{"id":1630,"date":"2009-04-07T20:00:09","date_gmt":"2009-04-07T20:00:09","guid":{"rendered":"https:\/\/baixacultura.org\/?p=1630"},"modified":"2009-04-07T20:00:09","modified_gmt":"2009-04-07T20:00:09","slug":"stewart-home-e-o-festival-do-plagio-i","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/baixacultura.org\/2009\/04\/07\/stewart-home-e-o-festival-do-plagio-i\/","title":{"rendered":"Stewart Home e o Festival do Pl\u00e1gio (I)"},"content":{"rendered":"
<\/p>\n
Cada vez mais me conven\u00e7o da necessidade de discutir por aqui algo que, superficialmente,\u00a0apenas tangencia\u00a0a proposta geral do blog — o conceitos e os desdobramentos da no\u00e7\u00e3o de pl\u00e1gio<\/strong>.\u00a0Superficialmente<\/em> porque, como j\u00e1 mencionei<\/a> antes, os debates em torno da cultura livre normalmente tocam apenas de rasp\u00e3o nas t\u00e9cnicas criativas, na produ\u00e7\u00e3o cultural, abordando mais fartamente o que se refere ao consumo e \u00e0 distribui\u00e7\u00e3o de produtos culturais.<\/p>\n Justificando muito rapidamente: as mesmas tecnologias que nos levam a conversar sobre novos modos de compartilhar informa\u00e7\u00e3o cultural colocam em relevo pr\u00e1ticas criativas ligadas ao roubo — como o sampler, o remix, ou a famosa ‘cita\u00e7\u00e3o’ no cinema. Todos estes conceitos s\u00e3o formas brandas de se referir a um mesmo h\u00e1bito: o pl\u00e1gio, essa palavra estigmatizada que alimentou uma cacetada de grandes manifesta\u00e7\u00f5es art\u00edsticas ao longo da hist\u00f3ria, e que nos ajuda tanto a relativizar o que consideramos ‘autoria’ quanto, consequentemente, os modos de regulamentar a autoria. \u00c9 dentro desse balaio que jogo os dois posts que publicarei na sequ\u00eancia, partes Um e Dois de um trabalho do Stewart Home.<\/p>\n *<\/p>\n Entrei em contato com a obra de Stewart Home<\/strong> <\/a>atrav\u00e9s do fundamental Assalto \u00e0 Cultura<\/a><\/strong>,\u00a0livro em que Home revisa dezenas dos movimentos radicais que contribu\u00edram para tornar a cultura do s\u00e9culo 20 menos careta, do\u00a0surrealismo\u00a0ao punk, passando por v\u00e1rios grupos menores quase desconhecidos fora da Europa.<\/p>\n O\u00a0pr\u00f3prio Home integra o time de fals\u00e1rios, picaretas e demolidores de galerias de artes que atravessou gera\u00e7\u00f5es do s\u00e9culo passado e chegou neste, firme, forte e cheio de cara de pau. Home \u00e9 herdeiro de uma s\u00e9rie de pr\u00e1ticas que nos remetem ao situacionismo e a Dada, por exemplo, entre as quais a cren\u00e7a na indistin\u00e7\u00e3o entre artista e p\u00fablico, e a radicaliza\u00e7\u00e3o da vis\u00e3o social da arte, o desinteresse pela est\u00e9tica pura e a atua\u00e7\u00e3o num sem-fim de linguagens,\u00a0da performance \u00e0 literatura, da m\u00fasica ao v\u00eddeo.<\/p>\n No fim da d\u00e9cada de\u00a01980, Home e um punhado de malucos organizou\u00a0o Festival of Plagiarism<\/em>, Festival do Pl\u00e1gio, cuja hist\u00f3ria relatou num pequeno panfleto, que come\u00e7o a traduzir hoje para o BaixaCultura<\/strong>.<\/p>\n *<\/p>\n Acontece o seguinte:\u00a0o autor\u00a0come\u00e7a do come\u00e7o, e o come\u00e7o n\u00e3o \u00e9 exatamente o festival. A primeira parte do texto elenca uma s\u00e9rie de eventos (exposi\u00e7\u00f5es, encontros, amizades) que desencadearam o Festival do Pl\u00e1gio, e em diversos trechos tende \u00e0 chatice das infind\u00e1veis listas de nomes. Confesso que pensei duas vezes antes de seguir a cronologia, e quase publico de cara a segunda parte da obra. Mas, diabos, vamos l\u00e1.