{"id":13622,"date":"2021-04-23T18:34:53","date_gmt":"2021-04-23T18:34:53","guid":{"rendered":"https:\/\/baixacultura.org\/?p=13622"},"modified":"2021-04-23T18:34:53","modified_gmt":"2021-04-23T18:34:53","slug":"a-obra-de-arte-na-era-dos-nfts-manutencao-ou-ruptura","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/baixacultura.org\/2021\/04\/23\/a-obra-de-arte-na-era-dos-nfts-manutencao-ou-ruptura\/","title":{"rendered":"A obra de arte na era dos NFT\u2019s: manuten\u00e7\u00e3o ou ruptura?"},"content":{"rendered":"
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Cr\u00e9ditos: USAtodaysports\/Giphy<\/p><\/div>\n

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\u201cEm sua ess\u00eancia, a obra de arte sempre foi reprodut\u00edvel. O que os homens faziam sempre podia ser imitado por outros homens. Essa imita\u00e7\u00e3o era praticada por disc\u00edpulos, em seus exerc\u00edcios, pelos mestres, para a difus\u00e3o das obras, e finalmente por terceiros, meramente interessados no lucro\u201d<\/em>. <\/span>
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\nA obra de arte na era de sua reprodutibilidade t\u00e9cnica<\/b> (Walter Benjamin. 1936)<\/span><\/p>\n

Quando Benjamin escreveu o famoso ensaio citado acima<\/a>, a arte era impactada pela revolu\u00e7\u00e3o do cinema e da fotografia e toda a possibilidade de reprodu\u00e7\u00e3o que estes suportes traziam, que \u201cliberariam o objeto reproduzido do dom\u00ednio da tradi\u00e7\u00e3o e, ao multiplicar o reproduzido, colocariam no lugar da ocorr\u00eancia \u00fanica a ocorr\u00eancia em massa\u201d. \u00c9 ent\u00e3o que\u00a0 surge o conceito de aura, uma materialidade temporal do aqui e agora, que segundo o autor \u00e9 o que constitui a autenticidade da obra de arte. Quando ocorre a reprodu\u00e7\u00e3o t\u00e9cnica da obra de arte, perde-se sua aura. A aura s\u00f3 existe quando a obra de arte \u00e9 \u00fanica.<\/span><\/p>\n

Como ver\u00edamos algumas d\u00e9cadas depois, a reprodu\u00e7\u00e3o passaria a ser o habitual nas novas formas de express\u00e3o art\u00edstica e cultural a partir do surgimento de tecnologias eletr\u00f4nicas, depois digitais e, finalmente, digitais em rede. A ponto do pr\u00f3prio artigo de Benjamin se tornar, provavelmente, o mais conhecido de sua extensa obra – certamente o mais copiado e citado.\u00a0<\/span><\/p>\n

Mas por que estamos falando dele quase 85 anos depois, no segundo ano de distopia\u00a0 pand\u00eamica? Se agora as rela\u00e7\u00f5es sociais se d\u00e3o essencialmente de forma virtual, tamb\u00e9m os arquivos digitais exclusivos passaram a ser negociados com cifras milion\u00e1rias atrav\u00e9s de uma moeda impalp\u00e1vel. Como isso \u00e9 poss\u00edvel?<\/span><\/p>\n

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Bem-vindxs aos NFTs<\/b><\/p>\n

NFT \u00e9 a sigla de non-fungible token<\/a>, em portugu\u00eas, token n\u00e3o fung\u00edvel. Eles come\u00e7aram a aparecer em 2017 com os CryptoKitties<\/a>, gatinhos fofos criptografados e colecion\u00e1veis (foto acima). <\/span>Operam atrav\u00e9s de blockchain, principalmente atrav\u00e9s da plataforma Ethereum<\/a>, com uma criptomoeda pr\u00f3pria, o Ether. NFT\u00b4s possuem um c\u00f3digo que identificam um arquivo, uma esp\u00e9cie de certificado digital baseado em blockchain, um peda\u00e7o de c\u00f3digo de software com funcionalidade espec\u00edfica e identificado atrav\u00e9s de um identificador exclusivo – essencialmente uma longa sequ\u00eancia de n\u00fameros e letras aleat\u00f3rias conhecida como “hash”. A cadeia de blockchain, a grosso modo, funciona como um registro p\u00fablico de um cart\u00f3rio onde voc\u00ea pode verificar a autenticidade. Atrav\u00e9s desse mecanismo, \u00e9 poss\u00edvel trazer um aspecto de singularidade e exclusividade a absolutamente qualquer coisa que a imagina\u00e7\u00e3o humana puder alcan\u00e7ar.\u00a0<\/span><\/p>\n

