{"id":13606,"date":"2021-04-14T20:02:49","date_gmt":"2021-04-14T20:02:49","guid":{"rendered":"https:\/\/baixacultura.org\/?p=13606"},"modified":"2021-04-14T20:02:49","modified_gmt":"2021-04-14T20:02:49","slug":"como-funciona-e-lucra-o-capitalismo-de-vacinacao-na-pandemia","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/baixacultura.org\/2021\/04\/14\/como-funciona-e-lucra-o-capitalismo-de-vacinacao-na-pandemia\/","title":{"rendered":"Como funciona (e lucra) o capitalismo de vacina\u00e7\u00e3o na pandemia"},"content":{"rendered":"

\"\"<\/p>\n

As empresas farmac\u00eauticas, seus chefes e acionistas j\u00e1 est\u00e3o ganhando bilh\u00f5es com as vacinas contra COVID, em um dos exemplos mais nefastos de como lucrar a partir de uma doen\u00e7a. Isso se deve em grande parte a um sistema, perverso em sua origem, que concentra a capacidade de produ\u00e7\u00e3o na m\u00e3o de poucos – sejam empresas ou Estados – o que intensifica e produz novas desigualdades na distribui\u00e7\u00e3o e consumo desses produtos. Nesse sistema, a ind\u00fastria farmac\u00eautica age em parceria com os Estados: primeiro, recebe subs\u00eddios governamentais para desenvolver medicamentos; em seguida, na combina\u00e7\u00e3o de pre\u00e7os geralmente muito acima dos custos, o que gera lucros exorbitantes para al\u00e9m dos que s\u00e3o considerados \u201cnecess\u00e1rios\u201d, dentro desse sistema, para investimentos de risco como vacinas. Enquanto isso, os pa\u00edses mais pobres s\u00e3o deixados para tr\u00e1s novamente: <\/span>90% da produ\u00e7\u00e3o das vacinas est\u00e1 sendo distribu\u00edda em pa\u00edses considerados desenvolvidos<\/span><\/a>, enquanto que o restante pode demorar anos para ter vacinas suficientes para dar conta de suas popula\u00e7\u00f5es. Pior: com a defesa ferrenha, por parte dos governos destes pa\u00edses, dos direitos de propriedade intelectual das empresas, evita-se (ou dificulta) que os pa\u00edses mais pobres possam produzir vacinas de modo mais r\u00e1pido e barato.\u00a0<\/span><\/p>\n

Traduzimos (melhor dizendo: adaptamos) dois textos do site brit\u00e2nico Corporate Watch [<\/span>este<\/span><\/a> e <\/span>este<\/span><\/a>], que desde 1996 cobre e pesquisa corpora\u00e7\u00f5es, para dar mais detalhes dos abusivos lucros que a ind\u00fastria farmac\u00eautica obt\u00e9m a partir da explora\u00e7\u00e3o das patentes de medicamentos produzidos, em sua maior parte, a partir de dinheiro p\u00fablico. A tradu\u00e7\u00e3o \u00e9 de Victor Wolffenb\u00fcttel<\/strong> e a adapta\u00e7\u00e3o de Leonardo Foletto <\/strong>(colaboraram Tatiana Dias e Alexandre Abdo).\u00a0<\/span><\/p>\n

\"\"

Fonte: M\u00e9dicos Sem Fronteiras<\/p><\/div>\n

Cinco maneiras pelas quais as grandes empresas farmac\u00eauticas ganham tanto dinheiro*<\/b><\/p>\n

A ind\u00fastria farmac\u00eautica \u00e9 lucrativa: as gigantes da \u00e1rea t\u00eam taxas de lucro de at\u00e9 20% – mais do que o dobro de outros setores. Mas como elas ganham tanto dinheiro?\u00a0<\/span><\/p>\n

1) Persiga o lucro, e n\u00e3o as demandas\u00a0<\/b><\/p>\n

Um dos maiores problemas com um sistema que direciona a pesquisa m\u00e9dica mais para obten\u00e7\u00e3o de lucros em vez das necessidades de sa\u00fade da popula\u00e7\u00e3o \u00e9 que o investimento em P&D (Pesquisa e Desenvolvimento) \u00e9 canalizado para os produtos que podem gerar mais dinheiro para as empresas farmac\u00eauticas. Os melhores neg\u00f3cios s\u00e3o os medicamentos para pacientes que precisam de\u00a0 medica\u00e7\u00f5es caras (como c\u00e2ncer) e os que v\u00e3o ser usados por muito tempo. Os melhores pacientes s\u00e3o os dos EUA, onde os pre\u00e7os dos rem\u00e9dios s\u00e3o mais altos e certas condi\u00e7\u00f5es cr\u00f4nicas do sistema de sa\u00fade local exigem prescri\u00e7\u00f5es repetidas. Ou onde as drogas s\u00e3o altamente viciantes, como no caso de opi\u00f3ides como o <\/span>Oxycontin<\/span><\/a>, indicado para o tratamento de dores moderadas a severas por per\u00edodo de tempo prolongado.<\/span><\/p>\n

Por outro lado, as vacinas de dose \u00fanica contra epidemias que afetam principalmente os pa\u00edses mais pobres s\u00e3o o exemplo cl\u00e1ssico de um mau neg\u00f3cio. Assim, <\/span>a pesquisa sobre vacinas foi relativamente negligenciada at\u00e9 o ano passado<\/span><\/a> – quando a COVID-19 se tornou um problema global e o financiamento do Estado entrou em a\u00e7\u00e3o.\u00a0<\/span><\/p>\n