<\/p>\n M\u00e9rito<\/strong>: esta introdu\u00e7\u00e3o p\u00f5e na roda uma porrada de nomes e eventos (ao menos para mim) completamente desconhecidos. Qual a gra\u00e7a disso? Mostrar que o que se defende por aqui n\u00e3o \u00e9 uma proposta maluca nem nada, mas um procedimento cultural que nunca deixou de ser aplicado na pr\u00e1tica, ao contr\u00e1rio do que eventualmente nos narra a grandiosa (bocejo) hist\u00f3ria da Arte. Dem\u00e9rito<\/strong>: quem leu Assalto \u00e0 Cultura sabe que, tanto quanto pelas hist\u00f3rias ali relatadas, o livro vale pelo sacan\u00edssimo sarcasmo que permeia toda a narrativa, e que n\u00e3o alivia pra ningu\u00e9m. Bem, seria fant\u00e1stico se Home conseguisse manter a mesma dose de\u00a0humor maldoso\u00a0ao relatar sua pr\u00f3pria experi\u00eancia na confec\u00e7\u00e3o do Festiva do Pl\u00e1gio. N\u00e3o consegue. O texto \u00e9 geralmente s\u00e9rio e, em fun\u00e7\u00e3o disso, os poucos momentos bem-humorados quase passam batidos.<\/p>\n Depois de todo este desencorajamento,\u00a0aceitem a primeira parte da tradu\u00e7\u00e3o como, sei l\u00e1, registro historiogr\u00e1fico. Prometo um pouquinho mais de divers\u00e3o na segunda parte.<\/p>\n [Reuben da Cunha Rocha.<\/strong>]<\/p>\n Eventos que levaram ao Festival do Pl\u00e1gio<\/strong><\/p>\n \u00a0Stewart Home<\/p>\n Tradu\u00e7\u00e3o: Reuben da Cunha Rocha<\/p>\n O Festival do Pl\u00e1gio nasceu de uma s\u00e9rie de colabora\u00e7\u00f5es pr\u00e9vias. Obviamente, o esquema que se segue exclui um bom n\u00famero de elementos importantes (isto \u00e9: est\u00e1 focado em exibi\u00e7\u00f5es, festivais e performances, e ignora fartamente a influ\u00eancia de publica\u00e7\u00f5es como Variant<\/em>, Smile<\/em>, Edinburgh Review<\/em> etc.).<\/p>\n Neste ensaio, o 8\u00ba Festival Internacional do Apartamento Neo\u00edsta [Eighth International Neoist Apartment Festival<\/em>] (Londres, 21 a 26 de maio de 1984) funciona como ponto de partida ‘ficcional’. At\u00e9 – e durante – sua realiza\u00e7\u00e3o, Pete Horobin, Stefan Szczelkun, Mark Pawson e eu nos conhecemos (entre outros). O Festival do Apartamento consistiu sobretudo em performances fortemente influenciadas pelo Fluxus e pelo futurismo. O Neo\u00edsmo sofreu (pelo menos parcialmente) uma mudan\u00e7a de direcionamento a partir de meu subseq\u00fcente envolvimento com o grupo. O movimento (ou parte dele) incorporou minhas (nada originais) id\u00e9ias sobre o pl\u00e1gio como t\u00e9cnica criativa. Simultaneamente, Pete Horobin fez uma tentativa, com minha ajuda, de divulgar o nome Monty Cantsin como identidade m\u00faltipla a ser adotada por todos os membros da rede neo\u00edsta.<\/p>\n Na \u00e9poca (maio de 85) em que surgiu, o ‘Iconoclasm’ – uma instala\u00e7\u00e3o rudimentar feita por Malcolm Dickson, Gordon Muir and Peter Thomson (Transmission Gallery, Glasgow) – n\u00e3o tinha qualquer rela\u00e7\u00e3o direta com o festival neo\u00edsta em Londres.\u00a0 Embora a exibi\u00e7\u00e3o consistisse basicamente em pinturas e desenhos, eles n\u00e3o foram simplesmente pendurados na parede na galeria. Ao contr\u00e1rio, foram instalados de maneira a expor o fato de que qualquer organiza\u00e7\u00e3o pict\u00f3rica carrega uma carga cultural (e n\u00e3o \u00e9 – como nos quer fazer crer o establishment da arte burguesa – um meio natural de disposi\u00e7\u00e3o de objetos neutros).