{"id":15695,"date":"2024-08-09T15:59:23","date_gmt":"2024-08-09T18:59:23","guid":{"rendered":"https:\/\/baixacultura.org\/?p=15695"},"modified":"2024-08-13T16:40:36","modified_gmt":"2024-08-13T19:40:36","slug":"todos-ouvidos-25-anos-do-napster","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/baixacultura.org\/2024\/08\/09\/todos-ouvidos-25-anos-do-napster\/","title":{"rendered":"Todo(s) ouvidos: 25 anos do Napster"},"content":{"rendered":"
H\u00e1 25 anos, o Napster transformou a forma como ouvimos, consumimos e experimentamos entretenimento, tornando-se um dos servi\u00e7os de compartilhamento de m\u00fasica mais ic\u00f4nicos e disruptivos da internet<\/em><\/p>\n Por Andressa Soilo<\/strong>*<\/p>\n Criado em 1999 por Shawn Fanning<\/a>, um estudante de 19 anos insatisfeito com o modelo de distribui\u00e7\u00e3o musical da ind\u00fastria fonogr\u00e1fica, e pelo igualmente jovem Sean Parker<\/a>, que anos depois seria tamb\u00e9m o primeiro presidente do Facebook, o Napster rapidamente se tornou um instrumento de transforma\u00e7\u00e3o cultural. A disponibiliza\u00e7\u00e3o de downloads gratuitos de m\u00fasicas em MP3 n\u00e3o era uma novidade, mas os programas existentes naquele momento (IRC, Hotline e Usenet, por exemplo) n\u00e3o eram t\u00e3o bons e f\u00e1ceis de usar como o software criado principalmente por Fanning, programador autodidata – Parker entraria tamb\u00e9m com o investimento dos primeiros U$50 mil da empresa.<\/p>\n Menos de um ano depois do lan\u00e7amento, o Napster j\u00e1 era um sucesso: registrava cerca de 14 mil m\u00fasicas baixadas por minuto e contava com aproximadamente 75 milh\u00f5es de usu\u00e1rios registrados, segundo Corey Rayburn<\/a>. Sua base de usu\u00e1rios crescia cerca de 25% ao dia. Naquela \u00e9poca, o termo mais pesquisado nos sites de busca era \u201cMP3\u201d, e o programa de compartilhamento chegou a entrar para o Guinness Book of World Records como o empreendimento com o crescimento mais r\u00e1pido de todos os tempos – at\u00e9 aquele momento. Em outubro de 2000, Fanning estampou uma ic\u00f4nica capa da revista Time, que considerou seu programa uma das maiores inova\u00e7\u00f5es da Internet, ao lado do e-mail e das mensagens instant\u00e2neas.<\/p>\n O programa transformou a forma de circula\u00e7\u00e3o e compartilhamento da m\u00fasica \u00e0 \u00e9poca sobretudo por tr\u00eas aspectos: desafiava as normas de direitos autorais, ao promover abertamente a pirataria; apresentava um jovem que enfrentava o dom\u00ednio da ind\u00fastria musical; e incentivava um senso de coletividade e solidariedade entre seus usu\u00e1rios. A mensagem era: a m\u00fasica \u00e9 livre! Acabou a obriga\u00e7\u00e3o financeira para acessar a m\u00fasica<\/i>. O usu\u00e1rio apenas precisava se cadastrar, instalar o aplicativo do Napster no computador, buscar a m\u00fasica desejada e baix\u00e1-la. N\u00e3o era mais necess\u00e1rio ir a uma loja f\u00edsica ou comprar um \u00e1lbum inteiro apenas para ouvir uma ou duas faixas de um artista. E claro, n\u00e3o havia mais a necessidade de pagar os elevados pre\u00e7os impostos pelo mercado.<\/p>\n Embora a inova\u00e7\u00e3o tenha proporcionado a milhares de usu\u00e1rios de m\u00fasica na internet maior economia e autonomia no consumo, o Napster teve uma vida \u00fatil curta em seu formato de programa de downloads \u00e0 margem da lei. Em 2001, ap\u00f3s uma s\u00e9rie de processos movidos pelas grandes gravadoras e pela Recording Industry Association of America (RIAA)<\/a>, que alegavam que o servi\u00e7o facilitava a viola\u00e7\u00e3o de direitos autorais, uma ordem judicial determinou que o Napster deveria interromper suas atividades.