2) Patentear tudo\u00a0<\/b><\/p>\n

As empresas farmac\u00eauticas det\u00eam patentes – licen\u00e7as que garantem seus direitos de \u201cpropriedade intelectual\u201d – de novos medicamentos. Isso significa que ningu\u00e9m mais pode produzir o mesmo medicamento sem sua permiss\u00e3o durante a vig\u00eancia da patente, que \u00e9 de 20 anos na maioria dos pa\u00edses.\u00a0<\/span><\/p>\n

A ideia do livre mercado \u00e9 que, se uma empresa obt\u00e9m altos lucros, novos participantes poder\u00e3o entrar fazendo a mesma coisa (produto, medicamento, etc), mas mais barato, puxando ent\u00e3o para baixo os pre\u00e7os e os lucros de todo esse mercado. As patentes significam que as empresas farmac\u00eauticas t\u00eam monop\u00f3lios legais sobre medicamentos espec\u00edficos: como nenhuma outra empresa pode baixar os pre\u00e7os, elas podem estabelec\u00ea-los e obter grandes lucros.\u00a0<\/span><\/p>\n

O sistema de propriedade intelectual \u00e9 imposto por governos em todo o mundo sob o acordo TRIPS, que \u00e9 um dos principais documentos da Organiza\u00e7\u00e3o Mundial do Com\u00e9rcio (OMC). Alguns estados s\u00e3o apoiadores mais fervorosos do que outros; os EUA s\u00e3o particularmente conhecidos como um forte defensor da propriedade intelectual das empresas; a UE n\u00e3o est\u00e1 muito atr\u00e1s (como mostra este <\/span>relat\u00f3rio recente do Corporate Europe Observatory<\/span><\/a>).\u00a0<\/span><\/p>\n

Governos como da \u00cdndia e \u00c1frica do Sul, juntamente com ONGs como a M\u00e9dicos Sem Fronteiras, pediram que as patentes de vacinas fossem canceladas durante a pandemia da COVID-19. Isso poderia permitir que os pa\u00edses mais pobres comecem a fabricar suas pr\u00f3prias vacinas a pre\u00e7o de custo – em vez de esperar at\u00e9 2023 para que as empresas farmac\u00eauticas atendam aos seus pedidos. A ideia sofreu forte oposi\u00e7\u00e3o dos EUA, UE, Reino Unido e outros pa\u00edses ricos, <\/span>como contamos aqui no BaixaCultura em janeiro<\/span><\/a>.\u00a0<\/span><\/p>\n

3) Pre\u00e7os muito, muito mais altos do que os custos\u00a0<\/b><\/p>\n

Como os apoiadores da ind\u00fastria farmac\u00eautica justificam um sistema que nega medicamentos a pre\u00e7os acess\u00edveis para bilh\u00f5es de pessoas? O argumento \u00e9 que essa \u00e9 a \u00fanica maneira de cobrir os custos de pesquisa e desenvolvimento (P&D) de novos medicamentos. O principal grupo de lobby da ind\u00fastria dos EUA, a <\/span>Pharmaceutical Research and Manufacturers of America (PHRMA), afirma<\/span><\/a>: \u201cEm m\u00e9dia, leva de 10 a 15 anos e custa US $ 2,6 bilh\u00f5es para desenvolver um novo medicamento, incluindo o custo de muitas falhas\u201d. Sem patentes, dizem, os \u201crivais\u201d (aten\u00e7\u00e3o ao vocabul\u00e1rio) poderiam simplesmente copiar suas receitas e ningu\u00e9m se daria ao trabalho de desenvolver novos medicamentos.\u00a0<\/span><\/p>\n

As empresas farmac\u00eauticas gastam, em m\u00e9dia, cerca de 20% de toda a receita de vendas em P&D. Isso \u00e9 realmente alto em compara\u00e7\u00e3o com outras ind\u00fastrias: <\/span>apenas a avia\u00e7\u00e3o e a ind\u00fastria espacial t\u00eam percentual maior em P&D<\/span><\/a>. Mesmo assim, as vendas cobrem os custos muitas vezes. Uma vez que os medicamentos est\u00e3o na linha de produ\u00e7\u00e3o, os custos reais de fabrica\u00e7\u00e3o s\u00e3o min\u00fasculos em compara\u00e7\u00e3o com os pre\u00e7os frequentemente altos (ao contr\u00e1rio das naves espaciais e de avi\u00f5es, que s\u00e3o muito caros de produzir por unidade). Essa diferen\u00e7a \u00e9 o que explica aquela j\u00e1 citada margem de lucro de 20% que a ind\u00fastria farmac\u00eautica obt\u00e9m com seus produtos.<\/span><\/p>\n