<\/p>\n Entre os envolvidos na exposi\u00e7\u00e3o ‘Our Wonderful Culture’ [‘Nossa Formid\u00e1vel Cultura’] (Galeria Crypt, Londres, dezembro de 85) estavam Stefan Szczelkun, Hannah Vowles, Tom McGlynn, Glyn Banks, Ed Baxter e Simon Dickason. Durante os eventos ocorridos na exposi\u00e7\u00e3o, eu conheci e me tornei amigo de Baxter, Dickason, Vowles e Banks. Logo em seguida n\u00f3s come\u00e7amos a discutir a possibilidade de organizar juntos uma mostra coletiva.<\/p>\n De volta a Glasgow, Dickson, Thomson e Simon Brown se ocupavam em organizar a ‘War Of Images’ [‘Guerra de Imagens’]. A exposi\u00e7\u00e3o – ocorrida em janeiro de 86 – dividiu-se entre a Glasgow School of Art e a Transmission Gallery. O evento reuniu as pol\u00eamicas visuais de d\u00fazias de jovens escoceses (entre os quais Muir e William Clark), cujo trabalho se opunha te\u00f3rica e praticamente tanto ao bem-sucedido estilo de pintura da New Image Glasgow quanto \u00e0 cultura dominante em geral. Dickson, tendo conhecimento de uma revista que eu havia editado e publicado \u00e0 \u00e9poca, me enviou o material de divulga\u00e7\u00e3o da mostra, e incluiu meu nome na mailing list<\/em> da Transmission. Assim se estabeleceu o contato entre Londres e Glasgow! Enquanto isso, Szczelkun e eu (assinando como ‘Karen Eliot’) participamos da exposi\u00e7\u00e3o ‘The Business Of Desire’ [‘O Neg\u00f3cio do Desejo’], na DIY Gallery, Londres, maio de 86. Meu trabalho consistia em tr\u00eas afirma\u00e7\u00f5es ‘contra o desejo’: ‘O desejo \u00e9 o espa\u00e7o entre a repress\u00e3o e a liberdade atrav\u00e9s do qual o capital primeiro penetrou seus sujeitos colonizados’; ‘A separa\u00e7\u00e3o entre “sujeito” desejante e “objeto” desejado \u00e9 a materializa\u00e7\u00e3o da ideologia capitalista; e ‘A destrui\u00e7\u00e3o do desejo \u00e9 a primeira tarefa daqueles que buscam um retorno aos prazeres da unidade’. Estas declara\u00e7\u00f5es foram montadas sob o desenho de um bra\u00e7o dividido em tr\u00eas se\u00e7\u00f5es; o conte\u00fado de uma seringa (vis\u00edvel atrav\u00e9s dos tr\u00eas pain\u00e9is) a ponto de ser introduzido na parte inferior do membro. Como contribui\u00e7\u00e3o de Baxter e Szczelkun havia um texto em formato de jornal chamado ‘Bypass Control’: ‘O glamour interpreta os desejos de todos os nossos sentidos como imagem. A sexualidade cessa de existir como prazer t\u00e1ctil e se torna an\u00e1logo do Poder. O sexo se torna uma cena do poder, uma luta pelo poder que n\u00e3o existe: uma luta para produzir rela\u00e7\u00f5es de poder. A maquinaria da opress\u00e3o lan\u00e7a sua for\u00e7a invis\u00edvel sobre todas as nossas fun\u00e7\u00f5es humanas…’<\/p>\n O texto completo foi publicado no livro Collaborations<\/em>, editado por Stefan Szczelkun (Working Press, Londres, 1987). Denise Hawrysio tamb\u00e9m participou da exposi\u00e7\u00e3o, e l\u00e1 conheceu Szczelkun. Uns bons seis meses se passaram antes que me falassem dela, e t\u00e3o logo isso aconteceu eu a apresentei a Baxter.<\/p>\n Preparamos uma solicita\u00e7\u00e3o para expor na BookWorks (Londres) –\u00a0 Baxter, Szczelkun, Vowles, Banks e eu -, mas a condi\u00e7\u00e3o financeira prec\u00e1ria da galeria impediu que a exposi\u00e7\u00e3o se realizasse. A mostra deveria dar continuidade \u00e0s id\u00e9ias com as quais lidamos em ‘The Business Of Desire’. Entre os objetos a serem expostos havia um trabalho gr\u00e1fico de minha autoria chamado ‘Destruction of Glamour\/Glamour of Destruction’ [Destrui\u00e7\u00e3o do Glamour\/Glamour da Destrui\u00e7\u00e3o].