{"id":13980,"date":"2009-03-30T18:34:57","date_gmt":"2009-03-30T18:34:57","guid":{"rendered":"https:\/\/baixacultura.org\/?p=1552"},"modified":"2009-03-30T18:34:57","modified_gmt":"2009-03-30T18:34:57","slug":"a-insistencia-da-subversao","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/baixacultura.org\/2009\/03\/30\/a-insistencia-da-subversao\/","title":{"rendered":"A insist\u00eancia da subvers\u00e3o"},"content":{"rendered":"
Com essa carinha, ningu\u00e9m diz… Mas isso \u00e9 um baita dum marginal.<\/p><\/div>\n
No \u00faltimo post<\/a> que escrevi eu falei de maneira um tanto sutil sobre o copyright em tempos passados. Agora venho escrever sobre o que rolava pelo lado anticopyright<\/em> h\u00e1 alguns s\u00e9culos.<\/p>\n A pirataria n\u00e3o \u00e9 um fen\u00f4meno recente. <\/strong>O artif\u00edcio da nomenclatura “pirata” (ou “marujo”), inclusive, j\u00e1 era utilizado na Idade M\u00e9dia para designar a rapaziada que burlava os direitos de c\u00f3pia da \u00e9poca. N\u00e3o \u00e9 \u00e0 toa que publicidade \u00e9 um dom burgu\u00eas. O apelido reina at\u00e9 hoje, s\u00f3 que o efeito<\/a> n\u00e3o \u00e9 exatamente negativo.<\/p>\n Mas quais eram esses direitos de c\u00f3pia?<\/p>\n Como eu citei no post passado, o copyright j\u00e1 surgiu com o objetivo de monopolizar a veicula\u00e7\u00e3o cultural. Na Europa medieval s\u00f3 circulavam oficialmente os livros publicados sob patente da coroa e com a b\u00ean\u00e7\u00e3o da Igreja. Mas havia sempre aqueles que davam um “jeitinho brasileiro” e publicavam e distribuiam clandestinamente tanto c\u00f3pias n\u00e3o autorizadas das obras permitidas quanto edi\u00e7\u00f5es de livros proibidos pelas autoridades. Lembra do famoso Index<\/em><\/a>, que voc\u00ea via na aula de Hist\u00f3ria no col\u00e9gio? Pois \u00e9. Aquilo era na verdade um cat\u00e1logo de obras in\u00e9ditas para os editores piratas, que n\u00e3o estavam nem a\u00ed para as proibi\u00e7\u00f5es oficiais.<\/p>\n Alguns podem pensar: “que feio!”, “\u00e9 por conta de gente assim que o Brasil, ops, a Europa<\/em> n\u00e3o vai pra frente”, etc. A associa\u00e7\u00e3o imediata deve ser feita com os piratas de hoje. Pessoas que t\u00eam acesso a material n\u00e3o autorizado e at\u00e9 n\u00e3o permitido. \u00c9 o caso daquele cd do Metallica<\/em><\/a> que voc\u00ea baixou no Napster<\/em>, ou aqueles 200 kg mensais de fotoc\u00f3pia n\u00e3o autorizada que voc\u00ea adquire na faculdade.<\/p>\n Tamb\u00e9m \u00e9 o caso daquele joguinho de pc<\/a> sanguinolento e proibido no pa\u00eds, que voc\u00ea baixa e joga mesmo assim. E veja: eu n\u00e3o estou comparando os piratas antigos aos atuais camel\u00f4s unicamente, eu tamb\u00e9m estou comparando a voc\u00ea (e se voc\u00ea nunca reproduziu nada sem pedir ou ter ci\u00eancia da autoriza\u00e7\u00e3o, ou voc\u00ea n\u00e3o existe, ou simplesmente n\u00e3o sabe o que t\u00e1 perdendo).<\/p>\n Mas ser\u00e1 que a pirataria vem se arrastando at\u00e9 hoje como o t\u00e3o proclamado pela imprensa “mal social”? Ser\u00e1 que a pirataria realmente \u00e9 um mal?<\/p>\n Eu j\u00e1 expliquei<\/a> que at\u00e9 os dias de hoje a pirataria nunca destruiu o panorama econ\u00f4mico de veicula\u00e7\u00e3o cultural. Agora eu vou relembrar o que ela proporcionou no passado.<\/p>\n Voltando praquela aulinha de Hist\u00f3ria, n\u00f3s lembramos que a Idade M\u00e9dia era palco dos desmandos dos monarcas e da Igreja, e vemos que o tempo de bonan\u00e7a, que se contrap\u00f4s \u00e0s trevas medievais, \u00e9 regido pelo subsequente Iluminismo<\/em>. Os pensadores iluministas, que aos poucos foram construindo as bases para uma estrutura pol\u00edtica mais livre, culminando no festejado Estado Democr\u00e1tico de Direito (que, ao menos no papel, vivemos hoje), s\u00e3o vistos hoje como l\u00edderes do pensamento libert\u00e1rio.