A insulina custa em m\u00e9dia menos de 6 d\u00f3lares por frasco para produzir, mas \u00e9 vendida por at\u00e9 275 d\u00f3lares nos Estados Unidos – <\/span>um exemplo dado pelo grupo da campanha Pacientes por Drogas Acess\u00edveis<\/span><\/a> (Patients for Affordable Drugs). Na Europa, a gigante farmac\u00eautica Gilead cobrou uma m\u00e9dia de <\/span>55.000 euros por um tratamento de 12 semanas<\/span><\/a> contra a hepatite C – quando os rem\u00e9dios custam menos de 1 euro por comprimido para fabricar [<\/span>fonte<\/span><\/a>]. Esses exemplos extremos ilustram um padr\u00e3o; <\/span>um estudo acad\u00eamico da Universidade do Sul da Calif\u00f3rnia descobriu<\/span><\/a> que as empresas farmac\u00eauticas dos EUA t\u00eam uma margem m\u00e9dia de lucro bruto de 71% nas vendas de medicamentos – ou seja, o dinheiro que ganham com um medicamento ap\u00f3s descontado o custo de produ\u00e7\u00e3o, mas antes das despesas de toda a empresa, como marketing, impostos ou b\u00f4nus executivos.\u00a0<\/span><\/p>\n

4) Minimize o risco\u00a0<\/b><\/p>\n

As empresas farmac\u00eauticas argumentam que t\u00eam de assumir o risco de desenvolver medicamentos experimentais que nunca chegam ao mercado. Por exemplo, o custo m\u00e9dio de um novo medicamento contra o c\u00e2ncer foi <\/span>estimado em 648 bilh\u00f5es de d\u00f3lares<\/span><\/a>. A cifra de 2,6 bilh\u00f5es de d\u00f3lares citada no PHRMA acima \u00e9, na verdade, uma estimativa de \u201crisco ponderado\u201d que \u201cinclui o custo de muitas falhas\u201d. Se uma empresa farmac\u00eautica inventar 10 medicamentos que custam 260 milh\u00f5es de d\u00f3lares cada, mas apenas um for aprovado, ent\u00e3o a empresa teve o custo de 2,6 bilh\u00f5es de d\u00f3lares no total para produzir um rem\u00e9dio que possa ser vendido.\u00a0<\/span><\/p>\n

S\u00f3 que, na realidade, as grandes empresas farmac\u00eauticas \u201cinventam\u201d apenas alguns dos medicamentos que patenteiam e vendem.<\/span>Uma an\u00e1lise de dois gigantes da \u201cBig Pharma\u201d<\/span><\/a> mostra que a Pfizer desenvolveu apenas 10 dos 44 medicamentos mais vendidos \u201cda casa\u201d (23%) – e a Johnson & Johnson desenvolveu apenas 2 de 18 (11%). A \u201cinova\u00e7\u00e3o\u201d ocorre em grande parte em laborat\u00f3rios universit\u00e1rios e governamentais, ou em empresas de pesquisa menores.\u00a0<\/span><\/p>\n

E muito disso \u00e9 financiado pelo estado. Os Institutos Nacionais de Sa\u00fade dos Estados Unidos, o principal (mas n\u00e3o o \u00fanico) \u00f3rg\u00e3o governamental de pesquisa m\u00e9dica do pa\u00eds, <\/span>doam 39,2 bilh\u00f5es de d\u00f3lares<\/span><\/a> por ano para universidades, escolas m\u00e9dicas e outras organiza\u00e7\u00f5es de pesquisa.\u00a0<\/span><\/p>\n

Uma vez que os medicamentos foram descobertos, os gigantes farmac\u00eauticos interv\u00eam – para comprar uma licen\u00e7a, ou uma empresa inteira – uma vez que o medicamento j\u00e1 se provou por meio de testes iniciais. (<\/span>Veja um relat\u00f3rio recente dos EUA sobre esse tema<\/span><\/a>.) As vacinas contra COVID-19 s\u00e3o exemplos cl\u00e1ssicos.\u00a0<\/span><\/p>\n

5) Lobby, lobby, lobby<\/b><\/p>\n

A ind\u00fastria farmac\u00eautica \u00e9 poderosa, com muitos amigos influentes. Nos Estados Unidos, o pa\u00eds com os pre\u00e7os de medicamentos mais altos do mundo, o setor farmac\u00eautico gasta mais do que qualquer outro setor em lobby. Ao longo de 22 anos, as empresas farmac\u00eauticas e grupos da ind\u00fastria <\/span>gastaram 4,45 bilh\u00f5es de d\u00f3lares em lobby com pol\u00edticos dos EUA<\/span><\/a> – quase o dobro do valor do segundo mais gastador, o mercado de seguros. De acordo com a <\/span>OpenSecrets<\/span><\/a>, a ind\u00fastria tem mais de 1.450 lobistas trabalhando para ela, dentre os quais 66% s\u00e3o ex-funcion\u00e1rios do governo. E esta \u00e9 apenas a face mais publicamente conhecida, oficialmente declarada, da influ\u00eancia pol\u00edtica da ind\u00fastria farmac\u00eautica – ela apenas arranha a superf\u00edcie de um mundo de doa\u00e7\u00f5es pol\u00edticas, cargos de diretoria, “portas girat\u00f3rias” e muito mais.\u00a0<\/span><\/p>\n

Um relat\u00f3rio do <\/span>Corporate Europe Observatory<\/span><\/a> detalha como a Uni\u00e3o Europeia se tornou um instrumento c\u00famplice<\/span> na defesa dos direitos de propriedade farmac\u00eautica. As dez maiores empresas farmac\u00eauticas gastaram at\u00e9 16 milh\u00f5es de euros em lobby l\u00e1 em 2019. No Reino Unido, surgiram hist\u00f3rias sobre <\/span>como a ind\u00fastria financia grupos de pacientes<\/span><\/a> para que eles ajudem a fazer lobby por novos tratamentos medicamentosos;<\/span> ou sobre como o <\/span>sistema p\u00fablico de sa\u00fade encomenda pesquisas<\/span><\/a> como estrat\u00e9gia de compra de um grupo de lobby financiado pela ind\u00fastria.\u00a0<\/span><\/p>\n

