{"id":15723,"date":"2024-10-11T17:16:34","date_gmt":"2024-10-11T20:16:34","guid":{"rendered":"https:\/\/baixacultura.org\/?p=15723"},"modified":"2024-10-11T17:18:52","modified_gmt":"2024-10-11T20:18:52","slug":"a-copia-na-era-de-sua-proliferacao-tecnica","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/baixacultura.org\/2024\/10\/11\/a-copia-na-era-de-sua-proliferacao-tecnica\/","title":{"rendered":"A c\u00f3pia na era de sua prolifera\u00e7\u00e3o t\u00e9cnica"},"content":{"rendered":"

Muito j\u00e1 se falou sobre as mudan\u00e7as que a internet e as tecnologias digitais trouxeram para o compartilhamento de informa\u00e7\u00e3o: a era da \u201clibera\u00e7\u00e3o do polo emissor da informa\u00e7\u00e3o\u201d propiciou o acesso f\u00e1cil a maior quantidade de informa\u00e7\u00e3o dispon\u00edvel na hist\u00f3ria da humanidade, para o maior n\u00famero de pessoas j\u00e1 existentes no planeta at\u00e9 aqui.\u00a0<\/span><\/p>\n

\u00c9 normal que o debate tenha o foco na recep\u00e7\u00e3o das informa\u00e7\u00f5es digitalizadas. As pr\u00e1ticas de consumo e circula\u00e7\u00e3o de informa\u00e7\u00e3o dizem respeito a toda a sociedade, enquanto que as pr\u00e1ticas criativas dizem respeito a um grupo mais seleto de pessoas que, de forma assumida, afirma que cria – embora saibamos que a cria\u00e7\u00e3o est\u00e1 em muito mais lugares do que imaginamos. As mesmas tecnologias que nos levam a conversar sobre novos modos de consumir e compartilhar informa\u00e7\u00e3o colocam, tamb\u00e9m, em relevo pr\u00e1ticas criativas ligadas ao roubo. Identificamos um sampler em menos de 3 s, uma imagem atrav\u00e9s de uma busca simples de compara\u00e7\u00e3o num buscador da web; usamos qualquer obra para criar outras.<\/span><\/p>\n

As pr\u00e1ticas de (re) cria\u00e7\u00e3o ligadas \u00e0 abund\u00e2ncia de informa\u00e7\u00e3o potencializada nos \u00faltimos 30 anos por objetos t\u00e9cnicos n\u00e3o fazem outra coisa que n\u00e3o coletar, armazenar, processar e difundir dados. Estes objetos, que voc\u00ea reconhece em todos os h\u00e1bitos cotidianos de uma pessoa do s\u00e9culo XXI, tem por ess\u00eancia a c\u00f3pia. Isso significa dizer que eles s\u00f3 existem porque copiam; n\u00e3o h\u00e1 a\u00e7\u00e3o no uso da internet e de objetos digitais que n\u00e3o seja, em ess\u00eancia, uma combina\u00e7\u00e3o gigantesca de n\u00fameros copiados. S\u00e3o os 0 e 1 recombinados a exaust\u00e3o que fazem brotar, \u00e0s vezes como m\u00e1gica, imagens, sons, textos, que v\u00e3o ser captados pelos nossos sentidos e fru\u00eddos como arte, jornalismo, entretenimento – ou simplesmente mentira.<\/span><\/p>\n

A prolifera\u00e7\u00e3o mundial dos sistemas de intelig\u00eancias artificiais generativas<\/a> (ChatGPT, MidJourney, Stable Diffusion, Gemini, etc) em 2023 quebra um paradigma ao tornar a c\u00f3pia <\/span>ainda mais <\/span><\/i>base para a cria\u00e7\u00e3o. Tudo que est\u00e1 na internet e foi raspado – sem consentimento, ali\u00e1s – por estes sistemas est\u00e1 sendo a base para a cria\u00e7\u00e3o de in\u00fameras coisas, de cards de redes sociais a ilustra\u00e7\u00f5es de livros, passando por e-mails, artigos, filmes, textos e m\u00fasicas. Se j\u00e1 no in\u00edcio do s\u00e9culo XX a reprodu\u00e7\u00e3o t\u00e9cnica, especialmente na fotografia e no cinema, tornava a c\u00f3pia e o \u201coriginal\u201d n\u00e3o facilmente distingu\u00edveis, o que dir\u00e1 a partir de 2023, quando as IAs ampliam a reprodu\u00e7\u00e3o digital e, cada vez mais, a separam de sua materialidade original, que passa a se transformar em mero dado, padr\u00f5es de n\u00fameros a alimentarem grandes bancos onde n\u00e3o existe mais singularidade, apenas c\u00f3pia – a hiperconex\u00e3o do E E E E E em vez do OU OU, j\u00e1 que \u00e0s m\u00e1quinas n\u00e3o \u00e9 facultado a possibilidade de fim, mas sim a reprodu\u00e7\u00e3o cont\u00ednua e infinita de presente.\u00a0<\/span><\/p>\n

