{"id":13922,"date":"2022-03-11T15:32:26","date_gmt":"2022-03-11T15:32:26","guid":{"rendered":"https:\/\/baixacultura.org\/?p=13922"},"modified":"2022-03-11T15:32:26","modified_gmt":"2022-03-11T15:32:26","slug":"mais-do-mesmo-mas-diferente","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/baixacultura.org\/2022\/03\/11\/mais-do-mesmo-mas-diferente\/","title":{"rendered":"Mais do mesmo, mas diferente"},"content":{"rendered":"<p><img loading=\"lazy\" class=\"aligncenter wp-image-13926 size-full\" src=\"https:\/\/baixacultura.org\/wp-content\/uploads\/2022\/03\/remix-meme-5.png\" alt=\"\" width=\"587\" height=\"335\" \/><\/p>\n<p style=\"text-align: justify\">De Nova York, o diretor canadense Kirby Ferguson tem revelado desde 2010 os segredos criativos da cultura pop atrav\u00e9s de uma s\u00e9rie de v\u00eddeos chamada \u201c<a href=\"https:\/\/www.everythingisaremix.info\/about\" target=\"_blank\" rel=\"noopener\">Everything is a Remix<\/a>\u201d (Tudo \u00e9 Remix). Muito popular na internet (ou em uma certa parte da internet) dos anos 2010, os v\u00eddeos ganharam em 2015\u00a0<a href=\"https:\/\/www.youtube.com\/watch?v=nJPERZDfyWc\" target=\"_blank\" rel=\"noopener\">uma vers\u00e3o remasterizada<\/a>\u00a0e, ano passado, uma nova vers\u00e3o em quatro cap\u00edtulos &#8211; n\u00e3o por acaso, remixada das anteriores.<\/p>\n<p><iframe loading=\"lazy\" title=\"Everything is a Remix Part 1 (2021), by Kirby Ferguson\" width=\"1300\" height=\"731\" src=\"https:\/\/www.youtube.com\/embed\/MZ2GuvUWaP8?feature=oembed\" frameborder=\"0\" allow=\"accelerometer; autoplay; clipboard-write; encrypted-media; gyroscope; picture-in-picture\" allowfullscreen><\/iframe><\/p>\n<p style=\"text-align: justify\">O primeiro epis\u00f3dio dessa \u201cnova temporada\u201d (pode ser visto acima) foi lan\u00e7ado em setembro de 2021 e foca justamente no conceito de remix, com destaque para a m\u00fasica.<\/p>\n<p><iframe loading=\"lazy\" title=\"Everything is a Remix Part 2 (2021)\" width=\"1300\" height=\"731\" src=\"https:\/\/www.youtube.com\/embed\/HhMar_eYnNY?feature=oembed\" frameborder=\"0\" allow=\"accelerometer; autoplay; clipboard-write; encrypted-media; gyroscope; picture-in-picture\" allowfullscreen><\/iframe><\/p>\n<p style=\"text-align: justify\">O segundo, apresentado no Youtube em dezembro de 2021, trata do principal s\u00edmbolo da vit\u00f3ria do remix na produ\u00e7\u00e3o e circula\u00e7\u00e3o cultural massiva hoje: os memes, estas b<span style=\"font-weight: 400\">ombas semi\u00f3ticas recombinantes que captam nossa aten\u00e7\u00e3o, nos fazem rir, sofrer, chorar.<\/span>\u00a0Em uma edi\u00e7\u00e3o \u00e1gil, cheia de refer\u00eancias pop e uma narra\u00e7\u00e3o informativa em off, Ferguson argumenta que<strong>\u00a0tudo o que voc\u00ea faz<\/strong>\u00a0e compartilha com o mundo na internet hoje \u00e9 meme: roupas, tweets, sons, v\u00eddeos, tiktokers, gamers. No in\u00edcio do v\u00eddeo, a voz em off comenta: \u201cmesmo que n\u00e3o se entenda exatamente o que se quer dizer com um meme, ele s\u00e3o profundos\u201d, para logo contar a conhecida origem da populariza\u00e7\u00e3o do termo no livro \u201c<strong><em>The Selfish Gene<\/em><\/strong>\u201d (\u201c<em>O Gene Ego\u00edsta<\/em>\u201d, 1976), do bi\u00f3logo Richard Dawkins.