{"id":13998,"date":"2009-10-14T10:17:40","date_gmt":"2009-10-14T10:17:40","guid":{"rendered":"https:\/\/baixacultura.org\/?p=2345"},"modified":"2009-10-14T10:17:40","modified_gmt":"2009-10-14T10:17:40","slug":"o-fenomeno-ai-que-vida-e-pirataria-digital","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/baixacultura.org\/2009\/10\/14\/o-fenomeno-ai-que-vida-e-pirataria-digital\/","title":{"rendered":"O fen\u00f4meno Ai que vida! e a “pirataria” digital"},"content":{"rendered":"

.<\/p>\n

\"aiquevidadvd\"<\/p>\n

O cartaz que abre este post \u00e9 de \u201cAi que Vida!<\/a>\u201d, longa-metragem produzido no Maranh\u00e3o e no Piau\u00ed, 24\u00ba filme do jornalista e cineasta maranhense C\u00edcero Filho<\/strong>. \u00c9 muito provavelmente o primeiro dos 24 que tu deve ter ouvido falar – se \u00e9 que ouviu. Trata-se de um pequeno fen\u00f4meno<\/a> do cinema (independente) nacional: produzido em 2007, ainda hoje encontra-se em cartaz em alguns cinemas da regi\u00e3o Nordeste, especialmente nos estados do Piau\u00ed e Maranh\u00e3o. Em sua semana de estr\u00e9ia, no j\u00e1 long\u00ednquo setembro de 2007, fez mais espectadores no Cinema Riverside, em Teresina, do que fez, no mesmo cinema, \u00a0o badalado Harry Potter e Ordem da F\u00eanix<\/a>, 5\u00ba filme do bruxo criado pela hoje bilion\u00e1ria escocesa J.K. Rowling, em um m\u00eas.<\/p>\n

C\u00edcero e sua equipe de 25 pessoas come\u00e7aram as grava\u00e7\u00f5es com R$ 800,00 no bolso e uma c\u00e2mera digital mini-dv, emprestada por uma faculdade de comunica\u00e7\u00e3o de Teresina, al\u00e9m de tr\u00eas atores profissionais no elenco. Escolheram como cen\u00e1rio a pequena Amarante, distante 170 KM de Teresina, a capital piauiense, pois segundo o co-roteirista<\/a>, diretor de arte e Di\u00f3genes Machado<\/strong>, :”A cidade \u00e9 o ber\u00e7o da cultura de nosso estado. A terra do cavalo pianc\u00f3, do inegualavel poeta Da Costa e Silva, das mais belas constru\u00e7\u00f5es arquitet\u00f4nicas do Piau\u00ed.<\/em>“<\/p>\n

Com ajuda da prefeitura, que hospedou a equipe de C\u00edcero de gra\u00e7a, e dos moradores da cidade, que fizeram desde figura\u00e7\u00e3o at\u00e9 empr\u00e9stimos de carros e casas para a grava\u00e7\u00e3o do filme, vinte e cinco dias depois estava finalizado o processo de grava\u00e7\u00e3o do filme. O or\u00e7amento extrapolou o inicial e\u00a0 chegou aos R$30 mil. Problema? Que nada, \u00e9 costume, como de novo nos conta o co-roteirista Di\u00f3genes: “Como sempre, pouca gente acretitava no nosso trabalho, s\u00f3 quando terminamos de gravar foi que os empres\u00e1rios resolveram ajudar. Come\u00e7ou a aparecer mil reais dali, cinco mil de um lado, quatro mil do outro e felizmente conseguimos angariar fundos para come\u00e7ar a edi\u00e7\u00e3o<\/em>“.<\/p>\n

Quatro meses na ilha de edi\u00e7\u00e3o depois, Ai que Vida! estava pronto para estrear. Mas onde? A primeira rede de cinemas de Teresina que foi procurada pela equipe n\u00e3o topou exibir o filme, nem mesmo numa segunda-feira e com direito a 80% da bilheteria das sess\u00f5es. “O diretor dos cinemas nos disse que n\u00e3o adiantaria 80% da bilheteria no contrato j\u00e1 que n\u00e3o ia dar ninguem mesmo<\/em>“, conta Di\u00f3genes. Foram duas semanas de negocia\u00e7\u00e3o, que de nada adiantaram. A equipe tentou outro cinema, o Riverside<\/strong>, localizado num shopping de mesmo nome, que aceitou; ficariam uma semana em cartaz, para ver no que dava. O resultado foi um sucesso estrondoso, com todas as sess\u00f5es da semana lotadas e mais renda do que um m\u00eas de exibi\u00e7\u00e3o do \u00faltimo Harry Potter. Como pr\u00eamio ganharam mais uma semana de exibi\u00e7\u00e3o, tamb\u00e9m lotada, e a partir da\u00ed o filme se espraiou pelo Cine Praia Grande<\/strong>, em S\u00e3o Lu\u00eds, capital do vizinho estado do Maranh\u00e3o, e por festivais de cinema como o de Bras\u00edlia e da Para\u00edba.<\/p>\n