<\/p>\n V\u00e1rias das id\u00e9ias para a mostra na BookWorks foram subsequentemente utilizadas numa instala\u00e7\u00e3o coletiva ocorrida em Londres, no Chisenhale Studios, intitulada ‘Ruins of Glamour\/Glamour of Ruins<\/a>‘. Esta exposi\u00e7\u00e3o foi organizada por Stefan Szczelkun, e ocorreu em dezembro de 86. Somados aos que estiveram no projeto abortado da BookWorks estavam os trabalhos de Gabriel (Gabrielle Quinn), Andy Hopton, Simon Dickason e Tom McGlynn. Duas id\u00e9ias-chave delinearam a forma final da instala\u00e7\u00e3o. A primeira foi a de que o trabalho deveria nascer da colabora\u00e7\u00e3o org\u00e2nica entre os participantes; a segunda foi a de que o p\u00fablico deveria ser levado a reagir \u00e0 galeria como espa\u00e7o arquitet\u00f4nico e s\u00edtio de poder. Adotamos um procedimento meio burocr\u00e1tico para atingir estes objetivos; com exce\u00e7\u00e3o de Tom McGlynn (que chegou de Nova Iorque apenas na v\u00e9spera da instala\u00e7\u00e3o da obra), os participantes se encontraram regularmente para debulhar suas id\u00e9ias. Uma descri\u00e7\u00e3o da mostra foi inclu\u00edda no cat\u00e1logo que acompanhou a exibi\u00e7\u00e3o seguinte (Desire In Ruins<\/a>, Transmission, Glasgow, maio de ’87): ‘Espectadores adentrando o Chisenhale Studios, Londres, durante a mostra ‘Ruins of Glamour\/Glamour of Ruins’, tiveram a vis\u00e3o ofuscada por um holofote. Havendo uma parede \u00e0 esquerda, foram for\u00e7ados \u00e0 direita. Eles se viram ent\u00e3o adentrando uma espiral de carv\u00e3o amontoado. Qualquer passo al\u00e9m do limite da espiral era impedido por afiados peda\u00e7os de madeira. Similarmente, n\u00e3o era poss\u00edvel pisar no ponto da espiral onde o holofote estava instalado. Os espectadores foram a partir da\u00ed for\u00e7ados a pisar sobre a espiral num ponto logo \u00e0 frente do holofote. Ao darem as costas \u00e0 luz, eles se perceberiam no melhor local de observa\u00e7\u00e3o tanto da mostra quanto dos demais espectadores (em especial os que estavam entrando na galeria)’. A exposi\u00e7\u00e3o foi destru\u00edda em menos de uma semana. Seguiu-se um debate feroz sobre mant\u00ea-la aberta ou n\u00e3o. Particularmente, Szczelkun acreditava que, apesar dos graffitis e da destrui\u00e7\u00e3o das obras, deveria ser oferecido ao p\u00fablico o que restara da mostra. No entanto, ap\u00f3s muita discuss\u00e3o, decidiu-se pelo fechamento da exibi\u00e7\u00e3o. Se a galeria tivesse permanecido aberta, o dinheiro que pedimos ao seguro pelos ‘danos’ das obras teria sido posto em perigo. Vowles e Banks se mantiveram particularmente intransigentes neste ponto, e insistiram em que nada fosse removido da galeria (inclusive uma extens\u00e3o el\u00e9trica que Szczelkun queria usar) at\u00e9 que a companhia de seguros dissesse que t\u00ednhamos permiss\u00e3o para tal. Deve ser notado em rela\u00e7\u00e3o a isso que a galeria nos encorajou\/pressionou a aceitar o fechamento da exibi\u00e7\u00e3o. Independentemente de qualquer coisa, este fechamento permitiu que eles agendassem a instala\u00e7\u00e3o de um novo sistema de ilumina\u00e7\u00e3o na galeria. A Chisenhale at\u00e9 abriu m\u00e3o dos 25% do seguro a que teria direito (coletados como comiss\u00e3o!), mas ainda levou uma quantia substancial para redecorar o ambiente. 