<\/p>\n No entanto, o breve per\u00edodo de atividade foi suficiente para abalar o status quo <\/i>da ind\u00fastria fonogr\u00e1fica. A popularidade do programa e sua capacidade de expressar insatisfa\u00e7\u00f5es de consumidores em rela\u00e7\u00e3o \u00e0 ind\u00fastria musical foram suficientes para for\u00e7ar uma reinven\u00e7\u00e3o na distribui\u00e7\u00e3o do entretenimento. O professor Kartik Hosanagar\u00a0 da School of the University of Pennsylvania<\/i> em entrevista para Knowledge at Warthon, <\/i>refor\u00e7a essa ideia:<\/p>\n “Com os downloads<\/i>, o segmento mais baixo do mercado n\u00e3o vai pagar por isso porque a m\u00fasica pode ser obtida gratuitamente [por meio de pirataria]. O segmento mais alto do mercado achar\u00e1 o streaming <\/i>mais conveniente porque tem acesso \u00e0 m\u00fasica \u2018a qualquer hora e em qualquer lugar\u2019, em vez de comprar a m\u00fasica em um dispositivo e n\u00e3o ter acesso em outro (Knowledge at Wharton, dispon\u00edvel em: https:\/\/knowledge.wharton.upenn.edu\/faculty\/kartik-hosanagar\/<\/a>).”<\/p><\/blockquote>\n Compartilhando sensos de justi\u00e7a<\/b><\/p>\n As mudan\u00e7as trazidas pelo Napster n\u00e3o foram apenas de ordem econ\u00f4mica, embora esse aspecto seja crucial para entender o impacto disruptivo do servi\u00e7o. O software ajudou a formar novas percep\u00e7\u00f5es sobre o que \u00e9 (in)toler\u00e1vel no comportamento da ind\u00fastria da m\u00fasica e fortaleceu sensos de justi\u00e7a entre os consumidores, como escrevi em minha tese de doutorado sobre o tema***. A plataforma deu voz a um p\u00fablico que via desvantagens no modelo tradicional de distribui\u00e7\u00e3o da m\u00fasica. Os pre\u00e7os elevados, a possibilidade de conhecer artistas sem um comprometimento financeiro pr\u00e9vio e a falta de op\u00e7\u00f5es de compra \u201c\u00e0 la carte\u201d deixaram de ser apenas desconfortos e se tornaram protestos.<\/p>\n A consolida\u00e7\u00e3o da percep\u00e7\u00e3o coletiva sobre a falta de aten\u00e7\u00e3o da ind\u00fastria em rela\u00e7\u00e3o ao seu p\u00fablico-alvo foi bem-sucedida. No\u00e7\u00f5es e termos relacionados \u00e0 \u201cgan\u00e2ncia\u201d eram amplamente difundidos para desaprovar e contestar m\u00e9todos e a\u00e7\u00f5es do setor fonogr\u00e1fico. Piadas, s\u00e1tiras, sarcasmo e ironias se tornaram formas comuns para deslegitimar as pr\u00e1ticas legais destinadas a combater a pirataria. Essas express\u00f5es t\u00eam relev\u00e2ncia porque funcionam como instrumentos de atra\u00e7\u00e3o e carisma, refor\u00e7ando a moral dos cr\u00edticos, ao mesmo tempo em que deslegitimam e desmoralizam a ind\u00fastria do entretenimento e o Estado e suas leis.<\/p>\n Mas os agentes do status quo <\/i>revidaram. Nos anos 2000, compara\u00e7\u00f5es entre pirataria e crimes como furto e roubo foram frequentes. Em 2007 a gravadora Universal Music Group promoveu uma campanha de publicidade anti-pirataria que envolvia imagens de partes desmembradas do corpo humano \u2013 como olhos, dedos, e orelhas \u2013 sugerindo que o download irregular de m\u00fasicas suscitava na perda de partes dos corpos de m\u00fasicos, como relatou Mike Masnik na Techdirt<\/a>. Aqui mesmo no BaixaCultura h\u00e1 uma s\u00e9rie dessas imagens compiladas<\/a>, com frases como \u201cSe voc\u00ea baixa MP3, voc\u00ea est\u00e1 baixando o comunismo\u201d ou imagens como a de artistas consagrados (Elvis Presley, Jimi Hendrix, Jim Morrison) formada a partir de Cds virgens.<\/p>\n Essas compara\u00e7\u00f5es eram dirigidas n\u00e3o apenas a programadores e softwares de compartilhamento, mas tamb\u00e9m aos usu\u00e1rios desses servi\u00e7os. Al\u00e9m de n\u00e3o oferecer condi\u00e7\u00f5es de consumo atraentes para muitos usu\u00e1rios, organiza\u00e7\u00f5es representativas de est\u00fadios e gravadoras passaram a tratar o p\u00fablico \u2013 e n\u00e3o apenas os programadores \u2013 como moralmente suspeitos, rotulando-os de ladr\u00f5es de dinheiro, carreiras e sonhos de artistas.<\/p>\n \u00c9 poss\u00edvel entender essa disputa narrativa como um dos principais coveiros do formato tradicional de distribui\u00e7\u00e3o de m\u00fasica. N\u00e3o foram apenas o Napster, como ferramenta de compartilhamento, nem os altos pre\u00e7os e as restri\u00e7\u00f5es de acesso que provocaram essa transforma\u00e7\u00e3o. Emo\u00e7\u00f5es, sentimentos, percep\u00e7\u00f5es e interpreta\u00e7\u00f5es do p\u00fablico consumidor \u2014 que o Napster, como ferramenta sociot\u00e9cnica, conseguiu amplificar \u2014 desempenharam um papel determinante na necessidade de reestruturar o mercado.