Vale salientar que governos, como o ingl\u00eas, o dos pa\u00edses da Uni\u00e3o Europeia e os Estados Unidos, tamb\u00e9m s\u00e3o grandes (os maiores) clientes farmac\u00eauticos, que pegam bilh\u00f5es de seus contribuintes para comprar os medicamentos das empresas.\u00a0<\/span><\/p>\n

\"\"

Fonte: Corporate Watch<\/p><\/div>\n

Vacinas contra a covid-19: quanto estas empresas ir\u00e3o lucrar este ano?\u00a0<\/b><\/p>\n

O Corporate Watch examinou tr\u00eas das quatro principais vacinas que t\u00eam circulado no mundo: BioNTech e Pfizer, Astra Zeneca e Oxford University, e Moderna. Quanto dinheiro as empresas por tr\u00e1s delas v\u00e3o ganhar? Como eles t\u00eam sido apoiados pelo setor p\u00fablico? E onde o dinheiro vai parar?\u00a0<\/span><\/p>\n

BioNTech \/ Pfizer<\/b>: lucro estimado de 4 bilh\u00f5es de d\u00f3lares, ap\u00f3s vendas de 15 bilh\u00f5es. <\/span>A Pfizer diz que j\u00e1 tem pedidos acumulados de 15 bilh\u00f5es de d\u00f3lares<\/span><\/a> em vacinas, onde cada dose est\u00e1 precificada em 19 d\u00f3lares. Segundo o Financial Times, <\/span>a margem de lucro pode ficar perto de 30% neste ano<\/span><\/a>. Trabalhando sem nenhum melindre para maximizar o lucro, a empresa est\u00e1 sendo uma negociante dura com pa\u00edses mais ricos e tamb\u00e9m com os mais pobres.\u00a0<\/span><\/p>\n

Moderna<\/b>: lucro estimado de US $ 8 bilh\u00f5es de d\u00f3lares, ap\u00f3s vendas de 18,4 bilh\u00f5es. <\/span>A Moderna diz que est\u00e1 a caminho de produzir pelo menos 700 milh\u00f5es de vacinas pr\u00e9-encomendadas em 2021<\/span><\/a>. As inje\u00e7\u00f5es da Moderna s\u00e3o as mais caras, entre 25 e 37 d\u00f3lares a dose, e a empresa diz que o custo de produ\u00e7\u00e3o de suas vacinas ser\u00e1 de apenas 20% do pre\u00e7o de venda.\u00a0<\/span><\/p>\n

Oxford \/ AstraZeneca<\/b>: lucro desconhecido, ap\u00f3s<\/span> vendas previstas de 6,4 bilh\u00f5es de d\u00f3lares<\/span><\/a> em 2021. Est\u00e1 vendendo pelo pre\u00e7o mais barato (por enquanto) e prometeram produzir a pre\u00e7o de custo sem obter lucro durante a pandemia. Mas o que isso realmente significa? <\/span>Um contrato visto pelo Financial Times<\/span><\/a> sugere que eles poderiam declarar o fim da pandemia e aumentar os pre\u00e7os a qualquer momento a partir de julho de 2021. E o contrato da AstraZeneca com a Universidade de Oxford permite que a empresa ganhe at\u00e9 20% al\u00e9m do custo de fabrica\u00e7\u00e3o das inje\u00e7\u00f5es. Em outro ind\u00edcio dos limites da promessa de vender \u201ca pre\u00e7o de custo\u201d, alguns pa\u00edses mais pobres, incluindo Bangladesh, \u00c1frica do Sul e Uganda, podem ter <\/span>que pagar mais pela vacina<\/span><\/a> do que a Uni\u00e3o Europeia porque t\u00eam menos poder de barganha do que os grandes, que est\u00e3o pegando a primeiro parte da produ\u00e7\u00e3o das vacinas.<\/span><\/p>\n

Vale destacar que as vacinas est\u00e3o sendo compradas por governos em todo o mundo em encomendas antecipadas por atacado. Esses n\u00fameros de lucro, portanto, v\u00eam predominantemente das vendas a autoridades p\u00fablicas. Como vemos abaixo, os governos tamb\u00e9m subsidiaram maci\u00e7amente o desenvolvimento das vacinas. Portanto, o setor p\u00fablico est\u00e1 pagando duas vezes: primeiro financiando a pesquisa e depois comprando os resultados a pre\u00e7os inflacionados.\u00a0<\/span><\/p>\n

E nos pr\u00f3ximos anos?\u00a0<\/b><\/p>\n

Isso \u00e9 uma inc\u00f3gnita. Dada a quantidade de vacinas em desenvolvimento, a competi\u00e7\u00e3o pode manter os custos baixos. Mas se algumas se mostrarem mais eficazes do que outras, e a vacina\u00e7\u00e3o contra covid-19 se tornar um evento anual como as vacinas contra gripe, os lucros podem continuar acumulando nos pr\u00f3ximos anos. E uma vez que a intensidade da pandemia diminua, todas as empresas podem se sentir livres para aumentar ainda mais os pre\u00e7os.O diretor financeiro da Pfizer, por exemplo, <\/span>disse a analistas que o pre\u00e7o atual<\/span><\/a> “n\u00e3o \u00e9 um pre\u00e7o normal, que \u00e9 de 150, 175 d\u00f3lares por dose. Depois da pandemia, obviamente vamos conseguir vend\u00ea-las por um maior pre\u00e7o \u201d. As empresas\/cons\u00f3rcios respons\u00e1veis pelas tr\u00eas principais vacinas em planos declarados de aumentar os pre\u00e7os das vacinas contra o coronav\u00edrus em um futuro pr\u00f3ximo e <\/span>capitalizar a presen\u00e7a duradoura do v\u00edrus<\/span><\/a>.<\/span><\/p>\n

