{"id":15311,"date":"2023-07-21T11:55:16","date_gmt":"2023-07-21T14:55:16","guid":{"rendered":"https:\/\/baixacultura.org\/?p=15311"},"modified":"2023-07-21T12:43:34","modified_gmt":"2023-07-21T15:43:34","slug":"colonialismo-digital-em-critica-hacker-fanoniana","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/baixacultura.org\/2023\/07\/21\/colonialismo-digital-em-critica-hacker-fanoniana\/","title":{"rendered":"Colonialismo digital em cr\u00edtica hacker-fanoniana"},"content":{"rendered":"

Segunda-feira passada participamos de um debate\/lan\u00e7amento na \u00f3tima Nigra Distro<\/a> em SP sobre o “Colonialismo Digital: por uma cr\u00edtica hacker-fanoniana”, de Walter Lippold e Deivison Faustino, livro rec\u00e9m lan\u00e7ado pela Boitempo [veja aqui<\/a>] que faz uma potente e necess\u00e1ria aproxima\u00e7\u00e3o entre as discuss\u00f5es de colonialismo e racismo de Frantz Fanon com a cultura hacker para entender como a vida humana, o \u00f3cio, a criatividade, a cogni\u00e7\u00e3o e os processos produtivos passam a ser submetidas \u00e0s l\u00f3gicas extrativistas, automatizadas e pan\u00f3pticas do colonialismo digital. <\/span><\/span><\/p>\n

Foi muito bom encontrar presencialmente, pela primeira vez, Walter<\/a>, professor de hist\u00f3ria que cada vez mais se debru\u00e7a sobre a hist\u00f3ria das tecnologias, sobretudo isl\u00e2micas a africanas, com quem j\u00e1 trocamos ideias sobre esse e outros temas desde 2019 (ou antes), especialmente depois que fizemos a BaixaCharla #2 sobre descoloniza\u00e7\u00e3o das tecnologias<\/a> a partir dos escritos de Fanon. Walter tamb\u00e9m lan\u00e7ou recentemente “Fanon e a Revolu\u00e7\u00e3o Argelina<\/a>“, em que analisa a circula\u00e7\u00e3o de ideias fanonianas atrav\u00e9s dos artigos do jornal “El Moudjahid” durante a Guerra da Arg\u00e9lia (1954-1962) – trabalho origin\u00e1rio de sua tese de doutorado em hist\u00f3ria na UFRGS<\/a> defendida em 2019.<\/span><\/span><\/p>\n

Deivison, escritor\/professor\/intelectual especialista na obra de Fanon, passamos a admirar ainda mais depois do papo. Dele, vale ler o “Fanon e as Encruzilhadas<\/a>“, da Ubu, livro produzido a partir de sua tese de doutorado “Por que Fanon, por que agora?: Frantz Fanon e os fanonismos no Brasil<\/a>“, defendida no Programa de P\u00f3s-Gradua\u00e7\u00e3o em Sociologia da UFSCAR em 2015.<\/span><\/span><\/p>\n

Sobre “Colonialismo Digital”, o livro, palavras de Tarcizio Silva<\/a> na orelha: “Deivison Faustino e Walter Lippold nos oferecem uma publica\u00e7\u00e3o oportuna em um momento de acirramento das disputas por soberanias digitais, em especial em pa\u00edses como o Brasil. Conseguir\u00e1 a gest\u00e3o da vida humana pelo big data, n\u00facleo do colonialismo de dados, reagir ao desencantamento geral sobre as benesses das m\u00eddias sociais e da globaliza\u00e7\u00e3o digital? Poder\u00e3o as novas investidas discursivas neocoloniais e aceleracionistas emplacar v\u00e9us sobre a realidade social atrav\u00e9s do resgate de direcionamentos libidinais \u00e0 realidade virtual e metaversos?”<\/p>\n

E Karina Menezes<\/a>, no pref\u00e1cio (da 1\u00ba edi\u00e7\u00e3o, lan\u00e7ada pela Ci\u00eancias Revolucion\u00e1rias): “O que fazer com um sistema legado? Atualiz\u00e1-lo, substitu\u00ed-lo ou mant\u00ea-lo? \u00c9 disso que Colonialismo digital trata: nossos legados. O livro interessa a todas as pessoas instigadas por tecnologias. Interessa a voc\u00ea, a quem est\u00e1 a sua volta \u2013 tanto no mundo material quanto no virtual \u2013, independentemente do perfil, do status, da hist\u00f3ria. Sem exce\u00e7\u00e3o.”<\/span><\/span><\/p>\n

