\nN\u00e3o foi por acaso que as garagens e salas dos “consertadores” (hackers) que estabeleceram as bases para empresas globais como a Intel e a Apple estavam e est\u00e3o localizadas pr\u00f3ximas ou mesmo no terreno de institui\u00e7\u00f5es como a Rand Corporation ou a Leland Stanford Junior University. A ind\u00fastria da computa\u00e7\u00e3o faz o que a M\u00e1quina de Impress\u00e3o de Gutenberg fazia quando assumiu e industrializou a caligrafia da universidade medieval. Os headhunters<\/em> da Microsoft espreitam em Stanford e em outras portas de departamentos de ci\u00eancia da computa\u00e7\u00e3o, pegam novos servos de programa\u00e7\u00e3o com novos algoritmos e os espremem por cinco anos, at\u00e9 que os algoritmos se tornem propriet\u00e1rios e os programadores, com suas op\u00e7\u00f5es de a\u00e7\u00f5es, sejam dispensados antes da aposentadoria. O pior aspecto deste esc\u00e2ndalo parece-me que ningu\u00e9m fala sobre ele.<\/p>\n<\/blockquote>\nOutro trecho, sobre propriedade intelectual:<\/p>\n
\nUma\u00a0commons law<\/em>\u00a0americana, cujo alcance se estende da Comiss\u00e3o Europeia \u00e0 Rep\u00fablica Popular da China, tornou um conceito imposs\u00edvel de propriedade intelectual t\u00e3o onipresente quanto inquestion\u00e1vel.<\/span> M\u00e1quinas que, de acordo com a prova de Turing, podem ser n\u00e3o apenas todas as outras m\u00e1quinas, mas igualmente todos os c\u00e1lculos humanos, agora devem legitimar patentes e direitos autorais mais profundamente do que nunca. M\u00e1quinas que, de acordo com os resultados mais recentes, funcionam mais r\u00e1pido e com mais <\/span>efici\u00eancia quando n\u00e3o foram programados por programadores, mas por si pr\u00f3prios, devem pertencer aos humanos como propriedade privada – talvez por meio de um eufemismo para os interesses corporativos do capital.<\/span><\/span><\/p>\n<\/blockquote>\nA rela\u00e7\u00e3o das consequ\u00eancias da “computer revolution<\/em>” com o per\u00edodo medieval tamb\u00e9m se faz presente:<\/p>\n\nQuando a imprensa escrita e o estado-na\u00e7\u00e3o engoliram as tecnologias de m\u00eddia da universidade medieval, o conhecimento foi deixado praticamente intocado no n\u00edvel do conte\u00fado. O armazenamento e a transmiss\u00e3o foram privatizados ou nacionalizados, mas o processamento de dados propriamente dito ainda era conduzido naquele belo e antigo circuito de feedback de olhos, ouvidos e m\u00e3os que escrevem. Foi isso o que mudou com a revolu\u00e7\u00e3o do computador. As m\u00e1quinas universais de Turing tornam especialmente esse processamento de dados tecnologicamente reproduz\u00edvel. Elas fizeram com que as diferen\u00e7as entre os conhecimentos sobre tecnologia, ci\u00eancias naturais e humanidades desaparecessem progressivamente. <\/span><\/span><\/p>\n<\/blockquote>\nO texto, como o t\u00edtulo sugere, pode ser lido como uma defesa da ci\u00eancia – e das tecnologias – como processos que precisam ser abertos. Da\u00ed sua cr\u00edtica ao sistema de patentes de software e a defesa do software livre, do GNU (criado a partir de Richard Stallman enquanto estava no MIT) ao Linux (desenvolvido principalmente pelo finland\u00eas Linus Torvalds).<\/p>\n
\nTodos voc\u00eas sabem melhor do que eu que a cr\u00edtica a este sistema s\u00f3 pode ser pr\u00e1tica.<\/span> Observa\u00e7\u00f5es te\u00f3ricas ou hist\u00f3ricas como a minha podem, no melhor caso, <\/span>ajudar para que n\u00e3o se perca a vis\u00e3o geral entre todas as atualiza\u00e7\u00f5es e benchmarks [dessa ind\u00fastria].<\/span> No entanto, foi pr\u00e1tico quando alguns programadores do MIT resistiram \u00e0 venalidade e quando um estudante de ci\u00eancia da computa\u00e7\u00e3o na Universidade de Helsinque superou o medo generalizado de montadores e partidas a frio.<\/span> \u00c9 assim que o c\u00f3digo-fonte aberto e o software livre s\u00e3o imediatamente conectados \u00e0 universidade.<\/span> Veja quanto \u201cedu\u201d est\u00e1 nos fontes do kernel Linux.<\/span> \u00c9 tamb\u00e9m assim que o futuro da universidade depende diretamente desses recursos livres.<\/span><\/span><\/p>\n<\/blockquote>\nO desfecho do texto sugere algo que, quando foi escrito (falado), Kittler estava praticando, ao se embrenhar nos computadores e ensinar programa\u00e7\u00e3o\u00a0 \u00e0 crian\u00e7as – depois ele abandonou essa atividade, mas isso \u00e9 outra hist\u00f3ria.<\/p>\n
\n \u201cNo futuro\u201d, sup\u00f5e-se que Bill Gates tenha dito recentemente em um memorando talvez n\u00e3o propriet\u00e1rio, mas ainda interno, \u201ctrataremos o usu\u00e1rio final como tratamos os computadores: ambos s\u00e3o program\u00e1veis\u201d.<\/span> Mas enquanto houver pessoas que sejam capazes de programar em vez de serem programadas, essa vis\u00e3o felizmente n\u00e3o ter\u00e1 futuro.<\/span><\/span><\/p>\n<\/blockquote>\n