Da\u00ed vem os NFTs. Esses peda\u00e7os de dados digitais (<\/span>Tokens N\u00e3o Fung\u00edveis<\/span><\/i>) t\u00eam sido frequentemente usados em cole\u00e7\u00f5es e \u00e1reas para se conseguir uma propriedade digital certificada. E essa criptografia pode ser encontrada em obras de arte, cole\u00e7\u00f5es digitais e itens digitais para jogos online. Mas podem ser aplicadas nos mais variados objetos de desejo humano, e isso inclui desde memes de gatinho, um cart\u00e3o de basquete com uma enterrada do Lebron James a <\/span>alian\u00e7as de casamento<\/span><\/a>.<\/span><\/p>\n

Como disseram Gabriel Menotti & Fernando Vel\u00e1zquez na Zum<\/a>:<\/span><\/p>\n

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“O que o colecionador obt\u00e9m na compra de um NFT \u00e9 apenas o certificado de autenticidade e n\u00e3o a obra em si. Ao contr\u00e1rio do que possa parecer, a obra n\u00e3o est\u00e1 gravada na blockchain. O NFT n\u00e3o \u00e9 um arquivo de m\u00eddia, mas um conjunto de metadados (uma etiqueta) que aponta para esse arquivo armazenado em algum canto da Internet. Por si s\u00f3, essa mudan\u00e7a n\u00e3o elimina intermedi\u00e1rios nem leva a um mercado de arte mais transparente ou confi\u00e1vel. Desprovida de componentes legais, a posse do NFT n\u00e3o garante direitos de reprodu\u00e7\u00e3o ou exibi\u00e7\u00e3o. Na verdade, n\u00e3o garante nem mesmo a pr\u00f3pria exclusividade, uma vez que o artista sempre pode criar outro NFT apontando para o mesmo arquivo ou para outra vers\u00e3o dele. Para complicar ainda mais, os termos de uso da maioria dos marketplaces os exime de qualquer responsabilidade pr\u00e9via sobre a integridade dos dados que armazenam, abrindo caminho para fraudes, roubos e trollagens. Eles n\u00e3o asseguram sequer o pleno funcionamento dos contratos inteligentes que deveriam automatizar o repasse de royalties de revenda para os autores\u201d.<\/p>\n<\/blockquote>\n

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“Everydays \u2013 The First 5000 Days\u201d, Beeple<\/p><\/div>\n

O assunto rendeu aten\u00e7\u00e3o principalmente depois que a obra “Everydays \u2013 The First 5000 Days\u201d, uma colagem digital do artista Mike Winkelmann, mais conhecido como Beeple, foi leiloada pela tradicional casa de leil\u00e3o brit\u00e2nica <\/span>Christies<\/span><\/a> e vendido por $69 milh\u00f5es; e \u00e9 o NFT mais caro j\u00e1 vendido at\u00e9 o momento. A venda coloca Beeple entre os tr\u00eas artistas vivos com obras mais caras, depois de Jeff Koons e David Hockney. MetaKovan, o pseud\u00f4nimo fundador da MetaPurse, \u00e9 o comprador por tr\u00e1s do lance vencedor de $69 milh\u00f5es. Mas n\u00e3o sabemos ao certo sua identidade, afinal o anonimato \u00e9 uma possibilidade e atributo de redes descentralizadas.<\/span><\/p>\n

A obra consiste de 5000 imagens feitas uma a cada dia ao longo de 13 anos\u00a0 – cada uma das imagens que comp\u00f5em a obra est\u00e1 licenciada em <\/span>Creative Commons<\/span><\/a>, ali\u00e1s. A popularidade on-line de Beeple e sua produ\u00e7\u00e3o livre e cont\u00ednua certamente contribu\u00edram para o pre\u00e7o alt\u00edssimo, mas um fator determinante foi a popularidade crescente em torno dos NFTs.<\/span><\/p>\n

Depois da venda da obra de Beeple, todo um ecossistema emergiu em torno dos NFT\u00b4s de arte, com guias de \u201ccomo entrar na onda e ganhar seu primeiro milh\u00e3o<\/a>\u201d a uma explos\u00e3o de diversos marketplaces para negocia\u00e7\u00e3o. Essa explos\u00e3o tamb\u00e9m foi impulsionada pelo forte incentivo a cria\u00e7\u00e3o de modelos de neg\u00f3cios baseados em Ethereum, os Dapps<\/a>, que s\u00e3o ferramentas e servi\u00e7os movidos atrav\u00e9s dessa rede.\u00a0<\/span><\/p>\n