H\u00e1 outros livros e diversos trabalhos sendo feito sobre colonialismo digital hoje, dado que o tema \u00e9 inescap\u00e1vel na discuss\u00e3o tecnopol\u00edtica sobre a internet. No norte global, Nick Couldry e Ulisses Mej\u00edas (professores na Inglaterra e nos EUA, respectivamente, criadores e articuladores da rede Tierra Com\u00fan<\/a>) tem um artigo acad\u00eamico importante sobre o tema chamado “Data Colonialism: Rethinking Big Data\u2019s Relation to the Contemporary Subject<\/a>“. No Brasil, h\u00e1 “Colonialismo de dados: como opera a trincheira algor\u00edtmica na guerra neoliberal<\/a>“, colet\u00e2nea organizada por S\u00e9rgio Amadeu, Joyce Souza e Rodolfo Avelino lan\u00e7ada em 2021 pela Autonomia Liter\u00e1ria [e dispon\u00edvel em PDF aqui<\/a>]. A diferen\u00e7a do trabalho de Lippold e Faustino para estes \u00e9 justamente a aproxima\u00e7\u00e3o \u00e0s teorias fanonianas, que h\u00e1 mais de meio s\u00e9culo escreveu sobre colonialismo, com os debates em torno do capitalismo de vigil\u00e2ncia (de dados, ou outro termo que se queira usar), tamb\u00e9m a partir da perspectiva cr\u00edtica vista em “A Ideologia Californiana”, ensaio [veja e\/ou compre aqui na vers\u00e3o de nosso zine<\/a>] que \u00e9 bastante citado no \u00faltimo cap\u00edtulo do livro, “A Descoloniza\u00e7\u00e3o dos Horizontes Tecnol\u00f3gicos”.<\/p>\n

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Capa: Del Nunes<\/p><\/div>\n

Um exemplo dessa aproxima\u00e7\u00e3o hacker-fanoniana est\u00e1 nesta parte final, onde os autores recuperam o \u00f3timo termo “fardo do nerd branco<\/strong>“, “uma mission civilizatrisse <\/em>vista como a benevol\u00eancia das big techs (p.173)”. A no\u00e7\u00e3o foi popularizada – se \u00e9 que podemos falar assim de um termo menos conhecido do que achamos que deveria – por Julian Assange na cr\u00edtica \u00e0 Eric Schmidt e Jared Eric Cohen (ambos do Google) no livro “A Nova Era Digital<\/a>“, em que o criador do Wikileaks aponta \u00e0s contradi\u00e7\u00f5es bizarras de um texto “cheio de figuras de pele escura convenientes e hipot\u00e9ticas obedientemente convocados para demonstrar as propriedades progressistas dos telefones do Google”. Fanon nos lembra que o racismo n\u00e3o se expressa apenas nas ofensas abertamente violentas ou estereotipadas, mas sobretudo na suposta universaliza\u00e7\u00e3o dos referenciais particulares europeus. “Uma esp\u00e9cie de identitarismo branco permite ao pensamento cr\u00edtico se supor radical sem, contundo, enfrentar as dimens\u00f5es raciais da explora\u00e7\u00e3o de classe” (p.173).<\/p>\n

Aqui, Lippold e Faustino tamb\u00e9m chamam aten\u00e7\u00e3o ao verdadeiro e ir\u00f4nico\u00a0dilema (sociorracial) das redes<\/em>\u00a0<\/em>aproximando referenciais sobre capitalismo de vigil\u00e2ncia (como a pr\u00f3pria Shoshana Zuboff) com estudiosos do racismo como Achille Mbembe, al\u00e9m de Fanon, e tamb\u00e9m Bifo, o pr\u00f3prio Marx (a partir do conceito de intelecto geral do cl\u00e1ssico “Fragmento sobre as m\u00e1quinas” do Grundrisse<\/em>) e o trabalho de organiza\u00e7\u00f5es e coletivos ciberativistas no Brasil para ao fim se perguntar:\u00a0“Como superar a ideologia californiana e organizar esse cognitariado e o precariado no contexto mais amplo da luta contra a Explora\u00e7\u00e3o 4.0 ou 5.0? O que Fanon ensinou sobre descoloniza\u00e7\u00e3o da tecnologia em plena Revolu\u00e7\u00e3o Argelina? Seria poss\u00edvel aprender com Fanon, guardadas \u00e0s diferen\u00e7as de contexto hist\u00f3rico dos anos 1950 para o s\u00e9culo XXI?<\/em>“.<\/p>\n

Na continuidade do livro h\u00e1 a tentativa de respostas: hackers, software livre, gambiarra, perifalabs (hackerspaces na periferia), soberania digital, mas deixamos para voc\u00eas lerem e se inspirarem por si s\u00f3.<\/p>\n

[BAIXE AQUI<\/a><\/strong>] – [e\/ou compre aqui<\/a>] E aqui abaixo outros livros de Fanon ou sobre\/em di\u00e1logo com ele, liberados pelo Coletivo Fanon.<\/p>\n

