{"id":13728,"date":"2021-09-20T13:42:30","date_gmt":"2021-09-20T13:42:30","guid":{"rendered":"https:\/\/baixacultura.org\/?p=13728"},"modified":"2021-09-20T13:42:30","modified_gmt":"2021-09-20T13:42:30","slug":"baixacharla-ao-vivo-9-devastacao-com-lucas-pretti","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/baixacultura.org\/2021\/09\/20\/baixacharla-ao-vivo-9-devastacao-com-lucas-pretti\/","title":{"rendered":"BaixaCharla ao vivo #9: Devasta\u00e7\u00e3o, com Lucas Pretti"},"content":{"rendered":"
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Ensaio de “Devasta\u00e7\u00e3o”, de Lucas Pretti<\/p><\/div>\n

No meio da d\u00e9cada de 2000, uma promessa revolucion\u00e1ria de futuro da internet parecia se consolidar. Infinidades de novas aplica\u00e7\u00f5es desafiavam e destruiam ind\u00fastrias a cada semana. Vingava a narrativa da contracultura californiana de que as conex\u00f5es geradas pela rede e as rela\u00e7\u00f5es humanas que aconteciam ali gerariam uma puls\u00e3o de vida alternativa e independente da economia neoliberal. Nada sobraria. Era a semente de uma nova sociedade baseada no comum partilhado. A \u201cutopia da internet\u201d.<\/p>\n

A cren\u00e7a na revolu\u00e7\u00e3o se espalhava. G\u00e9rmenes de futuros.<\/p>\n

O movimento do software livre extrapolava a engenharia inform\u00e1tica para forjar uma vis\u00e3o de mundo hacker. A cultura livre parecia um novo esp\u00edrito do tempo. Saber como construir aplica\u00e7\u00f5es digitais, este saber j\u00e1 contendo em si o compartilhamento das novas tecnologias, significava algo como deter os meios de produ\u00e7\u00e3o. Figuras como Linus Torvalds e as infinitas comunidades sem rosto pautadas na colabora\u00e7\u00e3o e na abertura prometiam que o futuro seria como a multid\u00e3o, as comunidades, os coletivos quisessem. O c\u00f3digo aberto e o torrent seriam as ferramentas.<\/p>\n

Era tudo Ingenuidade millenial?*<\/p>\n\n\n\n\n\n\n\n\n\n
2010<\/strong><\/th>\n2020<\/strong><\/th>\n<\/tr>\n
redes sociais mal existem<\/td>\ninfocalipse<\/td>\n<\/tr>\n
software livre como movimento<\/td>\nprivatiza\u00e7\u00e3o e modelos de neg\u00f3cios extrativistas<\/td>\n<\/tr>\n
remix como est\u00e9tica da cultura livre<\/td>\ndilu\u00e7\u00e3o em gifs, stickers e emojis<\/td>\n<\/tr>\n
multid\u00e3o criando em colabora\u00e7\u00e3o<\/td>\nnarratocracia vigilada<\/td>\n<\/tr>\n
pessoas em rede<\/td>\n\u2018usu\u00e1rios\u2019 e bots<\/td>\n<\/tr>\n
ampla infraestrutura p2p<\/td>\ninfraestrutura client-server em sua maioria<\/td>\n<\/tr>\n<\/tbody>\n<\/table>\n

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Ensaios visuais de “Devasta\u00e7\u00e3o”<\/p><\/div>\n

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O artista visual, ativista, editor e pesquisador brasileiro Lucas Pretti, parceiro de longa data do BaixaCultura<\/a>, produziu em 2020 um trabalho chamado \u201cDevasta\u00e7\u00e3o<\/a>\u201d, um livro de artista formado por nove ensaios que articula links entre tecnopol\u00edtica e meio ambiente para desvelar for\u00e7as operantes na silicoloniza\u00e7\u00e3o do mundo. Desde fins de 2018 radicado em Barcelona, Lucas usou de m\u00faltiplos formatos para compor uma obra que, vista em 2021, pode ser encarada como um manifesto do mal-estar generalizado com o Brasil de Bolsonaro sob a media\u00e7\u00e3o (e a ben\u00e7\u00e3o) das big techs<\/i>. S\u00e3o fotos, adesivos, textos, mapas, prints<\/i>, par\u00f3dicos, ir\u00f4nicos, sempre cr\u00edticos, que ressaltam tanto a ag\u00eancia<\/i> da tecnologia na elei\u00e7\u00e3o de Bolsonaro quanto na destrui\u00e7\u00e3o do meio ambiente e no adoecimento da sociedade.<\/p>\n

O come\u00e7o de \u201cDevasta\u00e7\u00e3o\u201d veio com um v\u00eddeo gravado no dia da posse de Bolsonaro, quando apoiadores do ent\u00e3o rec\u00e9m-eleito presidente gritaram \u201cWhatsapp, Whatsapp, Facebook, Facebook\u201d como forma de ataque a um rep\u00f3rter televisivo. O mal-estar contido nesse ato, em que as redes sociais ganham um status de contrapoder informacional \u00edntimo, levaram ele a uma investiga\u00e7\u00e3o dos diversos aspectos simb\u00f3licos dessa devasta\u00e7\u00e3o ainda em marcha: do meio ambiente, das rela\u00e7\u00f5es pol\u00edticas e da identidade de um pa\u00eds.<\/p>\n

