{"id":13718,"date":"2021-08-23T13:52:06","date_gmt":"2021-08-23T13:52:06","guid":{"rendered":"https:\/\/baixacultura.org\/?p=13718"},"modified":"2021-08-23T13:52:06","modified_gmt":"2021-08-23T13:52:06","slug":"retrospectiva-e-expectativa-cypherpunk-em-debate","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/baixacultura.org\/2021\/08\/23\/retrospectiva-e-expectativa-cypherpunk-em-debate\/","title":{"rendered":"Retrospectiva e expectativa Cypherpunk"},"content":{"rendered":"
Capa de Wired de maio\/junho de 1993 com cypherpunks mascarados (reza a lenda que Timothy C. May e Eric Hughes estavam presentes)<\/p><\/div>\n
Com mais de trinta anos desde sua g\u00eanese, o ideal dos cypherpunks ainda germina sobre gera\u00e7\u00f5es de cript\u00f3grafos, programadores e ativistas<\/span><\/em><\/p>\n Tal qual o movimento da cultura livre, que se reuniu nos anos 2000 para confrontar a persegui\u00e7\u00e3o judicial daqueles que baixavam conte\u00fado em sites P2P, os <\/span>Cypherpunks<\/span><\/i> ganharam notoriedade quando se organizaram para <\/span>responder <\/span><\/i>a uma amea\u00e7a\u00a0 – no caso, feita por mecanismos regulat\u00f3rios da criptografia nos Estados Unidos, entre o final dos anos 1980 e in\u00edcio dos 1990. A uni\u00e3o para problematizar legisla\u00e7\u00f5es (e tamb\u00e9m atos vigilantes de governos e empresas) foi uma feliz ocasi\u00e3o para reunir grupos de pessoas que discutiam as implica\u00e7\u00f5es pol\u00edticas das t\u00e9cnicas, especialmente aquelas relacionadas com a prote\u00e7\u00e3o da privacidade – naquela \u00e9poca j\u00e1 era poss\u00edvel prever muitas (se n\u00e3o todas) as implica\u00e7\u00f5es vigilantes de uma rede mundial de computadores como a internet.<\/span><\/p>\n Eram, sobretudo, programadores, <\/span>hackers <\/span><\/i>e engenheiros de software e hardware, alguns influenciados por escritos tecno libert\u00e1rios que viam as\u00a0 tecnologias\u00a0 da informa\u00e7\u00e3o como um acr\u00e9scimo de poder ao indiv\u00edduo que aumentaria a liberdade pessoal e poderia radicalmente reduzir a for\u00e7a do estado-na\u00e7\u00e3o. \u00c9 interessante pensar como o libertarianismo cypherpunk dialoga, ainda que pontualmente, com o que Richard Barbrook e Andy Cameron chamaram de \u201cideologia californiana\u201d. Timothy May, por exemplo, autor do \u201cManifesto Criptoanarquista\u201d (1992), foi leitor de Ayn Rand e refletia, em alguns posicionamentos pol\u00edticos, parte da sua filosofia centrada em um certo individualismo que, anos mais tarde, resultaria em um ultraliberalismo e a aberra\u00e7\u00e3o chamada <\/span>anarcocapitalismo<\/span><\/a> (os hoje famosos <\/span>ancaps<\/span><\/i>).<\/span><\/p>\n Ainda que houvesse essa tend\u00eancia individualista e anti-estatal, o fato \u00e9 que os <\/span>cypherpunks<\/span><\/i> tamb\u00e9m souberam ser um sistema de natureza <\/span>tecno-social com bastante elasticidade, que soube se adaptar em diferentes contextos sociopol\u00edticos desde o fim da d\u00e9cada de 80 at\u00e9 os dias de hoje. A ponto de agregar, al\u00e9m de pessoas e coletivos, tamb\u00e9m outras formas de \u201ca\u00e7\u00e3o pol\u00edtica\u201d. Tecnologias podem ser cypherpunks, como o <\/span>The Onion Router<\/span><\/i> (Tor), o<\/span> Pretty Good Privacy<\/span><\/i> (PGP) ou o <\/span>WikiLeaks<\/span><\/i>; articula\u00e7\u00f5es sociais podem ser cypherpunks, como as criptofestas em dezenas de localidades do mundo e as diversas mobiliza\u00e7\u00f5es da sociedade civil de defesa dos direitos conexos \u00e0 criptografia na rede; e pessoas podem ser cypherpunks atrav\u00e9s de a\u00e7\u00f5es cipher-ativistas, como aqueles\/as que se dedicam, em redes colaborativas, a oferecer oficinas sobre o uso de ferramentas de criptografia, organiza\u00e7\u00f5es que defendem a criptografia em processos judiciais ou indiv\u00edduos que alimentam o GitHub (e o GitLab) com linhas de c\u00f3digo que tornam mais resilientes arquiteturas de seguran\u00e7a com criptografia.<\/span><\/p>\n “Manifesto Cypherpunk” no original, em ingl\u00eas<\/p><\/div>\n Na vis\u00e3o de Tim May exposta em \u201cManifesto Criptoanarquista\u201d, a criptografia de chave p\u00fablica foi t\u00e3o importante para a virada do s\u00e9culo XXI, em termos de revolu\u00e7\u00e3o comunicacional, quanto a inven\u00e7\u00e3o da prensa de Gutenberg foi no s\u00e9culo XV. Da mesma forma que a difus\u00e3o de conhecimento possibilitada pela prensa potencializou a desestrutura\u00e7\u00e3o do modelo de reten\u00e7\u00e3o e silenciamento de informa\u00e7\u00f5es caracter\u00edsticos do poder medieval, a criptografia seria, igualmente, o contraponto da escalada de poder do Estado com a acelera\u00e7\u00e3o da computa\u00e7\u00e3o. De fato, para os estudos de vigil\u00e2ncia dos finais da d\u00e9cada de 80, a centraliza\u00e7\u00e3o do computador enquanto ferramenta de administra\u00e7\u00e3o p\u00fablica completaria o projeto pan\u00f3ptico de Jeremy Bentham de duas maneiras: expondo o comportamento do p\u00fablico e tornando opacos os aparatos de vigil\u00e2ncia.<\/span><\/p>\n No \u00ednterim do aprofundamento das preocupa\u00e7\u00f5es sobre a eros\u00e3o da privacidade, os manifestos de May e Eric Hughes foram sintom\u00e1ticos, respectivamente, do press\u00e1gio e da rea\u00e7\u00e3o \u00e0s \u201ccriptoguerras\u201d (como viriam a ficar conhecidas as disputas em torno da criptografia notadamente na d\u00e9cada de 90, mas com diversas renova\u00e7\u00f5es contempor\u00e2neas): em 1988, ano da primeira apari\u00e7\u00e3o do Manifesto Criptoanarquista, j\u00e1 era densa a proximidade dos riscos aos direitos refletidos em regula\u00e7\u00f5es restritivas \u00e0 criptografia; em 1993, o \u201cManifesto Cypherpunk\u201d j\u00e1 mobilizava um repert\u00f3rio de rea\u00e7\u00e3o a pol\u00edticas p\u00fablicas e teorizava, ainda que implicitamente, sobre o direito \u00e0 privacidade e \u00e0 prote\u00e7\u00e3o de dados.\u00a0<\/span><\/p>\n **<\/span><\/p>\n Na quinta-feira 26\/8, 19h, Leonardo Foletto, organizador de “Manifestos Cypherpunks”, conversa com Andr\u00e9 Ramiro, pesquisador em criptografia e um dos fundadores do IP.Rec, autor do posf\u00e1cio desta edi\u00e7\u00e3o – os trechos acima s\u00e3o parte do posf\u00e1cio adaptadas.\u00a0 A proposta \u00e9 falar um pouco sobre os tr\u00eas manifestos presentes no livro, seu contexto de produ\u00e7\u00e3o e sua atualidade para 2021. A conversa ocorre no canal do Youtube do BaixaCultura, \u00e0s 19h,\u00a0 dentro do #criptoagosto, uma s\u00e9rie de eventos, debates e atividades para falar da import\u00e2ncia da criptografia, organizado pela Coaliz\u00e3o Direitos na Rede.<\/p>\n<\/p>\n