![\"luana\"](\"https:\/\/baixacultura.org\/wp-content\/uploads\/2012\/07\/luana.jpg\" "\\"luana\\"")
<\/p>\n<\/p>\n
Abro um par\u00eantese entre um e outro trecho do Stewart Home<\/strong> que venho traduzindo por aqui pra comentar, com algum atraso,\u00a0o processo de reforma da Lei Rouanet<\/strong>. A parada \u00e9 longa, as implica\u00e7\u00f5es s\u00e3o muitas, no site do Minist\u00e9rio da Cultura h\u00e1 um blog<\/a> dedicado \u00e0 discuss\u00e3o toda e eu n\u00e3o tenho honestamente repert\u00f3rio pra me aprofundar al\u00e9m do que pretendo.<\/p>\n Aprendi com\u00a0Makely Ka<\/strong>, em entrevista<\/a> para este blog, que passa longe de ser realista ou saud\u00e1vel pensar em processos culturais (contra-industriais, independentes, decorrentes das novas tecnologias, ligados ao conceito de cultura livre ou whatever) num pa\u00eds quilom\u00e9trico como o nosso ignorando as potencialidades de di\u00e1logo com as inst\u00e2ncias p\u00fablicas.\u00a0Posso gravar meu disquinho ou\u00a0escrever meu romance genial tranquilamente sem trilhar essa discuss\u00e3o, mas n\u00e3o posso pensar seriamente a cultura enquanto espa\u00e7o coletivo sem considerar sua dimens\u00e3o p\u00fablica. E, caso a sua mem\u00f3ria hist\u00f3rica seja curta ou seu nojinho de pol\u00edtica lhe impe\u00e7a de enxergar, a verdade \u00e9 que a tentativa de di\u00e1logo estabelecida desta maneira,\u00a0a partir do MinC<\/strong>, est\u00e1 longe de ser um detalhe.<\/p>\n Pensar pol\u00edticas p\u00fablicas para a cultura imp\u00f5e que se pense a cadeia produtiva para al\u00e9m do produto cultural. J\u00e1 bati nessa tecla por aqui, e a pr\u00f3pria conversa com Makely tocava na quest\u00e3o. Significa, paradoxalmente, que quanto mais consciente for o\u00a0criador\u00a0acerca dos mecanismos\u00a0em que se insere como produtor, menos ing\u00eanuo ser\u00e1 acerca do lugar que ocupa na cadeia produtiva e — tampai os ouvidos, \u00f3 Musas! — acerca do valor material do seu produto.<\/p>\n Talvez n\u00e3o haja no Brasil um\u00a0setor de produ\u00e7\u00e3o mais atrasado em rela\u00e7\u00e3o a esse\u00a0papo que a literatura: generalizando, quem se interessa por mercado liter\u00e1rio s\u00e3o os livreiros, os escritores querem escrever e, sei l\u00e1, serem “descobertos”, contar historinhas no J\u00f4, essas coisas. N\u00e3o por acaso, h\u00e1 pouqu\u00edssimas horas ouvi de uma professora (numa banca de doutorado) a seguinte distin\u00e7\u00e3o: “o jornalista vende seu texto, o escritor tem compromisso apenas com a cria\u00e7\u00e3o”. Ou algo do tipo.<\/p>\n Dito isto,\u00a0gostaria de\u00a0encaminh\u00e1-lo ao que o poeta, escritor\u00a0e jornalista Ademir Assun\u00e7\u00e3o<\/strong><\/a> escreveu sobre o assunto. H\u00e1 algum tempo, na \u00e9poca do Gil ministro, Ademir integrou um grupo de escritores dispostos a pensar pol\u00edticas p\u00fablicas para a literatura.