\"\"

Posi\u00e7\u00f5es dos pa\u00edses em rela\u00e7\u00e3o \u00e0s patentes das vacinas. Fonte: M\u00e9dicos Sem Fronteiras<\/p><\/div>\n

Quanto custou o desenvolvimento das vacinas?\u00a0<\/b><\/p>\n

Os n\u00fameros exatos s\u00e3o segredos corporativos, mas parece prov\u00e1vel que cada uma tenha custado cerca de 1 bilh\u00e3o de d\u00f3lares para serem desenvolvidas. A pesquisa inicial para uma <\/span>nova vacina epid\u00eamica pode custar em m\u00e9dia 68 milh\u00f5es de d\u00f3lares<\/span><\/a> – embora as inje\u00e7\u00f5es contra COVID-19 tenham sido desenvolvidas muito mais r\u00e1pido. Mas o principal custo \u00e9 a execu\u00e7\u00e3o de testes de \u201cFase 3\u201d em grande escala – para as vacinas contra a COVID-19, eles foram maiores do que o normal, com <\/span>dezenas de milhares de volunt\u00e1rios<\/span><\/a>.\u00a0<\/span><\/p>\n

De que outra forma as empresas ir\u00e3o se beneficiar?\u00a0<\/b><\/p>\n

As vacinas s\u00e3o um grande golpe de rela\u00e7\u00f5es p\u00fablicas. As empresas se tornaram nomes conhecidos, e no bom sentido. Isso \u00e9 uma reviravolta para uma ind\u00fastria que foi insultada como poucas outras ap\u00f3s d\u00e9cadas de especula\u00e7\u00e3o. S\u00f3 agora est\u00e1 come\u00e7ando a ser questionado no debate p\u00fablico se as vacinas poderiam ter sido produzidas de uma forma mais acess\u00edvel e justa – pelo menos no Reino Unido.\u00a0<\/span><\/p>\n

A ci\u00eancia que sustenta as vacinas contra covid-19 tamb\u00e9m pode ser usada pelas empresas para tratar – e lucrar com – outras doen\u00e7as. A Moderna espera que sua tecnologia de mRNA possa ser usada para tratar o c\u00e2ncer,<\/span> o “mercado” farmac\u00eautico mais lucrativo<\/span><\/a>. A Vaccitech, mencionada acima, est\u00e1 arrecadando grandes somas de investidores, na esperan\u00e7a de que sua tecnologia contra covid-19 possa ser usada para tratar hepatite e MERS (<\/span>S\u00edndrome Respirat\u00f3ria do Oriente M\u00e9dio<\/span><\/a>).O desenvolvimento da ci\u00eancia provavelmente foi ajudado por “testes de estrada” durante a prepara\u00e7\u00e3o da vacina.\u00a0<\/span><\/p>\n

Quem inventou as vacinas?\u00a0<\/b><\/p>\n

BionNTech \/ Pfizer<\/b>: A pesquisa foi realizada pela BioNTech, uma empresa alem\u00e3 de pesquisa farmac\u00eautica. A Pfizer\u00a0 entrou como parceira assim que a vacina estava pronta para os testes.\u00a0<\/span><\/p>\n

Moderna<\/b>: a vacina foi <\/span>co-desenvolvida<\/span><\/a> pela Moderna e cientistas do governo dos EUA que trabalham para o National Institute of Health (NIH) (Instituto Nacional de Sa\u00fade). H\u00e1 algum mist\u00e9rio sobre os pap\u00e9is exatos do NIH e da Moderna, <\/span>quem possui a propriedade intelectual<\/span><\/a> e por que o governo dos EUA, aparentemente, permitiu que a<\/span> Moderna ficasse com todos os lucros<\/span><\/a>.\u00a0<\/span><\/p>\n

Oxford \/ AstraZeneca<\/b>: Cientistas da Oxford University no seu <\/span>Instituto Jenner<\/span><\/a> e <\/span>Oxford Vaccines Group<\/span><\/a>, liderados pelos professores Sarah Gilbert e Adrian Hill.\u00a0<\/span><\/p>\n

As empresas apresentam as vacinas contra COVID-19 como um triunfo para a ci\u00eancia corporativa. Mas na verdade apenas uma das vacinas analisadas, a BionNTech\/Pfizer, foi desenvolvida pelo setor privado (ganhar dinheiro com as inven\u00e7\u00f5es dos outros \u00e9 uma jogada farmac\u00eautica cl\u00e1ssica – <\/span>leia nossa explica\u00e7\u00e3o aqui<\/span><\/a>). Al\u00e9m disso, todas as equipes se beneficiaram da <\/span>pesquisa inicial do <\/span>Shanghai Public Health Clinical Center<\/span><\/i><\/a> (Centro Cl\u00ednico de Sa\u00fade P\u00fablica de Xangai), que publicou o primeiro sequenciamento gen\u00f4mico do v\u00edrus da COVID-19 gratuitamente no site de c\u00f3digo aberto <\/span>virological.org<\/span><\/a>.\u00a0<\/span><\/p>\n