<\/p>\n<p><img loading=\"lazy\" class=\"aligncenter size-full wp-image-13924\" src=\"https:\/\/baixacultura.org\/wp-content\/uploads\/2022\/03\/remix-meme-1.png\" alt=\"\" width=\"647\" height=\"336\" \/><\/p>\n<p>&nbsp;<\/p>\n<p style=\"text-align: justify\"><i><span style=\"font-weight: 400\">[<strong>Meme<\/strong><\/span><\/i><span style=\"font-weight: 400\"> \u00e9 uma palavra que designa \u201ccoisas imitadas\u201d, origin\u00e1ria do grego \u201c<\/span><i><span style=\"font-weight: 400\"><strong>m\u012bm\u0113ma<\/strong>\u201d<\/span><\/i><span style=\"font-weight: 400\"> (<\/span><i><span style=\"font-weight: 400\">\u03bc\u03af\u03bc\u03b7\u03bc\u03b1<\/span><\/i><span style=\"font-weight: 400\">), por sua vez vinda de \u201c<\/span><strong><i>mimeisthai<\/i><\/strong><span style=\"font-weight: 400\">\u201d (<\/span><i><span style=\"font-weight: 400\">\u03bc\u03b9\u03bc\u03b5\u1fd6\u03c3\u03b8\u03b1<\/span><\/i><span style=\"font-weight: 400\">\u03b9, &#8216;imitar&#8217;), que foi usada por Dawkins para conceituar meme como a unidade b\u00e1sica da mem\u00f3ria ou do conhecimento, aquilo que o ser humano transfere conscientemente para os seus descendentes &#8211; o equivalente cultural do gene da biologia, um segmento de uma mol\u00e9cula de DNA respons\u00e1vel pelas caracter\u00edsticas herdadas de um ser humano.]<\/span><\/p>\n<p style=\"text-align: justify\"><img loading=\"lazy\" class=\"aligncenter size-large wp-image-13930\" src=\"https:\/\/baixacultura.org\/wp-content\/uploads\/2022\/03\/remix-meme-7.png\" alt=\"\" width=\"618\" height=\"322\" \/><br \/>\nDepois, o v\u00eddeo fala de como hoje o cinema hollywoodiano est\u00e1 tomado de remakes, boa parte delas baseada na consagrada \u201cjornada do Her\u00f3i\u201d, por sua vez inspirada pelas narrativas mitol\u00f3gicas antigas e recontadas para o s\u00e9culo XX principalmente a partir de \u201c<em><a href=\"https:\/\/en.wikipedia.org\/wiki\/The_Power_of_Myth\" target=\"_blank\" rel=\"noopener\">O Poder do Mito<\/a><\/em>\u201d, de Joseph Campbell, influ\u00eancia na narrativa de 10 entre os 10 filmes mais vistos hoje. Afinal, por que isso ocorre? No fim das contas, porque buscamos o familiar, personagens e hist\u00f3rias que de algum modo j\u00e1 conhecemos;\u00a0<strong>usamos elementos \u201cvelhos\u201d para entender os \u201cnovos\u201d<\/strong> &#8211; a come\u00e7ar pelas pr\u00f3prias palavras, tradicionalmente formadas a partir de outras j\u00e1 existentes (entender a origem a hist\u00f3ria das palavras ajuda a entender o mundo, s\u00e9rio). Copiamos, depois criamos; a imita\u00e7\u00e3o precede a cria\u00e7\u00e3o, como h\u00e1 mil\u00eanios os povos do extremo oriente (especialmente os chineses) sabem com mais clareza do que os ocidentais, como contei em detalhes no \u00faltimo cap\u00edtulo de &#8220;<a href=\"https:\/\/baixacultura.org\/aculturaelivre\/\">A Cultura \u00e9 Livre<\/a>&#8221; ao falar da influ\u00eancia do confucionismo na cultura chinesa. Um trecho do livro:<\/p>\n<blockquote>\n<p style=\"text-align: justify\">&#8220;Nessa filosofia, desde muito pequenas as crian\u00e7as eram ensinadas a pensar a partir da memoriza\u00e7\u00e3o e da c\u00f3pia dos cl\u00e1ssicos, procedimento que, segundo seus mestres, incutiria nos jovens valores familiares, piedade filial e respeito ancestral (&#8230;). Quando essas crian\u00e7as cresciam, elas se tornavam mais compiladores que compositores. Memorizavam tantas hist\u00f3rias cl\u00e1ssicas que passavam a construir suas narrativas a partir de um extenso processo de copiar e colar (<em>cut-and-paste<\/em>) frases, trechos e passagens desses textos antigos. Se aos olhos de um ocidental, especialmente do s\u00e9culo XX e XXI, isso seria visto como pl\u00e1gio, para os chineses da \u00e9poca era visto como um tra\u00e7o distintivo de intelectualidade