{"id":14953,"date":"2022-11-02T21:28:25","date_gmt":"2022-11-03T00:28:25","guid":{"rendered":"https:\/\/baixacultura.org\/?p=14953"},"modified":"2022-11-02T21:31:54","modified_gmt":"2022-11-03T00:31:54","slug":"o-futuro-e-cooperativo","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/baixacultura.org\/2022\/11\/02\/o-futuro-e-cooperativo\/","title":{"rendered":"O Futuro \u00e9 Cooperativo"},"content":{"rendered":"
Dois eventos na pr\u00f3xima semana pretendem discutir uma das mais promissoras “sa\u00eddas” para um futuro digital menos dist\u00f3pico. O primeiro \u00e9 a Confer\u00eancia Internacional de Cooperativismo de Plataforma – Rio 2022<\/a>, que re\u00fane uma s\u00e9rie de ativistas, pesquisadores, trabalhadores brasileiros e internacionais no Museu do Amanh\u00e3 entre os dias 4, 5 e 6 de novembro. E o segundo \u00e9 o ciclo de eventos “O Futuro \u00e9 Cooperativo<\/a>“, organizado pelo Sesc Avenida Paulista, com uma programa\u00e7\u00e3o ampla de debates, oficinas, cursos – e tamb\u00e9m lan\u00e7amento do “A Cultura \u00e9 Livre” presencial<\/a>, dia 10\/11, 19h30, em que eu estarei na mesa relacionando a cultura livre com o cooperativismo de plataforma e outras discuss\u00f5es tecnopol\u00edticas junto de Giselle Beiguelman e a cantora e compositora Letty.<\/em><\/p>\n <\/p>\n Participo de uma mesa no segundo dia do evento, s\u00e1bado 5\/11 \u00e0s 14h, chamada “The Brazilian Artists Who Are Helping Themselves<\/strong><\/a>“, onde vamos discutir, por diferentes perspectivas, como as abordagens baseadas em bens comuns t\u00eam sido adotadas por cooperativas e outras organiza\u00e7\u00f5es culturais. George Oates<\/a>, diretora executiva e uma das fundadoras do Flickr, fala sobre “Como voc\u00ea pode ajudar a preservar bilh\u00f5es de fotos<\/em>“; Victor Barcellos<\/a>, do ITS e tamb\u00e9m um dos articuladores do evento, investiga como as cooperativas de plataforma podem melhorar as condi\u00e7\u00f5es de trabalho dos artistas no pa\u00eds em “Equity for Brazilian Artists: A Critical Study of Platform Coops<\/em>“; Miguel Said Vieira<\/a> argumenta que as cooperativas podem se tornar mais impactantes e inclusivas ao compreender e empregar estrat\u00e9gias baseadas no comum, na fala chamada “The Power of Commons-Based Strategies for Cooperatives in the Global South<\/em>“; e eu falarei a partir de uma aproxima\u00e7\u00e3o da cultura livre com o cooperativismp, tentando buscar inspira\u00e7\u00f5es e li\u00e7\u00f5es da cultura livre (e tamb\u00e9m do Creative Commons) para forma\u00e7\u00e3o de cooperativas de plataforma no setor cultural: “Can Free Culture Save the Day for Platform Coops in the Cultural Sector?<\/em>“.<\/p>\n <\/p>\n <\/p>\n O cooperativismo \u00e9 o nome que damos para a produ\u00e7\u00e3o e administra\u00e7\u00e3o de neg\u00f3cios em que o poder de decis\u00e3o \u00e9 distribu\u00eddo entre os trabalhadores e trabalhadoras, que fazem parte de uma cooperativa. Enquanto conjunto de ideias e pr\u00e1ticas organizadas, tem sua origem no s\u00e9culo XVIII e XIX, na Europa, como uma alternativa pol\u00edtica e econ\u00f4mica ao capitalismo que eliminasse o patr\u00e3o e o intermedi\u00e1rio e concedesse ao trabalhador a propriedade de seus instrumentos de trabalho e a participa\u00e7\u00e3o nos resultados de seu pr\u00f3prio desempenho. Socialistas ut\u00f3picos como Robert Owen e Charles Fourier, por exemplo, criaram cooperativas de produ\u00e7\u00e3o no s\u00e9culo XIX. No s\u00e9culo XX, o cooperativismo se complexificou; ganhou for\u00e7a dentro do capitalismo, com a forma\u00e7\u00e3o de cooperativas gigantescas, passou a ter