1. Quando a instala\u00e7\u00e3o foi destru\u00edda, Graham Harwood e eu (n\u00f3s nos conhecemos atrav\u00e9s de Szczelkun) come\u00e7amos a organizar o Festival do Pl\u00e1gio. Tr\u00eas meses depois, uma obra coletiva chamada ‘Our Wonderful Culture II – Voyage’ foi apressadamente levada a p\u00fablico por Hercules Fisherman, Fisherman Studios, Londres. A exposi\u00e7\u00e3o durou duas semanas e meia, em mar\u00e7o e abril de 87. Entre os autores est\u00e1vamos eu (assinando com Karen Eliot), Szczelkun, Baxter, Hopton, Gabriel, Dickason, Harwood, Karen Strang e Graham Tansley. Como na primeira ‘Our Wonderful Culture’, esta mostra possu\u00eda uma diversidade ecl\u00e9tica de trabalhos. No entanto, por conta da falta de organiza\u00e7\u00e3o (…), a mostra n\u00e3o encontrou o mesmo sucesso de cr\u00edtica que a anteriormente realizada na Cript. Ao mesmo tempo, Malcolm Dickson e Gordon Muir exibiram conjuntamente a instala\u00e7\u00e3o ‘Iconoclasm’ na Transmission Gallery, em Glasgow. O foco do trabalho de Dickson era a transmuta\u00e7\u00e3o de um slogan do Maio de 68 (substituindo a palavra ‘Beach’ por ‘Sewer’ em ‘Beneath The Cobble Stones The Sewer’). O slogan se referia simultaneamente \u00e0 derrocada da revolta de 68 e ao fato de que havia um cano sob o ch\u00e3o de pedra da galeria. (…) A obra de Muir era composta por pinturas e desenhos – muitos dos quais continham cita\u00e7\u00f5es e refer\u00eancias a bandas punk e p\u00f3s-punk (…).<\/p>\n Logo depois outra mostra coletiva, ‘Desire In Ruins’ [‘Desejo em Ru\u00ednas’], aconteceu na Transmission Gallery, como parte do Glasgow May Festival. A exposi\u00e7\u00e3o foi organizada por mim, Ed Baxter, Malcolm Dickson e Carole Rhodes. Havia trabalhos meus (assinando como Karen Eliot), de Baxter, Banks, Dickason, Hopton, Vowles e Szczelkun, que de v\u00e1rias maneiras desenvolviam os temas trabalhados nas exposi\u00e7\u00f5es na DIY e na Chisenhale. Alan Robertson e David O’Vary (em resenha nunca publicada) assim descrevem a mostra: “Olhando atrav\u00e9s das pesadas grades que protegem as janelas da Transmission \u00e9 poss\u00edvel ver uma superf\u00edcie coberta de terra sobre a qual se encontram uma galinha de borracha e v\u00e1rios outros objetos, inclusive um piano de brinquedo cujas teclas foram violentamente arrebentadas. Ao entrar, voc\u00ea se percebe no meio da caverna de imagens e objetos de Aladdin, iluminada por um \u00fanico holofote. Sua presen\u00e7a se faz imediatamente conhecida pelo barulho feito ao pisar nas latas de cerveja espalhadas pela entrada (reflexo de uma cultura b\u00eabada em ru\u00ednas, talvez?). Colocando-se frente \u00e0 luz para entrar no espa\u00e7o, interrompe-se a ilumina\u00e7\u00e3o e cria-se um peep-show<\/em> sinistro e esqu\u00e1lido para os demais. O lugar \u00e9 entulhado de objetos, remanescentes das liquida\u00e7\u00f5es dos supermercados. Imagens do Papa em ornamentos de pl\u00e1stico, garrafas de ‘Liquid Sky’, an\u00fancios de produtos para queda de cabelo, pap\u00e9is escritos pregados na parede, bonecas de pl\u00e1stico, camisinhas cheias de certa subst\u00e2ncia branca, uma garrafa de ketchup. Objetos tirados do lixo que funcionam como \u00edcones da cultura da comodidade, da imagem e do desejo. Ocupando boa parte da galeria h\u00e1 uma instala\u00e7\u00e3o feita de bambu, papel\u00e3o, cabos, fios e coisas do tipo. Empalada e estirada numa das varas h\u00e1 uma pele de leopardo feita de nylon, atrav\u00e9s da qual as varas cutucam pontos estrat\u00e9gicos…’. Os fundos da galeria foram separados para uma investiga\u00e7\u00e3o visual dos elos entre sexualidade e inf\u00e2ncia que haviam sido apresentados no cat\u00e1logo da ‘Glamour’ (‘o adulto glamoroso \u00e9 modelado na crian\u00e7a idealizada’). Dois trabalhos lidaram mais diretamente com o tema. Luz ultravioleta iluminando uma imagem estereotipada de um caub\u00f3i (nem crian\u00e7a nem adulto, umas esp\u00e9cie de clone gay), tirada de um livro de pintura infantil e reproduzida em tamanho real na parede da galeria. A pe\u00e7a foi chamada de ‘Kind Pride’ [‘Orgulho Terno’] (‘kind’ \u00e9 um termo adotado por alguns ped\u00f3filos para se descreverem positivamente). Outra parede exibia duas crian\u00e7as nuas de m\u00e3os dadas (imagem tirada de um cart\u00e3o postal livremente comercializado). Bal\u00f5es cheios de tinta branca foram colocados ao redor da imagem (para serem abatidos \u00e0 bala, obliterando assim a vis\u00e3o das crian\u00e7as). A mesma imagem foi usada em cartazes de divulga\u00e7\u00e3o da mostra, o que resultou em amea\u00e7as de processo policial.<\/p>\n Em setembro de 87, Dickson exp\u00f4s uma v\u00eddeo-instala\u00e7\u00e3o chamada ‘XS’, como parte da Smith Biennale, na Smith Art Gallery, Stirling. Uma vers\u00e3o menos ambiciosa da instala\u00e7\u00e3o (sem monitores de TV) serviu como contribui\u00e7\u00e3o de Dickson para o Festival do Pl\u00e1gio; o filme que havia sido projetado na multi-tela como parte do trabalho foi exibido num \u00fanico monitor durante uma das noites do festival. Em novembro de 87, Dickson exibiu outra v\u00eddeo-instala\u00e7\u00e3o – ‘Arival\/Departure’ – como parte da AVA (Audio Visual Experimental) em Arnhem, Holanda.<\/p>\n<\/blockquote>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":" Cada vez mais me conven\u00e7o da necessidade de discutir por aqui algo que, superficialmente,\u00a0apenas tangencia\u00a0a proposta geral do blog — o conceitos e os desdobramentos da no\u00e7\u00e3o de pl\u00e1gio.\u00a0Superficialmente porque, como j\u00e1 mencionei antes, os debates em torno da cultura livre normalmente tocam apenas de rasp\u00e3o nas t\u00e9cnicas criativas, na produ\u00e7\u00e3o cultural, abordando mais fartamente […]<\/p>\n","protected":false},"author":2,"featured_media":8247,"comment_status":"open","ping_status":"open","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":[],"categories":[126,203],"tags":[251,252,253,254],"post_folder":[],"jetpack_featured_media_url":"https:\/\/baixacultura.org\/wp-content\/uploads\/2012\/07\/home1-1.jpg","_links":{"self":[{"href":"https:\/\/baixacultura.org\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/1630"}],"collection":[{"href":"https:\/\/baixacultura.org\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"https:\/\/baixacultura.org\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/baixacultura.org\/wp-json\/wp\/v2\/users\/2"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/baixacultura.org\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=1630"}],"version-history":[{"count":0,"href":"https:\/\/baixacultura.org\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/1630\/revisions"}],"wp:featuredmedia":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/baixacultura.org\/wp-json\/wp\/v2\/media\/8247"}],"wp:attachment":[{"href":"https:\/\/baixacultura.org\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=1630"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"https:\/\/baixacultura.org\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=1630"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"https:\/\/baixacultura.org\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=1630"},{"taxonomy":"post_folder","embeddable":true,"href":"https:\/\/baixacultura.org\/wp-json\/wp\/v2\/post_folder?post=1630"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}<\/p>\n
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