{"id":15119,"date":"2023-01-11T13:14:56","date_gmt":"2023-01-11T16:14:56","guid":{"rendered":"https:\/\/baixacultura.org\/?p=15119"},"modified":"2023-01-12T15:25:12","modified_gmt":"2023-01-12T18:25:12","slug":"10-anos-sem-aaron-swartz","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/baixacultura.org\/2023\/01\/11\/10-anos-sem-aaron-swartz\/","title":{"rendered":"10 anos sem Aaron Swartz"},"content":{"rendered":"
<\/p>\n
Hoje completou 10 anos da morte de Aaron Swartz.<\/p>\n
Ativista pelo conhecimento livre, programador genial, pensador autodidata, pessoa profundamente colaborativa e coletiva, se suicidou aos 26 anos, em 11 de janeiro de 2013, depois de sofrer uma brutal persegui\u00e7\u00e3o judicial nos Estados Unidos por conta de um “roubo” de arquivos do reposit\u00f3rio acad\u00eamico da JSTOR <\/a>(sigla para Journal Storage) enquanto era estudante do MIT. Aaron foi preso pela pol\u00edcia em 6 de janeiro de 2011 por acusa\u00e7\u00f5es de invas\u00e3o de domic\u00edlio, ap\u00f3s conectar um computador \u00e0 rede do MIT e configur\u00e1-lo para baixar artigos da JSTOR usando uma conta de usu\u00e1rio convidado emitida para ele pela universidade (a que ele tinha direito por estar vinculado). A JSTOR, vale lembrar, \u00e9 um arquivo de textos acad\u00eamicos e revistas cient\u00edficas criado em 1995 e que disponibiliza hoje mais de 12 milh\u00f5es de artigos<\/a> – e que, \u00e0 \u00e9poca, cobrava US$ 19 mensais pelo acesso.<\/p>\n Os promotores federais do caso nos Estados Unidos posteriormente indiciaram Aaron por fraude eletr\u00f4nica e onze viola\u00e7\u00f5es da ” Computer Fraud and Abuse Act”<\/a>, lei estadunidense de 1986,\u00a0 o que acarretou uma pena cumulativa m\u00e1xima de US$ 1 milh\u00e3o em multas, 35 anos de pris\u00e3o, confisco de ativos, restitui\u00e7\u00e3o do supostamente roubado e “supervised release”, uma esp\u00e9cie de liberdade condicional adicional ao tempo de deten\u00e7\u00e3o. Aaron recusou um primeiro acordo judicial e fez uma contraoferta, que a promotoria rejeitou. Dois dias depois dessa rejei\u00e7\u00e3o, foi encontrado morto em seu apartamento no Brooklyn, Nova York.<\/p>\n Aaron era um ativista singular. Aprendeu a programar muito cedo; aos 12, em 1999, criou o site “The Info Network”, uma enciclop\u00e9dia gerada pelos pr\u00f3prios usu\u00e1rios. Aos 14, entrou para o grupo que criaria o RSS, um padr\u00e3o de documento que apresenta as informa\u00e7\u00f5es de um site de maneira simplificada – e que n\u00f3s aqui j\u00e1 explicamos como funciona e o recomendamos para sair dos algoritmos das redes sociais<\/a>, em texto de Victor Wolfenb\u00fcttel. Aos 15, Aaron se envolveu na co-funda\u00e7\u00e3o do Creative Commons<\/a>, organiza\u00e7\u00e3o que criou as primeiras (e at\u00e9 hoje mais populares) licen\u00e7as livres para obras diversas (na foto abaixo, ao lado de outro co-fundador e seu primeiro presidente, Lawrence Lessig). Aos 18, j\u00e1 tendo entrado e sa\u00eddo da Universidade de Stanford, fez parte do grupo que criou o\u00a0Reddit<\/a>, site de avalia\u00e7\u00e3o de links para conte\u00fado na web. Aos 19, fez parte do grupo que criou a Open Library<\/a>, biblioteca que disponibiliza milhares de livros gratuitos, incorporada ao Internet Archive. Aos 21, em 2008, criou o Watchdog.net, site pioneiro em visualiza\u00e7\u00e3o de dados sobre pol\u00edticos (infelizmente fora do ar, mas acess\u00edvel via Wayback Machine<\/a>).