diferentes categorias (de trabalho, consumo, de cr\u00e9dito, agropecu\u00e1ria) e diferentes pr\u00e1ticas. No Brasil, se aproximou com a economia solid\u00e1ria<\/a>, pr\u00e1tica econ\u00f4mica que visa a cria\u00e7\u00e3o de estruturas de gest\u00e3o que n\u00e3o estejam baseadas na desigualdade e explora\u00e7\u00e3o dos trabalhadores e onde os que produzem s\u00e3o considerados os propriet\u00e1rios do empreendimento em quest\u00e3o, n\u00e3o havendo distin\u00e7\u00e3o entre patr\u00f5es e empregados, com a distribui\u00e7\u00e3o igualit\u00e1ria dos ganhos entre todos os membros da empresa. Aqui encontrou a contribui\u00e7\u00e3o de Paul Singer<\/a>, que defendia, como professor, intelectual e membro do governo brasileiro (foi o criador e durante muitos anos o itular da Secretaria Nacional de Economia Solid\u00e1ria<\/a> – Senaes), que a economia solid\u00e1ria poderia aproveitar a mudan\u00e7a nas rela\u00e7\u00f5es de produ\u00e7\u00e3o provocada pelo grande capital para lan\u00e7ar os alicerces de novas formas de organiza\u00e7\u00e3o da produ\u00e7\u00e3o, \u00e0 base de uma l\u00f3gica oposta \u00e0quela que rege o mercado capitalista.<\/p>\n Unindo esses princ\u00edpios com o mundo digital, o conceito de cooperativismo de plataforma tem se colocado como uma alternativa \u00e0 chamada economia de compartilhamento que se compromete com princ\u00edpios democr\u00e1ticos e transparentes para os trabalhadores e seus clientes. Assim como o cooperativismo tradicional, o de plataforma n\u00e3o prop\u00f5e solu\u00e7\u00f5es r\u00e1pidas para problemas complexos, mas mostra que \u00e9 poss\u00edvel reproduzir tecnologias como as de plataformas de entretenimento e mobilidade urbana de modo realmente colaborativo, na contram\u00e3o da uberiza\u00e7\u00e3o do trabalho. Em resumo: \u00e9 uma ideia\/pr\u00e1tica que busca unir importantes reivindica\u00e7\u00f5es de trabalho digno (cooperativismo) com novas (ou nem tanto) discuss\u00f5es sobre tecnologias livres e autonomia e cria uma oportunidade rara de fazer um futuro tecnopol\u00edtico menos capitalista e dist\u00f3pico, como j\u00e1 comentamos em \u201cCooperativismo de plataforma & tecnologias livres: alimentando a (now) topia<\/a>\u201d; Falamos tamb\u00e9m de sua import\u00e2ncia para o trabalho via aplicativos em \u201cBreque dos Apps e as alternativas para o trabalho digitalizado<\/a>\u201c, quando do principal breque dos Apps at\u00e9 aqui, em 2020; e tamb\u00e9m do Plano de a\u00e7\u00e3o para Cooperativismo de Plataforma no Brasil<\/a>, carta criada a partir do semin\u00e1rio sobre cooperativismo de plataforma e pol\u00edticas p\u00fablicas realizado em junho em Porto Alegre<\/a>, em junho de 2022.<\/p>\n A programa\u00e7\u00e3o do “O Futuro \u00e9 Cooperativo”, organizado pelo Sesc Avenida Paulista, teve uma s\u00e9rie de cursos, oficinas e discuss\u00f5es importantes para o tema, “Como Construir uma Plataforma de Trabalho Coletiva?”, “Cooperativismo na Am\u00e9rica Latina: Uma hist\u00f3ria de resist\u00eancia”, “Trabalho Cooperativo nos Dias de Hoje”. Ainda teremos dia 17\/10, \u00e0s 19h30, a exibi\u00e7\u00e3o do document\u00e1rio “Paul Singer: Uma Utopia Militante<\/a>“, de Ugo Giorgetti, que versa sobre a vida e obra de Paul Singer, grande articulador te\u00f3rico e pr\u00e1tico da chamada economia solid\u00e1ria, que no Brasil se aproxima e por vezes se confunde com o cooperativismo.