/v2\/post_folder?post=2616"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}<\/a><\/p>\n
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