D\u00e1 uma olhada no trailer do filme antes de continuar lendo a postagem:<\/p>\n

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[youtube=http:\/\/www.youtube.com\/watch?v=_zfypOwnKrc&feature=related]<\/p>\n

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Atrav\u00e9s de um patroc\u00ednio do Governo do Estado do Piau\u00ed, foram produzidas 300 c\u00f3pias de DVD, que logo foram distribu\u00eddas nas locadoras da capital Teresina. Mas a demanda foi maior que os 300 DVDs, tamanha a identifica\u00e7\u00e3o dos espectadores com a hist\u00f3ria simples e popular\u00edssima<\/a>, carregada de cita\u00e7\u00f5es \u00e0 cultura local e ao modo de vida das pessoas da regi\u00e3o.\u00a0 Ent\u00e3o, a pr\u00f3pria popula\u00e7\u00e3o tratou de trocar\/vender\/copiar adoidado os dvds nos camel\u00f4s<\/a>, num fen\u00f4meno parecido com o do Tropa de Elite<\/a>, que j\u00e1 era conhecido de boa parte do p\u00fablico brasileiro quando estreou oficialmente nos cinemas em 12 de outubro – e foi a maior bilheteria no per\u00edodo de uma semana no Brasil em todo o ano de 2007, com cerca de 180 mil espectadores.<\/p>\n

A c\u00f3pia\/troca dos DVDs do “Ai que Vida!” n\u00e3o foi nenhum pouco condenada por C\u00edcero, segundo o pr\u00f3prio afirmou em entrevista ao site Cabe\u00e7a de Cuia<\/a>:<\/p>\n

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\u201cAi que vida\u201d se alastrou, tudo culpa da pirataria. Fico feliz, ao ver que o filme est\u00e1 sendo aceito de forma positiva pela popula\u00e7\u00e3o. Difundir o cinema para a popula\u00e7\u00e3o menos favorecida \u00e9 um foco primordial do meu trabalho. Meu maior lucro \u00e9 ver as pessoas comentando que gostaram muito do filme, que se retrataram com o enredo e as personagens!\u201d.<\/em><\/p>\n<\/blockquote>\n

\"Camel\u00f4s,

Camel\u00f4s, a “origem de todo o mal”<\/p><\/div>\n

Assim como Tropa de Elite, Wolverine, SICKO<\/a> e outros tantos,\u00a0 “Ai Que Vida!” \u00e9 prova de que uma coisa n\u00e3o necessariamente anula a outra. Ou em palavras mais adequadas: que a dita “pirataria” n\u00e3o necessariamente anula a renda obtida no cinema<\/strong>, como querem nos fazer crer os incomodativos comerciais exibidos antes daquele DVD que alugamos na locadora da esquina. Ao contr\u00e1rio, em alguns casos pode aumentar tanto o burburinho em torno da produ\u00e7\u00e3o que ela vai circular ainda mais, o que fatalmente resultar\u00e1 em mais prest\u00edgio ao seu autor, o que, por sua vez, poder\u00e1 render mais contatos e condi\u00e7\u00f5es de produ\u00e7\u00e3o de uma nova (e melhor) obra cinematogr\u00e1fica.<\/p>\n

Como j\u00e1 falamos por aqui<\/a>,\u00a0a pirataria gera mais grana do que querem nos fazer crer.<\/strong> Nisso,<\/span> <\/strong>o jurista Lawrence Liang, um h\u00e1bil indiano que investiga quest\u00f5es relacionadas com pirataria, economia informal, direitos de autor e cultura livre no\u00a0Alternative Law Forum<\/a> de\u00a0Bangalore, tem algo a nos dizer, via entrevista no Remixtures<\/a>:<\/span><\/p>\n

\n

Todo o circuito da pirataria cria economias locais bastante din\u00e2micas. Gera emprego, permite a transfer\u00eancia de tecnologia, possibilita o surgimento de inova\u00e7\u00f5es locais. Se olharmos o fen\u00f3meno de um ponto de vista de uma economia global da informa\u00e7\u00e3o, onde somos uma multinacional que controla os direitos de um filme ou de uma m\u00fasica, sim, \u00e9 mau para a economia. Mas se estivermos interessados no desenvolvimento das economias locais, bem como da inova\u00e7\u00e3o local, diria que \u00e9 algo positivo para a economia.<\/em><\/span><\/p>\n<\/blockquote>\n

Pode notar: quem joga a culpa pela “morte da ind\u00fastria cinematogr\u00e1fica” no vazamento de uma c\u00f3pia dita “pirata” frequentemente s\u00e3o aqueles cineastas\/produtores decadentes que est\u00e3o vendo seu lucro f\u00e1cil de d\u00e9cadas se esva\u00edrem em milhares de m\u00e3os espalhadas pelos mais obscuros quartos ao redor do planeta. Aqueles que se escondem em castelos encantados por lucros de d\u00e9cadas gerado por multinacionais que se acostumaram a controlar os direitos de toda e qualquer produto cultural que o dinheiro lhes permite comprar.<\/p>\n