Havia algum plano para produzir vacinas sem as <\/b>Big Pharma<\/i><\/b> lucrarem?\u00a0<\/b><\/p>\n

Inicialmente, a Oxford considerou permitir que uma s\u00e9rie de fabricantes produzissem sua vacina sem vender direitos exclusivos a nenhuma corpora\u00e7\u00e3o. Mas, de acordo com o <\/span>Wall Street Journal<\/span><\/a>, executivos seniores da universidade, junto com seu principal financiador –\u00a0 a Funda\u00e7\u00e3o Bill e Melinda Gates – argumentaram que n\u00e3o poderiam administrar uma “implanta\u00e7\u00e3o global” sem a ajuda de uma grande ind\u00fastria farmac\u00eautica. A universidade inicialmente entrou em negocia\u00e7\u00f5es com a gigante farmac\u00eautica americana Merck, antes de finalmente assinar com a AstraZeneca em abril de 2020. O neg\u00f3cio firmado envolve uma licen\u00e7a completa para produzir e vender a vacina em troca de 90 milh\u00f5es de d\u00f3lares e 6% de participa\u00e7\u00e3o nos royalties futuros, que, segundo a universidade, ser\u00e3o reinvestidos em pesquisas m\u00e9dicas. A Vaccitech Ltd, uma empresa privada derivada cujos diretores incluem os professores Gilbert e Hill, receber\u00e1 24% da receita da universidade.\u00a0<\/span><\/p>\n

Quanto subs\u00eddio p\u00fablico eles receberam?<\/b><\/p>\n

BioNTech \/ Pfizer:<\/b> 465 milh\u00f5es de euros (cerca de 550 milh\u00f5es de d\u00f3lares). A pesquisa foi financiada de forma privada, mas receberam <\/span>um empr\u00e9stimo de desenvolvimento de 100 milh\u00f5es de euros do Banco Europeu de Investimento<\/span><\/a> e uma doa\u00e7\u00e3o de <\/span>365 milh\u00f5es de euros do governo alem\u00e3o<\/span><\/a> para ajudar na manufatura.\u00a0<\/span><\/p>\n

Oxford \/ AstraZeneca<\/b>: cerca de 1,3 bilh\u00f5es de d\u00f3lares. A vacina veio de uma pesquisa de longo prazo na Universidade de Oxford, financiada pelo governo do Reino Unido e diversas outras fontes. O governo contribuiu com mais de 87 milh\u00f5es de libras esterlinas para desenvolver a nova vacina no in\u00edcio de 2020. Os EUA adicionaram <\/span>1,2 bilh\u00f5es de d\u00f3lares<\/span><\/a> a mais como parte de sua \u201cOpera\u00e7\u00e3o Warp Speed\u201d.\u00a0<\/span><\/p>\n

Moderna<\/b>: mais de 955 milh\u00f5es de d\u00f3lares. O financiamento do governo dos EUA incluiu: uma <\/span>quantia n\u00e3o divulgada<\/span><\/a> para os testes da Fase 1 em mar\u00e7o de 2020; <\/span>483 milh\u00f5es de d\u00f3lares em abril<\/span><\/a> para Fase 2 e o in\u00edcio dos testes da Fase 3; e outros <\/span>472 milh\u00f5es de d\u00f3lares<\/span><\/a> para expandir os testes de fase 3 em julho. A <\/span>Moderna tamb\u00e9m recebeu uma doa\u00e7\u00e3o de 1 milh\u00e3o de d\u00f3lares<\/span><\/a> de Dolly Parton.\u00a0<\/span><\/p>\n

Al\u00e9m desses subs\u00eddios para pesquisa, as empresas receberam enormes encomendas de governos antes mesmo de suas vacinas serem aprovadas para uso. O governo dos Estados Unidos, por exemplo, <\/span>fez pr\u00e9-encomendas massivas<\/span><\/a>, de 1,95 e 1,53 bilh\u00f5es de d\u00f3lares das vacinas da BioNTech \/ Pfizer e Moderna por meio de sua chamada \u201cOpera\u00e7\u00e3o Warp Speed\u201d.\u00a0<\/span><\/p>\n

Quem receber\u00e1 o dinheiro?\u00a0<\/b><\/p>\n

Pfizer \/ BioNTech<\/b>: Os lucros s\u00e3o divididos igualmente entre as duas empresas. Os acionistas receber\u00e3o “dividendos” – dinheiro pago a partir dos lucros das empresas. Os principais acionistas da Pfizer s\u00e3o fundos de investimento globais: especialmente Vanguard Group (7,6%), State Street Global Advisors (5%) e BlackRock (4,9%). <\/span>Administrado por algumas das pessoas mais ricas e poderosas do mundo<\/span><\/a>, como o CEO da Blackrock, Larry Fink, estes tr\u00eas fundos controlam aproximadamente 20 trilh\u00f5es de d\u00f3lares dos ativos mundiais. Enquanto isso, o CEO da Pfizer, Albert Bourla, ganhou as manchetes vendendo 4,2 milh\u00f5es de libras esterlinas em a\u00e7\u00f5es da Pfizer no dia em que anunciou que sua vacina funcionava.\u00a0<\/span><\/p>\n