<\/p>\n O Napster ainda existe em 2024 – como streaming pago<\/em><\/p><\/div>\n <\/p>\n Legados do Napster<\/b><\/p>\n Mas de quais transforma\u00e7\u00f5es estamos falando? Em \u00faltima an\u00e1lise, as mudan\u00e7as ocorridas nos \u00faltimos 25 anos podem ser entendidas como uma reavalia\u00e7\u00e3o da ind\u00fastria em resposta \u00e0s percep\u00e7\u00f5es e interesses levantados pela pirataria e seus agentes. Como resultado, houve um esfor\u00e7o significativo em confluir l\u00f3gicas coletivas e l\u00f3gicas corporativas em um mesmo espa\u00e7o a fim de reconquistar consumidores e direcion\u00e1-los de volta para o mercado legalizado do entretenimento.<\/p>\n Na pr\u00e1tica, o legado do Napster pode ser percebido em diversas de nossas rela\u00e7\u00f5es cotidianas com o consumo de m\u00fasica, mas destaco uma heran\u00e7a marcada por tr\u00eas movimentos: a consistente presen\u00e7a da m\u00fasica no espa\u00e7o online; o acesso mais barato em compara\u00e7\u00e3o a d\u00e9cadas passadas; e o surgimento dos servi\u00e7os de streaming.<\/p>\n Talvez a resposta mais not\u00e1vel da ind\u00fastria neste momento seja o desenvolvimento e aprimoramento de plataformas de streaming, tendo o Spotify como o principal exemplo, mas tamb\u00e9m o pr\u00f3prio Napster<\/a>, que hoje ainda existe como um servi\u00e7o de streaming pago. Como j\u00e1 dito aqui no BaixaCultura<\/a>, a ind\u00fastria soube ouvir uma demanda de quem usava o Napster e os torrents para ter acesso \u00e0 diversas produ\u00e7\u00f5es culturais mundiais: fa\u00e7a melhor que eu pago. Mesmo envoltas por regula\u00e7\u00f5es de propriedade intelectual, as plataformas de streaming assimilam alguns dos princ\u00edpios de justi\u00e7a promovidos pela pirataria – pelo menos no que diz respeito aos usu\u00e1rios, j\u00e1 que os artistas continuam sendo remunerados de forma confusa, pra n\u00e3o dizer injusta.<\/p>\n Algumas dessas similaridades entre plataformas de streaming e softwares como o Napster s\u00e3o o (relativo) baixo custo do acesso \u00e0 m\u00fasica (pelo menos em compara\u00e7\u00e3o aos CDs e LPs), o que d\u00e1 a sensa\u00e7\u00e3o de \u201cgratuidade\u201d; a praticidade destes servi\u00e7os – basta assinar e j\u00e1 \u00e9 poss\u00edvel ter acesso a um universo de m\u00fasicas, um modo mais f\u00e1cil e passivo de consumo musical que a busca ativa em servi\u00e7os como o Napster e os torrents; a maior interatividade com o p\u00fablico, propiciada (e estimulada) pelos algoritmos dos servi\u00e7os de streaming tamb\u00e9m como forma de manter mais tempo o usu\u00e1rio conectado \u201cpreso\u201d aos dom\u00ednios das plataformas. Essas caracter\u00edsticas n\u00e3o est\u00e3o limitadas a seus aspectos t\u00e9cnicos; descendem de uma cadeia de eventos em que percep\u00e7\u00f5es, valores e emo\u00e7\u00f5es foram (e s\u00e3o) constantemente negociados.<\/p>\n \u00c9 pertinente pensarmos que a ind\u00fastria musical de hoje \u00e9 produzida a partir de rela\u00e7\u00f5es coprodutivas entre pirataria e sistemas orientados por direitos autorais. A pirataria segue, como sempre ocorre, \u00e0s margens do universo legalizado, mas a habita de modo central e constante. Nesse di\u00e1logo, os sistemas de direitos autorais, por sua vez, precisam constantemente se adaptar a essa din\u00e2mica, buscando formas de integrar e regular essas pr\u00e1ticas em um cen\u00e1rio em constante evolu\u00e7\u00e3o. A interdepend\u00eancia entre esses dois elementos destaca a complexidade do mercado atual e a necessidade de atualiza\u00e7\u00f5es de abordagens para equilibrar acesso, prote\u00e7\u00e3o e remunera\u00e7\u00e3o no setor musical. A pirataria, longe de ser uma for\u00e7a perif\u00e9rica, desempenha um papel crucial no setor musical, moldando n\u00e3o apenas o consumo, mas tamb\u00e9m a forma como as estrat\u00e9gias comerciais s\u00e3o elaboradas.