DUSSEL, Enrique.\u00a01492 \u2013 O encobrimento do outro (A origem do \u201cmito da modernidade\u201d)<\/a>. Vozes; Petr\u00f3polis, 1993.<\/p>\n

FANON, Frantz.\u00a0Sociologia de una revoluci\u00f3n<\/a>. Ediciones Era; M\u00e9xico, 1968. Obra publicada em 1959. Nela Fanon analisa de modo intenso a Revolu\u00e7\u00e3o Argelina. A quest\u00e3o da mulher argelina e o v\u00e9u e a an\u00e1lise do papel do r\u00e1dio e da m\u00eddia na revoluc\u00e3o s\u00e3o destaques.<\/p>\n

FANON, Frantz.\u00a0Pele Negra, M\u00e1scaras Brancas<\/a>. Editora da UFBA; Salvador, 2008. Originalmente era o trabalho final de Fanon na medicina psiqui\u00e1trica, mas foi reprovado pela banca. Em 1952 ele publica a obra.<\/p>\n

FANON, Frantz. Em Defesa da Revolu\u00e7\u00e3o Africana. Livraria S\u00e1 da Costa Editora, 1980. S\u00e3o textos de Fanon, organizados cronologicamente, a maioria retirada do jornal argelino El Moudjahid. (Dispon\u00edvel pra download l\u00e1 no grupo do telegram do Coletivo Fanon).<\/p>\n

FANON, Frantz.\u00a0Alienation and Freedom<\/a>. Bloomberg; London, 2018. Escritos de Fanon sobre aliena\u00e7\u00e3o e liberta\u00e7\u00e3o. Um obra impactante para os Estudos Fanonianos. Artigos, discursos, cartas e outros textos de Fanon, muitos que nunca tinham sido publicados.<\/p>\n

LANDER, Edgar (org.).\u00a0A colonialidade do saber: eurocentrismo e ci\u00eancias sociais Perspectivas latino-americanas<\/a>. Colecci\u00f3n Sur Sur, CLACSO, Ciudad Aut\u00f3noma de Buenos Aires, Argentina. setembro 2005.<\/p>\n

MBEMBE, Achille.\u00a0Necropol\u00edtica<\/a>. Revista Arte $ Ensaios, PPGAV, UFRJ, n\u00ba 32, dez 2016.<\/p>\n

QUEIROZ, Ivo Pereira de.\u00a0Fanon, o reconhecimento do negro e o novo humanismo: horizontes descoloniais da tecnologia<\/a>. 2013. 221 f. Tese (Doutorado em Tecnologia) \u2013 Universidade Tecnol\u00f3gica Federal do Paran\u00e1, Curitiba, 2013.<\/p>\n

VALENCIA, Sayak.\u00a0Capitalismo Gore<\/a>. Melusina; Espa\u00f1a, 2010.<\/p>\n

WALLERSTEIN, Immanuel.\u00a0Ler Fanon no s\u00e9culo XXI<\/a>. Revista Cr\u00edtica de Ci\u00eancias Sociais, 82, Setembro 2008: 3-12.<\/p>\n

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Segunda-feira passada participamos de um debate\/lan\u00e7amento na \u00f3tima Nigra Distro em SP sobre o “Colonialismo Digital: por uma cr\u00edtica hacker-fanoniana”, de Walter Lippold e Deivison Faustino, livro rec\u00e9m lan\u00e7ado pela Boitempo [veja aqui] que faz uma potente e necess\u00e1ria aproxima\u00e7\u00e3o entre as discuss\u00f5es de colonialismo e racismo de Frantz Fanon com a cultura hacker para […]<\/p>\n","protected":false},"author":2,"featured_media":15312,"comment_status":"open","ping_status":"open","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":[],"categories":[122],"tags":[2249,2263,927,2053,2108,2054,1897,1052,2264,1990],"post_folder":[],"jetpack_featured_media_url":"https:\/\/baixacultura.org\/wp-content\/uploads\/2023\/07\/colonizacao.png","_links":{"self":[{"href":"https:\/\/baixacultura.org\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/15311"}],"collection":[{"href":"https:\/\/baixacultura.org\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"https:\/\/baixacultura.org\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/baixacultura.org\/wp-json\/wp\/v2\/users\/2"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/baixacultura.org\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=15311"}],"version-history":[{"count":8,"href":"https:\/\/baixacultura.org\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/15311\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":15324,"href":"https:\/\/baixacultura.org\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/15311\/revisions\/15324"}],"wp:featuredmedia":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/baixacultura.org\/wp-json\/wp\/v2\/media\/15312"}],"wp:attachment":[{"href":"https:\/\/baixacultura.org\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=15311"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"https:\/\/baixacultura.org\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=15311"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"https:\/\/baixacultura.org\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=15311"},{"taxonomy":"post_folder","embeddable":true,"href":"https:\/\/baixacultura.org\/wp-json\/wp\/v2\/post_folder?post=15311"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}