A BioNTech \u00e9 geralmente apresentada como uma hist\u00f3ria de sucesso da pobreza \u00e0 riqueza para dois m\u00e9dicos imigrantes, o casal U\u011fur \u015eahin e \u00d6zlem T\u00fcreci. A vacina os tornou bilion\u00e1rios. Mas os principais propriet\u00e1rios da empresa, que detinham cerca de 50% no ano passado, s\u00e3o os g\u00eameos investidores em biotecnologia Thomas e Andreas Struengmann. Eles ganharam seus primeiros bilh\u00f5es com a empresa de medicamentos gen\u00e9ricos Hexal, que fundaram na d\u00e9cada de 1980 e depois venderam para a Novartis em 2005.\u00a0<\/span><\/p>\n

Moderna<\/b>: Os acionistas incluem o presidente Noubar Afeyan (14% de participa\u00e7\u00e3o no in\u00edcio da pandemia), o CEO St\u00e9phane Bancel (9%) e os professores Timothy Springer (Harvard) e Robert Langer (MIT) – que, de repente, passaram de diretores de uma empresa deficit\u00e1ria a multimilion\u00e1rios. As a\u00e7\u00f5es da Moderna aumentaram enormemente de valor durante a pandemia e Bancel, em particular, <\/span>vendeu parte de suas participa\u00e7\u00f5es da empresa nos \u00faltimos meses<\/span><\/a>, arrecadando milh\u00f5es em dinheiro. A Moderna passou a ser listada na bolsa de valores em 2018; seu maior investidor institucional \u00e9 o fundo de investimento escoc\u00eas Baillie Gifford, que tem em torno de 11% das a\u00e7\u00f5es. As gigantes americanas Vanguard e BlackRock v\u00eam em seguida, com 5,7% e 4,1% cada. Um mist\u00e9rio ainda n\u00e3o claramente respondido sobre a vacina Moderna \u00e9 se algum dinheiro vai voltar para o governo dos EUA, que a \u201c<\/span>co-desenvolveu<\/span><\/a>\u201d e financiou.\u00a0<\/span><\/p>\n

Oxford \/ AstraZeneca<\/b>: AstraZeneca, com sede em Londres, \u00e9 uma megacorpora\u00e7\u00e3o global pertencente aos mesmos grandes fundos de investimento da Pfizer e outros. No final de 2020, seus tr\u00eas maiores propriet\u00e1rios eram BlackRock (7,5%), Wellington Management (5,2%) e Capital Group (4,3%). <\/span>De acordo com o Wall Street Journal<\/span><\/a>, a Universidade de Oxford receber\u00e1 6% dos pagamentos futuros de royalties. 24% deles ser\u00e3o repassados \u200b\u200bpara a Vaccitech Ltd, uma empresa privada derivada cujos diretores incluem os pesquisadores de vacinas, professores Gilbert e Hill. Cada um deles possui cerca de 5% das a\u00e7\u00f5es da Vaccitech. O principal acionista (46%) \u00e9 uma empresa de investimentos chamada Oxford Sciences Innovation (OSI), criada pela universidade para canalizar capital para seus neg\u00f3cios derivados. A OSI tem v\u00e1rios acionistas al\u00e9m da pr\u00f3pria universidade – incluindo Google Ventures, Huawei, a empresa farmac\u00eautica chinesa Fosum (que tamb\u00e9m possui a\u00e7\u00f5es da Moderna), o sultanato de Om\u00e3, bem como bancos e fundos de private equity.\u00a0<\/span><\/p>\n

Poderia ter sido diferente?\u00a0<\/b><\/p>\n

A pesquisa inicial que sequenciou o genoma COVID-19 e deu in\u00edcio \u00e0 corrida das vacinas foi publicada com c\u00f3digo aberto, de uso gratuito para todos. Imagine se a pesquisa de vacinas tamb\u00e9m fosse publicada abertamente e sem patentes, para que todos os fabricantes, inclusive no sul global, pudessem produzir o que necessitam a pre\u00e7o de custo? Haveria, claro, ainda outros problemas, como a escassez de material para a produ\u00e7\u00e3o dos imunizantes. Mas como afirmou Yuanqiong Hu, conselheiro na \u00e1rea legal e de pol\u00edticas da MSF, <\/span>n\u00e3o \u00e9 uma quest\u00e3o de \u201cou \/ ou\u201d, mas de \u201cE\/ E\u201d.<\/span><\/a> \u201cOs governos precisam de um pacote completo de kits de ferramentas, incluindo acordos de transfer\u00eancia de tecnologia e medidas legais, como a proibi\u00e7\u00e3o de patentes\u201d.\u00a0<\/span><\/p>\n

As tr\u00eas vacinas analisadas aqui poderiam tamb\u00e9m, ao menos, ter processos de produ\u00e7\u00e3o um pouco mais parecidos com os que os fabricantes chineses e russos fizeram com suas respectivas vacinas, a Sinovac e a Sputnik V, <\/span>que tiveram compartilhados seu licenciamento, \u201cknow-how\u201d e sua tecnologia com diferentes pa\u00edses<\/span><\/a>. \u00c9 o caso do Brasil (via Instituto Butantan), Turquia e Indon\u00e9sia, que est\u00e3o produzindo a Sinovac em processo de colabora\u00e7\u00e3o, assim como nos Emirados \u00c1rabes Unidos, onde a Sinopharm (produtora da vacina chinesa) montou uma grande unidade para atender n\u00e3o s\u00f3 o pa\u00eds \u00e1rabe mas diversos pa\u00edses aliados na regi\u00e3o. J\u00e1 a vacina russa tem acordos de produ\u00e7\u00e3o com pelo menos cinco empresas farmac\u00eauticas diferentes na \u00cdndia para fornecer algo como 500 milh\u00f5es de doses este ano, assim como acordos semelhantes com a Cor\u00e9ia do Sul e outros locais.\u00a0<\/span><\/p>\n

