{"id":2096,"date":"2009-08-12T16:04:10","date_gmt":"2009-08-12T16:04:10","guid":{"rendered":"https:\/\/baixacultura.org\/?p=2096"},"modified":"2009-08-12T16:04:10","modified_gmt":"2009-08-12T16:04:10","slug":"revival-do-vinil","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/baixacultura.org\/2009\/08\/12\/revival-do-vinil\/","title":{"rendered":"Revival do Vinil?"},"content":{"rendered":"
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Voc\u00ea, caro cidad\u00e3o sobrecarregado de informa\u00e7\u00e3o do s\u00e9culo XXI, j\u00e1 deve ter escutado alguma informa\u00e7\u00e3ozinha que seja sobre a onda de revival do disco de vinil,\u00a0 o velho Long Play que muito fez a alegria das (antigas) jovens tardes de domingo e que, com a populariza\u00e7\u00e3o do CD ali pelo in\u00edcio da d\u00e9cada de 1990, passou de produto extremamente popular \u00e0 artigo de colecionadores, DJs e aficcionados por m\u00fasica em geral. Ouve-se falar seja com saudosismo<\/a>, recuperando hist\u00f3rias para mostrar o quanto era bom a \u00e9poca em que ningu\u00e9m nem imaginava o que\u00a0 viria a ser um MP3, seja com entusiasmo, afirmando<\/a> que o disco de vinil \u00e9 a redescoberta do universo musical no fim desta d\u00e9cada.\u00a0 Os n\u00fameros parecem dar conta de que, sim, h\u00e1 um revival do vinil; s\u00f3 nos Estados Unidos, houve um aumento de 90% da venda de discos entre 2007 e 2008. Em 2007, a receita com a venda de vinil somou US$ 23 milh\u00f5es, um aumento de 46,2% em rela\u00e7\u00e3o a 2006, segundo a nossa velha conhecida RIA<\/a>A. No Brasil, ainda que n\u00e3o existam estat\u00edsticas precisas dando conta do fen\u00f4meno, presidentes de gravadoras <\/a>percebem o novo velho mercado como muito promissor, enquanto que, n\u00e3o raro, produtores\/jornalistas e o p\u00fablico v\u00eaem a quest\u00e3o com uma curiosidade renovada<\/a>.<\/p>\n Artistas pop, como Pitty<\/a>, est\u00e3o gostando da ideia de lan\u00e7ar seus novos \u00e1lbuns tamb\u00e9m em vinil, colocando o bolach\u00e3o no arsenal de formatos de disponibiliza\u00e7\u00e3o de suas m\u00fasicas (CD, MP3, DVD, LP at\u00e9 pen drive<\/a>). Mesmo outros mais respeitados do que Pitty – Bruce Springsteen, Radiohead, Elvis Costello, Raconteurs, Cat Power, Los Hermanos, Caetano Veloso, Ed Motta<\/strong> e outros tantos – tamb\u00e9m adotam o formato como forma de\u00a0 agradar um nicho espec\u00edfico de p\u00fablico, e um nicho que parece crescer tanto n\u00e3o \u00e9 de ser desprezado por ningu\u00e9m. Todos estes novos discos, somados \u00e0s tamb\u00e9m cada vez mas frequentes reedi\u00e7\u00f5es de LPs cl\u00e1ssicos<\/a>, formam um espa\u00e7o em grandes lojas que n\u00e3o se duvide que em pouco tempo seja maior que o dos CDs – se j\u00e1 n\u00e3o o \u00e9, como mostra o acervo de mais de 600 discos<\/a> que a Livraria Cultura t\u00eam em suas lojas.<\/p>\n Vendo e analisando todas estas informa\u00e7\u00f5es e estat\u00edsticas, n\u00e3o me canso de pensar que o vinil caiu bem demais no papel (solit\u00e1rio, praticamente) de buscar uma sobrevida para as falidas gravadoras. Leia esta mat\u00e9ria do Globo Online<\/a> e tente n\u00e3o pensar isso tamb\u00e9m. Nela, Cris Ashworth<\/strong>, dono da United Record Pressing<\/a>, uma f\u00e1brica de LPs de Nashville que \u00e9 uma das maiores dos Estados Unidos, fala coisas do tipo: “Meu filho esteve muito preocupado por dez anos. Ele meio que olhava para mim, balan\u00e7ava a cabe\u00e7a e dizia ‘Pai, voc\u00ea n\u00e3o tem vida’. Agora ele diz ‘Bem, talvez papai seja um pouco mais esperto do que eu pensava<\/em>“. Outro dono de gravadora, Luke Lewis<\/strong>, presidente do selo de Elvis Costello, Lost Highway<\/a>, \u00e9 igualmente cara-de-pau: “\u00c9 uma revolu\u00e7\u00e3o? N\u00e3o. Mas nossas cren\u00e7as foram um pouco renovadas, sem mencionar que fizemos um pouco mais de dinheiro. \u00c9 dif\u00edcil fazer isso na ind\u00fastria hoje em dia<\/strong><\/em>“.