\u00a0O\u00a0Movimento Literatura Urgente<\/a> foi motivo de esc\u00e2ndalo\u00a0para criadores que acham\u00a0“pol\u00edtica uma merda”, causou uma s\u00e9rie de desentendimentos e, creio eu, desgaste para quem levou o papo a s\u00e9rio. Mas, sobretudo, deixou um punhado de propostas interessantes que Ademir retoma no post que reproduzo abaixo:<\/p>\n \u00c9 COM VOC\u00caS, ESCRITORES<\/strong><\/p>\n N\u00e3o sei se todos est\u00e3o acompanhando. Uma nova lei, que substitui a Rouanet (mas n\u00e3o acaba com ela, ao contr\u00e1rio do que os bar\u00f5es da cultura dizem) vai ser enviada ao Congresso Nacional. Para vota\u00e7\u00e3o. A press\u00e3o contr\u00e1ria vai ser brutal. Por qu\u00ea? H\u00e1 muita grana envolvida na parada. E os bar\u00f5es da cultura e as grandes empresas n\u00e3o querem perder a mamata de fazer marketing privado com dinheiro p\u00fablico.<\/p>\n A nova lei prop\u00f5e a incrementa\u00e7\u00e3o do Fundo Nacional de Cultura. Na minha opini\u00e3o, \u00e9 um mecanismo que vai favorecer os independentes. E os bar\u00f5es da cultura n\u00e3o querem isso. O texto da nova lei est\u00e1 dispon\u00edvel para consulta p\u00fablica no site do Minist\u00e9rio da Cultura. Todo mundo pode opinar (de prefer\u00eancia, com propriedade, sabendo o que est\u00e1 falando).<\/p>\n No nosso caso, dos ESCRITORES, ainda h\u00e1 uma distor\u00e7\u00e3o. Continuam nos colocando no guarda-chuva do “Livro e Leitura”. Eu cansei de falar contra isso nas reuni\u00f5es que participei. Uma bosta isso. Livro \u00e9 livro, \u00e9 o produto. Literatura \u00e9 o que vem antes: a arte liter\u00e1ria. Livro \u00e9 o produto industrial das editoras. Literatura pode se manifestar em outras formas: revistas, sites, cds, cds-rom, jornadas liter\u00e1rias, encontros de escritores com leitores, enfim, uma infinidade de outras coisas que n\u00e3o se resumem ao livro.<\/p>\n A nova lei cria o Fundo Setorial das Artes que inclui, repare bem, teatro, circo, dan\u00e7a, artes visuais e m\u00fasica. Reparou? Literatura n\u00e3o est\u00e1 inclu\u00edda a\u00ed, como arte. Eu estou cansado de bater na mesma tecla. Estou tamb\u00e9m sem tempo (preciso batalhar minha pr\u00f3pria sobreviv\u00eancia). Mas sugiro que todos os escritores que ainda t\u00eam alguma consci\u00eancia fa\u00e7am uma coisa simples: entrem no site no Minc, sigam ao link da consulta p\u00fablica da nova lei e exijam que a literatura seja considerada como uma arte<\/strong>. Que ela saia do guarda-chuva “livro e leitura” e passe para o Fundo Setorial das Artes. S\u00f3 assim, a cria\u00e7\u00e3o liter\u00e1ria poder\u00e1 receber recursos p\u00fablicos, justos, atrav\u00e9s de editais p\u00fablicos, e n\u00e3o sob a (m\u00e1) vontade de um gerente de marketing de uma grande empresa (que nunca est\u00e1 interessado num projeto liter\u00e1rio).<\/p>\n<\/blockquote>\n O grifo \u00e9 do pr\u00f3prio Ademir, e me remete a um \u00faltimo coment\u00e1rio: se lhe parece estranho que\u00a0meu papo sobre\u00a0cadeia produtiva, produto cultural, valor de mercadoria etc. esteja em boa sintonia com a exig\u00eancia feita por Ademir de que literatura seja inserida no debate como arte, bem, n\u00e3o deveria soar estranho.\u00a0Demarcar uma fronteira entre as duas perspectivas \u00e9 que engorda os tais bar\u00f5es da cultura. E a\u00a0foto da Luana Piovani foi s\u00f3 pra deixar o post mais pertinente.<\/p>\n [Reuben da Cunha Rocha.<\/strong>]<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":" Abro um par\u00eantese entre um e outro trecho do Stewart Home que venho traduzindo por aqui pra comentar, com algum atraso,\u00a0o processo de reforma da Lei Rouanet. 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