{"id":13966,"date":"2008-12-10T20:19:57","date_gmt":"2008-12-10T20:19:57","guid":{"rendered":"https:\/\/baixacultura.org\/?p=772"},"modified":"2008-12-10T20:19:57","modified_gmt":"2008-12-10T20:19:57","slug":"v-de-vertigem","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/baixacultura.org\/2008\/12\/10\/v-de-vertigem\/","title":{"rendered":"V de Vertigem"},"content":{"rendered":"

Um fake salvou minha vida. Minha vida, ou pelo menos minha vida do jeito como a levo, depende da maneira como insisto em acreditar na humanidade. A humanidade, essa pe\u00e7a estranha no bal\u00e9 do planeta, penso que apenas sua capacidade de criar beleza seja capaz de redimir sua capacidade\u00a0de destru\u00ed-la. Mas eu dizia que um fake salvou minha vida.<\/p>\n

Minha vida, ou pelo menos minha vida do jeito como a levo, depende duma esp\u00e9cie de serenidade, de talvez sanidade proveniente em grande medida do prazer e das porradas que, voluntariamente ou n\u00e3o, diariamente eu levo. \u00c0s vezes, isso custa caro.<\/p>\n

Eu n\u00e3o\u00a0quero falar\u00a0do pre\u00e7o que a vida nos cobra, a grande vida, a vida extra\u00edda de cada poro e seu alto risco. N\u00e3o \u00e9 isso, n\u00e3o agora.\u00a0O que eu dizia \u00e9\u00a0que manter a linha\u00a0nem sempre \u00e9 f\u00e1cil e que as coisas que ajudam a mant\u00ea-la podem ser caras, mesquinhamente caras, estou falando de Grana, estou falando que h\u00e1 coisas muito simples que me deixam tranq\u00fcilo, n\u00e3o me lembro se o trema j\u00e1 caiu, um milh\u00e3o de coisas muito simples como a beleza de um di\u00e1logo, um naco de nuvem, ou quadrinhos.\u00a0E quadrinhos, ao contr\u00e1rio das duas outras op\u00e7\u00f5es, custam Grana.<\/p>\n

Agora, voltemos ao fake.<\/p>\n

Agora sei que seu nome \u00e9 Thiago, que trabalha com publicidade e parece com aqueles retratos de Jesus. Mas antes disso, fui apresentado ao fake Von DEWS!, foi esse cara quem salvou minha vida. Entenda que n\u00e3o foi preciso muito e que esse papo n\u00e3o tem nada a ver com a leve semelhan\u00e7a de Von DEWS! com Jesus. Tem a ver com o Vertigem<\/a>, o blog de scans de HQs que hoje comemora 02 anos e cerca de 600 posts de exist\u00eancia. Entenda que \u00e0s vezes salvar a vida de algu\u00e9m pode ser s\u00f3 uma express\u00e3o, um pequeno exagero nascido de uma alegria, nesse caso a alegria de contrariar os pre\u00e7os conhecidamente abusivos dos quadrinhos no Brasil.<\/p>\n

\"vertigemhq\"<\/p>\n

Quarto membro de uma equipe inicial da qual \u00e9 o \u00fanico sobrevivente, Von DEWS! hoje coordena uma equipe fixa\u00a0com cerca de 10 colaboradores [al\u00e9m dos colaboradores\u00a0eventuais e das parcerias com outros blogs e sites], a maioria deles leitores que resolveram ajudar, gente que nunca se viu na vida e trabalha conjuntamente para me impedir de gastar um dinheiro que n\u00e3o tenho com coisas que amo. Coisas que admiro, como esta s\u00e9rie<\/a> do Warren Ellis, coisas das quais j\u00e1 falei<\/a>\u00a0aqui, como The Walking Dead<\/a>, coisas que me divertem muito, como o doido do Steve Niles<\/a>,\u00a0coisas geniais, como a obra do genial Grant Morrison<\/a>. Tudo gratuito –\u00a0traduzido, diagramado e escaneado com cuidado e persist\u00eancia.<\/p>\n

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Fell (Warren Ellis+Ben Templesmith)<\/p><\/div>\n

Com m\u00e9todo, mesmo. N\u00e3o \u00e9, Von DEWS? “Atualmente cada revista tem um tradutor e um letrista fixos, e raramente uma pessoa s\u00f3 faz as duas coisas. Eu fa\u00e7o as capas e os t\u00edtulos, e reviso todo o trabalho dos tradutores mais de uma vez. Leio e reviso a tradu\u00e7\u00e3o que chega em Word, e fa\u00e7o o mesmo trabalho quando volta das m\u00e3os do letrista”.<\/p>\n