Direito de Sequ\u00eancia<\/b><\/p>\n

Uma vantagem aos criadores que utilizam NFT\u00b4s \u00e9 que a interface padr\u00e3o dos tokens permite aos criadores de arte receber uma taxa n\u00e3o apenas quando suas obras s\u00e3o vendidas pela primeira vez, mas tamb\u00e9m quando s\u00e3o revendidas. Na pr\u00e1tica, \u00e9 ver o renegado direito de sequ\u00eancia se materializar, que embora com previs\u00e3o legal em diversas legisla\u00e7\u00f5es de direitos autorais, \u00e9 pe\u00e7a rara de existir no mundo f\u00edsico. O direito de sequ\u00eancia \u00e9, no Direito, o que garante ao autor, e seus herdeiros, o direito de receber uma participa\u00e7\u00e3o sobre a revenda de uma obra de arte original – no Brasil, este percentual \u00e9 de 5% sobre o lucro verific\u00e1vel da obra.<\/span><\/p>\n

Quest\u00f5es ambientais e \u00e9ticas<\/b><\/p>\n

Os NFT\u00b4s vem colecionando um emaranhado de cr\u00edticas \u00e0 sua utiliza\u00e7\u00e3o, em raz\u00e3o do exorbitante consumo energ\u00e9tico e emiss\u00f5es de carbono nada sustent\u00e1veis. O site <\/span>http:\/\/cryptoart.wtf<\/span><\/a> estima as emiss\u00f5es de carbono analisando o resultado de transa\u00e7\u00f5es baseadas em blockchain (especificamente Proof-of-Work, Ethereum) relacionadas aos NFT’S de arte. Um site que leva 10 segundos para emitir um NFT pode gastar cerca de 8,7 megawatts de energia, o que equivale ao gasto m\u00e9dio de uma fam\u00edlia durante um ano inteiro.\u00a0<\/span><\/p>\n

As cr\u00edticas se estendem tamb\u00e9m aos artistas que fazem a escolha de lan\u00e7ar suas cria\u00e7\u00f5es com NFT, como Gorillaz e a cantora Grimes<\/a> – esta, depois de muitas cr\u00edticas, destinou parte do dinheiro a uma ONG focada em reduzir as emiss\u00f5es de CO2.\u00a0<\/span><\/p>\n

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\u201cGods in Hi-Res\u201d, arte digital em NFT criada por Grimes.<\/p><\/div>\n

Falsa escassez e propriedade de ativos digitais<\/b><\/p>\n

O que conduz o valor de um ativo em NFT \u00e9 o argumento da exclusividade e sua import\u00e2ncia na determina\u00e7\u00e3o do valor de um ativo. Mas os NFT\u00b4s se sustentam atrav\u00e9s da l\u00f3gica de uma falsa escassez. Afinal, o fato de eu possuir um arquivo digital n\u00e3o quer dizer que voc\u00ea n\u00e3o possa possuir tamb\u00e9m. O c\u00f3digo criptografado traz a fic\u00e7\u00e3o de uma exclusividade numa tentativa de se colocar uma aura (olha\u00ed o prof\u00e9tico Benjamin) artificial no arquivo digital.<\/span><\/p>\n

Com NFT\u00b4s n\u00e3o \u00e9 apenas o artista ou vendedor original que pode ter uma c\u00f3pia do ativo digital: qualquer pessoa poder fazer uma captura de tela ou mesmo uma c\u00f3pia (como \u00e9 o caso da que fizemos acima de \u201cEverydays\u201d). A maioria dos NFTs \u00e9 exibida ao p\u00fablico nas plataformas de vendas, como as j\u00e1 citadas acima. O que garante a propriedade e a exclusividade \u00e9 somente uma codifica\u00e7\u00e3o.\u00a0<\/span><\/p>\n

