{"id":15573,"date":"2024-02-20T20:03:56","date_gmt":"2024-02-20T23:03:56","guid":{"rendered":"https:\/\/baixacultura.org\/?p=15573"},"modified":"2024-02-21T09:40:50","modified_gmt":"2024-02-21T12:40:50","slug":"um-manifesto-hacker-20-anos-depois","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/baixacultura.org\/2024\/02\/20\/um-manifesto-hacker-20-anos-depois\/","title":{"rendered":"Um Manifesto Hacker – 20 anos depois"},"content":{"rendered":"
N\u00e3o \u00e9 f\u00e1cil a tarefa de apresentar Um Manifesto Hacker<\/a>, de McKenzie Wark, ao p\u00fablico brasileiro hoje. A natureza ensa\u00edstica, provocativa e ir\u00f4nica da obra nos p\u00f5e um desafio: como falar de um presente sem estragar a surpresa? Outra quest\u00e3o \u00e9 o tempo: o livro foi lan\u00e7ado pela primeira vez h\u00e1 vinte anos. Como contextualizar a obra? O papel da informa\u00e7\u00e3o e das tecnologias na sociedade contempor\u00e2nea est\u00e1 ainda mais vis\u00edvel do que h\u00e1 vinte anos, o que faz com que a obra continue atual \u2013 como a pr\u00f3pria autora afirma em sua introdu\u00e7\u00e3o \u00e0 edi\u00e7\u00e3o brasileira. Se, por um lado, n\u00e3o vamos estragar as surpresas \u2013 elas s\u00e3o deliciosas \u2013 por outro, n\u00e3o espere uma apresenta\u00e7\u00e3o tradicional. Ela seria o exato oposto do que o pr\u00f3prio livro tentou ser.<\/p>\n O que podemos contextualizar \u00e9 que, embora a tradu\u00e7\u00e3o apenas saia agora, sua recep\u00e7\u00e3o em territ\u00f3rio brasileiro aconteceu mesmo h\u00e1 quase vinte anos. De forma um tanto err\u00e1tica, quase underground, o livro foi lido e discutido em meios acad\u00eamicos e ativistas, sobretudo onde havia pessoas interessadas em torno da grande \u00e1rea que se convencionou chamar cibercultura \u2013 nome que hoje, com a onipresen\u00e7a do digital em nossas vidas, parece ter sido abandonado.<\/p>\n Dentro dessa \u00e1rea, hackers afeitos tamb\u00e9m aos estudos filos\u00f3ficos de inspira\u00e7\u00e3o deleuziana sobre a t\u00e9cnica receberam com entusiasmo estes escritos de McKenzie Wark; outros, especialmente te\u00f3ricos da comunica\u00e7\u00e3o e da sociologia, leram com aten\u00e7\u00e3o as teses do livro e notaram as semelhan\u00e7as com \u201cA Sociedade do Espet\u00e1culo\u201d, de Guy Debord, e \u201cManifesto Comunista\u201d, de Karl Marx e Friedrich Engels, evidentes na forma afor\u00edstica do texto mas nem t\u00e3o clara no conte\u00fado \u2013 embora voc\u00ea ver\u00e1 muito de ambos autores nas p\u00e1ginas do livro.<\/p>\n Um Manifesto prop\u00f5e a vis\u00e3o de que existem tr\u00eas classes dominantes e suas respectivas classes dominadas. Cada uma dessas classes dominantes deriva seu poder da propriedade privada de uma categoria de meios de produ\u00e7\u00e3o. S\u00e3o elas a classe pastoralista, que det\u00e9m terras; a classe capitalista, que possui capital; e a classe vetorialista, propriet\u00e1ria da informa\u00e7\u00e3o. E suas decorrentes classes dominadas, respectivamente a classe camponesa, a classe trabalhadora e a classe hacker. Apesar de haver uma sequ\u00eancia hist\u00f3rica na emerg\u00eancia de cada uma delas (primeiro veio a pastoralista, depois a capitalista, e agora a vetorialista), a autora afirma que as tr\u00eas classes coexistem no presente. [Leonardo Foletto]<\/strong><\/p>\n “O que para n\u00f3s era uma pr\u00e1tica de vanguarda rapidamente, e de forma independente, tornou-se um movimento social: o movimento pela informa\u00e7\u00e3o livre. \u00c0 medida que a internet se tornou uma forma de comunica\u00e7\u00e3o mais popular, todos come\u00e7aram a compartilhar. Como diz a tese 126 do livro: \u201ca informa\u00e7\u00e3o quer ser livre, mas est\u00e1 acorrentada em todos os lugares\u201d (…) Parecia que poder\u00edamos abrir a forma-mercadoria da informa\u00e7\u00e3o em favor de uma esp\u00e9cie de economia de d\u00e1diva abstrata. (…) N\u00e3o era pra ser. Os marxistas autonomistas italianos sustentam que toda \u201cinova\u00e7\u00e3o\u201d na forma-mercadoria \u00e9 impulsionada de baixo para cima, na medida em que tenta resolver um antagonismo de classe subordinada contra a forma-mercadoria por meio de sua recaptura por meio de uma muta\u00e7\u00e3o dessa forma. Foi mais ou menos isso que aconteceu. A classe dominante dominante, que chamo de classe vetorialista, recuperou a energia do movimento popular pela informa\u00e7\u00e3o livre transformando-a em trabalho n\u00e3o remunerado<\/strong>“.
\nEste \u00e9 um trechinho do pref\u00e1cio (\u00edntegra<\/a>) que eu, Victor Barcellos (tamb\u00e9m tradutor da obra) e Rafael Grohmann fizemos para a \u201cUm Manifesto Hacker\u201d, segundo livro publicado no Brasil de McKenzie Wark, ambos pela dupla de editoras SobInfluencia e Funilaria – fizemos uma breve resenha do primeiro, \u201cO Capital Est\u00e1 Morto\u201d, em fevereiro de 2023<\/a>. \u201cUm Manifesto Hacker\u201d est\u00e1 \u00e0 venda no site das duas editoras (Funilaria<\/a> \/ SobInfluencia<\/a>) e tamb\u00e9m nas melhores livrarias do pa\u00eds. Republicamos<\/a> logo abaixo o pref\u00e1cio \u00e0 edi\u00e7\u00e3o brasileira do livro, escrito por Mckenzie, que atualiza com muita clareza e honestidade a quest\u00e3o da libera\u00e7\u00e3o da informa\u00e7\u00e3o da forma de propriedade na internet. O livro na \u00edntegra tamb\u00e9m est\u00e1 dispon\u00edvel em PDF, mas n\u00e3o espalha<\/a>.<\/p>\n
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