O trabalho \u00e9 de editora, eu penso, e aproveito para perguntar sobre mercado. “\u00c9 uma inc\u00f3gnita, as editoras escondem os n\u00fameros de vendas, de tiragem. Nos EUA, as editoras exibem com orgulho os n\u00fameros das vendas. Aqui, elas escondem. Tenta perguntar pra Panini quantas edi\u00e7\u00f5es de X-Men foram vendidas esse m\u00eas…Nem pagando eles te falam. \u00c9 dificil mensurar qualquer coisa”. E ele pergunta mesmo, seu interesse pelo mercado editorial \u00e9 mais s\u00e9rio que a minha pergunta: apesar de figura conhecid\u00edssima nas comunidades de download e de prepara\u00e7\u00e3o de scans, Von DEWS! n\u00e3o troca os quadrinhos de papel pelos arquivos de computador, e acredita que seu trabalho deva ser de parceria com as editoras.<\/p>\n

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Os Invis\u00edveis (Grant Morrison)<\/p><\/div>\n

E com outros grupos de scans. Segundo o editor do Vertigem, sempre que pinta uma d\u00favida de tradu\u00e7\u00e3o ou diagrama\u00e7\u00e3o, sempre que aparece a oportunidade de colaborar com resenhas e artigos, enfim, sempre que h\u00e1 a possibilidade de di\u00e1logo, h\u00e1 di\u00e1logo. “Quase todo mundo tem o msn de todo mundo”, por exemplo. Mas vamos voltar ao papo sobre mercado.<\/p>\n

“Apesar do crescimento da internet, os scans circulam\u00a0entre\u00a0uma parcela m\u00ednima de leitores.\u00a0Eu vejo\u00a0isso no orkut, a quantidade de leitores que nem sabe o que \u00e9 scan, n\u00e3o sabe que existe uma edi\u00e7\u00e3o original americana [nota deste rep\u00f3rter<\/em>: caramba!]. O papel dos scans \u00e9 mais de divulga\u00e7\u00e3o que de qualquer outra coisa. Eu acho que, por exemplo, se ningu\u00e9m tivesse traduzido The Walking Dead<\/strong> h\u00e1 alguns anos, a [editora] HQM nunca teria investido nos encadernados.\u00a0Por mim, a gente fazia parceria e\u00a0a divulga\u00e7\u00e3o seria conjunta! S\u00f3 esse semestre eu gastei mais de 800 reais em quadrinhos! Eu tenho 40 giga de quadrinhos no PC, mas tenho o equivalente a 900 giga em papel!\u00a0E n\u00e3o os troco por nada!”, ele afirma, com as exclama\u00e7\u00f5es que lhe s\u00e3o peculiares.<\/p>\n

Parece haver de certa forma uma correspond\u00eancia entre essa disposi\u00e7\u00e3o em colaborar com o mercado regular de quadrinhos e, se n\u00e3o a disposi\u00e7\u00e3o contr\u00e1ria, pelo menos a raridade da fiscaliza\u00e7\u00e3o legal. Porque embora n\u00f3s dois acredit\u00e1ssemos que a a\u00e7\u00e3o do Vertigem e de qualquer outro blog de scans seria ilegal apenas se resultasse em lucro, a legisla\u00e7\u00e3o de direito autoral \u00e9, segundo o Edson<\/a>, bem menos tolerante. Mas a intoler\u00e2ncia tem se mostrado felizmente alheia ao trabalho de divulga\u00e7\u00e3o de scans, ao contr\u00e1rio do que ocorre com blogs de download de arquivos de \u00e1udio e v\u00eddeo. \u00a0“At\u00e9 hoje, em quadrinhos,\u00a0s\u00f3 o Eudes [do Rapadura A\u00e7ucarada<\/a>] teve problemas com isso. A\u00a0quest\u00e3o \u00e9 que ele\u00a0vinha escaneando quase tudo que sa\u00eda em banca, e na \u00e9poca o blog\u00a0tinha muita visibilidade. Com a prolifera\u00e7\u00e3o dos\u00a0espa\u00e7os essa visibilidade exclusiva diminuiu, ele precisou parar durante um tempo\u00a0mas depois voltou com for\u00e7a total”.<\/p>\n

Von DEWS! concorda quando digo que a situa\u00e7\u00e3o \u00e9 essa: os blogs existem, ningu\u00e9m sabe direito o que pode ou n\u00e3o pode fazer legalmente, mas tamb\u00e9m \u00e9 como se a lei n\u00e3o estivesse preocupada com isso. Parece uma esp\u00e9cie de benef\u00edcio, fruto do eterno anti-lugar que os quadrinhos ocupam na estante cultural das sociedades, da imagem que\u00a0preservam de entretenimento inofensivo e fonte de roteiros quadrados pra ind\u00fastria cinematogr\u00e1fica, e n\u00e3o uma linguagem como qualquer outra, capaz do que \u00e9 capaz qualquer linguagem quando usada por uma voz sincera e afiada. De ocupar o tempo de pessoas que a amam e n\u00e3o v\u00e3o ganhar nada em troca, n\u00e3o v\u00e3o ganhar nada\u00a0que tenha\u00a0valor de troca, pessoas que n\u00e3o v\u00e3o trocar isso por nada.<\/p>\n

[Reuben da Cunha Rocha.<\/strong>]<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

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