{"id":15803,"date":"2025-03-23T18:45:37","date_gmt":"2025-03-23T21:45:37","guid":{"rendered":"https:\/\/baixacultura.org\/?p=15803"},"modified":"2025-04-11T19:42:04","modified_gmt":"2025-04-11T22:42:04","slug":"conectados-e-cansados","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/baixacultura.org\/2025\/03\/23\/conectados-e-cansados\/","title":{"rendered":"Conectados e cansados"},"content":{"rendered":"
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A internet dos anos 2000 prometeu liberdade e colabora\u00e7\u00e3o e entregou Big Techs, plataformiza\u00e7\u00e3o da vida e a precariza\u00e7\u00e3o do trabalho criativo. O que levou a essa transforma\u00e7\u00e3o? No dia 13 de mar\u00e7o, S\u00edlvio Lorusso, autor do livro \u201c<\/span>Emprecariado<\/span><\/a>\u201d (Clube do Livro de Design, 2023) e eu debatemos os impactos desse cen\u00e1rio e o futuro do trabalho digital. Foi na Risotropical (Galeria Metr\u00f3pole), centro de S\u00e3o Paulo, das 19h \u00e0s 21h30, evento organizado pela Ubunttu, Clube do Livro do Design (especialmente Tereza Bettinardi, editora e designer por tr\u00e1s da iniciativa) e que fez parte da DW! Semana de Design.<\/span><\/p>\n Gravei em \u00e1udio a maior parte da conversa e recupero aqui alguns trechos destacados:<\/span><\/p>\n _ Um conceito central discutido \u00e9 a plataformiza\u00e7\u00e3o, que se refere ao crescente dom\u00ednio das estruturas de plataformas em diversos aspectos da vida, desde mobilidade e redes sociais at\u00e9 trabalho, sa\u00fade, alimenta\u00e7\u00e3o e servi\u00e7os p\u00fablicos – <\/span>veja aqui o artigo j\u00e1 cl\u00e1ssico que analisa o conceito em suas principais dimens\u00f5es<\/span><\/a>.\u00a0 Falamos da (\u00f3bvia) constata\u00e7\u00e3o de que cada vez mais se acessa a internet via plataformas (em seus “jardins murados”), locais onde infraestruturas econ\u00f4micas e pol\u00edticas, com seus mecanismos pr\u00f3prios de governan\u00e7a, operam. A plataformiza\u00e7\u00e3o coincide com uma mudan\u00e7a na percep\u00e7\u00e3o das possibilidades ut\u00f3picas da internet, da \u201c<\/span>ressaca da internet<\/span><\/a>\u201d, com o reconhecimento de que foram as plataformas que acabaram com as possibilidades transformadoras de descentraliza\u00e7\u00e3o e autonomia da internet;<\/span><\/p>\n _ A cr\u00edtica ao <\/span>tecnolucionismo<\/span><\/a>, a ideia de que a solu\u00e7\u00e3o para diversos problemas reside em mais tecnologias, mais aplicativos, mais plataformas, quando na verdade essa abordagem muitas vezes s\u00f3 serve \u00e0 monetiza\u00e7\u00e3o de dados e alimenta um ciclo de desigualdade, para n\u00e3o falar do aumento da concentra\u00e7\u00e3o de poder pol\u00edtico e da perda da capacidade de imaginar outros modelos de gest\u00e3o e organiza\u00e7\u00e3o da infraestrutura da comunica\u00e7\u00e3o. A ascens\u00e3o das IAs generativas tem acelerado ainda mais esse processo;<\/span><\/p>\n _\u00a0 A discuss\u00e3o sobre empreendedorismo, tema do \u201cEmprecariado\u201d (livro de Lorusso), foi, claro, ponto central da conversa. A ideologia de ser empreendedor \u00e9 vista por Lorusso como o outro lado da precariedade. H\u00e1, em comum, o fato de ambas ideias estarem ligados \u00e0 ideia de risco,\u00a0 mas com o empreendedor abra\u00e7ando a incerteza como oportunidade, enquanto o trabalhador prec\u00e1rio vivencia o ser empreendedor como uma imposi\u00e7\u00e3o. As plataformas, como se sabe, exacerbam essa rela\u00e7\u00e3o, como discutido no livro, que analisa diversas plataformas para al\u00e9m das tradicionais “Gafam” (Google, Amazon, Facebook, Apple, Microsoft): o LinkedIn, o <\/span>makretplace <\/span><\/i>de freelas <\/span>Fiverr<\/span><\/a>g; e o <\/span>GoFundMe<\/span><\/a>, plataforma de crowdfunding que, segundo Lorusso, exemplifica como a l\u00f3gica da criatividade e do financiamento coletivo pode se estender a necessidades sociais e, com isso, expor uma certa “criatividade tr\u00e1gica” generalizada.<\/span><\/p>\n _ Falamos tamb\u00e9m das alternativas \u00e0s plataformas centralizadas, como as plataformas federadas (no Fediverso), que operam com uma l\u00f3gica descentralizada, onde cada inst\u00e2ncia t\u00eam suas pr\u00f3prias regras. Comentei tamb\u00e9m que essas plataformas, que t\u00eam ganhado um certo boom neste 2025 com a migra\u00e7\u00e3o de pessoas cansadas das redes sociais alinhadas \u00e0 Trump, tamb\u00e9m enfrentam desafios relacionados \u00e0 modera\u00e7\u00e3o de conte\u00fado em larga escala, al\u00e9m da necessidade de organiza\u00e7\u00e3o e trabalho para manter esses espa\u00e7os saud\u00e1veis.<\/span><\/p>\n _ Al\u00e9m de provar o chimarr\u00e3o ga\u00facho, Lorusso comentou sobre como, na sua breve viv\u00eancia em territ\u00f3rio brasileiro (que incluiu o Carnaval), teve um certo assombro em perceber a implementa\u00e7\u00e3o generalizada – e normalizada –\u00a0 das tecnologias de reconhecimento facial nas grandes cidades brasileiras. A precariedade inerente ao contexto brasileiro parece fazer com que experimentos tecnol\u00f3gicos sejam mais facilmente implementados aqui (e no restante do Sul Global) do que em lugares como a Europa (Portugal em especial, onde ele vive; mas tamb\u00e9m na It\u00e1lia, sua terra de origem).\u00a0<\/span><\/p>\n _ Por fim, comentamos at\u00e9 sobre a prolifera\u00e7\u00e3o das apostas online (bets), motivados por uma pergunta da plat\u00e9ia. \u00c9 um fen\u00f4meno inescap\u00e1vel no pa\u00eds e que demanda um novo vocabul\u00e1rio para entender a din\u00e2mica de plataforma e precariza\u00e7\u00e3o, agora desvinculada da ideia de produ\u00e7\u00e3o ou do trabalho tradicional, e que tem impactos sociais significativos, especialmente entre a popula\u00e7\u00e3o de baixa renda.<\/span><\/p>\n As fotos do evento abaixo s\u00e3o da Helena Wolfenson.<\/p>\n <\/p>\n <\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":" A internet dos anos 2000 prometeu liberdade e colabora\u00e7\u00e3o e entregou Big Techs, plataformiza\u00e7\u00e3o da vida e a precariza\u00e7\u00e3o do trabalho criativo. 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