\u201cO inc\u00f4modo com o v\u00eddeo gravado no dia da posse de Bolsonaro me habita desde que o assisti pela primeira vez. Logo ap\u00f3s o R\u00e9veillon de 2018, circulou durante um ou dois dias nas timelines e chegou a ter seu espa\u00e7o na imprensa com um enfoque ex\u00f3tico, \u201cvejam que curioso os gritos contra a Globo\u201d. Eu vejo mais do que isso. Vejo a materializa\u00e7\u00e3o de um discurso tecnoapocal\u00edptico, uma prova de que as redes digitais podem ser usadas ativamente para influenciar resultados de elei\u00e7\u00f5es \u2013 como se vem discutindo muito desde o esc\u00e2ndalo Cambridge Analytica.\u201d<\/p>\n

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Foto de “Make The Board Happy”, ensaio presente em “Devasta\u00e7\u00e3o”.<\/p><\/div>\n

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“Silicon Empire”<\/p><\/div>\n

Foi dentro do contexto da Change.org<\/a>, empresa que Lucas atua como diretor global de comunica\u00e7\u00e3o, que ele ouviu a frase \u201cwe just need to make the board happy\u201d, mote de um dos blocos do trabalho. \u201cA cultura empresarial siliconiana, assim como a l\u00f3gica de investimentos de todo o capital privado, prev\u00ea que a cada trimestre o comit\u00ea de administra\u00e7\u00e3o receba um relat\u00f3rio das atividades da companhia \u2013 cont\u00e9m um balan\u00e7o financeiro, indicadores de performance, principais decis\u00f5es e projetos para os pr\u00f3ximos tr\u00eas meses. \u00c9 uma maneira de \u201cto make the CEO accountable\u201d. O board, na pr\u00e1tica, encarna, dilui e apaga a figura do chefe capitalista de cartola e charuto difundida nos s\u00e9culos XIX e XX. \u00c9 o atual chefe supremo. O topo da carreira de um executivo \u00e9 ser convidado para fazer parte do board de outra organiza\u00e7\u00e3o, e assim aumentar seu campo de influ\u00eancia. A cada trimestre, \u00e9 necess\u00e1rio deixar o board feliz, para que os acionistas e investidores possam, por fim, rir tamb\u00e9m\u201d, escreveu Lucas no ensaio que acompanha a obra, \u201cPacto de Sangre que todos hicieron y desconocen\u201d, aqui em vers\u00e3o que foi publicada na revista n\u00b03 do Internet Lab<\/a>, Internet e Sociedade.<\/p>\n

O trabalho iniciado por Make the Board Happy<\/i> abriu caminho para ensaios correlatos e se tornou o pr\u00f3prio m\u00e9todo de investiga\u00e7\u00e3o de Lucas em \u201cDevasta\u00e7\u00e3o\u201d. O impulso, diz ele, \u00e9 \u201cabrir o c\u00f3digo\u201d dessas corpora\u00e7\u00f5es. Neste sentido, Devasta\u00e7\u00e3o<\/i> faz um tributo ao open source e \u00e0 cultura livre. O colecionismo e indexa\u00e7\u00e3o de imagens encontradas na internet se tornaram a mat\u00e9ria-prima de cada ensaio \u2013 uma pr\u00e1tica que remonta aos prim\u00f3rdios da cultura remix.\u201d<\/p>\n

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A nona BaixaCharla ao vivo, sexta de 2021, ser\u00e1 uma conversa entre Leonardo Foletto e Lucas Pretti sobre e a partir de \u201cDevasta\u00e7\u00e3o\u201d. Ser\u00e1 na pr\u00f3xima quinta-feira, 23\/9, excepcionalmente \u00e0s 15h (hor\u00e1rio no Brasil), no canal do Youtube do BaixaCultura<\/a>, onde depois fica dispon\u00edvel – e em algumas semanas vira podcast para ouvir no site e nas plataformas de streaming<\/i>. Esta charla\u00a0 inaugura um novo ciclo de conversas sobre tecnopol\u00edtica neste 2021, agora a partir da arte (& technologia). Nos pr\u00f3ximos meses, vamos nos debru\u00e7ar no trabalho de alguns artistas que est\u00e3o diretamente pensando as causas, consequ\u00eancias, sa\u00eddas, desvios, para a encruzilhada social-pol\u00edtica-tecnonol\u00f3gica que nos encontramos hoje. Se o esp\u00edrito do tempo (ou zeitgeist<\/i>) ainda \u00e9 o de ressaca da internet, como apontamos nesse texto de 2018<\/a>, o desafio agora \u00e9 pensar em rem\u00e9dios que possam apontar curas para a ressaca – ou esmiu\u00e7ar o diagn\u00f3stico dist\u00f3pico, ver a cat\u00e1strofe de outras perspectivas, qui\u00e7\u00e1 tamb\u00e9m tirar beleza da destrui\u00e7\u00e3o, dan\u00e7ar enquanto tudo queima, despencar com paraquedas colorido, reiniciar o processo a partir de princ\u00edpios da igualdade e n\u00e3o de competi\u00e7\u00e3o.<\/p>\n

Assista:<\/p>\n