<\/p>\n Como \u00e9 t\u00e3o f\u00e1cil baixar m\u00fasica e todo mundo pode ter tudo que quiser a sua disposi\u00e7\u00e3o em n\u00e3o muitos cliques, o vinil faz seu sucesso porque vai na contram\u00e3o disso tudo. \u00c9 um produto que vem com arte caprichada, muito melhor e maior (e tamb\u00e9m mais dif\u00edcil de reproduzir) do que nos pobrezinhos dos cds; s\u00f3 pode ser escutado por um seleto grupo de consumo que tem um toca-discos, o que d\u00e1 um car\u00e1ter de exclusividade ao produto, em claro contraponto \u00e0 putaria do MP3, que hoje todo mundo escuta seja num celular ou num player que cada vez custa menos. O fato de ser um produto exclusivo ainda agrega um “conceito” ao vinil, o que instiga o consumo como\u00a0 um ato necess\u00e1rio para se sentir pertecendo a um determinado grupinho.<\/p>\n \n **<\/p>\n Falas como “o vinil tem vida, cheiro, imagem, cor. O CD \u00e9 frio<\/em>” d\u00e3o o tom de quem \u00e9 f\u00e3 do vinil. O CD\u00a0 e outros formatos digitais como o MP3 s\u00e3o conhecidos por seu \u00e1udio l\u00edmpido mas excessivamente “magro”,\u00a0 enquanto que no vinil o som \u00e9 mais “gordo” e propenso a nu\u00e2ncias das mais variadas origens. Segundo Paulo Assis<\/a>, que trabalha como produtor de \u00e1udio e \u00e9 colaborador de revistas como\u00a0 Cover Guitarra<\/strong> e Teclado & Piano<\/strong>, isso acontece porque o som de um disco de vinil vem de um sulco no pl\u00e1stico; a onda n\u00e3o est\u00e1 representada por c\u00e1lculos matem\u00e1ticos ou algo semelhante, mas est\u00e1 l\u00e1, fisicamente presente<\/a>. A agulha vibra nessas lombadas musicais e essa vibra\u00e7\u00e3o \u00e9 o som.<\/p>\n Nas m\u00eddias digitais como o CD e o MP3, o som \u00e9 gerado a partir de informa\u00e7\u00f5es que representam<\/em> a onda sonora; para fazer isso, a digitaliza\u00e7\u00e3o vai transformar a curva sonora em uma esp\u00e9cie de “escada”, retirando alguns detalhes (ou erros) da grava\u00e7\u00e3o, deixando o som mais “quadrado” e “frio” em rela\u00e7\u00e3o ao do vinil. \u00c9 o velho embate do anal\u00f3gico X digital; no vinil, o som \u00e9 real, original, n\u00e3o sofre nenhm processo ligado \u00e0 computa\u00e7\u00e3o de dados, enquanto que o CD (e no MP3 ainda mais<\/a>) \u00e9 a c\u00f3pia da c\u00f3pia, porque o processo de digitaliza\u00e7\u00e3o n\u00e3o \u00e9 poss\u00edvel ser feito diretamente da grava\u00e7\u00e3o, uma vez que o microfone n\u00e3o transforma o som em zero e um (linguagem de computa\u00e7\u00e3o). <\/em><\/p>\n Acontece que, na maioria dos casos, os “detalhes” perdidos do CD e do MP3 em rela\u00e7\u00e3o ao vinil n\u00e3o s\u00e3o percept\u00edveis para o ouvido humano, e muito menos reproduzidos pelos aparelhos convencionais de \u00e1udio. O que ocorre, ent\u00e3o, \u00e9 que a quest\u00e3o torna-se um embate mais, digamos, subjetivo, entre aqueles saudosistas que escutaram (pela primeira vez) a m\u00fasica em vinil e n\u00e3o toleram os “cortes” inevit\u00e1veis na reprodu\u00e7\u00e3o para o CD e os que acham que as vantagens do digital – como a possibilidade de armazenar mais informa\u00e7\u00e3o e a reprodu\u00e7\u00e3o do \u00e1udio mais simples – superam e muito o velho Long Play.<\/p>\n \n Olha que bonito nossas bolachas!<\/p><\/div>\n .<\/p>\n Pol\u00eamicas \u00e0 parte, o certo \u00e9 que o nicho dos que consomem discos de vinil \u00e9 cada vez maior. Pega desde audi\u00f3filos interessados em escutar todos os detalhes da m\u00fasica<\/a> em aparelhos ultrapotentes at\u00e9 a gurizada nova<\/a> que n\u00e3o era nascida na \u00e9poca em que todo mundo s\u00f3 tinha o LP\u00a0 e as fitas k7 como op\u00e7\u00e3o para escutar m\u00fasica e agora redescobre o velho bolach\u00e3o como um \u00f3timo produto a ser comprado, difundido, curtido – o que tamb\u00e9m coloca o vinil como um conceito<\/em> interessant\u00edssimo a ser explorado, pois \u00e9 retr\u00f4 ao mesmo tempo que torna-se cada vez mais moderno, para alegria dos seguidores de tend\u00eancias profissionais.<\/p>\n Quem ganha com isso? Muita gente, em especial as f\u00e1bricas de vinil, que em fins da d\u00e9cada de 1990 e in\u00edcio de 2000 estavam por fechar e agora ganham uma sobrevida<\/a>, e, principalmente, as gravadoras, que sustentam mais um pouquinho um modelo de neg\u00f3cio que muito dinheiro deu \u00e0 elas durante todo o s\u00e9culo passado e que, desta forma, adiam a sua (saud\u00e1vel) morte<\/a> por pelo menos algum tempo.<\/p>\n \n [Leonardo Foletto<\/strong>.]<\/p>\n Cr\u00e9ditos fotos: 1<\/a>, 2<\/a>, 3<\/a>.<\/p>\n \n","protected":false},"excerpt":{"rendered":" . 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