\u00a0Pioneiros na luta contra a ignor\u00e2ncia e o aprisionamento cultural promovido pela Igreja.<\/p>\n Descartes pregando o questionamento e a raz\u00e3o, John Locke renegando a divindade dos monarcas, Newton com sua interpreta\u00e7\u00e3o matem\u00e1tica e nada religiosa do universo, precederam a chegada de outros malandros como Rousseau e Montesquieu, os patronos intelectuais prim\u00edgenos do atual modelo de governo ocidental. Mas como foi mesmo que as id\u00e9ias destes delinquentes ganharam aceita\u00e7\u00e3o em meio \u00e0 sociedade?<\/p>\n Bem, a\u00ed que entraram em cena nossos amigos piratas<\/em>. Eles pegaram todas as obras ilegais, criminosas e contr\u00e1rias \u00e0 ordem vigente e soltaram pro pov\u00e3o. Gra\u00e7as aos piratas, hoje voc\u00ea acha um absurdo dizer que o planeta Terra \u00e9 um mero plano solit\u00e1rio no universo. Gra\u00e7as aos piratas, voc\u00ea hoje n\u00e3o precisa se submeter \u00e0s vontades de um reizinho vital\u00edcio. Gra\u00e7as aos piratas, voc\u00ea tem acesso a cultura, que n\u00e3o mais fica guardada nos por\u00f5es da Igreja Cat\u00f3lica. E isso nos faz lembrar o que vivemos hoje.<\/p>\n A pirataria libera informa\u00e7\u00e3o a ponto de nos dar uma liberdade n\u00e3o prevista na lei e na vontade do poder pol\u00edtico e econ\u00f4mico. Voc\u00ea hoje pode escolher o que consumir, pode escolher o que pensar. Tudo isso sem precisar pagar previamente, como se pagava para comprar um lugar no para\u00edso nos tempos medievais. Note que este filme n\u00f3s todos j\u00e1 vimos. Vimos o quanto era rid\u00edcula tal sujei\u00e7\u00e3o. Vimos que as leis da \u00e9poca existiam e foram quebradas, sendo, em virtude\u00a0 do proveito que tiramos, muito f\u00e1cil justificar a tal desobedi\u00eancia.<\/p>\n Mas insistimos em chamar os repons\u00e1veis por esta liberta\u00e7\u00e3o social de “ladr\u00f5es”. E esses ladr\u00f5es, assim como n\u00f3s, ladr\u00f5es de hoje, provavelmente exerciam suas atividades por pura sede de lucros ou pura e simples vontade de transgredir ou usufruir individualmente de material ao qual n\u00e3o tinham acesso. N\u00e3o tinham no\u00e7\u00e3o da revolu\u00e7\u00e3o que viriam a causar. Mas causaram. Ou, no m\u00ednimo, contribu\u00edram de forma determinante.<\/p>\n Copiar n\u00e3o \u00e9 e nunca foi subtrair, roubar. Copiar \u00e9 um instinto humano. Fala. Gestos. Escrita. Atitude. O ser humano se desenvolve imitando suas refer\u00eancias, copiando sinais. Sem pedir autoriza\u00e7\u00e3o a ningu\u00e9m. E gra\u00e7as a isso id\u00e9ias e liberdades se agregam \u00e0 sociedade, que nada mais \u00e9 que um amontoado de tend\u00eancias e inspira\u00e7\u00f5es coletivas, a serem copiadas e copiadas. Padr\u00e3o sobre padr\u00e3o. Paradigma sobre paradigma. Era sobre era. E ningu\u00e9m que se proclame dono ou propriet\u00e1rio de uma determinada c\u00f3pia que fez das inspira\u00e7\u00f5es que o mundo lhe deu restar\u00e1 com a raz\u00e3o quando o pr\u00f3prio mundo reclamar o direito de usufruir do que \u00e9 seu.<\/p>\n Reze vinte pais-nossos para agradecer pela insist\u00eancia da subvers\u00e3o.<\/p>\n [Edson Andrade de Alencar.<\/strong>]<\/p>\nImagens:\u00a0<\/em>1<\/a>,\u00a0<\/em>2<\/a>,\u00a0<\/em>3<\/em><\/a><\/address>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":" No \u00faltimo post que escrevi eu falei de maneira um tanto sutil sobre o copyright em tempos passados. Agora venho escrever sobre o que rolava pelo lado anticopyright h\u00e1 alguns s\u00e9culos. 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