<\/p>\n Tamb\u00e9m teremos, por fim, na quinta feira 10\/11 19h30<\/strong> um lan\u00e7amento (presencial) do “A Cultura \u00c9 Livre”<\/a>, onde vamos distribuir o livro (gratuitamente, cortesia da co-editora Funda\u00e7\u00e3o Rosa Luxemburgo) e debater sobre direito \u00e0 cultura e o compartilhamento de conhecimentos, a import\u00e2ncia dos softwares livres e sua rela\u00e7\u00e3o com a cidadania e a democracia, al\u00e9m de uma reflex\u00e3o sobre o atual cen\u00e1rio da produ\u00e7\u00e3o cultural atual frente grandes plataformas de entretenimento. A querida Giselle Beiguelman<\/a>, autora do texto da contracapa do livro, estar\u00e1 conversando comigo e Letty<\/a>, cantora e compositora, sob a media\u00e7\u00e3o de Fernando Mekaru, sobre todos esses temas e muitos outros correlatos que sempre surgem.<\/p>\n <\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":" Dois eventos na pr\u00f3xima semana pretendem discutir uma das mais promissoras “sa\u00eddas” para um futuro digital menos dist\u00f3pico. O primeiro \u00e9 a Confer\u00eancia Internacional de Cooperativismo de Plataforma – Rio 2022, que re\u00fane uma s\u00e9rie de ativistas, pesquisadores, trabalhadores brasileiros e internacionais no Museu do Amanh\u00e3 entre os dias 4, 5 e 6 de novembro. 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\nComo podemos construir uma economia digital cooperativa engenhosa e assertiva no Sul Global \u2013 uma economia que foi super explorada e extra\u00edda pelo colonialismo de dados e trabalho do Norte Global? O que significa para as cooperativas escalar enquanto aderem aos Objetivos de Desenvolvimento Sustent\u00e1vel da ONU? Organiza\u00e7\u00f5es Aut\u00f4nomas Descentralizadas (DAOs), blockchains e outras tecnologias distribu\u00eddas t\u00e3o em voga ajudar\u00e3o essas aspira\u00e7\u00f5es de crescimento e abordar\u00e3o quest\u00f5es de governan\u00e7a? Organizado pelo Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro – ITS , ITS Rio<\/a>, e o Platform Cooperativism Consortium<\/a>, sediado na The New School, em Nova York, a confer\u00eancia vai ter a participa\u00e7\u00e3o de Trebor Scholz<\/a>, diretor do Institute for the Cooperative Digital Economy Platform Cooperativism Consortium<\/em>, principal divulgador do conceito de cooperativismo de plataforma pelo mundo, a partir do livro de mesmo nome<\/a>, lan\u00e7ado no Brasil pela Editora Elefante – e tema de BaixaCharla #4, em 2019<\/a>; James Muldoon, professor de ci\u00eancia pol\u00edtica na Universidade de Exeter<\/a> e coordenador de pesquisa digital no think tank Autonomy<\/a>, autor de “Platform Socialism: How to Reclaim our Digital Future from Big Tech<\/a>“, entrevistado pelo DigiLabour aqui; Anita Gurumurthy, fundadora e diretora executiva da \u2018IT for Change<\/a>\u2019, onde lidera pesquisas sobre economia de plataforma, governan\u00e7a de dados e IA, democracia na era digital e estruturas feministas sobre justi\u00e7a digital; Rosana Pinheiro-Machado<\/a>, antrop\u00f3loga e cientista social, professora da Escola de Geografia da University College Dublin e pesquisadora principal do projeto “Flexible Work, Rigid Politics in Brazil, India, and the Philippines” do European Research Council; os j\u00e1 conhecidos por aqui Rafael Grohmann<\/a>, l\u00edder e criador do DigiLabour, hoje Professor Assistente de Estudos de M\u00eddia com foco em Estudos Cr\u00edticos de Plataformas e Dados na University of Toronto Scarborough (UTSC); e Rafael Zanatta, Diretor da Associa\u00e7\u00e3o Data Privacy Brasil<\/a> de Pesquisa, e que j\u00e1 nos ajudou na entrevista com Nathan Schneider sobre o tema em “O Futuro da Economia Ser\u00e1 Compartilhado?<\/a>“; entre muitos outras pessoas – veja aqui a programa\u00e7\u00e3o completa<\/a>.<\/p>\n<\/p>\n
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