Sabemos que os seres humanos t\u00eam uma s\u00e9rie de motiva\u00e7\u00f5es intr\u00ednsecas para valorizar e colecionar uma ampla gama de artefatos f\u00edsicos, que v\u00e3o desde cartinhas de Pok\u00e9mon \u00e0 obras de arte cl\u00e1ssicas. O chamado \u201cmundo da arte”, onde obras renascentistas e bananas com silvertape s\u00e3o vendidas a pre\u00e7os semelhantes, \u00e9 o lugar onde a natureza subjetiva do valor \u00e9 constru\u00edda sob evidentes fatores abstratos. Por\u00e9m, nada chega perto da abstra\u00e7\u00e3o dos NFT\u00b4s: memes do come\u00e7o do s\u00e9culo, tweets de famosos e arte pixelada de est\u00e9tica duvidosa alcan\u00e7am cifras inimagin\u00e1veis.\u00a0<\/span><\/p>\n

Inimagin\u00e1veis e tamb\u00e9m distante dos conceitos de Benjamin do mesmo artigo, \u201cvalor de culto\u201d e \u201cvalor de exposi\u00e7\u00e3o\u201d, que est\u00e3o presentes em uma obra de arte tradicional. Normalmente, adquirimos uma obra de arte por motiva\u00e7\u00f5es ritual\u00edsticas ou porque simplesmente desejamos pendur\u00e1-la em uma parede para nos exibirmos aos nossos amigos – o que n\u00e3o d\u00e1 pra fazer com uma arte em NFT. Mas e o que mesmo podemos fazer com uma arte em NFT? Colocar como plano de fundo do celular?\u00a0\u00a0<\/span><\/p>\n

O \u201cvalor de exposi\u00e7\u00e3o\u201d para NFT’s n\u00e3o \u00e9 t\u00e3o simples assim.\u00a0<\/span><\/p>\n

Especula\u00e7\u00e3o e lavagem de dinheiro<\/b><\/p>\n

As criptomoedas<\/a> nascem de um ideal de descentraliza\u00e7\u00e3o e autonomia, com a total aus\u00eancia de controle de bancos ou estados. Por\u00e9m, o que aparentemente parece ser uma vantagem, tem acabado por repetir a l\u00f3gica de controle e domina\u00e7\u00e3o como em qualquer outra moeda de mercado. Assim, seguem sendo suscet\u00edveis a vari\u00e1veis de poder bem mais improv\u00e1veis, como um tweet do Elon Musk, que faz despencar ou disparar a sua cota\u00e7\u00e3o.<\/span><\/p>\n

Importante destacar as bases que sustentam essas negocia\u00e7\u00f5es para entender sua l\u00f3gica.<\/span><\/p>\n

A l\u00f3gica dos NFTs come\u00e7a da seguinte maneira: colecionadores come\u00e7am a acumular esses bens digitais a pre\u00e7os relativamente baixos. Grupos de colecionadores ent\u00e3o formam outros grupos sociais diversos que, ent\u00e3o, negociam e trocam ativos dessas cole\u00e7\u00f5es com base no apelo est\u00e9tico ou qualquer outro fen\u00f4meno social, com a finalidade, muitas vezes, de aumentar seu valor artificialmente atrav\u00e9s de transa\u00e7\u00f5es fict\u00edcias. A dimens\u00e3o especulativa s\u00f3 aparece quando essas cole\u00e7\u00f5es pr\u00e9-existentes est\u00e3o sujeitas a novas ondas de capital que formam mudan\u00e7as significativas na valoriza\u00e7\u00e3o dos pre\u00e7os. Como o que ocorreu com a venda da obra do Beeple, onde vimos disparar o mercado de NFT\u00b4s de arte.<\/span><\/p>\n

O imagin\u00e1rio especulativo financeiro est\u00e1 sendo atra\u00eddo por uma corrida para adquirir NFTs, cujo conceito de valor e presun\u00e7\u00e3o de valor s\u00e3o absolutamente abstratos. A tecnologia aqui utilizada projeta um futuro nada diferente das condi\u00e7\u00f5es econ\u00f4micas e culturais do presente ou do passado, onde os deuses do mercado \u2013 e aqui no caso se incluem artistas e criativos – comandam seu poder de especula\u00e7\u00e3o sobre as massas.<\/span><\/p>\n

O frenesi em torno dos NFTs e a corrida maluca para criar e possuir ativos \u00fanicos que acumular\u00e3o um capital futuro \u00e9 a receita exata para uma continuidade de desigualdades com a falsa promessa de democracia e reconhecimento.\u00a0<\/span><\/p>\n