e conhecimento cultural. \u201cQuando autores chineses tradicionais tomam emprestado trechos de um texto preexistente e, principalmente, de um cl\u00e1ssico, espera-se que o leitor reconhe\u00e7a a fonte do material emprestado instantaneamente. Se um leitor \u00e9 infeliz o suficiente para deixar de reconhecer esse material citado, \u00e9 culpa dele, n\u00e3o do autor\u201d. (..). O pensamento de Conf\u00facio manifestaria uma vis\u00e3o de que \u201ca capacidade de fazer uso transformador de obras preexistentes pode demonstrar a compreens\u00e3o e a devo\u00e7\u00e3o ao n\u00facleo da cultura chinesa, bem como a capacidade de distinguir o presente do passado atrav\u00e9s de pensamentos originais&#8221; (<strong>p.209-210, &#8220;A Cultura \u00e9 Livre&#8221;<\/strong>)<\/p>\n<p>&nbsp;<\/p><\/blockquote>\n<p>Vale a pena assistir a s\u00e9rie, mesmo pra quem j\u00e1 viu muitas vezes a primeira vers\u00e3o de &#8220;Tudo \u00e9 remix\u201d como eu (escrevemos sobre ela aqui no BaixaCultura, <a href=\"https:\/\/baixacultura.org\/tudo-e-remix-e-vice-versa\/\" target=\"_blank\" rel=\"noopener\">l\u00e1 em 2011,<\/a> e usei in\u00fameras vezes em sala de aula para falar de remix e cria\u00e7\u00e3o). Assim como o assunto que trata, essa segunda vers\u00e3o do filme tamb\u00e9m n\u00e3o tem nada de \u201coriginal\u201d, mas a nova combina\u00e7\u00e3o de refer\u00eancias faz com que ele seja <em>fresh<\/em> e educativo para todos aqueles que querem entender os mecanismos da cria\u00e7\u00e3o &#8211; ou simplesmente criar. <strong>Mostra novamente, agora para a Gera\u00e7\u00e3o Tik Tok, que desde sempre novas ideias s\u00f3 surgem ao se copiar de antigas<\/strong>. O terceiro epis\u00f3dio dessa nova s\u00e9rie est\u00e1 prometido para mar\u00e7o de 2022.<\/p>\n<p style=\"text-align: right\"><strong>[Leonado Foletto]<\/strong><\/p>\n<p><img loading=\"lazy\" class=\"aligncenter size-full wp-image-13925\" src=\"https:\/\/baixacultura.org\/wp-content\/uploads\/2022\/03\/remix-meme-2.png\" alt=\"\" width=\"604\" height=\"302\" \/><\/p>\n<p><img loading=\"lazy\" class=\"aligncenter size-full wp-image-13927\" src=\"https:\/\/baixacultura.org\/wp-content\/uploads\/2022\/03\/remix-meme-3.png\" alt=\"\" width=\"609\" height=\"291\" \/> <img loading=\"lazy\" class=\"aligncenter size-large wp-image-13928\" src=\"https:\/\/baixacultura.org\/wp-content\/uploads\/2022\/03\/remix-meme-4.png\" alt=\"\" width=\"593\" height=\"307\" \/> <img loading=\"lazy\" class=\"aligncenter size-large wp-image-13929\" src=\"https:\/\/baixacultura.org\/wp-content\/uploads\/2022\/03\/remix-meme-6.png\" alt=\"\" width=\"620\" height=\"310\" \/> <img loading=\"lazy\" class=\"aligncenter size-large wp-image-13931\" src=\"https:\/\/baixacultura.org\/wp-content\/uploads\/2022\/03\/remix-meme-8-655x283.png\" alt=\"\" width=\"640\" height=\"277\" \/> <img loading=\"lazy\" class=\"aligncenter size-large wp-image-13932\" src=\"https:\/\/baixacultura.org\/wp-content\/uploads\/2022\/03\/remix-meme-9.png\" alt=\"\" width=\"640\" height=\"318\" \/> <img loading=\"lazy\" class=\"aligncenter size-large wp-image-13933\" src=\"https:\/\/baixacultura.org\/wp-content\/uploads\/2022\/03\/remix-meme-10.png\" alt=\"\" width=\"626\" height=\"314\" \/><\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"<p>De Nova York, o diretor canadense Kirby Ferguson tem revelado desde 2010 os segredos criativos da cultura pop atrav\u00e9s de uma s\u00e9rie de v\u00eddeos chamada \u201cEverything is a Remix\u201d (Tudo \u00e9 Remix). 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