<\/p>\n Lessig e Aaron. Rich Gibson \/ CC BY<\/p><\/div>\n Neste mesmo 2008, escreveu a primeira vers\u00e3o do Manifesto da Guerrilla Open Acess<\/strong>, texto que circulou muito \u00e0 \u00e9poca e tr\u00eas anos depois, em 2011, seria traduzido e publicado no BaixaCultura <\/a>(publicar\u00edamos tamb\u00e9m um memorial para Aaron<\/a>, logo depois de sua morte). Um breve trecho do manifesto:<\/p>\n “Informa\u00e7\u00e3o \u00e9 poder. Mas, como todo o poder, h\u00e1 aqueles que querem mant\u00ea-lo para si mesmos. A heran\u00e7a inteira do mundo cient\u00edfico e cultural, publicada ao longo dos s\u00e9culos em livros e revistas, \u00e9 cada vez mais digitalizada e trancada por um punhado de corpora\u00e7\u00f5es privadas<\/span>. (…)<\/p>\n Obrigar pesquisadores a pagar para ler o trabalho dos seus colegas? Digitalizar bibliotecas inteiras mas apenas permitindo que o pessoal da Google possa l\u00ea-las? Fornecer artigos cient\u00edficos para aqueles em universidades de elite do Primeiro Mundo, mas n\u00e3o para as crian\u00e7as no Sul Global? Isso \u00e9 escandaloso e inaceit\u00e1vel.<\/p>\n \u201cEu concordo\u201d, muitos dizem, \u201cmas o que podemos fazer? As empresas que det\u00eam direitos autorais fazem uma enorme quantidade de dinheiro com a cobran\u00e7a pelo acesso, e \u00e9 perfeitamente legal \u2013 n\u00e3o h\u00e1 nada que possamos fazer para det\u00ea-los. Mas h\u00e1 algo que podemos, algo que j\u00e1 est\u00e1 sendo feito: podemos contra-atacar.<\/p>\n Aqueles com acesso a esses recursos \u2013 estudantes, bibliotec\u00e1rios, cientistas \u2013 a voc\u00eas foi dado um privil\u00e9gio. Voc\u00eas come\u00e7am a se alimentar nesse banquete de conhecimento, enquanto o resto do mundo est\u00e1 bloqueado. Mas voc\u00eas n\u00e3o precisam \u2013 na verdade, moralmente, n\u00e3o podem \u2013 manter este privil\u00e9gio para voc\u00eas mesmos. Voc\u00eas t\u00eam um dever de compartilhar isso com o mundo.\u00a0 E voc\u00eas t\u00eam que negociar senhas com colegas, preencher pedidos de download para amigos.”<\/p><\/blockquote>\n O document\u00e1rio “The Internet’s Own Boy: The Story of Aaron Swartz”, dirigido por Brian Knappenberger e lan\u00e7ado em 2014, conta um pouco da hist\u00f3ria de Aaron e pode ser visto e baixado no Internet Archive<\/a> (em ingl\u00eas). H\u00e1 uma vers\u00e3o legendada em portugu\u00eas<\/a> circulando pelo YouTube.<\/p>\n <\/p>\n O legado de Aaron tem se mantido atrav\u00e9s de diversas iniciativas, como o Aaron Swartz Day<\/a>, portal e evento criado em 2013 e que tem ajudado tamb\u00e9m a manter projetos que tiveram o dedo de Aaron – na lista cima, faltou falar tamb\u00e9m do Secure Drop<\/a>, software de c\u00f3digo aberto para compartilhamento de informa\u00e7\u00f5es, essencial para whisteblowers\u00a0<\/em>e usado por diversos ve\u00edculos jornal\u00edsticos como The Intercept, The Guardian, TechCrunch, entre outros.<\/p>\n Nos 10 anos de sua morte, o Instituto Aaron Swartz<\/a>, rec\u00e9m criado no Brasil a partir de integrantes do Partido Pirata, organizou uma live em homenagem \u00e0 data. O evento teve a participa\u00e7\u00e3o de Lisa Rein<\/a>, tamb\u00e9m co-fundadora do CC, criadora do Aaron Swartz Day e que conheceu e trabalhou com o ativista de perto; Karina Menezes, pedagoga, professora da Faculdade de Educa\u00e7\u00e3o da UFBA (FACED\/UFBA) e integrante do Raul Hacker Club<\/a>, de Salvador; Rafael Zanatta<\/a>, diretor da Associa\u00e7\u00e3o Data Privacy Brasil<\/a> de Pesquisa, mestre pela Faculdade de Direito da USP e doutorando pelo Instituto de Energia e Ambiente da USP; com media\u00e7\u00e3o de Tatiana Kawamoto, bi\u00f3loga, membro-fundadora do Instituto Aaron Swartz e participa\u00e7\u00e3o na tradu\u00e7\u00e3o de Andr\u00e9 Sobral, soci\u00f3logo e doutorando na UFRJ. Al\u00e9m de este que escreve.<\/p>\n Lisa respondeu a uma pergunta de Zanatta que me peguei pensando ao longo do dia: o que Aaron diria sobre o que a internet se tornou 10 anos ap\u00f3s a sua morte, com toda a ascens\u00e3o das redes sociais e a consequente “epidemia” de desinforma\u00e7\u00e3o potencializada por elas? “N\u00e3o tenho como saber, mas acho que ele estaria fazendo algo inovador. E chamando as pessoas para seguir adiante apesar de tudo”.<\/p>\n [Leonardo Foletto<\/strong>]<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":" Hoje completou 10 anos da morte de Aaron Swartz. 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