Vale ressaltar, entretanto, que estamos ainda falando de capitalismo; as empresas destes pa\u00edses adotam estrat\u00e9gias mais flex\u00edveis para a celebra\u00e7\u00e3o de acordos, mas ainda com cifras de milh\u00f5es e propriedades intelectuais. O governo do Estado de S\u00e3o Paulo, por exemplo, comprou <\/span>46 milh\u00f5es de doses da Sinovac por 90 milh\u00f5es de d\u00f3lares<\/span><\/a>, um valor que \u00e9 10 vezes menor do que os Estados Unidos est\u00e3o pagando para a Pfizer\/Biotech e Moderna.\u00a0<\/span><\/p>\n

Por fim, os governos poderiam usar de sua atribui\u00e7\u00e3o de representar o interesse p\u00fablico para organizar esfor\u00e7os de fato coletivos contra um inimigo comum que \u00e9 mundial. Trata-se de um jogo onde a vit\u00f3ria s\u00f3 \u00e9 completa quando todos ganham e onde o pre\u00e7o de perder \u00e9 a morte. Diante disso, o simples fato destes governos n\u00e3o estarem articulando uma vasta rede de coopera\u00e7\u00e3o internacional tamb\u00e9m pode ser considerado um crime. Especialmente aqueles em que, al\u00e9m de n\u00e3o fazer o que como representantes de interesse p\u00fablico se esperaria, ainda atrapalham; caso hoje do Brasil, p\u00e1ria mundial, incentivador de tratamento preventivo n\u00e3o comprovado e boicotador de a\u00e7\u00f5es que j\u00e1 demonstraram funcionar, como os Lockdows e o uso de m\u00e1scaras seguras.<\/span><\/p>\n

Algumas leituras adicionais:<\/b><\/p>\n

_ Bad Pharma – Ben Goldacre<\/a>. Um levantamento muito detalhado da m\u00e1 pr\u00e1tica da ind\u00fastria farmac\u00eautica, particularmente olhando para a quest\u00e3o de quem os resultados dos testes s\u00e3o sistematicamente manipulados.<\/p>\n

_ Pharma – Gerald Posner<\/a> (2020). Uma hist\u00f3ria jornal\u00edstica da ind\u00fastria farmac\u00eautica (principalmente dos EUA) e seus crimes.<\/p>\n

_ relat\u00f3rio do Accountability Office do governo americano<\/a> (2017) sobre a ind\u00fastria farmac\u00eautica dos EUA oferece uma vis\u00e3o geral \u00fatil das principais quest\u00f5es.<\/p>\n

_ Pacientes por Drogas Acess\u00edveis<\/a> – grupo de campanha dos EUA<\/p>\n

_ Corporate Europe Observatory<\/a> – relat\u00f3rios sobre a pol\u00edtica da ind\u00fastria farmac\u00eautica na Europa<\/p>\n

_ Campanha Vacinas Para Todos<\/a> (Portugal);<\/p>\n

_ Lab Procomum sobre a quebra de patentes<\/a>;<\/p>\n

_ Campanha Vacina para todas<\/a> e “Todos pelas Vacinas<\/a>” (Brasil);<\/p>\n

*<\/strong> Diferente do restante do conte\u00fado do BaixaCultura, o texto abaixo est\u00e1 licenciado em CC BY NC<\/a>; esta \u00e9 a licen\u00e7a do conte\u00fado do site Corporate Watch.<\/em><\/span><\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

As empresas farmac\u00eauticas, seus chefes e acionistas j\u00e1 est\u00e3o ganhando bilh\u00f5es com as vacinas contra COVID, em um dos exemplos mais nefastos de como lucrar a partir de uma doen\u00e7a. Isso se deve em grande parte a um sistema, perverso em sua origem, que concentra a capacidade de produ\u00e7\u00e3o na m\u00e3o de poucos – sejam […]<\/p>\n","protected":false},"author":2,"featured_media":13614,"comment_status":"open","ping_status":"closed","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":[],"categories":[122],"tags":[462,558,410,925,134,1502,2105,115,197,2116,1842,2117,2133],"post_folder":[],"jetpack_featured_media_url":"","_links":{"self":[{"href":"https:\/\/baixacultura.org\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/13606"}],"collection":[{"href":"https:\/\/baixacultura.org\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"https:\/\/baixacultura.org\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/baixacultura.org\/wp-json\/wp\/v2\/users\/2"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/baixacultura.org\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=13606"}],"version-history":[{"count":0,"href":"https:\/\/baixacultura.org\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/13606\/revisions"}],"wp:featuredmedia":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/baixacultura.org\/wp-json\/"}],"wp:attachment":[{"href":"https:\/\/baixacultura.org\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=13606"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"https:\/\/baixacultura.org\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=13606"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"https:\/\/baixacultura.org\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=13606"},{"taxonomy":"post_folder","embeddable":true,"href":"https:\/\/baixacultura.org\/wp-json\/wp\/v2\/post_folder?post=13606"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}