<\/p>\n \u00c9 interessante percebermos como as categorias do legal e ilegal n\u00e3o s\u00e3o completamente dissociadas quando tratamos de ind\u00fastria fonogr\u00e1fica. Pelo contr\u00e1rio, est\u00e3o em constante di\u00e1logo tra\u00e7ando e redefinindo fronteiras sociais do aceit\u00e1vel e do inaceit\u00e1vel. E se hoje muitos desfrutam de m\u00fasicas atrav\u00e9s de plataformas de streaming <\/i>legalizadas, n\u00e3o h\u00e1 espa\u00e7o para pensar que nos distanciamos tanto da pirataria.<\/p>\n Muitos dos princ\u00edpios, demandas e inova\u00e7\u00f5es de um quarto de s\u00e9culo atr\u00e1s continuam presentes tanto em tecnologias mainstream<\/i>, quanto em plataformas como o Streamio e demais sobreviventes de buscas de torrents – mas isso \u00e9 papo para outro texto.<\/p>\n ****<\/p>\n *: Andressa \u00e9 Doutora e mestra em Antropologia Social pela UFRGS, atualmente professora da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), campus Erechim.<\/em> H\u00e1 25 anos, o Napster transformou a forma como ouvimos, consumimos e experimentamos entretenimento, tornando-se um dos servi\u00e7os de compartilhamento de m\u00fasica mais ic\u00f4nicos e disruptivos da internet Por Andressa Soilo* Criado em 1999 por Shawn Fanning, um estudante de 19 anos insatisfeito com o modelo de distribui\u00e7\u00e3o musical da ind\u00fastria fonogr\u00e1fica, e pelo igualmente […]<\/p>\n","protected":false},"author":2,"featured_media":15696,"comment_status":"open","ping_status":"open","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":[],"categories":[122],"tags":[6652,163,110,145,152,6651,2046,159,2140,2071,2049],"post_folder":[],"jetpack_featured_media_url":"https:\/\/baixacultura.org\/wp-content\/uploads\/2024\/08\/napster-time.jpg","_links":{"self":[{"href":"https:\/\/baixacultura.org\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/15695"}],"collection":[{"href":"https:\/\/baixacultura.org\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"https:\/\/baixacultura.org\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/baixacultura.org\/wp-json\/wp\/v2\/users\/2"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/baixacultura.org\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=15695"}],"version-history":[{"count":9,"href":"https:\/\/baixacultura.org\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/15695\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":15708,"href":"https:\/\/baixacultura.org\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/15695\/revisions\/15708"}],"wp:featuredmedia":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/baixacultura.org\/wp-json\/wp\/v2\/media\/15696"}],"wp:attachment":[{"href":"https:\/\/baixacultura.org\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=15695"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"https:\/\/baixacultura.org\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=15695"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"https:\/\/baixacultura.org\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=15695"},{"taxonomy":"post_folder","embeddable":true,"href":"https:\/\/baixacultura.org\/wp-json\/wp\/v2\/post_folder?post=15695"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}<\/p>\n
<\/p>\n
\n**: Como est\u00e1 registrado em BRUENGER, David. 2016. Making Money, Making Music: History and Core Concepts. University of California Press. Dispon\u00edvel em: https:\/\/archive.org\/details\/isbn_2900520292597<\/a><\/em>
\n***: SOILO, Andressa Nunes. Habitando a distribui\u00e7\u00e3o do entretenimento : regime de propriedade intelectual, a tecnologia streaming e a \u201cpirataria\u201d digital em coautoria. 2019. 290f. Tese (Doutorado em Antropologia Social), Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2019. Dispon\u00edvel em: https:\/\/lume.ufrgs.br\/handle\/10183\/200183<\/a><\/em><\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"