**<\/p>\n

\"O

O casal rom\u00e2ntico Valdir e Charleni \u00e0 frente de todo o elenco do filme<\/p><\/div>\n

O cen\u00e1rio que se avizinha mui provavelmente permite espa\u00e7o para todos que souberem aproveitar bem as potencialidades de cada m\u00eddia. Como disse Gilberto Gil no final desta postagem<\/a>, n\u00e3o adianta buscar uma resposta pronta a pergunta-que-n\u00e3o-quer-calar “como vou ganhar dinheiro<\/em>?. Ao que parece, as respostas est\u00e3o por a\u00ed, escondidas em cada tipo de produ\u00e7\u00e3o, em cada tipo de m\u00eddia, em cada tipo de or\u00e7amento, em cada tipo de objetivo desejado. O h\u00e1bito secular de ir ao cinema n\u00e3o ir\u00e1 acabar duma hora pra outra, substitu\u00eddo pela solit\u00e1ria pr\u00e1tica de ver um filme numa tela de 14 polegadas em um sistema de som\u00a0abelhudo<\/em> de caixinhas de sons toscas; vai, sim, \u00e9\u00a0dividir espa\u00e7o <\/em>com esse novo h\u00e1bito e outros tantos que surgem (e mais e mais v\u00e3o surgir) de acordo com as possibilidades e criatividades de cada um.<\/p>\n

Para fechar, vale citar o que Giba Assis Brasil<\/a>, veterano cineasta ga\u00facho, disse em mat\u00e9ria na revista Aplauso<\/a> de setembro, que infelizmente s\u00f3 circula no estado do Rio Grande do Sul:<\/p>\n

\n

“A industria est\u00e1 perdida. No caso do DVD, est\u00e3o errando o alvo e deixando grandes corpora\u00e7\u00f5es criminosas ganharem dinheiro as suas custas. Seria mais inteligente se mudassem a sua pol\u00edtica de pre\u00e7os. Ou que arranjassem alternativas para vender c\u00f3pias pela Internet a pre\u00e7o baixo. Em vez disso, preferem chamar garotos que baixam filmes de ladr\u00f5es e criar uma fic\u00e7\u00e3o segundo a qual o compartilhamento est\u00e1 associado ao tr\u00e1fico de drogas. Ningu\u00e9m vai acreditar nisso. Eles v\u00e3o perder de novo.\u201d<\/em><\/p>\n<\/blockquote>\n

Se relacionamos a fala de Giba com esse post<\/a> do Remixtures come\u00e7amos a entender que algumas coisas s\u00e3o mais complicadas do que parecem…<\/p>\n

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[Marcelo De Franceschi. Leonardo Foletto<\/strong>.]<\/p>\n

Cr\u00e9ditos fotos: 1<\/a>, 2<\/a>, 3<\/a>.<\/address>\n
\u00a0<\/address>\n
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P.s:<\/strong> Antes que nos esque\u00e7amos: <\/strong>se voc\u00ea ficou louco pra assistir ao filme \u201cAi que vida!\u201d, baixe aqui o arquivo<\/a>, que est\u00e1 em boa qualidade. E se voc\u00ea gostou tamb\u00e9m da trilha sonora, n\u00e3o deixa de assistir ao clipe da m\u00fasica tema aqui<\/a>.
\n<\/strong><\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

. O cartaz que abre este post \u00e9 de \u201cAi que Vida!\u201d, longa-metragem produzido no Maranh\u00e3o e no Piau\u00ed, 24\u00ba filme do jornalista e cineasta maranhense C\u00edcero Filho. \u00c9 muito provavelmente o primeiro dos 24 que tu deve ter ouvido falar – se \u00e9 que ouviu. Trata-se de um pequeno fen\u00f4meno do cinema (independente) nacional: […]<\/p>\n","protected":false},"author":2,"featured_media":9949,"comment_status":"open","ping_status":"open","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":[],"categories":[88,91,126],"tags":[333,189,142,145,159],"post_folder":[],"jetpack_featured_media_url":"","_links":{"self":[{"href":"https:\/\/baixacultura.org\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/13998"}],"collection":[{"href":"https:\/\/baixacultura.org\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"https:\/\/baixacultura.org\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/baixacultura.org\/wp-json\/wp\/v2\/users\/2"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/baixacultura.org\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=13998"}],"version-history":[{"count":0,"href":"https:\/\/baixacultura.org\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/13998\/revisions"}],"wp:featuredmedia":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/baixacultura.org\/wp-json\/"}],"wp:attachment":[{"href":"https:\/\/baixacultura.org\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=13998"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"https:\/\/baixacultura.org\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=13998"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"https:\/\/baixacultura.org\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=13998"},{"taxonomy":"post_folder","embeddable":true,"href":"https:\/\/baixacultura.org\/wp-json\/wp\/v2\/post_folder?post=13998"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}