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Benjamin falava que uma nova forma de m\u00eddia tem o potencial para transformar as rela\u00e7\u00f5es sociais. Termina sua an\u00e1lise com um progn\u00f3stico, a conclus\u00e3o de que a reprodu\u00e7\u00e3o t\u00e9cnica seria \u201cmais uma aplica\u00e7\u00e3o reacion\u00e1ria\u201d. O que se poderia esperar da expans\u00e3o das tecnologias de reprodu\u00e7\u00e3o t\u00e9cnica, na \u00e9poca, seria ent\u00e3o n\u00e3o somente uma explora\u00e7\u00e3o crescente do proletariado, mas tamb\u00e9m, em \u00faltima an\u00e1lise, a cria\u00e7\u00e3o de condi\u00e7\u00f5es para a sua pr\u00f3pria supress\u00e3o. \u00c9 cedo ainda para dizer, mas, ao que tudo indica, as NFTs da arte v\u00e3o nessa mesma linha: acabam por reproduzir e potencializar as mesmas velhas hierarquias baseadas em modelos anteriores de desigualdade e domina\u00e7\u00e3o.<\/span><\/p>\n

A combina\u00e7\u00e3o dos NFT\u00b4s com a especula\u00e7\u00e3o de valor e o culto a artistas, celebridades e bilion\u00e1rios nerds n\u00e3o s\u00e3o um bom cen\u00e1rio de uma promessa democr\u00e1tica e p\u00f3s-capitalista do blockchain, algo que teria a possibilidade e infraestrutura para um mundo sustent\u00e1vel, como alguns j\u00e1 apontaram.<\/span><\/p>\n

Mas o que h\u00e1 de errado em ganhar dinheiro e hypar artistas e colecionadores a um patamar muito acima da m\u00e9dia da popula\u00e7\u00e3o? Um meio econ\u00f4mico program\u00e1vel e descentralizado\u00a0 poderia, em princ\u00edpio, pelo menos ter a capacidade de democratizar receitas e criar um modelo econ\u00f4mico horizontal de uma possibilidade de extens\u00e3o nunca antes vista.\u00a0<\/span><\/p>\n

Aprendemos, com a <\/span>ressaca da internet<\/span><\/a>, que hoje esse desenho (especula\u00e7\u00e3o + desregula\u00e7\u00e3o + performance) tem se encaixado mais em uma tradi\u00e7\u00e3o antidemocr\u00e1tica que amea\u00e7a obscurecer valores compartilhados de humanidade, que aqui acabam ofuscados pelo ideal de uma performance est\u00e9tica e cria\u00e7\u00e3o irreal de valor. Os NFTs, podemos dizer, n\u00e3o s\u00e3o ruptura, mas manuten\u00e7\u00e3o; seguimos iludidos pelo espet\u00e1culo e n\u00e3o se importando em\u00a0 questionar as bases em que essa tecnologia se desenvolve.<\/span><\/p>\n

[Nanashara Piazentin \u00e9 advogada, mestranda em Propriedade Intelectual, coordenadora de cultura livre do Creative Commons Brasil.<\/em>]<\/span><\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

  \u201cEm sua ess\u00eancia, a obra de arte sempre foi reprodut\u00edvel. O que os homens faziam sempre podia ser imitado por outros homens. Essa imita\u00e7\u00e3o era praticada por disc\u00edpulos, em seus exerc\u00edcios, pelos mestres, para a difus\u00e3o das obras, e finalmente por terceiros, meramente interessados no lucro\u201d. A obra de arte na era de sua […]<\/p>\n","protected":false},"author":2,"featured_media":13623,"comment_status":"open","ping_status":"closed","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":[],"categories":[122],"tags":[1528,552,2134,289,2135,2136,197,1990,274],"post_folder":[],"jetpack_featured_media_url":"","_links":{"self":[{"href":"https:\/\/baixacultura.org\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/13622"}],"collection":[{"href":"https:\/\/baixacultura.org\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"https:\/\/baixacultura.org\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/baixacultura.org\/wp-json\/wp\/v2\/users\/2"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/baixacultura.org\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=13622"}],"version-history":[{"count":0,"href":"https:\/\/baixacultura.org\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/13622\/revisions"}],"wp:featuredmedia":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/baixacultura.org\/wp-json\/"}],"wp:attachment":[{"href":"https:\/\/baixacultura.org\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=13622"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"https:\/\/baixacultura.org\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=13622"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"https:\/\/baixacultura.org\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=13622"},{"taxonomy":"post_folder","embeddable":true,"href":"https:\/\/baixacultura.org\/wp-json\/wp\/v2\/post_folder?post=13622"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}