Diante disso, qual ser\u00e1 o papel da c\u00f3pia na cria\u00e7\u00e3o art\u00edstica na era da Intelig\u00eancia Artificial Generativa? Estamos em uma investiga\u00e7\u00e3o, desde 2023, para entendermos o papel da c\u00f3pia ao longo dos \u00faltimos s\u00e9culos na hist\u00f3ria da arte, o que passa pela quest\u00e3o hist\u00f3rica do desvio: como se sabe – e n\u00f3s j\u00e1 tratamos um pouco aqui, nos \u201cmomentos da hist\u00f3ria da recombina\u00e7\u00e3o<\/a>\u201d – a arte \u00e9 marcada pelo pl\u00e1gio, o roubo, o desvio, a c\u00f3pia e apropria\u00e7\u00e3o. Estamos nos encaminhando para o encerramento desse processo, que vai resultar num livro a ser publicado pela SobInfluencia em 2025.<\/span><\/p>\n

Em paralelo e complementar ao processo de produ\u00e7\u00e3o do livro, nasceu o projeto <\/span>C\u00f3pia & Desvio<\/b>. \u00c9 uma s\u00e9rie de confer\u00eancias experimentais\/performances\/lives sobre o direito para copiar e reutilizar o conhecimento humano. Organizado em quatro atos, o objetivo \u00e9 apresentar uma narrativa cr\u00edtica sobre a c\u00f3pia e sua rela\u00e7\u00e3o com a pol\u00edtica e a sociedade ao longo do tempo.\u00a0Em di\u00e1logo com o processo de escrita do livro, as quatro sess\u00f5es v\u00e3o abordar temas, pessoas, grupos e movimentos hist\u00f3ricos onde a c\u00f3pia ganhou destaque, sempre em di\u00e1logo com a hist\u00f3ria das tecnologias que permitiram transforma\u00e7\u00f5es na reprodu\u00e7\u00e3o t\u00e9cnica.\u00a0<\/span><\/p>\n

Vamos examinar momentos como a cria\u00e7\u00e3o do r\u00e1dio e da arte sonora do surrealismo e do dada\u00edsmo; o d\u00e9tournement situacionista e o cut-up dos 1960; a arte xerox e a mail art dos anos 1970 e 1980; os samplers e a cultura hip-hop, os remixes e os memes potencializados na internet; at\u00e9 chegar, por fim, a cria\u00e7\u00e3o na era da IAs generativas.<\/span><\/p>\n

As confer\u00eancias\/performances se desenvolvem em um formato experimental, ao vivo, como lives, em que a narra\u00e7\u00e3o ir\u00e1 acompanhar um <\/span>live coding<\/span><\/i> com elementos visuais e sonoros, al\u00e9m de outras interven\u00e7\u00f5es ao vivo. Ser\u00e3o gravadas e transmitidas, via canal do Youtube<\/a> do BaixaCultura.<\/span><\/p>\n

A primeira destas confer\u00eancias ser\u00e1 chamada de \u201c<\/span>A c\u00f3pia na era de sua prolifera\u00e7\u00e3o t\u00e9cnica\u201d<\/b> e vai ocorrer no 24 de outubro, \u00e0s 19h (Brasil, UTC-3).<\/strong> Rafael Bresciani<\/a> e Leonardo Foletto<\/a> v\u00e3o criar artefatos sonoros e visuais para compor a narra\u00e7\u00e3o da confer\u00eancia, centrada nas pr\u00e1ticas e reflex\u00f5es de c\u00f3pia no s\u00e9culo XX, de Walter Benjamin a Lev Manovich, passando por Marcel Duchamp, Guy Debord, William Burroughs, Hugo Pontes, Paulo Bruczky, Moholy-Nagy, Rosalind Krauss, Yoko Ono, Andy Warhol, Sherrie Levine, Devo, Talking Heads, Neu!, entre outros.
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